Invenções, descobertas e números.
O Wyrm criticou novamente a minha oposição ao copyright digital, desta vez pela diferença entre inventar e descobrir. «Colocar a música, filmes, textos e imagens na categoria da matemática e da investigação fundamental é simplesmente desonesto. Estamos a falar de arte, não da observação de fenómenos naturais.[... ] Se alguém compõem uma música ou escreve um poema porque não há-de ser compensado por todos aqueles que usufruam da sua obra?»(1)
O primeiro problema é que podemos perguntar o mesmo acerca da descoberta científica. Não é claro que um poema sobre unicórnios seja mais merecedor de recompensa ou direitos especiais que a descoberta do mecanismo molecular do cancro. Fica por justificar a ideia implícita que toda a arte, só por ser invenção, é mais merecedora que qualquer descoberta. E isto assumindo que se pode distinguir arte e ciência por uma suposta diferença entre criar e descobrir. Esse é o segundo problema.
À primeira vista é simples. Inventamos o que não havia antes e descobrimos o que já existia. Os pinguins foram descobertos e os unicórnios inventados. Mas a coisa complica-se quando comparamos descrições de pinguins e unicórnios. Em prosa ou poesia, as descrições foram criadas. Não existiam antes. E a ciência, tal como a arte, cria descrições. A descrição da força como proporcional ao produto da massa pela aceleração não existia antes de Newton, por exemplo.
Podemos então aceitar que tanto a ciência como a arte são criativas mas pensar que diferem porque a arte é uma expressão livre da criatividade enquanto a ciência se restringe à realidade. O poeta pode descrever unicórnios ou pinguins mas o biólogo tem que se restringir aos últimos e apenas descrevê-los como eles são. Saliento que isto não resolve o primeiro problema. Não há razão para considerar qualquer criação livre mais meritória que a criatividade subordinada ao real. E também não resolve o segundo problema porque a premissa ou é falsa ou é contrária à tentativa de distinguir arte e ciência.
Se por arte entendermos aquilo que transmite alguma sensação ou emoção então um poema que não respeite gramática ou semântica, um quadro pintado em microondas e um filme de três milésimas de segundo não são arte porque não nos dizem nada. Tal como a ciência, a arte também é criatividade com restrições impostas pela realidade. E se entendermos que qualquer coisa pode ser arte então não a podemos distinguir da física ou da matemática. Aborrecido por aborrecido, se os filmes do Manoel de Oliveira são arte a análise matemática é literatura.
Além disso a ciência não se limita a coisas reais. Por um lado porque é falível. Lowell estudou durante anos canais em Marte que eram pura imaginação, e é difícil aceitar que o trabalho dele tenha mais mérito por isso. Por outro lado porque muitos conceitos fundamentais na ciência são invenção nossa. Por exemplo, dizemos que o impacto de um seixo causa o movimento noutro, mas a causalidade não é uma coisa nos seixos. O que queremos dizer com “causa” é que se não tivesse havido impacto o seixo não se tinha movido, e isso é pura ficção.
Não se pode distinguir arte e ciência apenas pela diferença entre invenção e descoberta nem se justifica algemar uma delas ao copyright. Mas especialmente absurdo é tentar esta distinção no conteúdo digital. Os computadores trocam e copiam sequências de números e executam operações algébricas. É um disparate tentar distinguir os números que são criação artística dos números que são matemática. Não só porque ninguém inventa números, por muito artista que seja, como porque a relação entre uma sequência de números e aquilo que a fazemos representar é totalmente arbitrária. Se eu escrever um poema sobre unicórnios que números é que passam a ser meus por eu os ter inventado?
Mas ao Wyrm não interessa defender o copyright digital por ser justo ou razoável. O que ele quer é saber «quantos álbuns, livros e filmes copiados tens na tua colecção? Penso que esta é no fundo a questão essencial.» Essencial. Ou seja, o essencial é que ninguém usufrua do que ele faz sem lhe pagar mas que ele continue a usar de graça tudo o que os outros fizeram antes, desde a tabuada do 3 que aprendeu na primária até ao TCP/IP e HTML que usa agora sem pagar um cêntimo a quem os inventou.
Por isso, Wyrm, proponho que me digas quem és e eu prometo não ouvir nem ler nada do que tu escrevas ou digas ou cantes. E até podes continuar a ler isto de graça. Ficas mais feliz assim?
1- Pitágoras e as patentes
Editado: acrescentei "pensar" no 4º parágrafo para ficar mais claro que era algo a refutar e não a defender. Obrigado ao Pedro Ferreira por ter notado o problema.
Caro L:
ResponderEliminarNão ententi isto.
'O que queremos dizer com “causa” é que se não tivesse havido impacto o seixo não se tinha movido, e isso é pura ficção.'
Thx.
Ludwig,
ResponderEliminarComeço por dizer que é um prazer participar neste blog, que conheci apenas hoje. Há algum tempo que leio com bastante agrado os seus artigos e não podia estar mais de acordo com a sua visão geral do mundo que nos rodeia.
Feitas as cortesias, queria reforçar a seguinte frase:
"Podemos então aceitar que tanto a ciência como a arte são criativas mas que diferem porque a arte é uma expressão livre da criatividade enquanto a ciência se restringe à realidade."
Concordo com a frase mas podia ainda reflectir ainda melhor a ideia de que ambas, ciência e arte, são criativas. A diferença apontada é que uma é expressão livre e a outra é sujeita a restrições. Ora, a diferença é mais ténue do que a frase deixa transparecer. Trata-se apenas de um diferença de escala e não uma diferença fundamental. A arte também tem restrições.
Falo de música que é aquilo em que estou mais à vontade. Criar uma pequena peça musical (ou, baralhando, descobrir uma combinação de sons, todos eles já conhecidos :-)), exige cumprir regras de harmonia, por exemplo. Na chamada música erudita, essas regras são até relativamente rígidas. Mas até numa improvisação jazz, há regras e fórmulas que permitem em tempo real criar música.
Estou obviamente a retirar da categoria de arte todas as expressões sem qualquer nexo. Posso pegar, por exemplo, num gerador de números aleatórios, gerar segundo uma distribuição uniforme uma sequência de sons e tentar chamar-lhe arte. Obviamente, isso não é arte. E se alguém vir num museu com reputação uma tela barrada de excrementos de leopardo, enquanto se ouve a sequência musical anterior, é porque o autor já adquiriu o estatuto de fazer aquilo que quer. Mas até aí, há restrições à arte: está restringido ao grupo restrito de pessoas que já adquiriram esse estatuto com obras de arte.
Portanto, a diferença é bem mais ténue do que diz. Portanto, sem dúvida nenhuma, ambas são expressão criativa.
Caro Pedro,
ResponderEliminarObrigado pelo comentário, com o qual de resto estou de acordo. A minha ideia era precisamente que nem dessa maneira se pode distinguir arte de ciência. Infelizmente, escapou à edição o termo menos feliz de "aceitar" que fazia parecer que eu defendia aquilo que, a seguir, dizia ser ou falso ou contrário ao objectivo de distinguir arte e ciência.
Corrigi agora por "pensar", que é mais neutro neste contexto, espero que se perceba melhor. Concordo consigo que tanto a arte como a ciência são (ou devem ser) criatividade subordinada a restrições impostas pela nossa realidade. A diferença que houver será uma da função que desempenham e não tanto da forma como as criamos.
Caro JJ,
ResponderEliminarO tema é um pouco complexo e há muita discussão acerca do que é causalidade. Mas vou tentar dar uma ideia simples, avisando já do risco de ser demasiado superficial.
Vamos supor que a seguir a A ocorre B. Se B ocorresse mesmo sem A, então foi apenas uma sequência de acontecimentos. Mas se B ocorre só se e sempre que A ocorra imediatamente antes, mantendo tudo o resto constante, dizemos que A causa B.
Esta noção de causalidade exige que consideremos não só o que acontece mas também o que não aconteceu. Por exemplo, o assassino causou a morte da vítima não só porque ela morreu depois dele dar o tiro mas também porque não morreria daquela forma se ele não tivesse dado o tiro. Mas esse "não morreria" é imaginário e não algo que tenha acontecido.
Um exemplo disto são as teorias probabilisticas de causalidade, onde a própria noção de uma ocorrência aumentar ou diminuir a probabilidade de outra exige que pensemos num grande número de casos hipotéticos. Por exemplo, a realidade é só que umas pessoas fumam e apanham cancro e outras não. A noção que fumar aumenta a probabilidade de apanhar cancro exige que consideremos uma data de combinações imaginárias de fumo e cancro que não ocorrem (nem faz sentido falar de probabilidades se nos restringirmos só ao real, porque aí são todas ou 0 ou 1...)
Caro Pedro,
ResponderEliminarEditei novamente, penso que assim é que ficou como devia... uff, isto de escrever é sempre "work in progress" :)
Ludwig,
ResponderEliminarUma pergunta: é o mesmo Ludwig do CEPO (cépticos de Portugal) certo? Há dois anos estava a viver nos Açores e pensei seriamente em criar uma "delagação" do CEPO nessa região. Não o fiz por preguiça, mas estou arrependido. Agora estou no Luxemburgo mas se voltar para lá (tenho lá uma casa), venço esta preguiça e irei fazer isso.
Sinceramente, acho que há certos dogmas e linhas de pensamento, como por exemplo, o criacionismo ou a cientologia, que têm comportamento viral. E a única forma de combater esta epidemia é através do pensamento crítico.
Continuação de bom trabalho.
Antes demais os meus parabéns pelo Blog. É a 1ª vez que o visito e apraz-me o presente post, na medida em que traz "à conversa" um tema que desde à muito é objecto de enorme debate: Arte vs Ciência.
ResponderEliminarNo entanto, para mim é um confronto sem profunda relevância na medida em que tanto a "criação" artística como a "descoberta" científica (como usualmente são denominadas) não são mais do que aparentes modos distintos de procurar aquilo que poderemos designar de "o novo".
Ambas na sua essência procuram ser sempre vanguardistas, estar "uma passo à frente" do seu tempo, apenas diferindo num único ponto: o modo como as absorvemos! Enquanto a Arte possui a priori um carácter mais expressivo, falando mais ao lado emotivo do ser humano (podendo inclusive apropriar-se para tal de um discurso mais científico),a Ciência possui um carácter mais prático da realidade humana ,servindo-se ela muitas vezes também do universo imaginativo característico da criação artística.
Kandisnky, tem uma frase deveras relevante neste contexto, a propósito do que seria mais importante na criação artística, se a Forma(Razão) ou o Conteudo(Emoção),colocando um fim a este confronto ao afirmar que "a Forma não é mais do que a manifestação de um Conteúdo interior".
Razão/Emoção; Ciência/Arte; Criação/Descoberta, não são mais do que "faces da mesma moeda". Como referiu o sr. Pedro Ferreira (e bem) pura "expressão criativa".
Cumprimentos
Caro Pedro,
ResponderEliminar«Uma pergunta: é o mesmo Ludwig do CEPO (cépticos de Portugal) certo?»
Sim, declaro-me culpado :)
«Sinceramente, acho que há certos dogmas e linhas de pensamento, como por exemplo, o criacionismo ou a cientologia, que têm comportamento viral. E a única forma de combater esta epidemia é através do pensamento crítico.»
Estou inteiramente de acordo, e tem sido uma motivação para mim quer a nível pessoal quer a nível profissional.
Mas cada vez me parece mais anacrónico o modelo clássico da associação como forma de juntar pessoas que partilham uma opinião ou objectivo. Parece-me que esta forma de discutir publicamente as coisas permite melhor que a colaboração entre pessoas diferentes preserve essas diferenças, que por si só são de grande valor.
Caro Ricardo,
ResponderEliminarObrigado pelo comentário. Eu também acho que não se pode separar arte e ciência asim à faca. Ao longo da história vemos que o progresso na arte é muitas vezes científico (arquitectura, perspectiva na pintura, estilos de escrita como os de ficção científica ou crónica histórica, etc). E a ciência partilha com a arte o mesmo fascinio fundamental: dar-nos a ver as coisas de uma forma que não é óbvia à primeira vista. Olhar para as estrelas sabendo o que elas é tão impressionante como qualquer obra de arte.
Antes de mais obrigado pelo Post em minha honra. Ainda bem que dou azo a tanto arrazoado. É divertido ver alguém a tentar demonstrar tão afincadamente que eu não tenho razão. Então ir puxar da filosofia para se justificar ouvir uns álbuns ou ver uns filmes antes de estes saírem, é obra. Obrigado. :)
ResponderEliminarProvaste muito bem que a arte não tem mais mérito que a ciência. Porém eu não disse rigorosamente nada disso. Mas enfim, já me começo a habituar à tua forma de debater.
De resto, e apesar de citares as minhas frases que te convêm, continuas sem comentar o que, na minha opinião, são as mais importantes.
A minha única pergunta é esta: quanto vale o trabalho artístico (musica, poesia)? Quem coloca um preço no trabalho de músico ou de um escritor? É a pergunta que tenho feito ao longo dos posts que tu simplesmente ignoras. Já agora sem ir buscar a tabuada de modo a fugir à questão.
Pelos vistos tu preferes roubar um músico usufruindo da sua criação sem o compensar. Porquê? Pega em alguma das tuas cópias e diz-me quanto merece o seu criador e porque é que não tens nada de o compensar.
Isto se não incomodar, claro.
Tenho muito gosto em ser mencionado no teu blog, mas por favor uma resposta nos comments serve. Não vale a pena escreveres outro post pseudo-filosófico citando (de graça :D) as partes dos meus comentários que sendo as menos importantes são as que melhor servem a tua argumentação.
Wyrm,
ResponderEliminar«A minha única pergunta é esta: quanto vale o trabalho artístico (musica, poesia)? Quem coloca um preço no trabalho de músico ou de um escritor?»
Isso é fácil. Como qualquer outro trabalho, o valor justo é aquele acordado voluntariamente entre quem trabalha e quem remunera. Isto vale para o trabalho do matemático, do cientista, do professor, do arquitecto, do motorista, seja de quem for. O artista não é diferente.
E o preço justo depende não só do trabalho do artista mas também do interesse de quem paga. Não é um só preço, mas um preço para cada um. E só é justo se for voluntário.
Podes ver aqui que houve um tipo a pagar 18.000$ e dois a pagar 7.500$ cada um pelo album sky blue. Pagaram antes do album ser criado. Pagaram para o album ser criado. E, para eles e para a artista foi obviamente um preço justo porque todos o aceitaram voluntariamente. Se notares que a maior parte destes foi vendido antes do album ser gravado e que a artista não anda a processar of fans que ouvem à borla perceberás que ela não precisa do copyright para ganhar dinheiro. Tal como o matemático, o professor, etc.
O copyright é injusto em muitos níveis. A concessão legal de um monopólio ao distribuidor reduz os direitos do artista. A coação legal sobre quem quer ouvir de graça inflacciona o preço (as pessoas não pagam só o album mas, cada vez mais, por medo das sanções legais). E o método de trabalhar primeiro e depois logo se vê quanto recebe, com o intermediário ficando com a fatia maior, é profundamente injusto para o artista.
O artista, como qualquer outro profissional, deve ser remunerado segundo um acordo prévio e voluntário. Os monopólios do copyright servem apenas os interesses do distribuidor e dos artistas menos talentosos cuja única esperança de sucesso é a máquina publicitária das editoras e o seu poder de coacção legal.
"Podes ver aqui que houve um tipo a pagar 18.000$ e dois a pagar 7.500$ cada um pelo album sky blue. Pagaram antes do album ser criado. Pagaram para o album ser criado. E, para eles e para a artista foi obviamente um preço justo porque todos o aceitaram voluntariamente. Se notares que a maior parte destes foi vendido antes do album ser gravado e que a artista não anda a processar of fans que ouvem à borla perceberás que ela não precisa do copyright para ganhar dinheiro. Tal como o matemático, o professor, etc."
ResponderEliminarRetórica pura. No fundo usas o argumento de que "como alguém já pagou o que eu entendo ser um valor justo, eu não tenho que pagar mais nada para usufruir do trabalho da rapariga."
De resto o fundamental aqui é que: cada qual faz do seu trabalho o que lhe apetecer. Seja um cientista, músico ou escritor, se quer dar o seu trabalho e retirar o seu sustento de algum outro modelo então é livre de o fazer.
Os teus argumentos serão sempre falaciosos, ainda que sem má fé, acredito, porque tu entendes que um músico deve receber a sua compensação por uma música da mesma forma que um sapateiro a recebe por um par de sapatos, isto é, uma única vez. Acontece que o par de sapatos é usufruído por uma pessoa, ao passo que uma música pode ser usufruída por milhares.
Além do mais, quando tu descreves os processos "injustos" do copyright remete-me sempre para as grandes editoras e multinacionais, pelas quais não nutro qualquer simpatia, tanto que há mais de 10 anos que não adquiro qualquer álbum editado por essas.
Movimentando-me eu por sons mais alternativos tenho o hábito de comprar música directamente ao produtor e a minha opinião acerca do copyright deriva do seguinte: conheço muitos músicos, portugueses e não só, que editam um álbum com fundos próprios, com uma edição humilde mas cuidada de 1000, 1500, vá lá, 2000 tiragens e ficam com os álbuns em caixas, porque um dos primeiros a comprar é daquelas pessoas muito generosas com o trabalho dos outros.
Ora quando num ano em diversos concertos têm muito mais que 2000 pessoas a cantar as músicas e a dizerem "vocês são muito bons" e tal há aqui qualquer coisa de estranho. Podes dizer, eles que encontrem uma outra forma, mas isso é impertinente, desculpa. Este debate só existe porque se tornou fácil o roubo, perdão, a partilha de todo o trabalho que não seja um par de sapatos ou um automóvel sem quaisquer consequências e como tantos usufruem disso até existem grandes teorias que o defendem. De resto eu já ouvi a queixa de que "essa agora, agora tenho de dar a minha música e esperar pela esmola de irem ao concerto onde até podem comprar uma t-shirt ou um album... foda-se, eu não sou um feirante." Mas se calhar esse é o problema de fundo: para muitos os músicos deviam ser feirantes, ou menestreis medievais, uma música por uma moeda...
Para mim o artista, ou o cientista será sempre livre de pedir o que quiser pelo seu trabalho. Neste pormenor eu até sou pro-mercado. Se alguém teve um investimento para criar algo tem o direito de pedir o que quiser pelo fruto do seu trabalho. E lá porque o HTML é hoje gratuito, ou qualquer outro dos exemplos que citas, isso deve-se a opções que, tendo de ser respeitadas, não podem ser extrapoladas para o resto das actividades intelectuais apenas porque sim.
Eu concordo que o copyright gera situações injustas, nomeadamente ao nível da industria farmacêutica. Mas essas situações têm de ser lidadas de uma forma específica e não generalizando que a partir de a partir de agora "é tudo nosso." E justificar o usufruto à borla de um disco com a maldade (sim, é uma maldade) dos preços dos anti-retrovirais é simplesmente querer almoços de graça.
Sem qualquer tipo de ironia, agradeço a tua resposta, tem sido estimulante debater este assunto contigo e espero que não tenhas levado a mal uma ou outra torta que tenha voado. Eu sei que não levei. Abraço.
Wyrm,
ResponderEliminardesculpa lá, mas os teus argumentos estão completamente desligados com o que se passa hoje em dia no mercado da música, para além de revelarem um egoísmo intelectual que não contribui em nada para o avanço da criatividade na arte e na cultura - basta olhar para a história dos estilos musicais mais alternativos dos últimos 40 anos. É que pela tua ordem de ideias e de pessoas que defendem esse modelo maximalista dos direitos de autor, o Ludwig deveria ter o direito de cobrar dinheiro pela possibilidade de citares as palavras dele. É evidente que isso apenas iria contribuir para que todos nós ficássemos mais pobres, pois toda esta discussão enriquecedora não teria tido lugar.
De resto o fundamental aqui é que: cada qual faz do seu trabalho o que lhe apetecer. Seja um cientista, músico ou escritor, se quer dar o seu trabalho e retirar o seu sustento de algum outro modelo então é livre de o fazer.
Infelizmente, está a fugir à verdade. O sistema de monopólio intelectual desenvolvido à custa do copyright, bem como os anteriores constrangimentos tecnológicos que limitavam a capacidade de um músico ou escritor editar uma obra em nome próprio obrigavam frequentemente ao recurso a um intermediário dotado dos recursos financeiros necessários para investir na publicação. Por conseguinte, isso implicava que na prática tu eras obrigado a ceder parte dos teus direitos a outrem. Hoje em dia com a Internet, as coisas deixaram de ser assim. Cada autor pode manter o controlo total sobre os seus direitos sem ter que fazer concessões a ninguém. Acontece que essa mesma Internet e as tecnologias digitais em geral vêm também facilitar ao máximo a capacidade de cópia de uma obra intelectual. Penso que esse trade-off é razoável: ao mesmo tempo que ganham mais liberdade criativa, os autores perdem também o poder de controlar a disseminação das suas obras.
Os teus argumentos serão sempre falaciosos, ainda que sem má fé, acredito, porque tu entendes que um músico deve receber a sua compensação por uma música da mesma forma que um sapateiro a recebe por um par de sapatos, isto é, uma única vez. Acontece que o par de sapatos é usufruído por uma pessoa, ao passo que uma música pode ser usufruída por milhares.
Aqui, estás a ser desonesto. Não é o Ludwig que compara o músico ao sapateiro mas tu na medida em que não consegues ver que o músico ganha dinheiro não só com a venda da rodela de plástico mas também com os concertos, o merchandising e o licenciamento de músicas para filmes e Televisão. Se vires bem, aliás, a posição do músico é bem melhor do que a do sapateiro.
Movimentando-me eu por sons mais alternativos tenho o hábito de comprar música directamente ao produtor e a minha opinião acerca do copyright deriva do seguinte: conheço muitos músicos, portugueses e não só, que editam um álbum com fundos próprios, com uma edição humilde mas cuidada de 1000, 1500, vá lá, 2000 tiragens e ficam com os álbuns em caixas, porque um dos primeiros a comprar é daquelas pessoas muito generosas com o trabalho dos outros.
Ora quando num ano em diversos concertos têm muito mais que 2000 pessoas a cantar as músicas e a dizerem "vocês são muito bons" e tal há aqui qualquer coisa de estranho. Podes dizer, eles que encontrem uma outra forma, mas isso é impertinente, desculpa. Este debate só existe porque se tornou fácil o roubo, perdão, a partilha de todo o trabalho que não seja um par de sapatos ou um automóvel sem quaisquer consequências e como tantos usufruem disso até existem grandes teorias que o defendem. De resto eu já ouvi a queixa de que "essa agora, agora tenho de dar a minha música e esperar pela esmola de irem ao concerto onde até podem comprar uma t-shirt ou um album... foda-se, eu não sou um feirante." Mas se calhar esse é o problema de fundo: para muitos os músicos deviam ser feirantes, ou menestreis medievais, uma música por uma moeda...
Apenas te faço esta pergunta: quanto é que um artista ganha por cada disco vendido e quanto é que ele ganha por cada bilhete para um concerto, tanto em termos de percentagens como brutos? Agora pensa lá bem se o que acabaste de dizer não é uma barbaridade...
Para mim o artista, ou o cientista será sempre livre de pedir o que quiser pelo seu trabalho. Neste pormenor eu até sou pro-mercado. Se alguém teve um investimento para criar algo tem o direito de pedir o que quiser pelo fruto do seu trabalho. E lá porque o HTML é hoje gratuito, ou qualquer outro dos exemplos que citas, isso deve-se a opções que, tendo de ser respeitadas, não podem ser extrapoladas para o resto das actividades intelectuais apenas porque sim.
Explica-me então: porque não? É que se soubesses um pouco da história da Internet, irias verificar que embora sendo gratuito e de livre acesso ou precisamente por isso, o HTML possibilitou que milhares de empresas prosperassem à conta da sua exploração sem que ninguém fosse privado da possibilidade de utilizá-lo. O caso que salta mais à vista é o do Google, mas poderia falar na Yahoo, na Wordpress, no SAPO, etc. Acho que a indústria discográfica poderia retirar algumas ilações daqui...
Wyrm,
ResponderEliminar«No fundo usas o argumento de que "como alguém já pagou o que eu entendo ser um valor justo, eu não tenho que pagar mais nada para usufruir do trabalho da rapariga."»
Não é esse o argumento. O argumento é que o preço justo não tem nada a ver com esse usufruto a posteriori.
O preço justo de uma estátua aqui para a minha rua será o preço acordado voluntariamente entre as pessoas interessadas em pagar uma estátua e o escultor. Assim que estiverem de acordo o escultor faz a estátua, recebe o dinheiro e está o caso arrumado. Isto é justo.
Se depois há muita gente que passa por aqui e fica maravilhada com a estátua, ainda bem. Mas isso não tem nada a ver com o preço ou a justiça do mesmo. Injusto seria prendê-las por acharem a estátua bonita ou por não pagarem um trabalho que não encomendaram.
Já sei que vais dizer que isso só funciona para as estátuas, mas é treta. Funciona agora com muitos compositores e funcionou com todos até ao século XIX.
O conceito é relativamente simples. O preço justo de X é o preço que voluntariamente acordam os que vendem e os que compram X. Não tem nada a ver com outros que eventualmente usufruam de X mas que não participaram nesse acordo.
Wyrm,
ResponderEliminar« tu entendes que um músico deve receber a sua compensação por uma música da mesma forma que um sapateiro a recebe por um par de sapatos,»
Não. Da mesma forma que um professor recebe pelas aulas. Recebendo pelo trabalho de compôr e tocar ou de preparar e dar a aula. Não pelo usufruto futuro dos alunos, dos filhos dos alunos, os patrões dos alunos ou quem quer que seja que beneficie daquele conhecimento.
O meu argumento não se restringe a bens materiais. É uma regra geral para todas as transacções, que são justas se (e só se!) a participação de todas as partes envolvidas é voluntária.
O copyright é injusto pelo tipo de restrições que impõe a quem não participa voluntariamente na compra do trabalho do artista. Ou do professor, do cientista, do sapateiro, etc.
Wyrm,
ResponderEliminar(Isto vai a prestações para não ficar um comentário demasiado grande :)
«espero que não tenhas levado a mal uma ou outra torta que tenha voado.»
Nah, disso podes estar descansado. Quem tem pele fina não tem blogs com comentários :)
Oi Miguel,
ResponderEliminar«O sistema de monopólio intelectual desenvolvido à custa do copyright, bem como os anteriores constrangimentos tecnológicos que limitavam a capacidade de um músico ou escritor editar uma obra em nome próprio obrigavam frequentemente ao recurso a um intermediário dotado dos recursos financeiros necessários para investir na publicação.»
Isto deve ser mesmo o mais difícil de fazer compreender, porque se há uma coisa em que as discográficas são boas é na propaganda. Muita gente, como o Wyrm, ainda pensa que o copyright tem a ver com a criatividade ou a inovação artística quando realmente é um subsidio à distribuição.
Wyrm,
O artista, como qualquer outro profissional, pode vender o seu trabalho quer haja ou não monopólio sobre as cópias. Porque se não lhe querem pagar não trabalha e não cria as coisas novas que os outros querem.
É quem vive de fazer cópias daquilo que os outros criaram que precisa de monopólios sobre a cópia. E se justifica dar-lhos se precisarmos do serviço deles para alguma coisa.
Miguel,
ResponderEliminarO que tenho vindo a defender é que cada um deve fazer com as suas criações aquilo que lhe dá na gana. Por exemplo, eu gostava muito de Metallica e até tinha comprado imensos albuns deles. Mas quando eles tiveream aquela atitude deplorável em relação aos utilizadores do Napster eu perdi muito do interesse que tinha pela banda. No entanto em ultima análise eles tinham razão: era a música deles e se eles a querem dar ou vender é uma decisão pessoal.
Em relação a concertos, essa é das grandes falácias dos anti-copyright. Tudo depende da dimensão do músico, de quantas pessoas o conhecem e muitos outros factores. Não é liquido que se ganhe muito mais nos concertos tendo em conta os gastos. E eu sei do que falo porque já presenciei cenas inacreditáveis com músicos que respeito imenso. Mas como já disse antes, são músicos que editam os seus albuns a partir do seu bolso, que dão concertos aos fins de semana e que não conseguem escoar os cd's que encomendaram apesar de terem concertos lotados.
Acho que ainda não existe uma teoria de tudo e o mesmo se aplica à musica. As coisas que uns defendem em relação às grandes editoras são mentira quando se fala dos pequenos.
Ludovico,
ResponderEliminarSe um artista ou um filantropo decide doar uma estátua á comunidade isso é lá com ele. Coloca-a a na rua, toda a gente a pode ver e com isso aumenta o seu prestigio ou então anonimamente (tem mais valor até) sente satisfação por ter tornado mais bela a envolvente da rua/parque/praça onde colocou a estátua. No entanto podia ter colocado a estátua num museu e cobrado bilhetes à entrada para a poderem admirar. Podemos fazer juízos de valor sobre a sua atitude, mas ninguém tem o direito de lhe impor a "forma mais correcta" de agir.
Além do mais ainda não percebi de que forma o copyright é injusto. A mim parece-me justíssimo que alguém que usufrui de uma obra compense o artista, e seja qual for a percentagem que este tenha sobre a venda do album é melhor do que nada, porque nem todos os músicos darão concertos aos quais possas ir para os compensar aí, e nem toda a gente compra long-sleeves de bandas. E se falamos de ajudar um músico também se pode argumentar que mesmo numa grande editora, quantos mais exemplares um dado músico vender maior o seu poder negocial perante a editora.
Enfim, o assunto está a gastar-se eu eu já roubei demasiado tempo ao meu patrão. :)
Eu pessoalmente, como sou parvo, vou continuar a comprar os albuns das bandas que gosto. Sobretudo as edições de autor com preços à maneira. ;)
Wyrm,
ResponderEliminar«Se um artista ou um filantropo decide doar uma estátua á comunidade isso é lá com ele.»
Lê o que eu escrevi. O escultor é pago pelo trabalho de esculpir a estátua. Faz o trabalho, recebe o dinheiro, está o negócio arrumado. Não é filantropo nem trabalha à borla. Só que também não recebe por cada vez que alguém admira a estátua.
Exactamente o mesmo se pode aplicar ao compositor, que recebe para compôr e não cada vez que alguém ouve ou compra rodelas de plástico.
«Além do mais ainda não percebi de que forma o copyright é injusto. A mim parece-me justíssimo que alguém que usufrui de uma obra compense o artista,»
Só se se comprometeu a fazê-lo. Se vieres cá a casa lavar-me a loiça não é justíssimo que a lei me obrigue a pagar-te a menos que eu tenha prometido pagar-te. E muito menos justo é que, depois de eu te pagar, tu ainda cobrares aos convidados que usufruirem dos meus pratos limpos.
Se tu combinas compor uma música para os teus fãs e eles prometem-te pagar por isso é justo que paguem. O injusto do copyright é que eu não tenho nada a ver com isso, e no modelo que temos eu fico proibido de copiar certas sequências de números só porque podem codificar a música que tu compuseste sem que eu te pedisse fosse o que fosse.
"O injusto do copyright é que eu não tenho nada a ver com isso, e no modelo que temos eu fico proibido de copiar certas sequências de números só porque podem codificar a música que tu compuseste sem que eu te pedisse fosse o que fosse."
ResponderEliminarMas nesse caso, porque haverias tu de usufruir da música? A partir do momento em que baixas um mp3, clicas 2 vezes e ouves a música no winamp, achas mesmo que não tens nada a ver com isso? E se for um jogo? Baixas o jogo, jogas o jogo e depois argumentas que eras um inocente espectador? O jogo é que se insinuou?
"Ai que horror, e eu que não queria nada ouvir esta música." :)
O teu argumento lembra-me a situação das entradas nos restaurantes, em que te põem um pires de gambas na mesa sem tu pedires nada e se comeres cobram-te o couro e o cabelo. Não me parece que coloquem "sequências de números" que se traduzem em filmes, musicas ou jogos no teu pc sem o teu consentimento explicito.
Em relação ás estátuas, sei de bastantes que não podes admirar sem pagar. Já foste ao Louvre, por exemplo? ;)
Wyrm,
ResponderEliminar«Mas nesse caso, porque haverias tu de usufruir da música?»
Porque não tens nada a ver com o que eu oiço ou usufruo. Não é da tua conta. Não tens, à partida, o direito de decidir que filmes eu vejo, que músicas ouço, que livros leio, etc.
Durante esta discussão dei-te inúmeros exemplos disso. Ninguém tem o direito de proibir que outros usufruam de uma informação. Podem ter o direito de proibir que entrem num recinto privado, de guardar segredos, e assim por diante.
Por exemplo, o autor de um livro não tem o direito de proibir que leiam o livro emprestado, comprado em segunda mão, enquanto esperam na livraria ou que oiçam outro a ler em voz alta. Nada disto remunera o autor, tudo isto permite o usufruto da obra, mas nada disto o autor tem o direito de proibir.
E é isso que tens que justificar: o direito de proibir os outros de usufruir de informação que tu voluntariamente tornaste pública.
«Em relação ás estátuas, sei de bastantes que não podes admirar sem pagar. Já foste ao Louvre, por exemplo? ;)»
Não são as estátuas. Não é ilegal admirá-las à borla se estiverem num local de acesso gratuito nem os autores podem reivindicar o direito de o proibir. A maioria das obras no Louvre nem sequer está protegida por copyright. O que te cobram é para entrar no museu, essencialmente pelo serviço de manterem aquilo em bom estado.
Se fores ao site do Louvre podes ver muita coisa de graça. Esta, por exemplo.
"Porque não tens nada a ver com o que eu oiço ou usufruo. Não é da tua conta. Não tens, à partida, o direito de decidir que filmes eu vejo, que músicas ouço, que livros leio, etc."
ResponderEliminarNão tenho. Isso depende da ética de cada um. Eu sentir-me-ia mal em usufruir de algo que não foi expressamente publicado de forma gratuita. Como por exemplo o ultimo álbum de Radiohead. De contrário não vou usufruir de um bem sem compensar quem investiu e tornou possível esse usufruto. E o resto são peanuts.
"E é isso que tens que justificar: o direito de proibir os outros de usufruir de informação que tu voluntariamente tornaste pública."
Mas isso é mentira.
A informação foi tornada pública mediante a aquisição do meio, seja esse o CD, o DVD ou o livro.
Há um contrato que é estabelecido e se não gostamos das condições desse contrato somos livres de não o realizar.
"Por exemplo, o autor de um livro não tem o direito de proibir que leiam o livro emprestado, comprado em segunda mão, enquanto esperam na livraria ou que oiçam outro a ler em voz alta. Nada disto remunera o autor, tudo isto permite o usufruto da obra, mas nada disto o autor tem o direito de proibir."
Tem. É a lei e tudo se resume a isto: como se combate uma lei injusta (neste caso apenas na óptica)? Quebrando-a ou mobilizando a sociedade civil para que esta seja alterada?
"Não são as estátuas. Não é ilegal admirá-las à borla se estiverem num local de acesso gratuito nem os autores podem reivindicar o direito de o proibir. A maioria das obras no Louvre nem sequer está protegida por copyright. O que te cobram é para entrar no museu, essencialmente pelo serviço de manterem aquilo em bom estado."
Antes de mais, muitas obras modernas já o são. Claro que não há um copyright sobre a Mona Lisa, e se houvesse esse já teria expirado. É a lei existente e não me parece mal: o copyright tem um prazo. De resto o mesmo argumento pode ser aplicado a tudo: o que as discográficas te cobram por comprares o CD é essencialmente pelo serviço de proporcionarem as melhores condições de gravação possivel e subsequente distribuição; o que as game houses te cobram por comprares o o jogo é essencialmente pelo serviço de continuarem a proporcionar updates e novos jogos de qualidade; etc..
"Se fores ao site do Louvre podes ver muita coisa de graça. Esta, por exemplo."
Por acaso já fui diversas vezes ao Louvre e acho que até é uma boa comparação. Coloco-a ao nível das samples que hoje em dia podes ouvir, de graça, nos sites de quase todos os músicos. :)
De todas as maneiras a minha forma de ver as coisas é que tenho muito mais respeito pelo músico, artista, laboratório que trabalha em prole da humanidade. Ou seja que difunde a sua obra de forma a beneficiar o maior número possível de indivíduos. Mas penso também que a ganância é muito feia, é por isso que já não ligo a Metallica nem adquiro música estupidamente inflaccionada por parte das grandes companhias. Como te disse antes, adquiro quase tudo a editoras alternativas a preços muito mais em conta e na minha opinião estou a fazer um negócio justo. Se não achasse, não o faria.
"(neste caso apenas na óptica)?"
ResponderEliminarÉ claro que queria dizer "(neste caso apenas na tua óptica)?"
Mas, já agora, acrescento que o copyright não é criado pelas distribuidoras. O autor pode registar as suas criações e ser dono do copyright. Acontece que seja em livros ou discos, muitos dos contratos implicam a cedência desse mesmo copyright o que, a meu ver, é uma má decisão.
Mas, que eu saiba, ainda não andam por aí forças paramilitares a obrigar músicos, escritores e game houses a cederem a propriedade das suas criações. É uma escolha que fazem e em troca ganham melhores condições em estúdio, promoção, edições de luxo, etc...
Os criadores não são vitimas e todos podem optar pela solução da outra cantora que referiste, não me lembra o nome.
Não quero com isto defender a actuação das grandes editoras, como disse antes, acho que, além da maior parte da música que editam ser "trampa" acho que o preço da música é por elas inflacionado na sua ganância característica. Mas conheço bastantes editoras pequenas (algumas bem de perto) que é da venda dos CD's (muito mais baratos que das grandes) que retiram o sustento e a possibilidade de permitir a músicos gravarem os seus álbuns em melhores condições a que, sozinhos, não teriam capacidade de atingir.
Abraço,
W.
Wyrm,
ResponderEliminar«Eu sentir-me-ia mal em usufruir de algo que não foi expressamente publicado de forma gratuita.»
Isso parece-me factualmente incorrecto e moralmente irrelevante.
Incorrecto porque duvido que te sentisses mal em ler um livro emprestado, em copiar uma equação, ou em usar mapas ou tabelas de logarítmos (há uns séculos, quando originalmente publicadas, eram segredos de estado, o menos público e gratuito possível).
Irrelevante porque eu também não gosto de beijar homems mas não é por isso que se deve proibir a homossexualidade. Não gostar de uma coisa não justifica proibir que os outros o façam.
E se favoreceres uma ética minimamente utilitarista verás a insensatez de não usufruir de algo gratuitamente quando é algo de que se pode usufruir gratuitamente. Ideias e informação são excelentes candidatos.
Saliento, antes que distorças novamente o que escrevo, que o trabalho de as produzir não deve ser gratuito. O matemático, o físico, o professor e o pintor devem receber pelo seu trabalho e ser livres de negociar o preço justo pelo seu esforço. Mas uma vez pago não há razão para que não tiremos partido gratuito daquilo que criaram. Seria uma estupidez obrigar toda a gente a inventar a roda por si ou a pagar aos descendentes do inventor cada vez que usamos uma.
«Há um contrato que é estabelecido e se não gostamos das condições desse contrato somos livres de não o realizar.»
Precisamente o que eu proponho. Eu sou compositor e pergunto se me queres pagar €50 para eu escrever uma música. Dizes que não. Entretanto um amigo teu aceita, eu componho a música e vendo-lhe um CD.
Isto não me dá o direito de de proibir de ouvir o CD do teu amigo ou de fazeres uma cópia para ti. Tu não celebraste contrato nenhum comigo.
Wyrm,
ResponderEliminar«Mas, já agora, acrescento que o copyright não é criado pelas distribuidoras. »
Isto é uma questão histórica; é fácil informares-te.
O direito exclusivo de cópia foi primeiro das guildas de impressores. Estas controlavam o monopólio e tinham até a sua própria polícia em alguns paises.
No final do século XIX os autores conseguiram reivindicar mais direitos e a lei estipulou que a exclusividade de cópia pertencia ao autor e podia ser comprada pelos distribuidores. Estes continuavam, efectivamente, a ter o monopólio da distribuição, por isso aceitaram. Os autores não tinham grande poder de negociar, de qualquer maneira.
Mais tarde, principalmente com os estúdios de cinema, surgiu a cláusula da obra por contrato. Quando o artista é pago para fazer o trabalho os direitos exclusivos ficam para o empregador.
Neste momento é isso que se passa na indústria, de uma forma ou de outra. Os músicos ou escritores têm que comprar um serviço ao distribuidor, a quem têm que pagar os custos de impressão e distribuição, ficando apenas com uma parte dos lucros. E, no processo, têm que ceder direitos sobre aquilo que criaram.
Todo este sistema é um subsídio à distribuição pago tanto pelos que usufruem das obras como pelos que as criam.
Já agora,
ResponderEliminar«Os criadores não são vitimas e todos podem optar pela solução da outra cantora que referiste, não me lembra o nome.»
Não. O subsidio que as discográficas recebem do estado, em protecção legal e direitos exclusivos, dá-lhes uma enorme vantagem financeira sobre os artistas. Isto reflete-se na manipulação dos media clássicos (rádio, tv, publicidade), e nos lobbies políticos.
Por exemplo, nos EUA conseguiram aprovar legislação obrigando todas as rádios internet a pagar uma taxa fixa mínima à RIAA. Incluindo aquelas que passavam apenas música independente para promoção dos artistas que detinham o copyright e autorizavam que a música fosse passada na rádio.
É economia elementar que qualquer lei que concede monopólios vai dificultar a livre concorrência no mercado. Neste caso os artistas são também vítimas sim.
"Incorrecto porque duvido que te sentisses mal em ler um livro emprestado"
ResponderEliminarAí entramos no fundamentalismo e na distorção subsequente. Uma coisa é ler um livro que um amigo nos emprestou, outra é não comprar livro algum apenas porque alquém se deu ao trabalho de colocar o pdf na net. De resto a tua opinião também é carregada de moralismo irrelevante, pois condenas aquele que pretende que todos quanto usufruam da sua obra o compensem. Como se os músicos fossem todos artistas de rua em que todos usufruem da sua música mas preferem ficar com a carteira no bolso.
"Saliento, antes que distorças novamente o que escrevo, que o trabalho de as produzir não deve ser gratuito. O matemático, o físico, o professor e o pintor devem receber pelo seu trabalho e ser livres de negociar o preço justo pelo seu esforço. Mas uma vez pago não há razão para que não tiremos partido gratuito daquilo que criaram. Seria uma estupidez obrigar toda a gente a inventar a roda por si ou a pagar aos descendentes do inventor cada vez que usamos uma."
Mas esse partido não é gratuito. Apenas te aproveitas da boa vontade de terceiros para poderes usufruir de algo. Se tu não pagas, alguém pagou e ninguém lhe perguntou se queria partilhar. Não nenhuma distorção quando te digo que estás a ser generoso com o dinheiro dos outros. Além do mais quem está a distorcer as minhas posições és tu. Eu volto à simplicidade inicial: todos quantos usufruem de uma obra devem compensar aqueles que tornaram isso possível, se foi esse o intuito inicial. Se uns pedem uma quantia por esse usufruto ou apenas uma menção no rodapé da tese isso é uma decisão pessoal e ninguém tem o direito de achar imoral uma pessoa querer ser paga pelo seu trabalho. O que me parece mal é ficar à espera que um mecenas se decida a pagar por uma obra para depois nos aproveitarmos dela em vez de assumirmos o que queremos e compensar o criador pelos bons momentos que nos proporcionou.
Mas é claro que adoro almoços grátis. ;)
"Não. O subsidio que as discográficas recebem do estado, em protecção legal e direitos exclusivos, dá-lhes uma enorme vantagem financeira sobre os artistas. Isto reflete-se na manipulação dos media clássicos (rádio, tv, publicidade), e nos lobbies políticos."
ResponderEliminarSó uma adenda. Qual vantaqem? Por acaso passou uma lei que obrigue os músicos a assinar por uma multinacional?
Concordo que o exemplo de uma radio de internet que apenas passe música sem copyright e seja obrigada a pagar o que quer que seja à RIAA é aberrante, mas o que estou a dizer é que independentemente do que disseste nenhum músico é obrigado a ceder os direitos sobre a sua música.
E repito que todos podem seguir o exemplo da rapariga e procurar mecenas para produzirem a sua obra. Se depois a quiserem dar, muito bem, se não, eu compro se gostar dos samples. :)
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