Razões, razão e ter razão.
A propósito da recorrente discussão acerca da fé e da razão, e se uma exclui a outra, pediram-me que escrevesse sobre o que eu entendo serem razões, razão e ter razão (1). Ora aqui vai.
As razões são os pontos de partida dos argumentos. Podem não vir no princípio da conversa, mas estão no início do raciocínio. Por exemplo, em “é melhor levar o guarda-chuva porque vai chover”, “vai chover” é o ponto de partida, de onde se infere a conclusão. E, para fundamentarem o argumento, as razões têm de apontar para a conclusão. Marte estar em Capricórnio não é uma boa razão para levar o guarda-chuva porque, tanto quanto saiba, uma coisa não tem nada que ver com a outra. As razões têm também de invocar algo que se imponha à nossa opinião e não seja mero fruto de uma decisão arbitrária. A chuva, por exemplo. Mas dizer que levo o guarda-chuva porque decidi levá-lo é começar o argumento a meio. Falta dizer o que me levou decidir assim. Exigir que as razões não sejam arbitrárias, que moldem as nossas escolhas em vez de se moldarem a estas, é necessário para distinguir entre razões e meras desculpas.
Além disto, se queremos partilhar raciocínios e persuadir de forma racional, as razões que apresentamos também têm de ser relevantes para os outros. Se eu despejar um balde de água no sofá justificando que o fiz porque me apeteceu, nem vou parecer racional nem convencer ninguém do mérito do acto. Apesar desse impulso estar no início do raciocínio, por não haver nada racional que o preceda, não é uma uma razão que outros aceitem. Mas se a razão for que o sofá estava a arder o argumento já será mais persuasivo. Essa já é uma razão para despejar água no sofá.
Noutro sentido, a razão é a capacidade de procurar e avaliar razões, de conduzir o raciocínio para onde estas indicam e, assim, de formar opiniões com um fundamento que se possa partilhar. É a característica do animal racional que, pelo menos quando a usamos, torna a nossa espécie exímia a colaborar para obter conhecimento, a encontrar consensos e a resolver divergências de forma produtiva e sem violência. Se a razão já é importante para cada um, individualmente, para a nossa coexistência é indispensável.
Quanto à fé, se eu disser que Deus não existe porque acredito, ou porque tenho fé, que não exista tal coisa, o argumento não será racional porque esta razão não cumpre os requisitos que as razões devem cumprir: a minha crença não pode ser o ponto inicial do argumento, porque tem de haver algo que me tenha levado a acreditar nisto em vez de acreditar no contrário; o que eu acredito não determina se Deus existe ou não; e acreditar que Deus não existe não é um ponto de partida aceitável para quem não seja ateu como eu.
Se bem que eu não argumente a inexistência de Deus com base na minha descrença, nem tenha encontrado outro ateu que o fizesse, na posição contrária este erro é tão comum que é praticamente a norma. Muita gente justifica afirmar que o seu deus existe pela fé que tem nessa existência, pela sua crença, pelas crenças dos outros, tradições ou textos que considera sagrados. Nada disso serve, porque nada disso permite concluir que este ou aquele deus realmente existe, nada disso é ponto de partida num raciocínio, omitindo as razões para formar tais crenças, e nada disso será aceite por quem não partilhar delas. É por isso que os cristãos não são persuadidos pelos argumentos dos muçulmanos, nem vice-versa. Um argumento assente na fé, crença, tradição ou num testemunho escolhido arbitrariamente não dá qualquer base para consenso. Não permite determinar quem tem razão.
Em contraste, o ateísmo pode ser defendido racionalmente porque, em geral, as hipóteses que nos apresentam acerca das características dos deuses são contrárias às evidências que todos reconhecemos. Por exemplo, um deus que criou o universo em seis dias há poucos milhares de anos ou um deus que é omnipotente, infinitamente benévolo e nos ama a todos. E mesmo quando o que propõem não pode ser confrontado com o que se observa, o número de propostas mutuamente exclusivas, a impossibilidade de as testar e a falta de indícios de que os alegados peritos de cada religião saibam realmente o que dizem saber, justifica a atitude céptica de rejeitar cada uma dessas alegações até que tenha suporte adequado.
Usando a razão, um crente pode facilmente perceber esta incompatibilidade. A razão serve para avaliar hipóteses procurando as razões que as justificariam. Assim, pode ser usada para encontrar o que é que se exigiria para acreditar em cada alegação de cada religião. Por exemplo, que evidências poderiam persuadir de que Alá é o único deus e Maomé o seu profeta, ou a aceitar a doutrina da reencarnação, a infalibilidade do Papa ou a autoridade religiosa do Edir Macedo. Fazendo este exercício com imparcialidade qualquer crente, seja de que religião for, constatará que só se pode manter fiel à sua religião se exigir desta muito menos do que exigiria de qualquer outra. Se fosse consistente no seu grau de exigência para este tipo de alegações, acabaria ateu por ter de rejeitar todas como igualmente infundadas. Só pela fé é que se pode seguir uma religião em detrimento das outras, mas a fé não é razão.
1- Para quem quiser encomendar posts: Posts por encomenda, link sempre acessível no boneco da bitcoin ali ao lado.
São lindas as obras de muitos que se julgam detentores da razão e impermeáveis à fé:
ResponderEliminarhttp://www.ateismo.net/2012/02/25/igreja/
Ludwig, aqui p'ra nós: Não tens vergonha de escrever ao lado de quem espalha porcarias destas por onde pode?
Nuno,
ResponderEliminarNão faço ideia do que será "vergonha de escrever ao lado". Cada um é responsável pelo que escreve e, na Internet, fica tudo ao lado de tudo o resto...
"na Internet, fica tudo ao lado de tudo o resto.."
ResponderEliminarA sério? Não te incomodaria que os teus posts fossem colocados ao lado de mensagens nazis ou racistas?
Belo.
E porque se preocupam tanto todos os autores do Diário Ateísta em repetir os seus posts por vários blogs. Estão assim tão preocupados com a divulgação da sua mensagem salvífica?
Nuno,
ResponderEliminarTenho coisas mais importantes com que me preocupar do que as "mensagens" que alguém coloca "ao lado" dos meus posts. Até porque, se me incomodasse muito com isso, nem podia permitir comentários no blog...
«E porque se preocupam tanto todos os autores do Diário Ateísta em repetir os seus posts por vários blogs.»
Não posso falar por todos os autores do DA; apenas por mim. No meu caso é porque penso que possa haver quem leia o DA e queira ler os meus posts mas não venha aqui. Como o copy paste é fácil, não me importo de lhes fazer o jeito. Mas também não é coisa que me preocupe muito.
Julgo que levo isto bem menos a sério do que tu. Eu se me preocupasse e me incomodasse tanto com tanta coisa, como tu pareces exigir, nem usava a Internet :)
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarAS "RAZOES" DO LUDWIG CORROBORAM O QUE A BÍBLIA ENSINA!
ResponderEliminar1) A centralidade da razão para o ser humano compreende-se bem se tivermos sido criados racionalmente, por um Deus que é Razão (Logos) e sido dotados de capacidade racional. A Bíblia ensina isso.
2) No entanto, essa centralidade não pode ser justificada racionalmente se o Universo, a vida e o ser humano forem o resultado de processos aleatórios e irracionais.
3) Dizer que "a minha crença não pode ser um ponto inicial do argumento" é uma afirmação autocontraditória e irracional, porque ela já é em si uma crença que pretende ser o ponto de partida do argumento.
4) A existência de um Deus que criou o Universo e que nos ama a todos pode ser amplamente corroborada pela estrutura racional e matemática do Universo, pelas quantidades inabarcáveis de informação codificada nos genomas e pela evidência histórica da singularidade de Israel e da vida, milagres e ressurreição de Jesus Cristo.
5) Só podemos apelar à razão como critério de conhecimento se existir uma consciência espiritual, moral e racional e espiritual que seja irredutível a meros impulsos químicos neurológicos aleatórios. Isso é exactamente o que a Bíblia ensina.
A unica coisa que a biblia ensina são os devaneios de pastores de cabras ainda por cima em grande parte roubados ao zoroastrismo.
Eliminar.:. Perpespectiva .:.
ResponderEliminarFazendo todos odiarem o criacionismo since 2006
:-)
(Este comentário é do Alfredo Dinis)
ResponderEliminarCaro Ludwig,
"Só pela fé é que se pode seguir uma religião em detrimento das outras, mas a fé não é razão."
Não sei se a decisão do Governo francês em colocar fora de lei a chamada igreja da cientologia mas não a Igreja Católica foi um acto de fé e uma consequente escolha arbitrária. Parece-me que a conclusão do teu argumento foi esta a natureza da decisão daquele Governo.
Cordiais saudações,
Alfredo Dinis
Alfredo,
ResponderEliminarNão percebo o que é que a decisão do governo francês tem que ver com isto. Podes explicar essa inferência de forma mais clara? É que a cientologia é legal em Portugal, a crença no Ron Hubbard é legal em todos os países que não legislem sobre as crenças individuais, e a astrologia também é legal em muito sítio. Isto quer dizer que são tudo crenças igualmente racionais por força da lei?
Deve estar a escapar-me algo nesse teu argumento...
Ludwig:
ResponderEliminarCreio que o argumento é que podes escolher umas religiões em detrimento de outras sem ser por fé (como os governantes franceses fizeram).
Parece-me um argumento pobre, porque confunde a escolha pessoal de uma religião (aquela a que te referias), com a escolha «administrativa» que alguém pode tentar impor no exercício do seu poder (onde as considerações logicamente são outras).
A resposta a esse argumento passa por esse esclarecimento, que deveria ter sido desnecessário em primeiro lugar.
"Só pela fé é que se pode seguir uma religião em detrimento das outras, mas a fé não é razão."
ResponderEliminarNão. A adesão a uma atitude religiosa, seja deísta, seja ateísta, é uma opção pessoal, subjectiva, impartilhável. A sua vivência pode ter aspectos mais ou menos racionais. Há muito mais razão na organização de práticas que façam os mendigos de rua de Calcutá sentir-se humanamente tão dignos como os professores universitários de Lisboa do que na colagem de cartazes com fotografias de igrejas a arder.
«Há muito mais razão na organização de práticas que façam os mendigos de rua de Calcutá sentir-se humanamente tão dignos como os professores universitários de Lisboa do que na colagem de cartazes com fotografias de igrejas a arder.»
ResponderEliminarRazão não sei, mas empatia, decência, solidariedade são coisas que associo a práticas que façam os mendigos sentir-se humanamente dignos.
Sei que isso é o que várias associações laicas fazem, e devem ser apoiadas.
Quanto a associações cristãs, é mais difícil, e explico. Um dos maiores problemas do cristianismo, a meu ver, é o seu ataque à dignidade humana. Desde o Antigo Testamento («Foi bom para mim ser humilhado, para que eu aprenda vossos preceitos, Salmo CXVIII, 71), até ao Novo Testamento, com a horrível parábola do Fariseu e Publicano (Lucas XVIII, 11), passando pela própria origem do mal (o Ser Humano querer ter o conhecimento do Bem e do Mal, em vez de obedecer acriticamente à autoridade).
Algumas Associações cristãs até podem fazer um bom trabalho humanitário, mas esta mensagem cristã contra a dignidade do ser humano é, a meu ver, perniciosa. E às vezes influencia o trabalho humanitário de forma muito nefasta. Um bom exemplo é o da Madre Teresa de Calcutá - já que se fala em Calcutá... -, que conseguiu fazer verdadeiras monstruosidades com os vastos recursos a que teve acesso (de quem queria ajudar os outros), talvez por acreditar em coisas do tipo («She felt that suffering would bring people closer to Jesus.[78] Sanal Edamaruku, President of Rationalist International, criticised the failure to give painkillers, writing that in her Homes for the Dying, one could "hear the screams of people having maggots tweezered from their open wounds without pain relief. On principle, strong painkillers are even in hard cases not given. According to Mother Teresa's philosophy, it is 'the most beautiful gift for a person that he can participate in the sufferings of Christ'."[79], » wikipedia, e há lá muito mais...
"Um dos maiores problemas do cristianismo, a meu ver, é o seu ataque à dignidade humana"
ResponderEliminarÉ. Deve ser por isso que o mundo está cheio de hospitais, escolas, hospícios e albergues construídos e mantidos por ateístas enquanto os cristãos se entretêm em conferências e discussões intermináveis sobre a existência de Deus.
João Vasco,
ResponderEliminar«Creio que o argumento é que podes escolher umas religiões em detrimento de outras sem ser por fé (como os governantes franceses fizeram).»
Pode ser, mas esse é tão esburacado que preferia que o Alfredo confirmasse primeiro. Assume que o legislador faz sempre decisões racionais, o que é obviamente falso. Por exemplo, é proibido vender areia dizendo ser açúcar mas permitido vender água dizendo ser medicamento. E confunde a legislação de certos comportamentos, como formar uma organização que chantageia pessoas para obter dinheiro, com as crenças em si. Não é ilegal acreditar nas tretas do Ron Hubbard.
Caro Ludwig,
ResponderEliminarO que quis dizer foi que contrariamente à tese da irracionalidade de todas as religiões, o que as coloca todas ao mesmo nível e impede escolhas racionais, o exemplo da decisão do Governo francês mostra que há realmente critérios racionais, independentemente de outros governos não os adoptarem. O facto de serem critérios administrativos ou judiciais não lhes retira o carácter de racionalidade. Há não crentes que aderem a uma religião e não a outra, outros que mudam de religião. Partir do suposto que em tudo isto nada há de racional precisa de ser justificado. As evidências de que disponho, o conhecimento de pessoas que até foram educadas pelos pais contra todas as religiões e que em adultos escolheram uma, vai numa direcção contrária. E não me parece suficiente argumentar que uma pessoa pode ser muito racional e inteligente em algumas coisas e irracional e pouco inteligente noutras, como seria a religião. Como diziam os medievais, do 'poder ser' ao 'ser' não vale a ilação.
Saudações,
Alfredo
Caro João,
ResponderEliminarNão sei o que entende pela palavra 'humildade' e 'humilhação'. Talvez pense que para os crentes Cristãos humilhar alguém no sentido de diminuir a pessoa lançando-lhe na cara os defeitos, por exemplo, melhor ainda se for em público, é uma obra de misericórdia. Não é!
Quanto a Madre Teresa fui à Wikipedia à procura de referências para as citações que inclui no seu comentário, mas fiquei desapontado.Por exemplo, a citação que faz de Sanal Edamaruku, Presidente da Rationalist International Association é dele mesmo, e não é justificada de modo algum. Gostaria de saber se esse senhor ouviu os gritos dos doentes nas casas da Madre Teresa, ou se ouviu dizer que alguém ouviu os gritos.
Quanto às afirmações de Madre Teresa sobre o sofrimento, espero que não as interprete nos sentido de pensar que a Madre Teresa deixava os doentes a sofrer propositadamente para que assim se sentissem mais unidos a Deus. Talvez aqui, como em muitas outras ocasiões em que poderá haver dúvidas se possa recorrer ao que em teoria da argumentação os ingleses chamam 'princípio de caridade', não começando por atribuir aos adversários as piores intenções possíveis.
Saudações,
Alfredo Dinis
Nuno Gaspar,
ResponderEliminarEu já disse isto, e continuas a ignorar. Vou repetir, com um exemplo: a Amnistia Internacional está cheia de ateus e agnósticos. É uma associação que envolve esforço para ajudar as pessoas. Aquilo que eu, como membro da Amnistia Internacional NÃO quero é que esta associação seja vedada às pessoas religiosas.
Aquilo que eu efectivamente quero, é que se trabalho numa associação para ajudar as pessoas, seja a AI, seja a Raríssimas, seja a Cores do Globo, seja outra qualquer, eu trabalhe lá independentemente das crenças religiosas das pessoas. Estamos lá para ajudar e não para falar da existência ou inexistência de Deus.
Por isso, não veres hospitais, escolas e hospícios ateístas é um bom sinal: é sinal de que quando aos ateus querem dar este tipo de ajuda geralmente fazem-no de forma inclusiva, sem querer associar o proselitismo a essa ajuda. Fazem-no em associações onde a religião não importa.
"Amnistia Internacional está cheia de ateus e agnósticos." e de pessoas com vivência religiosa. O que tem muito pouco é ateístas fundamentalistas. Tu és uma excepção.
ResponderEliminarNuno Gaspar,
ResponderEliminarTu chamas «fundamentalistas» a uma classe de ateus tão abrangente que inclui praticamente todos. Inclui grandes nomes da literatura, da ciência, da arte, como já aqui te demonstraram, e inclui quase todos os ateus.
Nesse sentido, estás enganado. A MI está cheia de ateus que tu classificarias como fundamentalistas.
E aliás, isso em nada muda o argumento. Disseste que havia poucos hospitais ateístas, e eu mostrei-te como isso na verdade é uma coisa boa, é sinal de um espírito inclusivo por parte dos ateus. Também é sinal de que a tua conversa sobre «fundamentalismo» tem uma total falta de.. fundamento.
E sobre fundamentalismo religioso, responde-me lá: acreditas que a crença na Astrologia merece tanto respeito como o Cristianismo, ou acreditas que não? E a pertença À IURD, merece o mesmo respeito que a pertença à Igreja Católica?
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarCaro Alfredo,
ResponderEliminarNão tenho razões para acreditar que entendo a palavra «humilhação» de forma diferente do resto das pessoas. É realmente difícil expressar por palavras esse tipo de conceitos, geralmente identifico-me com os traços gerais que a definição do dicionário dá aos termos, e não me parece que seja um termo ambíguo ao ponto de não o podermos usar sem o definir. Neste caso parece-me que isso dificulta a comunicação sem trazer grandes dividendos em termos de rigor acrescido.
Parece-me um bom ponto de partida que ambos concordemos que a humilhação é algo contrária à dignidade.
Sobre a Madre Teresa, já li e soube muito mais a este respeito, inclusivamente citações a respeito da «beleza do sofrimento» que muito me impressionaram pela negativa, mais a mais quando tomadas em conjunto com uma série de atitudes perfeitamente revoltantes.
Para mim é de louvar a intenção de se sacrificar para ajudar seus semelhantes, mas boas intenções não chegam.
Crenças equivocadas podem levar um desejo louvável de dar a vida por um mundo melhor num acto monstruoso - como aconteceu no dia 11 de Setembro, em que algumas pessoas decidiram dar suas vidas para fazer a vontade do seu Deus.
O legado da Madre Teresa é positivo ou negativo? Para mim é difícil de responder: será que as pessoas que lhe deram recursos para ela poder ajudar, te-los-iam dado a outros? E esses outros teriam feito melhor uso deles? Qual o peso e importância dos vários actos médicos censuráveis que foram feitos?
O que me parece é que com a mesma vontade de ajudar, mas sem crenças equivocadas, o esforço teria sido melhor aplicado. Aí certamente o seu legado seria positivo.
Onde fui buscar esta informação tão censurável a respeito de Madre Teresa? Creio que fundamentalmente a uma fonte que o próprio Vaticano reconheceu como séria a este respeito: a investigação de Hitchens sobre o assunto. Mas no comentário anterior limitei-me a citar algumas referências simples da wikipedia sobre isto.
Saudações,
João Vasco
JV,
ResponderEliminar"acreditas que a crença na Astrologia merece tanto respeito como o Cristianismo, ou acreditas que não? E a pertença À IURD, merece o mesmo respeito que a pertença à Igreja Católica?"
Se fôr para dar alguma consequência prática à afirmação "toda a gente é pessoa", merece respeito a Astrologia, a IURD, o ateísmo e até a crença nos gambozinhos. Se fôr para distrair com coisas que se afastem muito daí, não tem interesse.
Nuno Gaspar,
ResponderEliminarQue confusão de resposta. Mas um «sim» simples já parece difícil...
Lembra-te disso antes de chamares «fundamentalista» a quem quer que seja...
JV,
ResponderEliminarChamo fundamentalistas a quem cola cartazes com igrejas em chamas e a quem convive alegremente com esses autores sem uma sombra de repúdio ou incómodo por essa forma de se expressar.
Nuno Gaspar,
ResponderEliminarÉ uma definição que vai mudando... agora tem a ver com os meus «convívios».
Olha, nunca convivi com o Eça de Queirós, mas parece-me que não foi mais suave com os Padres e a Igreja do que o Luís Grave Rodrigues, e como ele muitos outros autores consagrados. E se chamas «fundamentalistas» a todos os que não se importariam de escrever no mesmo espaço que esses autores consagrados, receio que incluas quase todas as pessoas.
E por falar em autores consagrados, fundamentalistas foram quem quis censurar seus livros ao longo da história, que o Index estava recheado de obras incontornáveis da humanidade, desde os livros de Dumas, Pascal, Voltaire, Maquiavel, Vitor Hugo, Descartes, etc...
Mais recentemente, houve quem quisesse silenciar José Saramago porque não gostou do que ele escreveu sobre Jesus. Fundamentalismo é isso.
Ah. Faltava a estrofe da vitimização.
ResponderEliminarNão faltava, está presente desde o comentário de 26/02/12 19:26.
ResponderEliminarAlfredo,
ResponderEliminarConcordo que há critérios racionais para avaliar as alegações que as religiões apresentam. E algumas até têm suporte na razão. Por exemplo, parece-me racional aceitar que, como conta a tradição cristão, há 2000 anos a Palestina estava controlada pelos romanos. Mas muitas outras, pela razão, são de rejeitar. Nascimento virgem, assunção corpórea aos céus, infalibilidade papal, transubstanciação da hóstia, a dianética, o poder curador dos tele-evangelistas, o criacionismo, e assim por diante.
Se a tua posição é que há critérios racionais para seleccionar alegações das religiões, estou de acordo, se bem que a lei francesa seja um mau exemplo, visto não ser sequer acerca das alegações mas acerca de certas práticas e associações.
Mas isso não tem nada que ver com o problema da fé ser incompatível com a razão. Porque a partir do momento que alguém decide acreditar no Edir Macedo, no Ron Hubbard ou no Joseph Ratzinger por ter fé em algum deles, deixa de usar a razão para avaliar as alegações. E, nesse caso, nem a lei francesa fará diferença. Se alguém tem mesmo fé no Ron Hubbard não será por a França dizer que a cientologia é ilegal que o fiel crente perderá a fé; tal como se passou com os primeiros cristãos quando o império romano declarou que a sua religião era ilegal.
«Partir do suposto que em tudo isto nada há de racional precisa de ser justificado.»
Não parto desse suposto. Sempre que alegas algo, eu questiono se há razões para aceitar a alegação ou não, e classifico de racional aceitar a alegação caso haja razões para isso. Por exemplo, se alegas que, pela tradição cristã, a comunidade cristã começou a surgir há cerca de 20 séculos, eu aceito essa alegação porque há razões para crer que sim, foi aproximadamente nessa altura que o cristianismo surgiu. Mas se alegas que a substância da hóstia se torna na substância do criador do universo quando o padre celebra a missa, eu rejeito essa alegação como irracional. Isto é, como uma alegação à qual faltam razões para aceitar como verdadeira. Em nenhum caso eu suponho à partida que “nada há de racional”. Isso depende da alegação.
«E não me parece suficiente argumentar que uma pessoa pode ser muito racional e inteligente em algumas coisas e irracional e pouco inteligente noutras»
Esse detalhe não é o fundamento para rejeitar as tuas ideias de um deus criador do universo, etc. Esse é apenas um pormenor a apontar quando alguém diz que, por exemplo, ciência e religião são compatíveis porque há cientistas religiosos. A possibilidade de alguém ter uma forma de pensar num contexto e pensar de forma diferente noutro torna inválida a inferência que fazem de “há cientistas religiosos” para “ciência e religião são compatíveis”.
É como dizer que é impossível que fulano de tal se tenha esquecido de por gasolina no carro porque é prémio Nobel da física e, por isso, extremamente inteligente. Apontar que pode ser muito inteligente numas coisas e distraído noutras basta para demonstrar como falaciosa a inferência.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarUma abordagem bem fundamentada à religião (e não só):
ResponderEliminarSugiro o visionamento de toda a lista - vale mesmo a pena ver do início ao fim -, mas este parece-me um dos mais importantes desta lista:
Lista de vídeos sobre religião de Evid3nc3
Caro João Vasco,
ResponderEliminarPeço-te o favor de me indicares em que documento o Vaticano aceitou as conclusões de Hitchens sobre Madre Teresa.
Obrigado.
Saudações,
Alfredo Dinis
Caro Alfredo Dinis,
ResponderEliminarAquilo que escrevi foi «Creio que fundamentalmente a uma fonte [Hitchens] que o próprio Vaticano reconheceu como séria a este respeito».
Tanto quanto sei, Hitchens representou o papel de advogado do Diabo no processo de beatificação de Madre Teresa de Calcutá. Ora se a investigação de Hitchens a este respeito não fosse considerada séria pelo Vaticano, pouco sentido faria que ele tivesse desempenhado este papel.
Cumprimentos,
João Vasco
Perdão, pelos vistos Hitchens foi, tanto quanto se sabe, a única testemunha ouvida no processo para testemunhar "contra" Madre Teresa. O papel de advogado do Diabo foi abolido.
ResponderEliminarAqui está a sua descrição dos eventos: http://www.secularhumanism.org/index.php?section=library&page=hitchens_24_2
Feita a correcção, no essencial o argumento mantém-se.
Saudações,
João Vasco
Caro João Vasco,
ResponderEliminarObrigado pela informação. Fico então a pensar que não está provado que o Vaticano tenha aprovado o relatório de Hitchens, se por aprovado se entende que reconheceu a verdade das suas afirmações.
Saudações,
Alfredo Dinis
Fica demonstrado apenas aquilo que afirmei ("uma fonte que o próprio Vaticano reconheceu como séria a este respeito") e não mais.
ResponderEliminarNão sei se o Vaticano se pronunciou sobre a verdade ou falsidade de todos os factos apresentados, imagino que não os tenha negado mas que não os tenha considerado suficientes para vedar o caminho da sua santidade.
Mas a fonte dos mesmos foi, a este respeito, considerada séria. Discordar disto tem como implicação considerar estes processos um verdadeiro teatro...