sábado, novembro 25, 2006

Provado cientificamente.

A palavra provar tem dois significados diferentes. A demonstração, como na matemática ou na lógica. E testar, como provar um fato ou prestar provas. Parece-me que uma grande dificuldade em compreender a ciência vem de confundir estes dois significados.

Um leitor deste blog (João Silveira) comentou que não posso provar cientificamente que a minha mãe gosta de mim. Engana-se. A minha mãe deu já muitas provas de gostar de mim, em muitas ocasiões que testaram o seu amor por mim. É assim que a ciência prova: testando. Está provado cientificamente que a minha mãe gosta de mim.

O problema é pensar que a ciência prova as coisas como a matemática. A prova dedutiva é útil na manipulação de modelos simbólicos (equações, proposições lógicas, e assim por diante), mas não é uma forma de adquirir conhecimento. Se todos os mafaguinhos são calafráticos, e se o Jibidim é um mafaguinho, então prova-se que o Jibidim é calafrático. Mas o que é que isso adianta?

Para tirar algum partido desta prova tenho que encontrar mafaguinhos, determinar se são todos calafráticos, e verificar se o Jibidim é um mafaguinho. E para isso preciso de provas no outro sentido. Preciso de definir os termos, especificar hipóteses, confrontar previsões com o que observo, para pôr à prova a adequação do modelo à realidade. Sem isto fiz apenas um jogo de palavras sem utilidade nem sentido, mesmo que provado por demonstração lógica. É por isso que a ciência nos dá modelos da realidade que são rigorosos, precisos, e úteis: tudo na ciência é para provar, no sentido de por à prova, e toda a ciência está provada, no sentido de ter prestado provas.

O Bernardo Motta revelou a mesma dificuldade quando propôs que a diferença entre esta abordagem e a fé (a Católica, pelo menos) é uma diferença de «visão do mundo»:

«A virgindade de Maria, para mim, é algo de perfeitamente natural e normal, porque tenho uma visão do Mundo que não é positivista. [... O] crente instruído não acredita num dado dogma "porque sim". Acredita porque esse dogma faz todo o sentido dentro da "weltanschauung" católica. Perfaz um todo coerente de uma beleza que nos convence da sua veracidade.»

Isto é apenas um passo do processo científico: a construção do modelo. Criar uma representação simbólica coerente, elegante, mesmo bela. Pode ser o dogma Católico, pode ser a economia de Marx, pode ser a psicologia de Freud ou a mecânica Newtoniana ou a Relatividade de Einstein. São modelos; palavras e símbolos encadeados duma forma lógica e estruturada.

Mas, como disse Thomas Huxley, mesmo a teoria mais bela pode ser morta por um facto feio. Podemos dizer que o nosso modelo vem da intuição, ou é revelado, ou é metafísico, transcendente, o que quisermos. Mas enquanto não prestar provas de que corresponde à realidade não é mais que o Jibidim e os mafaguinhos calafráticos.

A crença e a ciência não se distinguem pelas suas visões diferentes do mundo. Visões do mundo tem a ciência às dúzias, e muda-as regularmente. Até o dogma Católico já fez parte da ciência ocidental, e nenhum Católico rejeitaria provas científicas da virgindade de Maria ou da ressurreição de Jesus por virem de outra visão do mundo. Apenas o faria se as provas fossem contrárias à sua doutrina. E aqui é que está a diferença. A ciência quer modelos para compreender a realidade, por isso além de os construir também os testa, corrige, rejeita, melhora, e substitui.

A religião quer modelos para acreditar que são realidade, por isso limita-se a enfeitar um modelo com palavras sonantes. Aceita tudo o que facilite a crença. Rejeita tudo o que indique erros no modelo. Como adora o modelo, nem percebe a necessidade de o pôr à prova. Não se testa; tem-se fé. Mistério. Milagre.

Treta.

26 comentários:

  1. Caro António,

    Talvez esteja mal habituado, mas esperava de si um comentário com mais substância. Vou atribuir o lapso ao adiantado da hora :)

    Um abraço,
    Ludwig

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  2. Em paralelo: Sempre me intrigou a afirmação "A excepção que confirma a regra".

    Parece que a explicação para esta contradição é meramente uma interpretação de termos, aliado a alguma estupidez.

    O original estipulava "a excepção prova a regra", entendido no sentido de "submete à prova".

    Assim, a excepção testa a regra, no saudável sentido crítico científico.

    As mentes mais simples foram transformando esta afirmação em "a excepção confirma a regra", que, para além de ser uma idiotice, abre caminho para as mentes preguiçosas.

    Por exemplo,acreditar na imaculada concepção.

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  3. Caro António,

    Uma falácia é um erro de raciocínio. Dizer que tenho provas de algo e não dizer quais não é um erro de raciocínio. No máximo, é omitir informação que, neste caso, é desnecessária -- cada um terá provas que a sua mãe gosta de si, não preciso contar episódios da minha vida privada.

    Quanto à lógica, penso que o António precisa de rever os silogismos de Aristoteles. O exemplo que eu dei é mais conhecido como todos os homens são mortais, Sócrates é homem, Sócrates é mortal. Substituí homens por mafaguinhos, Sócrates por Jibidim, e mortal por calafrático, mas a forma lógica é a mesma. As suas maminhas (salvo seja) não partilham desta estrutura bem conhecida dos professores (e, penso eu, até dos alunos) de filosofia do secundário.

    Depois, o António fala de provas dadas por argumentos. Não é por argumentos que se põe à prova uma hipótese sobre o mundo real. Ninguém determina a virgindade de ninguém por argumentação, mas por observação.´Foi assim que eu determinei que a minha mãe gosta de mim, e certamente o que convenceu o António que a sua gosta de si não foi um argumento, mas a observação dos seus actos.

    Outro mal entendido é a sua ideia que eu exigo que acredite em mim. É exactamente o contrário. A mensagem do meu texto é que não devemos acreditar em hipóteses, nem ideias, nem argumentos. Devemos testá-los contra o que observamos e, se não o fizermos, simplesmente admitir que não sabemos se é ou não verdade.

    Note que mesmo sem perceber nada de mecânica não precisa de acreditar no mecânico quando diz que o seu carro já funciona. Ponha o carro a trabalhar e logo vê. Também não precisa de acreditar nos cientistas quando lhe dizem que podem transmitir imagens para a sua televisão, pôr um computador a funcionar, ou dar-lhe electricidade para usar em casa. Experiemente, e veja se é verdade.

    Mais ainda, funciona tudo igualmente bem para cépticos e para crentes. O interruptor não se importa.

    Nem lhe posso dizer que não existe deus, como não posso dizer que não existem mafaguinhos. Enquanto não me disser exactamente o que isso é e como testar a hipótese da sua existência, são apenas palavras sem significado.

    Um abraço,
    Ludwig

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  4. Muito bem António, só uma correcção, claro que está preocupado com o Ludwig senão não se dava ao trabalho de vir aqui escrever. A disposição apostólica que nos é incutida pelo baptismo, não por vontade de espalhar as "nossas ideias", mas pelo amor aos irmãos e à Verdade, faz com que o possível encontro de alguém com Cristo não nos seja indiferente.

    O Ludwig quer criar um conflito entre religião e ciência que simplesmente não tem razão de ser. É a mesma coisa de tentar criar uma rivalidade entre o benfica e o sanjoanense (é um clube de futebol). Jogam em divisões diferentes, é ridículo pensarem que neste momento são rivais.

    A ciência existe para explicar porque é que a maçã cai da árvore, a religião existe para explicar o sentido da existência. Para ambas são precisas provas diferentes. No caso da maçã, tudo pode ser provado matematicamente, no caso da religião, o que é dito tem de ser confrontado com o coração da pessoa, com a sua experiência, e com a dos que a rodeam. Tentar provar matematicamente a Ressurreição de Cristo é ridículo, porque nem é suposto ser, mas não é por isso que vou deixar de acreditar.

    Como dizia o António, posso nunca ter ido ao Brasil, mas sei que existe. Como? Porque tenho fé nas pessoas que lá estiveram e me dizem que existe. E ter fé é isto mesmo, é acreditar em algo que me dizem, se tiver boas razões para acreditar. Tal como tenho fé que o piloto que me vai levar para o brasil tem o brevet. Tenho razões para acreditar que a companhia aérea não poria uma pessoa sem brevet a pilotar um avião.

    Há assim muitas situações, dezenas no nosso dia-a-dia, em que ter fé é a única solução razoável, enquanto que desconfiar e exigir provas matemáticas é completamente irrazoável, e próprio de um louco.

    Diz que a sua mãe gosta de si porque tem provas, mas se tivesse afastado da sua mãe durante 30 anos sem se falarem, quando se reencontrassem iria exigir novamente provas de que gosta de si? Ou será que a certeza que a sua mãe gosta de si não depende tanto dessas provas assim, e é mais uma certeza moral, que vos liga e ligará para sempre?

    Agora prove-me por favor matematicamente, ou cientificamente o sentido da existência humana. Consegue? Consegue fazer os cálculos, e as provas, e concluir: o Homem existe para...? A ciência nunca responderá a isto, porque não é o seu propósito. Tal como não é a Igreja católica que vai explicar a lei da gravidade. Já foram cometidos erros nesse campo, mas isso está completamente ultrapassado.

    Resumindo, a verdadeira fé vem dum uso exaustivo da razão, nenhuma pergunta pode ficar por ser feita, senão estariamos com medo da verdade, quando, no caso concreto do cristianismo, seguimos Alguém que se proclama como o Caminho, a Verdade e a Vida.

    Mas a razão diz-me também que devo confiar em certas pessoas, fazemos isso todos os dias, e só assim tudo faz sentido. Eu conseguiria viver sem saber que a Terra gira à volta do Sol, mas não conseguiria viver a desconfiar de toda a gente.

    Abraço

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  5. Acho o post muito claro, pedagógico (peço desculpa, mas vou "roubar" um pequeno trecho para postar eu próprio...com o devido crédito).
    Apreciei também o raciocínio do António Parente quando pergunta "que provas científicas tenho eu de estar neste exacto momento...etc": exprime muito claramente o contraste duma civilização que utiliza e beneficia dos avanços cientifico-tecnológicos com a larguíssima maioria da população que não acompanha o pensamento cientifico que sustenta todos esses avanços.

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  6. Caro António,

    Penso que está enganado quanto às falácias e silogismos, mas é uma questão secundária. Peço só que me indique qual é especificamente a falácia de dizer que há provas e não as enumerar, e que me dê o exemplo de uma excepção ao silogismo:

    Se todos os X têm a propriedade Y, e se A é um X, então A tem a propriedade Y.

    Nunca dei filosofia a alunos do secundário, mas como ocasionalmente lecciono lógica computacional e programação em lógica na universidade, tenho muito interesse em saber se há contra exemplos para este silogismo.

    Mas vamos ao que interessa. O António escreveu:

    «Depois vem um grande erro seu: "Ninguém determina a virgindade de ninguém por argumentação, mas por observação." Esse erro poderá custar-lhe caro: imagine que encontra uma namorada que lhe diz que é virgem. Vc, cientista, diz: "só acredito se observar". Qual acha que vai ser a reacção dela?»

    Aqui demonstra a confusão entre determinar e acreditar. Acreditar que é virgem posso à vontada, até se ela estiver grávida e prestes a dar à luz à minha frente. Mas isso não é o mesmo que determinar se é virgem. Há uma grande diferença entre a atitude pessoal de aceitar algo como verdade e o processo bastante mais objectivo de determinar se uma proposição corresponde à realidade.

    Outro ponto importante:

    «Tenho razões para acreditar que a companhia aérea não poria uma pessoa sem brevet a pilotar um avião.»

    Ora muito bem. Tem razões para acreditar. Excelente. É isso que eu estou a dizer: provas científicas são precisamente razões para acreditar. A minha mãe passou noites em claro a cuidar de mim quando estava doente, e isso é razão para acreditar que gosta de mim. É uma prova científica tal como o movimento Browniano e as relações entre pressão, volume, e temperatura de um provam cientificamente (dão razões para acreditar) a teoría atómica dos gases.

    E pode ser que, normalmente, a namorada dizer que é virgem seja uma boa razão para acreditar que é, e constitua uma prova. Mas não quando está grávida. Aí é necessário bem mais como prova.

    No caso de Maria, o que temos são os relatos da vida daqueles que conheceram o filho dela já com 30 anos. Ora isso não é razão para acreditar que ela era virgem. Pode-se acreditar, e muitos acreditam, mas sem razão para o fazer, pois mesmo que os apóstolos tenham sido bons rapazes não estavam propriamente em posição de obter a informação necessária para concluir que uma mulher com um filho de 30 anos é aínda virgem...

    Quanto a provar o sentido da vida humana, isso parece-me ser como determinar o peso do vermelho ou a densidade do acorde de dó maior. Estamos de novo nos mafaguinhos. Diga-me o que quer dizer exactamente, e talvez o possa ajudar.

    Quanto ao confiar nos outros, essa confiança deve sempre pesar a probabilidade de estarem a dizer a verdade com a probabilidade de estarem enganados. Veja o diálogo sobre a compreensão humana do David Hume, por exemplo. Falando por mim, não é por confiar nas pessoas que ia acreditar que uma grávida era virgem antes de haver inseminação artificial.

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  7. Caro António,

    O silogismo que apresenta é logicamente válido. Se de facto todas as maminhas forem de silicone, as da Maria também têm forçosamente que ser. Onde a prova cientifica difere da prova lógica é em determinar se de facto todas as maminhas são de silicone.

    Peço desculpa por ter confundido os comentários do João com os seus. Devo ter carregado uma vez a mais no page down e saltei uma parte...

    «Se o Ludwig não exige que eu acredite em si porque tenta através de posts, da sátira e do humor corrosivo, da lógica aristotélica primária tentar provar que eu estou errado? O que ganha com isso?»

    Preocupa-me que milhões de pessoas possam acreditar com toda a certeza em coisas que não sabem ou que contradizem tudo o que se sabe. Que uma mulher engravidou virgem há 2000 anos. Que um homem morreu e ressuscitou ao fim de três dias. Que um lider religioso nunca pode errar em matéria de doutrina.

    Preocupa-me porque tenho que viver em sociedade com essas pessoas. O António fala de racionalidade, mas racionalidade é dar e pedir razões. A fé é o contrário: é ter certeza sem razões, e recusar mudar de opinião por qualquer razão. É preocupante viver com pessoas imunes às razões dos outros e que têm certezas sem precisar de razões...

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  8. Se Maria é mãe de Deus, Deus criou-a para se dar à luz a si próprio. Talvez isto não faça sentido do ponto de vista biológico, mas como manobra publicitária é insuperável!

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  9. Ao António Parente

    Pelo teor da sua resposta ao meu comentário percebi que fui infeliz na formulação, fruto ,se calhar, do modo espontâneo e rápido destas trocas de ideias. Desculpe, que a minha intenção era mais séria e nada depreciativa.
    É certo que concordo com os pontos de vista do autor do blog e discordo de si, mas o que pretendo dizer é (e eu me incluo na grande maioria que não acompanha essa evolução) que o tal pensamento cientifico que sustenta a nossa civilização é cada vez mais exigente (em termos de aprendizagem, de dominio de conceitos, etc) e, apesar do maior número de pessoas com formação científica, o fosso entre os que a tem e os que não a têm torna diálogos como este difíceis.
    Vejo que a escola não tem a eficácia desejada a avaliar pela crendice generalizada nos fenómenos tipo "mito urbano", paranormalidade, new age, etc, em que a ausência de espírito crítico e um minimo de bom senso céptico falha de modo aflitivo.
    Daí a importância de artigos e documentários de divulgação que nos ajudem a exercitar critérios de raciocinio e a perceber noções cientificas básicas, mas complexas.

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  10. Ludwig,

    Já o leio há certo tempo, o suficiente para saber que o Ludwig não tem qualquer intenção paternalista para comigo ao utilizar o meu comentário para tentar demonstrar um erro intelectual da minha parte.

    Como não podia deixar de ser, porque procuro a solidez do raciocínio e do argumento antes de procurar a solidez do texto do comentário, eu discordo totalmente do erro que me aponta.

    Infelizmente, mantém-se o que eu disse atrás, noutros comentários. Apesar de eu conhecer bem o ponto de vista do positivista, aquele que o Ludwig defende, vejo e constato que o Ludwig ainda não vê nem entende o meu ponto de vista.

    O que se passa é relativamente simples:

    1. O Ludwig afirma que, pelo facto de eu não poder testar a virgindade de Maria em simultâneo com a gravidez de Maria, não posso ter certezas nesta matéria

    2. Juntando a isto a constatação geral de que as mulheres virgens não dão à luz, o Ludwig não só afirma que eu não tenho provas como defenderá que qualquer católico que acredite literalmente na virgindade de Maria, mãe de Jesus, estará errado

    De novo, o problema está na sua concepção da realidade, que é radicalmente distinta (e bem mais estrita e reduzida) que a minha.

    Eu distingo o geral do universal.

    1. Afirmar que, em geral, as mulheres virgens não dão à luz é uma constatação de carácter geral, fácil de verificar

    2. Afirmar, em absoluto, que as mulheres virgens, nunca dão à luz é uma constatação de carácter universal, impossível de verificar

    Eu concordo com a primeira afirmação sem nenhuma dificuldade. Contudo, nunca cometeria a insensatez de concordar com a segunda.

    O Ludwig, sólido positivista, pede a "testabilidade" para a validação do facto científico. Estou consigo, e com Popper neste aspecto. Não temos "ciência" em sentido moderno, sem o carácter de testabilidade. Se não tivermos a possibilidade de testar a veracidade ou falsidade de uma teoria.

    Mas o domínio da Metafísica está muito para além de Popper, muito para além do positivismo científico moderno.

    O cientista moderno pensa que pode estender a necessidade de "prova" para toda e qualquer afirmação ou tese.

    Não posso "provar" positivamente e cientificamente a virgindade de Maria por duas razões:

    1. Ela já cá não está para ser submetida a uma junta médica

    2. As causas da sua gravidez em estado virginal são causas metafísicas, ou seja, que transcendem a materialidade positiva, domínio de trabalho do cientista moderno

    Pelo facto de a ciência moderna ser hoje demasiado limitada para lhe escaparem as causas sobrenaturais (a ciência procura sempre causas naturais para fenómenos naturais, procura um fugitivo e ilusório "sistema fechado"), eu não vou cingir a minha intelectualidade a essas limitações.

    Ser crente católico, para mim, é procurar a expansão máxima do meu intelecto. A "Fé" será, para mim, a aceitação pura e simples de que há causas para lá da experimentação, que há fundamentos para lá da "prova" positiva do cientista moderno. A constatação do rigor da doutrina católica com os princípios tradicionalistas de outras espiritualidades antigas como o Mundo e espalhadas por esse globo.
    A enorme confiança que deposito na mensagem de Cristo, fielmente divulgada e protegida pelos primeiros cristãos.
    O carácter de fiabilidade dessa mesma mensagem pode ser atestado por alguém com boa vontade e que dedique algum tempo ao estudo da Patrística (actividade rara para um ateu).
    No fundo, há uma enorme coerência intelectual no crente culto. Terá o crente católico a Verdade? Não duvido que a tem. Será o único a tê-la? Certamente que não.

    Pode o crente prová-la científicamente?

    Isso é o mesmo que perguntar se sou capaz de contar os litros de água do mar com um copo de vidro.
    Quando o instrumento é mau, a missão torna-se impossível.
    O problema da prova científica de Deus não está no conceito de Deus, mas sim no conceito de prova científica.

    Um abraço,

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  11. Ludwig,

    Quando usei a expressão "visão do mundo", recorrendo ao termo filosófico alemão de "weltanschauung", eu não o fiz no sentido de "teoria", como aquele que deduzo da leitura do seu texto.
    Penso que interpretou mal o significado que dou a esta expressão. A radical diferença entre a minha e a sua visão do mundo não se compara com diferenças entre teorias científicas, por mais díspares que sejam. Não se compara com diferenças entre o modelo newtoniano e a teoria de cordas.
    É algo de mais profundo.
    A diferença intelectual entre as nossas duas visões do mundo traz diferenças radicais em termos da própria intelectualidade, da definição de Intelecto, da definição de Verdade, da definição de Realidade.
    Isso vê-se, desde logo, pelo facto de que o Ludwig coloca toda a sua estrutura intelectual apoiada na "prova", quando eu, pelo contrário, afirmo que as "provas científicas" apenas são válidas num domínio muito restrito do real, e nunca seriam capazes, pela sua natureza fechada, de serem úteis em pressupostos metafísicos.

    O Metafísico, em última análise, é o domínio do real absoluto. E o real, como bem explicou Guénon, é o possível metafísico. O que é possível metafisicamente, é real metafisicamente (mesmo que fisicamente isso não seja notório ou nítido). O impossível metafísicamente não tem qualquer realidade. O erro intelectual, por exemplo, tem uma realidade puramente aparente nas nossas mentes limitadas. O erro intelectual não existe metafisicamente. É nulo, em termos metafísicos.

    Numa realidade metafísica, literamente ilimitada, não há lógica nenhuma em procurar criar artificiais "sistemas fechados", como o faz a física moderna, por exemplo, e dentro desses sistemas pretender que as causas dos efeitos que observamos (e os efeitos que nem sequer são mensuráveis? ficam de fora!) têm que estar no mesmo domínio de realidade.

    Não sei se o Ludwig já se começa a dar conta do abismo que separa as nossas duas concepções do Mundo...

    Um abraço,

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  12. Caro Bernardo,

    Penso que o erro fundamental mantém-se: ter certeza na ignorãncia.

    Eu não devo ter certeza absoluta que é impossível uma virgem dar à luz. E não tenho.

    E o Bernardo não devia ter certeza absoluta que Maria era virgem. Especula que foi por causas metafísicas, opina que os apóstolos sabiam o que diziam, e assim por diante, mas não sabe nada em concreto acerca desse episódio em particular. A sua certeza absoluta é ainda menos justificada que seria a minha se eu a tivesse.

    Note que não interessa o que lhe chama, se metafísica, se fé, se o que for. O problema mantém-se: não sabe. E se não sabe, não devia ter certeza.

    E a coerência é irrelevante. Há infinitas geometrias não Euclideanas, e infinitas topologias a N dimensões que são todas matematicamente coerentes. No entanto apenas uma percentagem infima destas é minimamente adequada para o universo em que vivemos.

    Criar teorias coerentes é fácil. Qualquer obra decente de ficção o demonstra. Mas só podemos ter confiança nas que de facto correspondem ao que observamos. As outras são especulação ou fantasia.

    Um abraço,
    Ludwig

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  13. Não percebo porquê tanta discussão sobre a virgindade de Nossa Senhora, se o que nos faz cristãos é a Ressurreição de Cristo. Essa só pode ser provada por testemunhos (tradição da Igreja), logo nunca matematicamente. E ainda bem, pois todo o livre arbítrio do Homem está dependente de aderir ao Infinito por desejo do coração, e não porque Ele se impõe.

    Quanto ao seu problema: "Preocupa-me porque tenho que viver em sociedade com essas pessoas."

    Olhe o que as fantasias em que a madre Teresa de Calcutá acreditava produziram. Os milhares e milhares de pessoas que ninguém queria amar, e que foram amadas por aquela mulher. Aliás, olhava-se para a senhora e via-se mesmo que era uma pessoa diferente, e também não falava como as outras pessoas, basta ver o que disse ao curar as feridas de um moribundo:

    "Deve compreender que isto é Jesus. Estamos a limpar as chagas de Nosso Senhor. Se não acreditássemos que era o corpo de Cristo, nunca poderíamos fazer isto. Não haveria dinheiro no mundo nos levasse a fazer tal espécie de trabalho"

    O corpo daquele moribundo que não interessa a ninguém, é o corpo de Cristo? Será que isso pode ser provado cientificamente? Como é que aquela mulher podia acreditar nisso, e fazer disso a sua vida?

    Que estranha "fantasia" esta que faz com que alguém ame o outro até à morte? Mas mais estranho ainda é a oposição de tantas pessoas a esta "fantasia".

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  14. Caro João,

    A Madre Teresa é um bom exemplo. Uma pessoa excepcional, extraordinariamente boa e dedicada, mas cuja fé a levou a amar até à morte. Como a Jesus. Nenhum católico fiel salvaria Jesus da morte, mas sim ajuda-lo ia a morrer. E era isso que Teresa fazia.

    Baptizava os moribundos, mesmo muçulmanos e indús. Não distinguia os incuráveis dos que tinham tratamento -- todos eram igualmente amados até à morte. Não aliviava a dor e o sofrimento (Jesus também sofreu, e isso era bom), por isso não havia analgésicos nos seus santuários. Nem vacinas, nem cuidados médicos elementares. Os tuberculosos não ficavam à parte, e as seringas eram lavadas com àgua morna. Se Deus mandava micróbios, aparentemente era para partilhar por todos. Para que fossem amados até à morte.

    Não quero dizer que a fé seja necessariamente má. Mas tem o grave defeito de não admitir correcções. Quando se tem fé em algo ou se acerta logo à primeira ou nunca se acerta.

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  15. Krippmeister

    AP disse "E parabéns pelo seu trabalho artístico. Agradeça a Deus, num gesto de pura humildade, ter-lhe sido dado todo esse talento. Porque desenhar assim não pode ser fruto do acaso.".

    Portanto, ficas a saber que o teu talento é de origem divina.

    O facto de teres passado a maior parte dos últimos trinta e tal anos a desenhar e pintar em média 5 horas por dia, enquanto os teus amigos iam passar o tempo na catequese, nos escuteiros, nas associações católicas do bairro, e noutros clubes onde se faz a apologia à mediocridade, esse imesno tempo que dispendeste a aprefeiçoar as técnicas nada significam.

    Porque o teu talento é de origem divina, fica explicado porque é que a maioria não o tem.

    Não é por preguiça, nem por incompetência, nem por desleixe, nem por estupidez pura, é apenas porque deus assim o quis.

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  16. Caro António,

    Gosto de pensar, como o Miguel disse, que o meu talento foi sendo desenvolvido à custa do meu esforço e empenho no campo da arte, e não porque Deus achou que eu tinha pinta de ilustrador.

    Quando diz "E parabéns pelo seu trabalho artístico. Agradeça a Deus, num gesto de pura humildade, ter-lhe sido dado todo esse talento. Porque desenhar assim não pode ser fruto do acaso." retira-me todo e qualquer crédito no longo percurso de aperfeiçoamento e exercício da minha arte, e assim sendo, não mereço ser congratulado por coisa nenhuma.

    Vamos, no entanto, partir do princípio que é Deus que distribui os talentos, decidindo que eu seria um designer e ilustrador competente. Eu estaria humildemente agradecido, mas pela mesma medida, milhões de judeus deveriam estar furiosos com Ele por ter dado a Hitler o talento e carisma para executar o holocausto. Se o glorificam quando faz coisas acertadas, também o devem responsabilizar quando mete água (Noé que o diga).

    Em relação aos desenhos, fico feliz pelo António e o seu filho terem gostado, é sempre gratificante sermos reconhecidos pelos frutos do nosso trabalho.

    Abraço

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  17. Caro Ludwig,

    em primeiro lugar, tudo o que disse sobre a madre Teresa está provado cientificamente, ou são apenas lugares-comuns provenientes dum diz-que-disse?

    em segundo lugar, mesmo que fosse verdade, o que claramente não é, isso apagaria o que aquela mulher fez? Será que há mais moribundos a queixarem-se de não terem sido recebidos nas melhores condições, ou mais pessoas a agradecer do fundo do coração o que aquela mulher fez por eles? Provavelmente foi a primeira a dizer-lhes que eles eram pessoas, e que são amados.

    Andamos sempre a falar em mudar o mundo, com mil politiquices, e ali esteve uma mulher que realmente mudou o mundo. Mudou-o sem grandes fortunas, e sem revoluções militares, "apenas" com Amor.

    E depois disto vossas excelências vêm com invenções de germes e seringas lavadas com água tépida. Realmente só não são insultados e injuriados os que só se preocupam consigo mesmos.

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  18. Caro João,

    À parte do aspecto evangelizador da obra de Teresa, a missão principal da ordem que fundou é, como disse o João, amá-los até à morte. Se há ou não muitos agradecidos depende de haver uma vida depois da morte, o que me parece ser duvidoso.

    Quando ao que apontei, são conclusões baseadas nos dados que obtive. Veja por exemplo este artigo que foi publicado na Stern.

    Isto não apaga o bem que ela fez, mas mostra como a fé sem dúvidas nos impede de fazer melhor corrigindo os nossos erros. A fé só é boa para quem nunca erra. Quem for mesmo um pouco humano precisa de dúvidas para se ir corrigindo.

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  19. Caro Ludwig,

    li atentamente o artigo que mandou, mas isto são factos? Estas pessoas existem mesmo? E se existem estão a dizer a verdade? Será que são imparciais no juízo, ou têm motivos p não gostar de madre Teresa? É que o Ludwig apresentou a sua argumentação como se realmente tivesse acontecido tudo dessa forma, como se fosse uma verdade indesmentível...é quase como se tivesse fé.

    Sim, é mesmo fé, tal como há pessoas que acreditam que Cristo ressuscitou, porque alguém disse a alguém, que disse a alguém, que lhes disse. E a pessoa ouviu e pensou, sim...faz sentido. Também há pessoas que vão ler isto, que não está provado de forma nenhuma, e passar palavra, de tal forma que se vai tornar um facto.

    Para quem exige provas para tudo, pensei que exigisse um bocadinho mais para julgar alguém do que apenas um artigo. Especialmente porque seria fácil arranjar mil artigos e testemunhos a dementi-lo...mas obviamente classificaria essas contra-provas como mentiras de católicos fanáticos.

    "Quem for mesmo um pouco humano precisa de dúvidas para se ir corrigindo." - ponha um bocadinho de dúvidas nos seus argumentos, e talvez consiga ser o que afirma ser, uma pessoa atenta à realidade. Por enquanto não está a demonstrar ser.

    Cumprimentos

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  20. Caro João,

    O artigo que enviei não é para aceitar com fé, nem é incontestável. São apenas mais dados a considerar.

    A minha opinião neste momento (a as minhas opiniões são sempre provisórias) é que a obra de caridade da Madre Teresa deixava muito a desejar, e visava principalmente a conversão dos pobres e o auxilio emocional aos que sofrem. Pelos relatórios médicos e pelos relatos de quem esteve envolvido nas finanças desta ordem, os cuidados reais eram quase inexistentes, não havendo preocupações no sentido de tratar ou prevenir doenças. Os donativos avultados à ordem também parecem ter sido mal aproveitados.

    É claro que estou sempre aberto a dados que refutem estas informações, e disposto a mudar de opinião se o peso das evidências o sugerir.

    Também admito que isto não invalida o seu argumento. Por vezes a fé também permite que se faça coisas boas, mesmo que este exemplo possa não ser o ideal. Mas a conclusão central do meu argumento era que é mais provável fazer uma coisa acertada quando estamos dispostos a corrigir os nossos erros do que quando temos a certeza absoluta que não podemos estar errados.

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  21. Caro Ludwig, se a madre Teresa não é um bom exemplo não sei quem será, consegue-me dar exemplos de católicos (para não dar o exemplo do Ghandi) que fizeram coisas boas? Pessoas que tenham tido mais pontos positivos que negativos na vida, já que a madre Teresa claramente teve mais pontos negativos, mais valia nunca ter feito nada por ninguém. Consegue dizer alguma?

    E já agora, só a titulo de exemplo, nomes de ateus que se tenham dedicado aos pobres, para eu ver se foram perfeitos.

    Quanto a madre Teresa, como lhe disse, podia apresentar aqui textos e textos de pessoas que conviveram com a senhora a dizerem o que REALMENTE se passava, mas não acredito que acreditasse. Para desmentir essas mentiras todas, só observando como vivem as Irmãs da Caridade.

    Por isso desafio-o a ir um dia a Chelas ou a Setúbal visitar a casa das irmãs. Será recebido de braços abertos, e poderá verificar a hipótese colocada pelos seus companheiros anti-clericais. Digo hipótese, porque não existem factos concretos em nada do que dizem, só hipóteses e teorias. Como homem da ciência tem assim a oportunidade para verificar se são verdade ou não, e estar disposto a corrigir os seus erros, se for caso disso. Se se confirmar a teoria apresentada, e mulheres que entregam a sua vida aos pobres andarem a esconder os milhões e a fingir que são pobres, muito bem. Mais depressa acredito no pai natal, mas enfim...

    Em relação à sua conlusão:"...é mais provável fazer uma coisa acertada quando estamos dispostos a corrigir os nossos erros do que quando temos a certeza absoluta que não podemos estar errados.".

    Concordamos plenamente, mas aí não está a atacar a fé, está a atacar o orgulho. Uma pessoa orgulhosa é que não reconhece o erro. Isso não tem nada a ver com fé, aliás é completamente contrária aos ensinamentos do catolicismo, por ex: não sei se sabe que todas as Missas começam com um acto penitencial, que é como quem diz, reconhecimento dos erros cometidos.

    O amor à Verdade, deve fazer com que o crente ponha tudo em causa, pq não há tabus, e que mude o que está mal. O apelo de Cristo à humildade, repetido vezes e vezes, mostra-nos que devemos admitir quando estamos errados, e fazer todos os possíveis para mudar, por muito que o orgulho tente travar a mudança.

    Como vê, a postura do Homem com fé é exactamente a essa que nos que impôr. E agora pergunta: "Mas todos fazem isso?" E eu respondo: "Não".
    Em qualquer grupo de pessoas há uns que amam o que fazem, outros não, uns são trabalhadores, outros preguiçosos, uns bem-comportados outros mal-comportados, não se vai julgar o grupo pelos que não cumprem as suas "regras".

    É muito simples de perceber, dou-lhe o meu testemunho como homem de fé e que está disposto a reconhecer os erros e a mudar. Aliás, a minha conversão só foi possível fazendo esse exame, e recorrendo a toda a minha razão, reconhecer que é em Cristo que tudo faz sentido. Não foi nada fácil, garanto-lhe, e mexeu com imensas coisas, que não me apetecia nada ter de mudar.

    Por isso, não é verdade que eu como homem de fé não ponha nada em causa, pq o faço todos os dias, e só assim Cristo se mostra real em todos os acontecimentos do dia-a-dia, só assim tudo faz sentido.

    Tenha cuidado com as generalizações, porque quase sempre conduzem ao erro, e não à Verdade.

    Cumprimentos

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  22. Caro João,

    Não tenho opinião formada acerca do numero de coisas boas ou más da Madre Teresa. A questão aqui nem é uma questão de pessoas, mas sim de ideiais.

    Um dos grandes ideais de Teresa era a pobreza. Viver como pobre ajudando os pobres. As Missionárias da Caridade não revelam quanto recebem em donativos (o que por si já é estranho), mas pela fama que têm estima-se entre 50 a 100 milhões de dolares por ano, o que é muito mais que elas gastam em caridade. Ninguém sabe ao certo para onde vai o dinheiro que sobra.

    Outra questão é a de ser católico. Não sei se é isso que o João quer dizer, mas fico com a impressão que acha que Teresa apenas fez o que fez por ser católica, e não pelo seu carácter e personalidade.

    Quanto a exemplos de ateus, mais uma vez estou a falar da abordagem e não das pessoas. Veja o que faz a nossa sociedade melhor que muitas outras: sufrágio universal, liberdade de expressão e pensamento, democracia, tecnologia e ciência, educação para todos, leis contra a discriminação, etc. Nada disso tem a ver com o catolicismo, religião, ou fé, e tudo deriva de um processo gradual de dúvida e abertura à crítica.

    Os maiores feitos da humanidade foram conseguidos não pela fé do individuo mas pela cooperação e esforço de muitas pessoas em diálogo crítico.

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  23. "Só consegui ver mais longe porque me ergui sobre a cabeça de gigantes"

    Newton


    Suponho que o Ludwig não estava a falar na criação de modelos (como o de Newton) se bem que muitos deles possam ter necessitado de cooperação para surgir.

    Onde existe cooperação e diálogo crítico é mesmo na selecção dos modelos. Houve muitos "Newton"s a criar modelos sobre o funcionamento do mundo, muitos deles elegantes, quase todos eles falsos.

    É pela cooperação, pela crítica livre, pela dúvida, que se foram excluindo os piores, seleccionando os melhores, distinguindo-se o modelo de Newton do de tantos outros. Foi assim que o conhecimento avançou.

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  24. Caro Ludwig,

    vou ter de citar a madre Teresa: "Entregamos a nossa vida a Jesus, com uma renúncia total e a serviço dos pobres, tal como Jesus nos deu a sua vida na eucaristia. O trabalho que fazemos é importante, mas não é tanto a pessoa que o faz que é importante. Fazemos esse trabalho por Jesus Cristo, porque o amamos. É tão simples."

    O Ludwig engana-se na análise à personalidade desta mulher, porque não a conhece, e também porque não lhe é possível pôr-se no lugar dela. O que a fazia mover não era o amor à pobreza, nem sequer o amor aos pobres, mas o amor a Cristo. Ela própria disse vezes e vezes sem conta que se não fosse por Cristo, nem por todo o dinheiro do mundo faria o trabalho que fazia, por isso fez o que fez por ser católica.

    O Ludwig acha que o carácter e a personalidade de madre Teresa a predestiniram a gostar da pobreza, quando na realidade foi o encontro com Cristo que moldou a sua personalidade, e as Suas palavras: "Sempre que fizestes isto a um destes Meus irmãos mais pequeninos, a Mim mesmo o fizestes" (Mt 25, 40), que fizeram com que desejasse mais que tudo amar os mais pobres. Seguindo as palavras do próprio Cristo, madre Teresa via no rosto dos mais desgraçados e desprezados o rosto do próprio Cristo, daí a sua missão. Aliás, segundo a regra das Irmãs da Caridade, escrita pela madre, as irmãs passam no mínimo 4 horas por dia a rezar, o que é bizarro para quem acha que o catolicismo não tem nada a ver com o trabalho que desenvolve.

    Estranho que não tenha percebido isto, porque é a primeira coisa que se percebe quando se investiga minimamente a vida de madre Teresa...é pena ter resumido a sua leitura ao artigo que serviu de fonte para as suas hipóteses. Volto a afirmar que se quiser provar essas hipóteses se poderá deslocar a uma da casa da irmãs, e ver com os seus próprios olhos.

    Quanto aos "avanços" da sociedade nada terem a ver com o catolicismo ou a fé, lá está o Ludwig a comparar alhos com bugalhos. Queria uma revolução dos crentes, que impusesse essas mudanças? Aí sim, poderia dizer-se que a fé serviu para alguma coisa?

    A fé decorre da pergunta feita por cada pessoa: "Qual é o propósito da minha existência?". A maneira como essa pessoa vive a sua vida a partir desse momento influencia a sociedade de muitas formas, e certamente esses "avanços" foram conseguidos com participação de homens (e mulheres de fé). Aliás, como é que se pode pensar que o mandamento de Cristo: "ama o próximo como a ti mesmo" é indiferente para a Humanidade? Se o Homem fosse capaz disto sempre, esse sim seria o maior feito da Humanidade.

    A sua generalização de que nenhuma pessoa de fé é capaz de ter espírito crítico está errada, já lhe tinha dito no comentário anterior, e pode ver pelo exemplo de Isaac Newton (acérrimo protestante), e de mil outros cientistas. Se precisar, mostro-lhe pessoas com quem se pode encontrar, que têm fé e usam mais a razão que muitos ateus.

    Só é preciso que não tenha medo de ser crítico em relação a essa sua opinião, que seja realista, e abandone os lugares-comuns ateístas.

    Cumprimentos

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  25. "Madre Teresa de Calcutá tinha algumas opiniões polémicas. Considerava, por exemplo, que nem em caso de violação deveria ser permitido o aborto, caracterizando-o como «o maior mal, e o maior inimigo da paz».

    Madre Teresa de Calcutá também estabeleceu algumas relações duvidosas, como é o caso de Jean-Claude Duvalier (um ditador a quem Madre Teresa elogiou a forma como «ama os pobres»); Charles Keating (que roubou 252 milhões de dólares no escândalo das poupanças e empréstimos, mas que doou 1.25 milhões para a ordem de Madre Teresa) ou até Robert Maxwell (que roubou 450 milhões de libras dos fundos de pensão dos seus empregados).

    Mas uma das coisas mais questionáveis em Madre Teresa é a sua motivação. Em 1981, Madre Teresa disse numa conferência de imprensa: «Eu acho que é muito belo os pobres aceitarem a sua miséria, partilhar a paixão de Cristo. Eu acho que o mundo está a ser muito ajudado pelo sofrimento dos pobres». [...] A título de comparação, A Assembleia de Deus (protestante) serve 18000 refeições apenas em Calcutá, que é mais do que todas as casas da ordem de Madre Teresa juntas. Nenhuma das infra-estruturas em Nova-Guiné (há oito), por exemplo, tem qualquer residente, sendo exclusivamente para converter as pessoas ao Catolicismo.

    Questionável também é o destino das doações feitas à ordem. Madre Teresa recusava-se a comprar equipamento médico. Algum dinheiro, mesmo sendo doado especificamente para caridade, era transferido para o Vaticano para uso geral.
    Madre Teresa nunca permitiu o conhecimento das contas da sua ordem, excepto quando a tal foi obrigada por lei."

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    Em toda a história, as duas pessoas que contribuiram com mais dinheiro para combater a pobreza, são ateias.

    Não precisaram de dizer que é belo os pobres aceitarem a sua miséria: não precisaram de achar "linda" a miséria dos pobres.

    A probabilidade disto ser coincidência é de cerca de 1%.


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    Há muita gente bem intencionada que é religiosa. Na verdade, cerca de 90% das pessoas são religiosas, pelo que é natural que quase cerca de 90% das pessoas bem intencionadas o sejam.
    Mas é mais difícil fazer o bem quando se tem uma noção falsa do mundo que nos rodeia: quando se tem mais medo que os pobres não conheçam Cristo do que o medo que se tem que eles tenham fome, ou falta de medicamentos.

    Era bom que as pessoas bem intencionadas que dão dinheiro para combater a pobreza não fossem crentes, porque assim não seria desviada uma parte significativa desse dinheiro para a evangelização: i.e. o espalhar de superstições.

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  26. Caro João ou Vasco, não percebi bem o seu nome,

    Fez uma bela análise da vida de madre Teresa, mas uma completamente superficial, sem ir ao cerne. Vista dessa forma a madre parece um bicho estranho, mas vejamos cada uma das polémicas à sua volta:

    - “Considerava que nem em caso de violação deveria ser permitido o aborto.” – Devo dizer que também eu partilho desta certeza, assim como muita e muita gente que conheço. A partir do momento em que se considera que o aborto equivale a matar uma vida humana, não deve ser essa vida a pagar pelos erros do pai. Porque há-de ser o mais frágil a sofrer? Não se corrige um erro fazendo outro. Pode discordar desta visão, mas tem toda a lógica, por isso não vejo aqui polémica.

    - “Estabeleceu relações duvidosas” – Porque as pessoas com quem falou não eram todas santas? Porque se calhar até estabeleceu laços de amizade com criminosos? Aí só fez o que Jesus tinha feito há 2000 anos, quando escandalizou toda a gente por conviver com doentes, prostitutas e afins, considerados pessoas com quem não se devia sequer falar. A sua atitude é farisaica, porque quer pensa que tem autoridade moral para dizer com que uma pessoa pode ter laços de amizade, e não. O Papa João Paulo II, um ano e meio depois do atentado de que foi vítima, foi visitar o atirador (Mehmet Ali Agca) à prisão. São especialmente os criminosos e mais pecadores que precisam da companhia dos santos. Em relação aos críticos, Jesus disse: “Quem nunca tiver pecado que atire a primeira pedra, e todos se foram embora porque tinham muitos pecados.”

    - “Eu acho que o mundo está a ser muito ajudado pelo sofrimento dos pobres”. Cristo mostrou que tudo na vida faz sentido, até o sofrimento. E com o seu sofrimento e a sua entrega completa até à morte e morte de cruz, redimiu toda a Humanidade. O sofrimento, quando feito por amor, tem assim um carácter redentor, de remissão do mal que foi feito. Mais uma vez pode discordar disto, mas a ideia é tudo menos estranha, já que os cristãos acreditam nisto, e isso engloba muita gente.

    - “A Assembleia de Deus (protestante) serve 18000 refeições apenas em Calcutá” – Mas ninguém diz que a madre Teresa é um exemplo porque foi quem ajudou mais pessoas no mundo inteiro. Não estamos aqui a falar de eficiência, nem de quantidade, mas de amor (mais uma vez esqueceu-se do factor mais importante). O amor que aquela mulher dava àquelas pessoas não pode ser substituído por nada, nem por milhares de refeições (que dão sempre jeito), nem por todas as ofertas do mundo. Ela começou a pegar em pessoas que iam morrer, e fez com que percebessem que são amados, muitos deles pela primeira vez na vida. Certamente sabe como é a pirâmide social indiana, e estas eram pessoas que estavam a morrer nas ruas, sem que ninguém olhasse para elas.

    - “Em toda a história, as duas pessoas que contribuiram com mais dinheiro para combater a pobreza, são ateias.” – Muito bem, não faço ideia quem sejam, provavelmente os donos da Microsoft, e ainda bem que partilharam o que têm. Mas mais uma vez tenho de dizer que o seu tiro saiu ao lado. Eu posso ter 100000000000000€, e dar aos pobres 2000000000€, que ainda fico com bastante, e vou ajudar muita gente com esse dinheiro. Mas no que interessa, que é o amor, não vou dar nada a comparar com a madre Teresa de Calcutá. Ela deu a vida inteira, amou até morrer, e isso não entra nessa sua lógica economicista e capitalista. O seu erro é ver a caridade como a partilha de dinheiro, quando vai muito além disso, vai até doer, vai até à Cruz.

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