O conflito entre Ciência e Religião.
O vigia num navio de guerra avista uma luz entre o nevoeiro. Avisa o comandante, que manda o imediato ordenar ao outro navio que mude de rota. O imediato tenta várias vezes, mas pelo rádio recebe apenas um pedido idêntico. Irritado, o comandante pega no microfone: «Daqui fala o Comandante Silva. Este é um navio da Marinha, e não alteramos o nosso rumo! Saiam da nossa rota!». Do outro lado vem a resposta paciente «Aqui fala o Martins, e isto é um farol. Faça lá o senhor Comandante como achar melhor...»
O conflito entre ciência e religião faz me lembrar esta anedota. A religião traz a autoridade da tradição, duma coisa séria e importante, mas a ciência está limitada pela realidade e daí não pode sair. Se a astronomia, a geologia, ou a biologia contradizem uma certa interpretação de um dos muitos livros sagrados não é a ciência que tem que mudar. E o humor em si ilustra outro ponto de divergência. Para uma piada ter graça temos que a compreender, mas não precisamos de acreditar. O gozo de fazer ciência é essa compreensão, associada a uma dúvida que antecipa algo ainda mais fascinante. A religião é o oposto. A Santíssima Trindade ou a hóstia que se transforma no corpo de Jesus são ideias incompreensíveis, que a religião quer que se acredite sem reserva, sem compreensão. Sem humor. A ciência tem piada; a religião é séria e sisuda.
E isso vê-se nas atitudes. Em todos os laboratórios vemos piadas ou cartoons com sátiras à ciência. A prestigiosa universidade de Harvard atribui anualmente os prémios Ig-Nobel, uma crítica sardónica às argoladas dos cientistas. Mas basta um desenho de um papa com um preservativo no nariz ou de um profeta com um turbante em forma de bomba e ficam milhões de crentes ofendidos. O humor é uma forma poderosa de crítica, que suscita a exploração de outros pontos de vista. Enquanto a ciência se alimenta deste diálogo crítico, a religião não quer nada com isso.
E a maior diferença é na reacção a outras ideias. Os cientistas que discordam colaboram para determinar quem tem razão. Quando crentes discordam não há nada a fazer. Nunca Católicos e Judeus vão colaborar num projecto para determinar objectivamente a divindade de Jesus. Há quem queira resolver o conflito entre ciência e religião isolando os campos, com a ciência encarregando-se dos factos e a religião dos valores. Mas o problema não é o conflito de ideias. Há conflitos de ideias na ciência, na arte, e na filosofia sem qualquer problema. Pelo contrário, este conflito de ideias é bom porque estimula o diálogo, o progresso, e novas ideias. O problema é que certas ideologias não toleram o conflito de ideias. Os nacionalismos, ideologias políticas, e religiões tendem a reagir muito mal a ideias contrárias, e a transformar conflitos de ideias em conflitos de pessoas.
Não é o farol que tem que sair da frente, e não são as ideias diferentes que criam o conflito entre ciência e religião. O que causa este conflito é basear uma ideologia na certeza absoluta que é Verdade. Quem tem esta certeza está fechado a posições contrárias, nega a possibilidade de mudar de ideias, e não tem interesse em manter o diálogo. Interessa-lhe suprimir a oposição em vez de aprender com ela, desde a subversão do ensino científico por meios políticos até aos atentados bombistas.
Este teu post lembrou-me imediatamente outro que publiquei há alguns tempos:
ResponderEliminarO Deus/não-Deus dos Ateus
:-)
É bastante engraçado ver a "Ciência" como uma rocha, especialmente sabendo que está sempre em evolução, ou seja em mutação. Não me parece que um farol saia do mesmo sítio.
ResponderEliminarDepois, onde é que a ciência e a "religião" se contradizem na interpretação de "muitos livros sagrados". Falando mais concretamente, em relação ao criacionismo, a Igreja Católica não diz que o mundo começou como está escrito na biblia. Diz que essa é uma versão romantica, e não factual. É pena que os não-crentes falem sem saber.
Quanto a "A Santíssima Trindade ou a hóstia que se transforma no corpo de Jesus", não poderem ser provadas cientificamente, é verdade, e nem é suposto serem! Esses são mistérios, que são intuídos pela razão humana, mas para serem completamente aceites, é necessário um pequeno salto mais alémda razão, a que se chama Fé.
Mas será que tudo o que acredita pode ser provado cientificamente? Prove-me que a sua mãe gosta de si! Prove-me que não é uma espia, que qualquer dia o vai tentar matar! Prove-me matematicamente, ou cientificamente, que isto não é verdade. Não faz sentido pois não? A maior parte das coisas que sabemos não são prováveis cientificamente, e ainda bem! Quando entra num autocarro não vai pedir ao condutor a carta de condução. Quando vê alguém com uma mochila, não vai obrigar a pessoa a provar que não tem explosivos, não é? Temos mil certezas que não são provadas cientificamente, e é isso que nos livra da paranóia.
Quanto ao humor, bastava ir às jornadas mundiais da juventude, este verão em Colõnia, e veria 1 milhão de jovens católicos em festa. Claramente o ambiente era tudo menos cinzento.
Caro Marco:
ResponderEliminarLi o post que referiu, mas não percebi a relação.
Caro João:
A Igreja Católica não diz que o mundo começou como está na Bíblia, mas a Igreja Católica não é a única religião que existe.
E a Igreja Católica diz que Jesus nasceu de uma virgem e ressuscitou, apenas dois dos muitos pontos em que esta fé entra em conflito directo com a ciência.
E se bem que a ciência esteja em constante evolução, é uma evolução ditada principalmente pela forma como o universo funciona e não pela crença humana.
E o mistério é o ponto de partida, o problema a resolver. A religião, quando perante um problema destes, limita-se a desistir, ajoelhar, e rezar. Se tivessemos ficado pela veneração do mistério da primeira fogueira nunca tinhamos chegado ao vapor, muito menos à electricidade e energia nuclear.
Citando o discípulo amado:
ResponderEliminar"É bastante engraçado ver a "Ciência" como uma rocha, especialmente sabendo que está sempre em evolução, ou seja em mutação. Não me parece que um farol saia do mesmo sítio."
É bastante engraçado ver um católico a não perceber de todo uma parábola, talvez seja o estigma da conveniência aprendido das interpretações bíblicas para puxar a brasa à própria sardinha.
"Falando mais concretamente, em relação ao criacionismo, a Igreja Católica não diz que o mundo começou como está escrito na biblia."
Pois não, contudo Jesus Cristo sacrificou-se por causa do pecado original (e não só). Ou seja sacrificou-se por causa de uma versão romântica que nunca aconteceu. E se o velho testamento é uma versão romântica, porque é que o mesmo não se aplica aos restantes evangelhos? Quem é o João ou alguém para escolher o que está certo ou errado na bíblia? Só faz lembrar os milhares de astrólogos que fazem milhões de previsões e depois um ou dois acertam. Obviamente que isso valida a astrologia como um todo.
"Mas será que tudo o que acredita pode ser provado cientificamente? Prove-me que a sua mãe gosta de si! Prove-me que não é uma espia, que qualquer dia o vai tentar matar!"
Navalha de Occam. E sim, é uma questão de avaliar correctamente as probabilidades com base em dados. Os médicos, por exemplo, têm muitas vezes que tomar decisões
arriscadas que não sabem qual será o resultado. Estatisticamente é possível provar relação causal entre um médico que usa os dados disponíveis e a maior taxa de sucesso inerente do que um médico que perante a incerteza age por fé.
E claro que é impossível provar que a mãe do Ludwig não é uma espia. Assim como é impossível provar que Deus não existe. Assim como é impossível provar que as fadas, os elfos ou o pai natal não existem.
eu acredito na ciencia!!!!
ResponderEliminarela tem muito mais respostas do que a religião posso ter fe em deus mas naum acredito que ele que inventou o mundo por exemplo lahh em 6 dias e na 7 descançou sei lá..
isso é uma bobagem so loko pra acredita nessas bobagens sem TAMAnhos..... fui.
Esa merda nao adianto meu lado no trabalho
ResponderEliminariso e um lixo
esa bosta
tira esa merdado ar