Confiança e outra coisa.
Há uns dias, a propósito das medicinas alternativas, a Cristal comentou que «Infelizmente deixei de ter confiança na ciência e nos seus propósitos.»(1) Em parte, discordo. Discordo da parte do infelizmente. Mas o resto está bem e, se já teve confiança na ciência e nos seus propósitos, ainda bem que deixou de a ter.
A ciência é uma ferramenta e o seu propósito é o propósito de quem a usa. Por isso, se uma empresa me quer vender um tratamento, eu desconfio. O que eles querem sei eu. Exijo dados concretos demonstrando que o tratamento é seguro, eficaz, e melhor que os outros que possam resolver o mesmo problema. E não aceito o velho truque de vendedor do “experimente que vai gostar”. Posso gostar agora e arrepender-me mais tarde ou posso simplesmente não gostar e arrepender-me já. Mas primeiro quero saber se funciona. Depois logo vejo se gosto.
E isto não é só com a ciência. Se quiserem cobrar dinheiro para me espetar agulhas nas costas exijo o mesmo. Que me provem que é seguro, que é eficaz e que não me vou arrepender pelo dinheiro gasto e eventuais sequelas. Não importa se o tratamento é científico, tradicional, chinês ou filosófico. O que importa é que é sensato, e prudente, desconfiar dos propósitos de quem quer impingir seja o que for. Infelicidade só se for por restringir esta atitude aos propósitos da ciência e deixar de fora os propósitos do resto.
E, à parte do propósito, a ciência funciona porque não se confia nela. Se confiássemos na ciência não fazíamos mais ciência. Talvez a maior dificuldade em compreender a ciência venha desta ser um sistema simbólico que assenta numa forma sistemática e activa de não confiar. Que até estamos habituados naquilo que fazemos. Se vou cair da bicicleta, se é seguro levantar isto assim, se o bolo não se vai queimar. Em muito do que fazemos no dia a dia exigimos evidências de como a coisa corre e reagimos de acordo com o que observamos. Ninguém se convence que sabe andar de patins sem ter obtido primeiro dados concretos que o fundamentem. E foi assim durante milhões de anos com os nossos antepassados (só que sem patins).
Mas a linguagem deu mais valor à confiança e forçou-nos a uma atitude diferente naquilo que dizemos e ouvimos dizer. Se o vizinho da caverna ao lado avisa que está um leão atrás da colina há pouco a ganhar em ir lá ver se está mesmo. Em vez de nos basearmos em evidências acerca daquilo que é afirmado, avaliamos afirmações pela confiança na pessoa que o afirma. O que permitiu usar o conhecimento dos outros quase sem custos e criar estruturas sociais complexas. Permitiu a civilização. Mas pagámo-lo caro, com superstição, crendice, tretas e burlas que sem a confiança no que dizem não seriam possíveis. Muita gente está convicta de ter uma alma imortal só porque lho disseram. E só há poucos séculos é que finalmente pegou a ideia de separar factos e confiança. A ideia que podemos questionar aquilo que alguém diz sem ter de desconfiar da sua honestidade. E esse é o fundamento da ciência. Não confiar no diz que disse e não ficar infeliz por isso. Pelo contrário. Uma vez ganho o hábito, é estimulante exigir evidências e apresentá-las a quem as exige. Obriga a pensar melhor nas coisas e dá-lhes uma clareza que a confiança e a fé não conseguem rivalizar.
Não é confiança porque a confiança é demasiado passiva para levar ao esclarecimento. É cómoda quando querem o nosso bem e sabem o que fazem mas um risco quando uma das condições falha. Nem é desconfiança, que tem uma conotação negativa inadequada para a atitude de quem faz um puzzle, cuida do jardim ou arranja a máquina de lavar. Não desconfia de más intenções mas também não confia, sem uma atenção crítica aos detalhes. À falta de uma palavra melhor para esta suspensão tanto da confiança como da desconfiança para descobrir como as coisas são, chamemos-lhe ciência.
1- Comentário em Quicksort.
«E , à parte do propósito, a ciência funciona porque não se confia nela». Presumo que seja um abuso de linguagem. A ciência funciona devido a ela não cofiar nas coisas, e não por não confiarem no sistema que não confia nas coisas, se não seria um sarilho :)
ResponderEliminarLudwig
ResponderEliminarPenso que faria uma carreira brilhante como pastor de uma igreja evangélica. Até percebo a insistência do colega perspectiva para o converter.
Mário Miguel,
ResponderEliminarE é um "sarilho". Basta veres o trabalho que isso dá aos filósofos da ciência, que andam à uma data de tempo à procura do tal "o sistema" e cada vez desenterram uma coisa mais complicada.
E a razão é porque, ao contrário da caricatura que se passa muitas vezes, não há uma receita do método científico que os cientistas têm de aprender de cor, confiar que está certo e seguir sem pensar.
A cada passo perguntam porquê, querem saber se é melhor assim ou de outra maneira e assim por diante. Isso dá um sarilho, é verdade. Mas a ciência é assim.
É verdade.
ResponderEliminarNão há um metodo, há metodos. As unicas caracteristicas comuns são o empirismo e a critica, (a tal desconfiança permanente).
É no entanto o melhor que o ser humano pode fazer para compreender o universo.
Antes que chovam acusações de cientismo, eu admito ja que sofro de uma forma fraca chamada "há excepções relacionadas com o que é inventado ou subjectivo à apreciação convencional", (inclusivé questões inventadas de plausibilidade reduzida como o solipsismo).
A ciencia trás resposta, por uma vez (na historia da humanidade) ha um corpo de conhecimentos que se alimenta a ele proprio e cresce, aumentando a real liberdade do homem. Nos temos hoje vidas que ha 200 anos não eram sequer sonhadas por reis e rainhas. Casas aquecidas, medicina dentária, aparelhos para matar melgas. É um conforto que nos ja damos com garantido mas esquecemos o que o tornou possivel.
Podem dizer que tambem tornou possivel a bomba atomica, mas isso so quer dizer que a politica não acompanhou a ciencia. Existe um texto de Einstein muito interessante a esse respeito em quediz que o cientista é um escravo do poder politico.
Sugiro a quem tenha ficado surpreendido e ou interessado por este tema que vá ler sobre "peer-review"
Bom post. Um pouco sensacionalista (na forma, não no conteudo), mas da-lhe um colorido diferente.
Antonio Parente:
ResponderEliminarHa uma diferença entre o envagelisador e o divulgador cientifico mesmo o mais fervoroso.
Nós não mandamos ninguem para o inferno, nem ameaçamos que vai grelhar.
António Parente:
ResponderEliminarTambém me parece que o Ludwig tem características que poderiam ajudar nesse sentido: capacidade de expressão, capacidade de persuasão, poder de encaixe, etc...
O António há uns tempos atrás era da opinião oposta. Que o poder de persuasão do Ludwig era fraco pois limitava-se às elites, enquanto as pessoas simples não tinham capacidade para acompanhar a argumentação exposta neste blogue. Já na altura tinha uma opinião algo divergente: o Ludwig pode falar de assuntos interessantes e usar argumentos sofisticados, mas tende a usar uma linguagem tão simpes quanto possível, e a evitar uma atitude pretenciosa que tantas vezes torna mais difícil a comunicação entre quem sabe sobre um determinado assunto e quem o ignora completamente.
Posto isto, o problema do Ludwig para ser um bom pregador evangélico é apenas uma dose excessiva de espírito crítico, que dão dá muito jeito para aderir convictamente às superstições com mais apelo popular.
Joao
ResponderEliminarO meu comentário anterior era um elogio ao Ludwig. O estilo do post, a forma como foi escrito, está excelente. Dos melhores que aqui li.
Quanto ao não mandarem ninguém para o Inferno, nem ameaçarem que vai grelhar, etecetera e tal, olhe que há por aí uns primos que vontade não lhes falta. Não têm é poder, felizmente.
Repare que escrevi "uns primos" porque a generalização a "todos os primos" seria injusta.
Antonio Parente:
ResponderEliminarPercebo o que quer dizer, mas à parte eu nunca ter visto um bom divulgador mandar alguem para o inferno, a ciencia não faz previsões que sustentem a existencia deste, o que torna essa frase diferente na boca de um divulgador cientifico (seria equivalente a vá à merda) do que de um crente (que tem em mente a ETERNIDADE na brasa). Se o Divulgador for crente tambem a coisa pode mudar de figura, mas apenas ligeiramente. Porque a ciencia não diz que vamos para o inferno se fizermos assim ou assado. Como o faz a religião. É o reverso da medalha de andar a pregar o medo como justificação da moral. Que na realidade, como se vê, é má moral. É completamente diferente de alertar para determinados perigos reais ou plausiveis. (não é para a eternidade de um modo geral...)
Ludwig diz: (1)
ResponderEliminar"E, à parte do propósito, a ciência funciona porque não se confia nela."
Os criacionistas concordam.
A ciência é feita no presente, por cientistas falíveis, com base em informação incompleta e pressuposições indemonstráveis.
Por exemplo, nunca ninguém observou a vida a surgir por acaso, nem isso foi conseguido experimentalmente.
Daí que não exista nenhuma evidência científica de que a vida surgiu por acaso.
Quem acredita nisso, acredita sem ter qualquer base empírica.
Diferentemente, todas as observações científicas mostram que sempre que existe informação codificada existe inteligência, não existindo qualquer processo físico conhecido que crie informação codificada.
É uma lógica muito bonita de se meter no papél, e em principio concordo que todos devem manter um espirito crítico e racional.
ResponderEliminarMas o problema da frase da Cristal é que representa uma crescente mentalidade da população que não só não confia como desvaloriza ciência.
A Cristal refere os médicos. Efectivamente é um erro grava chamar de um médico de cientista. Enquanto cientista que já teve que ir ao médico (como qualquer um) assusta-me a ignorância que apresentam. Deferem para as fórmulas de diagnóstico "voce apresenta isto, isto, e isto, tem isto" sem na verdade pensar na causa e consequência do assunto. Embora seja um processo relativamente eficaz, resulta também numa grande margem de erro. Já para não falar que muitos médicos simplesmente não se mantéem actualizados. Muitos consideram a medicina uma cara aplicada da ciência. Mas existe uma maior "disjunção" do que se crê.
Outro assunto é a "investigação" que muito médico e cientista faz que é agravada em conjunto com a mediatização sensasionalista. Quantas vezes não se vê artigos do tipo "comer pevides causa cancro", quando na verdade os "cientistas" não fazem coisas tão básicas como controlar o background da população e o tipo de alimentação. Há um problema básico, que correlação nunca irá ser igual a causalidade e enoja-me a quantidade de dinheiro gasta em estudos que têem este tipo de resultados dúbios.
Outro problem é os próprios média. O artigo podia só descrever um composto com possibilidade de ser cancerígeno que foi encontrado em pequenas quantidades nas pevidos. Claro está, o artigo tem que dizer "As pevides causam cancro". Qualquer artigo em que se explique um pequeno passo do processo de cancro, saltam a dizer "Cancro prestes a ser curado", quando quase sempre isto não podia estar mais longe da verdade. Não obstante não haver tal coisa como "o cancro", existem centenas de tipos de cancros, cada um com um tratamento específico. O serviço de ciência doPúblico é um exemplo grave. Não só pegam em artigos e os compreendem mal, como tentam dar uma importância desnecessária em particular se houve um português a limpar as provetas. Entre falta de compreensão, sensacionalismo e bias o público é inundado com notícias de ciência que no seu conjunto dão a ideia de um grupo de pessoas arrogantes que constantemente afirmam estarem com "as coisas quase resolvidas" sem na verdade ver resultados, que dão cada vez mais informações conflituosas como é o exemplo das comidas que causam ou protegem contra o que quer que seja. O exemplo mais ridiculo é o do vinho, por causa de um artigo em que se descrevia que um dos compostos protege contra a doença cardíaca, mas os médicos/cientistas/media pegaram nessa informação e criaram uma recomendação de "um copo por dia faz bem à saúde". Isto é parvo, visto que para o composto (Resveratrol) ser efectivo temos que beber LITROs de vinho por dia. Não admira que as pessoas comecem a desconfiar da ciência.
Mas isto tudo não elimina que existe ciência bem feita e que tem bons propósitos. Mas com um público (no qual se incluem políticos) cada vez mais confuso e desconfiado, a ciência é cada vez mais desvalorizada e está consistentemente a receber menos dinheiro. Cada vez se faz menos ciência básico para dar dinheiro aos projectos "bonitos". Quer trabalhar em ciência? Não se esqueça de justificar com um propósito prático e imediato.
E por isso, ao contrário do Ludwig, chateia-me quando dizem que não confiam em ciência. Porque significa mais do que espirito crítico nessa pessoa, significa uma falha de muitos em ciência, nos media e que prejudica o que, apesar de tudo, é uma maioria que faz ciência decente.
E deixo aqui as minhas palavras desconexas, que quiz partilhar.
Ludwig diz: (2)
ResponderEliminar"Se confiássemos na ciência não fazíamos mais ciência."
A ciência pode funcionar bem quando se baseia em observações e experiências.
No entanto, nunca ninguém observou uma espécie menos complexa a transformar-se noutra mas complexa.
Quem acredita nisso não pode invocar nem a observação nem a experiência.
"Talvez a maior dificuldade em compreender a ciência venha desta ser um sistema simbólico que assenta numa forma sistemática e activa de não confiar."
Os criacionistas confiam na Palavra de Deus, que é A Verdade.
A partir dela eles têm uma grelha explicativa e um critério de verdade que lhes permite criar diferentes modelos científicos e testá-los.
No entanto, os modelos podem ser descartados.
Mas a Palavra de Deus não pode ser descartada, na medida em que é inspirada pelo próprio Criador, que tem toda a informação e não precisa de tentativas e erros para criar o que quer que seja.
"Que até estamos habituados naquilo que fazemos. Se vou cair da bicicleta, se é seguro levantar isto assim, se o bolo não se vai queimar."
Nós somos limitados e o nosso conhecimento é limitado. Daí que devamos ter cuidado antes de, baseados nos nossos próprios conhecimentos, fazermos afirmações categóricas sobre a origem do Universo e da vida, sem qualquer base empírica.
A base empírica conhecida, porém, permite afirmar que o Universo está totalmente sintonizado para a vida, que o mesmo é científica e matematicamente inteligível e que tem informação codificada.
Tudo isso é compatível com a doutrina bíblica da Criação.
"Em muito do que fazemos no dia a dia exigimos evidências de como a coisa corre e reagimos de acordo com o que observamos."
O problema dos evolucionistas é que nenhuma evidência permite demonstrar que a vida surgiu por acaso, ao passo que toda a evidência aponta para o facto de que o DNA tem informação codificada e esta tem sempre origem inteligente.
"Ninguém se convence que sabe andar de patins sem ter obtido primeiro dados concretos que o fundamentem."
Muito bem.
"E foi assim durante milhões de anos com os nossos antepassados (só que sem patins)."
O problema é que os registos históricos mais antigos que se conhecem não têm milhões de anos, mas apenas escassos milhares.
Quando o Ludwig fala em antepassados com milhões de anos,já não está a basear-se em observações, registos históricos ou experiência, mas na sua própria interpretação de fósseis de macacos e de seres humanos encontrados no presente, por cientistas do presente.
Ninguém pode observar os supostos milhões de anos, nem fazer experiências com eles.
Apenas temos rochas, fósseis e isótopos hoje. E temos cientistas de hoje.
Tudo o que o Ludwig possa dizer sobre os supostos milhões de anos não é facto, mas apenas especulação.
O facto é a existência, hoje, de camadas de sedimentos transcontinentais, de triliões de fósseis nos cinco continentes e de concentrações altamente variáveis de isótopos.
O facto é, igualmente, a presença de carbono 14 em diamantes, petróleo, carvão, rochas e fósseis datados de biliões e milhões de anos.
O facto é a existência de tecidos moles em ossos de dinossauros não fossilizados.
O facto é a descoberta de DNA em fósseis supostamente antigos.
Os factos são esses.
Os nossos supostos antepassados de há milhões de anos não podem ser observados nem estudados com base em registos históricos.
Eles são uma construção fantasiosa dos evolucionistas.
"voce apresenta isto, isto, e isto, tem isto" sem na verdade pensar na causa e consequência do assunto."
ResponderEliminarQue disparate. Quando se chega a um diagnóstico definitivo conhecem-se as causas.
E enquanto não se chega elas são ponderadas na organisação dos diagnósticos diferenciais.
Ao menos que vejam o DR House de vez em quando antes de se acharem especialistas a avaliar o metodo de diagnostico.
ResponderEliminarJoao
ResponderEliminarNão sei se sabe mas a religião também evolui. O conceito de Inferno que tínhamos no Antigo Testamento não é o que temos hoje.
Repare no que disse João Paulo II em 1999:
o inferno não é "um lugar físico entre as nuvens", mas a "situação de quem se afasta de Deus"
Veja o que diz o catecismo da Igreja Católica:
é o estado estado de auto-exclusão definitiva da comunhão com Deus e com os bem-aventurados que se designa por "inferno"".
Ou atente no que afirma o teólogo católico João Duque:
"O inferno afirma-se na tradição católica como uma possibilidade que se deve manter em aberto. Não como um lugar físico, de condenação, mas como algo que traduz o modo de conceber o ser humano em relação com a sua liberdade como questão fundamental e da seriedade da vida humana."
A vida "é suficientemente séria para ter um peso eterno". Incluindo a opção de "prescindir de Deus ou querer estar contra Deus", de o ser humano dizer "não ao projecto de criação de Deus". Só essa possibilidade "garante a liberdade do ser humano", ou seja, o inferno retrata também essa possibilidade de recusar Deus.
"Se não existe possibilidade de fazer algo contra Deus, então não há verdadeira liberdade. O tempo que vivemos é o tempo em que jogamos algo de verdadeiramente importante."
Todas estas citações foram retiradas do site paroquias.org:
http://www.paroquias.org/noticias.php?n=7373
João, eu vejo o Dr. House e admito que haja muito médico assim. Mas o exemplo dos que me trataram até agora não foram desses...
ResponderEliminarAlvaro Parente:
ResponderEliminarVai dar ao mesmo. É aquilo que os crentes consideram que é o pior que há. Pior que a morte.
Também não sei se estar longe das pessoas que gosto para a eternidade se não é ainda pior. A imaginação é o limite.
Quanto ao livre arbitrio. É uma ilusão. Tente atravessar uma parede. Basico, mas é ai que começa a questão.
"Mas o exemplo dos que me trataram até agora não foram desses..."
ResponderEliminarma pratica não é a regra. E isso é outra questão. Estamos a falar de ciencia.
Outra coisa. So um medico sabe o que um medico esta a fazer. A não ser que a negligencia seja obvia, e não obviamente uma questão cientifica.
Porque toda a gente se considera um "peer" para avaliar a medicina transcende a minha compreensão.
Jaime
ResponderEliminarVai dar ao mesmo por causa dos seus preconceitos. É giro como todos nós somos especialmente dotados do "espírito crítico" mas para criticar as posições dos outros. Quando é para analisarmos as nossas próprias posições, aí esquecemos esse pequeno detalhe.
Quanto ao livre arbitrio, há aí uma confusãozinha. Livre arbítrio é a sua capacidade para escolher livremente se vai tentar ou não atravessar a parede. Atravessá-la ou ficar com uma valente dor de cabeça é uma consequência do livre arbítrio não é o livre arbítrio em si.
"E isso é outra questão. Estamos a falar de ciencia."
ResponderEliminarEstou ciente, estava a tentar abordar outro assunto. Se a outra conversa vos interssa mais, não invalida que eu possa comentar na mesma outro assunto.
Se não é regra, acredito. O problema é que os que encontrei assim foram precisamente os que estão nos hospitais e que atendem mais gente.
Que diga que, precisamente por terem demasiada gente, são pressionados a despachar e isso propencia o desleixo, é um ponto válido mas tangencial.
Não me considero "peer". Apenas estou a apresentar a impressão que os médicos deixam nas pessoas que é o que é relevante para o ponto que estava a fazer. Se deixei algum veneno contra os médicos, peço desculpa, mas foi resultado de algumas más experiências. Pode argumentar que não é a maioria dos casos, mas tanto quanto estou ciente de amigos e familiares não sou o único com esta opinião. Claro está, é o meu bias pessoal das amostragens que tive.
"Quanto ao livre arbitrio, há aí uma confusãozinha. Livre arbítrio é a sua capacidade para escolher livremente se vai tentar ou não atravessar a parede. Atravessá-la ou ficar com uma valente dor de cabeça é uma consequência do livre arbítrio não é o livre arbítrio em si."
ResponderEliminarNão estou de acordo. É uma limitação à ação humana. Não é uma opção atravessar a parede sem mais nem menos. Se considera isso uma opção e não um obstaculo ao livre A. então não percebo que obstaculo sentiu Deus ao livre arbitrio quando tornou a crueldade um opção.
Tambem não é uma opção viver até aos 1000 anos, não é uma opção não ter filhos a morrer aos pais nunca, não é uma opção passar a vida de férias. Se o livre arbitrio é só uma coisa conceptual então ainda tem menos valor argumentativo.
Estamos a discutir como seria se houvesse livre arbitrio.
Porque havendo causas predeterminadas para determinados efeitos, eles são uma limitação à consideração de opções e ao proprio desenrolar do futuro.
Porqur não se esqueça, de todos os futuros possiveis o universo segue o mais provavel (isso não quer dizer que não haja alguem a ganhar a lotaria, precisamente o contrário).
Padre João Carreira das Neves fala sobre o Big Bang !...
ResponderEliminarVer a partir de 3m48s .
Como é que o Joao sabe que o universo segue o futuro mais provavel?
ResponderEliminarSobre o livre arbítrio, pensei que o Joao tivesse a noção que o livre arbítrio se aplica apenas nas situações em relação às quais está sob o nosso controlo (apenas depende de nós) praticar ou não uma determinada acção. Infelizmente, defeito meu, continuo com o mesmo optimismo de sempre.
Eu acho que tenho livre arbítrio porque não consigo pensar de outra forma.
ResponderEliminarO livre arbítrio e a treta do "pecado original" !
ResponderEliminarPor culpa de um "Adão" e de uma "Eva", "toda a criação foi amaldiçoada" pelo "omni-incompetente" ...
Faz lembrar a fábula do lobo e do cordeiro
.
"Vocês lembram a fábula?
Esopo contou-a e La Fontaine a recontou.
Um cordeiro bebia num rio e logo acima dele bebia um lobo.
A fera podia saltar-lhe logo no pescoço, mas, sem pretexto, não quis devorá-lo.
– Por que você suja a água que eu estou bebendo? – perguntou o lobo.
– Como posso sujá-la, se o senhor está bebendo acima de onde bebo? – respondeu o inocente cordeiro.
Irritado, o lobo devolveu:
– O ano passado falaste mal de mim.
– Como pode ter sido, se no ano passado eu nem era nascido? – defendeu-se o cordeiro.
– Então foi o teu irmão.
– Senhor, é engano, eu nunca tive irmãos.
O lobo não desistia.
– Se não foi ele, foi o teu pai.
E sem mais argumentos, pulou em cima do cordeiro e o engoliu."
Ludwig, excelente post.
ResponderEliminar"livre arbítrio se aplica apenas nas situações em relação às quais está sob o nosso controlo"
ResponderEliminarOu seja, só é livre quando é livre.
Como é que o Joao sabe que o universo segue o futuro mais provavel?
ResponderEliminarIsto dava para escrever um livro.
Mas resumidamente: O futuro mais provavel num universo determinista só é um. Mas eu não sei se isso é verdade.
O que sei é que coisas improvaveis não acontecem todos ao mesmo tempo em todo o universo de uma so vez. O que sei é que é provavel que algumas coisas improvaveis aconteçam a cada momento. Poucas, senão não estavamos a falar delas como improvaveis.
No conjunto de todos os fenomenos que acontecem ao mesmo tempo, ao longo de muito tempo, temos que a distribuição de fenomenos provaveis e improvaveis é estavel. Ou presumimos que razoavelmente estavel à escala obsevavel pela historia humana.
Pode não haver um curso pre-determinado, mas no conjunto de todos os fenomenos provaveis mais improvaveis, o futuro vai ser um dos mais provaveis. A cada momento o futuro, na sua distribuição da probabilidade de fenomenos vai corresponder a uma curva normal.
Eu posso não saber pormenores sobre esse futuro, porque pode ser indiferente para Deus se o fenomenos improvavel é eu ganhar a lotaria ou ter uma doença rara. Mas no conjunto de tudo ele sera um dos mais provaveis (se não houver um unico, que repito, não sei).
Fisicos como o Stephen Hawking consideram que o Unniverso tem as leis que tem ( e a tal super-afinação), porque este é o mais provavel de todos os universos possiveis.
Na pratica, isto quer dizer, que as coisas são como são porque as alternativas são excepcionais.
Talvez na mecanica quantica, quero dizer, ao nivel dela, seja de facto possivel assistir a esta realidade, mas à nossa escala, as coisas estão equilibradas e estaveis, pelo modo como tentei explicar.
Se todos os atomos "decidicem" decair ao mesmo tempo (contra as sua probabilidades e ritmo conhecido), ou melhor, emitir fotoes continuamente, contra a probabilidade conhecida para cada atomo radioactivo, a vida na terra ia para a sargeta. Mas isso é tão improvavel como me cair um piano em cima numa ilha deserta.
Alvaro Parente:
ResponderEliminarHa ainda outra coisa em consideração. Especulo, mas pense nisso.
Quando se da um fenomeno, raro, mesmo qeu o universo não seja determinista, não será porque esse fenomeno afinal, visto em microescala era o mais provavel?
Imagine o caso de uma doença rara. Se é rara é porque a probabilidade é baixa por definição.
Mas se calhar o que isto significa é que situações em que a probabilidade de contrair essa doença se verifiquem são poucas.
Porque quando de facto se contacta como o raro virus (por exemplo), desenvolver a doença é a probabilidade mais alta.
E contactar com o virus é improvavel excepto para quem fica muito tempo em climas muito quentes e secos e esta debilitado. Imaginemos que estar nessa situação é improvavel, mas estando, torna muito mais possivel encontrar o dito virus.
E por ai fora.
Isto é uma forma fraca de determinismo. Que pode muito bem ser a real.
Se o universo for determinista, entºao sabemos sem sombra de duvida que vivemos no unico cenario possivel e logo o mais provavel.
Em resumo:
ResponderEliminarSei que o futuro é o mais provavel, de entre iguais (provavelmente) porque existe estabilidade. Pelo menos à escala humana.
Eu não sei se a gravidade inverte o seu sentido periodicamente, mas sei que isso não acontece à nossa escala de tempo.
@ António Parente
ResponderEliminar"O inferno, de que se fala pouco neste tempo, existe e é eterno"
Papa Bento XVI
..."um copo por dia faz bem à saúde". Isto é parvo, visto que para o composto (Resveratrol) ser efectivo temos que beber LITROS de vinho por dia. Não admira que as pessoas comecem a desconfiar da ciência.
ResponderEliminarOra bem, há uma notícia muito recente que corrobora, de certa foram, esta indignação do Almada.
Espanhóis dizem ter encontrado na uva elixir da juventude
Porém, parece-me que há 2 aspectos importantes a acrescentar.
O Resveratrol não é, obviamente, o ÚNICO antioxidante natural presente nos alimentos, na verdade há uma panóplia deles quase inimaginável, passe o exagero.
Aliás, embora ainda pouco divulgado e conhecido, existe um fitoquímico acerca do qual o nº de estudos se vem multiplicando quase exponencialmente - as xantonas.
Só no site da U.S. National Library of Medicine and the National Institutes of Health estão neste momento referidos 1741 estudos acerca desse composto, incluindo 95 que focam directamente o alimento vegetal - mangostão - que possui o maior nº e variedade de xantonas: 43 identificadas até ao presente, de cerca de 2 centenas existentes na natureza, o que é uma percentagem absolutamente notável!
Quero com isto dizer que o efeito dos diversos antioxidantes é, naturalmente, cumulativo, género do "grão a grão enche a galinha o papo".
Depois, há ainda que ver o que são doses preventivas e terapêuticas, pois como é evidente as primeiras podem ser muito inferiores às segundas.
Há, contudo, um aspecto talvez mais importante ainda do que tudo isto, e que vem mesmo a calhar neste tipo de debate onde se fala de ensaios clínicos de produtos e terapias naturais, que aliás nem tenho podido acompanhar muito a par...
Porque é muito mais fácil fazer estes ensaios "in vitro" e até em cobaias do que em seres humanos, claro. Esta dificuldade envolve ainda algo que não pode ou deve ser ignorado... financiamento, money!... as simple as that!
Já agora, e uma vez que referi as tais xantonas, desde há um par de anos que a Pfizer vem investigando esse fitoquímico que poderá constituir o princípio activo de medicamentos anti-inflamatórios e anti-cancerígenos, entre outros.
Falamos aqui da maior empresa farmacêutica mundial a nível de vendas e, claro, envolvida em inúmeras controvérsias, a últimas das quais relacionada com o perigoso Chantix (varenicline), a droga que em 2008 registou o maior nº de casos de efeitos colaterais, incluindo 50 mortes directamente atribuídas ao seu uso. Trata-se de um medicamento muito recente para o tabagismo, e diferente das mais comuns terapias de substituição da nicotina.
On July 1, 2009, the Food and Drug Administration required varenicline and Zyban (bupropion) to carry a black box warning, the agency's strongest safety warning, due to side effects including depression, suicidal thoughts, and suicidal actions.
É que não há bela sem senão e o peso das doenças iatrogénicas começa a ser muito elevado, uma realidade que não pode ser ignorada, mormente em qualquer análise de custos/benefícios.
Based on these figures, 225,000 deaths per year constitutes the third leading cause of death in the United States, after deaths from heart disease and cancer.
Ou seja, não falamos de algo assim tão marginal ou que possa ser ignorado... quando vale ou não vale a pena usar uma droga química para tratamento de uma determinada patologia?
O que também coloca outra questão, subjacente a alguma desta discussão: e haverá outros procedimentos, eficazes e seguros, que possam representar alguma vantagem noutros casos, em princípio de menor gravidade?
Meaning... mas o que é que determina que certos compostos... naturais ou de síntese, não importa... passem dos testes laboratoriais bem sucedidos aos ensaios clínicos, enquanto outros não?!
(continua)
(Isto agora não se pode escrever muito… está mau p’ra mim… e o Perspectiva, enfim! :))
ResponderEliminarBem, só para finalizar, será que o mecanismo legal das patentes e daquilo que pode ou não ser patenteado tem alguma coisa a ter com tudo isto? Há quem sustente que sim, e essa é uma questão extra-científica mas com implicações legais e éticas que não podem ser ignoradas...
Still... that is a hard subject, indeed, and it can not be dealt with lightly...
Ah! para mim só suminho...
Rui leprechaun
(...e no Inverno um chazinho! :))
Corrijo: Padre Joaquim Carreira das Neves
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