Uma das principais causas de morte...
Durante o debate da sexta feira passada várias pessoas disseram que o aborto clandestino em Portugal é uma das principais causas de morte das mulheres. Como ninguém deu números concretos nem citou fontes achei suspeito, mas certamente convenceu mais que qualquer filosofia, mesmo sendo mentira.
Hoje tive tempo para consultar os dados da O.M.S. (aqui). Em 2003 morreram em Portugal 52992 mulheres. Dessas, por exemplo, 1556 de cancro da mama; 418 de acidentes automóveis; 411 de quedas; 267 de suicídio; 38 por homicídio e outros crimes violentos. O número total de mulheres que morreram em Portugal em 2003 por complicações relacionadas com gravidez, parto, ou pós-parto foi oito.
Mesmo fazendo as contas pelos números da organização Women on Waves temos em todo o mundo 80.000 mortes por ano devido a complicações em 46 milhões de abortos. Se o sistema de saúde Português fosse tão mau como o da Índia, China, e outros países populosos onde se dá a maioria destes abortos, esperaríamos cerca de 40 mortes anuais causadas pelos cerca de 20.000 abortos clandestinos em Portugal. Mas o nosso sistema de saúde é bem melhor, e o simples facto de ter acesso a antibióticos reduz dramaticamente a gravidade e frequência de complicações numa intervenção desta natureza.
Segundo o Projecto de Resolução nº 70/X do P.C.P, estima-se que na Europa há cerca de cinco mortes por aborto inseguro para cada cem mil nados vivos. A natalidade em Portugal é de cem mil por ano, pelo que as contas são simples: cinco mortes por ano devido ao aborto clandestino.
Estas fontes apontam para uma mortalidade abaixo dos dez casos por ano para o aborto clandestino em Portugal. A morte é sempre trágica, e isto não é razão para ignorar o problema. Mas é falso que este seja um dos mais graves problemas de saúde feminina em Portugal. A não ser, é claro, que se conte com as dez mil abortadas todos os anos, pois metade dos fetos e embriões eliminados são do sexo feminino. Nesse caso podemos considerar o aborto a principal causa de morte feminina em Portugal, sete vezes mais mortal que o cancro da mama e responsável por quase vinte por cento do total anual.
Foi um precioso esclarecimento.
ResponderEliminarRealmente estava enganado a esse respeito. Vejo que as complicações com o aborto clandestino, em Portugal, estavam realmente longe de ser a 3ª causa de morte não natural em Portugal, ao contrário do que disse no debate.
Creio que usei a palavra "julgo", e em boa hora o terei feito.
Pois olhe que aquilo que eu li, é que em Portugal não há registos nem dados oficiais...
ResponderEliminarhttp://www.euro.who.int/Document/E79876.pdf