terça-feira, fevereiro 17, 2009

Ah, seus piratas!...

Hoje foi o segundo dia do julgamento do Pirate Bay, um fórum e tracker* visitado por mais de vinte milhões de pessoas por dia onde se troca informação acerca de ficheiros partilhados. Nestes primeiros dois dias a acusação tem estado a apresentar o seu caso contra o Pirate Bay, fruto de três anos de investigação originada pelas queixas da IFPI**. Mais ou menos...

Hoje o promotor Håkan Roswall admitiu que, afinal, o Pirate Bay não tem nem nunca teve conteúdos que violem direitos de cópia. O fórum é um sítio onde utilizadores divulgam e comentam os ficheiros e o tracker é um servidor que gere a indexação dos ficheiros. Como resultado desta admissão o promotor retirou todas as queixas respeitantes à cópia ilícita, que perfaziam metade das queixas contra o Pirate Bay (1). Segundo a IFPI, isto foi uma boa estratégia porque «simplifica a acusação e permite focar no assunto principal, que é tornar disponível trabalhos sob copyright»(2). Ficou por explicar porque é que só se lembraram disso no segundo dia do julgamento e não durante os três anos de investigação.

Roswall também ficou espantado por descobrir que os programas de bittorrent se podem ligar a trackers que não sejam o do Pirate Bay, e que os mesmos ficheiros de indexação podem ser usados com vários servidores. Ou seja, a acusação não pode estabelecer que os ficheiros que apresentam como prova tenham sido descarregados de endereços indicados pelo tracker do Pirate Bay. Podem igualmente ter sido obtidos por índices guardados noutros dos muitos trackers bittorrent que há pelo mundo fora. Talvez seja outra “simplificação” que a acusação devia ter feito durante os três anos de investigação. Isso, e perceber um pouco melhor como funciona esta rede de partilha.

Neste momento os gestores do Pirate Bay são acusados apenas de cumplicidade com a disponibilização de conteúdos protegidos. São acusados de serem cúmplices de um crime que alguém, algures, terá cometido, quando a acusação não pode provar quem cometeu nem que tenha sido com a ajuda do Pirate Bay.

O advogado de defesa Per E. Samuelsson também ficou surpreendido. «É muito raro ganhar metade de um caso logo ao fim do primeiro dia e meio, e é evidente que a acusação ficou profundamente perturbada pelo que nós dissemos ontem»(2).

O problema é que o Pirate Bay apenas facilita a troca de informação acerca de quem tem ficheiros para partilhar. Todos os ficheiros partilhados são trocados directamente entre os utilizadores, sem intervenção dos trackers. A sua “cumplicidade” é análoga à de publicar moradas de bibliotecas e de casas de fotocópias. Os “criminosos” são as dezenas de milhões de pessoas que trocam ficheiros entre si. E se esses tivessem de pagar a indemnização que a acusação pede calhava alguns cêntimos por cabeça, demonstrando que esta lei não só é impossível de implementar com justiça como é fundamentalmente ridícula.

*Na rede bittorrent, um tracker é um servidor que mantém listas actualizadas dos endereços de quem partilha quais ficheiros.
** International Federation of the Phonographic Industry

Quem quiser, pode assistir ao espectáculo quase em directo, e em Inglês, neste canal de Twitter e neste blog. Ou numa data de outros sítios...


1- ZeroPaid, 17-2-09, Day #2 of The Pirate Bay Trial - Half of Charges Dismissed
2- IFPI, 17-2-09, Statement - Amended charges will simplify case against The Pirate Bay

17 comentários:

  1. Por mim espero bem que se safem todos. É que o Pirate Bay dá um jeitão!

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  2. Dá mesmo um jeitão!
    Onde vou arranjar as minhas séries preferidas?

    O Mininova ajuda mas li algures que 50% dos trackers estão nas máquinas do Pirate Bay.

    Mas é a velha questão, onde há procura haverá oferta. Se fecham este...

    Lembram-se do Napster? Esse já lá vai faz uns anitos e desde aí quantos nasceram?

    É uma luta idiota.

    Baixem os preços drásticamente (centimos por musica, filme e série), disponibilizem-nos sem DRM e em HD. Não se esqueçam que eu quero a música JÁ enão amanhã. Quero ver o filme AGORA.
    Se tivessem feito isto já tinham ganho uns bons euros comigo. Assim só estão a gastar dinheiro em advogados e a desfocar do que é importante: facturar.

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  3. Eu no outro dia vendi o meu carro. Pedia 2000€ por ele, mas acabei de o vender por 1000€. Não foi uma derrota minha, mas sim uma simplificação do processo de venda.

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  4. Manter uma farm de servidores num bom datacenter não custa mais que 50.000 euros por mês no mercado americano. Isto levando em conta a grande quantidade de pedidos simultaneos e respectvos downloads bem como bases de dados segurança, amortização do custo de hardware, etc, etc. Lançar um projecto destes de forma séria nao deve também custar mais que uns 500 mil dolares incluindo todo o desenvolvimento e licenças. Acresce a isto uma equipa de desenvolvimento/manutenção que pode (e deve) ser terciada com custo à volta de 50 mil/mês.

    Este custo anual é menor que a remuneração de um executivo médio de uma destas editoras quer de música quer de cinema ou séries.

    O contrato com a paypal ou a visa, mastercard e american express também pode ser esmifrado dado o volume de facturação mensal previsto.

    Mas todo este dinheiro e energia estão a ser canalizados para estes processos em tribunal.

    Não consigo entender.

    A solução parece-me tão óbvia...

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  5. Os custos que indiquei acima estão lançados por cima.

    Se me dessem este projecto aposto que, com excepção da equipa de desenvolvimento/manutenção, conseguiria metade. E sei do que falo, esta é a minha área de trabalho desde que comecei a ganhar dinheiro de jeito - inicio da verdadeira massificação da internet por volta de 1998.

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  6. Mama eu quero,

    «Não consigo entender.»

    É relativamente simples. Quem está por trás destes processos, e quem lucra com eles, são advogados.

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  7. Certo.

    Mas os administradores dessas empresas e, principalmente, os accionistas andam a fazer o quê?

    Eu também já apanhei muito administrador completamente fora do negócio que administra mas este caso parece-me demasiado surreal, principalmente depois do iPod e da Amazon venderem que nem paezinhos quentes a preços super exagerados.

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  8. Olha, nao me tinha lembrado que os grupos donos destas empresas têm outras de telecomunicações com bons e vários datacenters. Pode-se riscar já o custo de 50 mil/mês (a não ser que interesse do ponto de vista contabilístico).

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  9. mama eu quero, esta gente (Accionistas) está completamente à nora das realidades do séc. XXI e a única coisa que querem ver é dinheiro. Tanto o iTunes como a Amazon finalmente vendem música sem DRM, não por falta de visão deles, mas por imposição das "Labels", retrógradas e macarrónicas. Sem DRM?!? E só agora descobriram isso?!? Que as pessoas não têm pachorra para comprar música que tem muitas mais limitações do que a simples música pirateada?!?

    Seja como for, tou contigo mama eu quero. Quando um filme de "topo" custar 1,00 euro, e uma música 0.10 cêntimos, ganham dinheiro comigo. Até lá, não.

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  10. Barba Rija,
    "esta gente (Accionistas) está completamente à nora das realidades do séc. XXI e a única coisa que querem ver é dinheiro."

    Sim ísso é verdade mas por só verem dinheiro é que fico admirado de não verem o óbvio. É mesmo por estarem fora da realidade do séc. XXI.


    Faz um par de anos tive acesso a um estudo encomendado por eles (viacom) através de um colega americano. O estudo analisava as vantagens/desvantagens de disponibilizar os conteúdos centralmente e sem intermediários. Todo o estudo estava bem feito e no fim resumia que nao fazia sentido porque ainda era mais vantajoso financeiramente a disponibilização geográfica gradual dos conteúdos.

    O que me chamou à atenção foi o facto de não haver ponto nenhum a analisar as mais valias financeiras de pessoas como eu e tu aderirem à compra de conteúdos que hoje se recusam.

    Depois de perguntar ao colega porquê percebi que nas reuniões de lançamento do projecto esse tema ficou de fora porque eles (viacom) iriam tratar de acabar com a pirataria de vez pelo que não faria sentido pensar nesse tema.

    Fora da realidade do séx. XXI portanto.

    E aí estão eles a tentar deitar abaixo o Pirate Bay e a filtrar p2p nos states e a fazer traffic shapping etc.
    Não atingem!

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  11. O que eu não percebo é o que é que eles andaram a fazer nos três anos de investigação, em que não se lembraram de pedir a alguém que lhes explicasse como funciona um torrent.

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  12. Isto está melhor que o "Prison Break"!
    A defesa do gajo da Pirate Bay (Carl Lundström) GOZA com a acusação do IFPI!!!
    É que não é só sentido de humor... é preciso tomates dos grandes para dizer isto aos representantes da industria de conteúdos multimédia mundial (IFPI):
    "The prosecutor must show that Carl Lundström personally has interacted with the user King Kong [nick de utilizador do Pirate Bay que disponibilizou os episódios de uma temporada do Prison Break antes de esta estrear na TV], who may very well be found in the jungles of Cambodia," the lawyer added."

    ahahahah não há como não simpatizar com eles.

    Aqui

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  13. ahahahah não há como não simpatizar com eles.

    :D

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  14. E já hoje quando Fredrik Neij, co-fundador do Pirate Bay, respondia à pergunta se Oded Daniel (publicitário pelo que se lê) estava a par de detalhes técnicos do Pirate Bay este responde "No, he's not good at that. He uses Windows, so…"

    É muito bom!

    Entretanto o site da IFPI, numa manobra contra-producente, sofreu ataques de hackers.

    Aqui

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  15. Ludwig,

    O Pirate Bay fornece um serviço, que providencia a conexão de dois ou mais utilizadores para descarregar um ficheiro que permitirá a audição de uma música ou instalação de um software que não é permitido ser feito dessa forma por quem originalmente fez essa música/software.

    É a mesma coisa de que eu fornecer o serviço que permita dois indivíduos de procederem a uma actividade ilegal, eu sou conivente se sei que estou pelo menos a fazer esse tipo de serviço que irá desencadear por meu intermédio uma actividade ilegal.
    O Pitare Bay sabe-o, e eu também ao ver um torrent deles. Havendo intencionalidade do Pirate Bay de fazer esse serviço e estando eles conscientes do que se passa, não há desculpa. Tecnicamente servem-se da orgânica das coisa para se esquivarem, nada mais.

    Nota que não sou contra que o autor forneça de borla tudo, sou contra (mesmo penalizando-me) o facto de descarregar à borla da parte de quem combina com os potenciais compradores antes de fazer a sua obra, essa regra - só consome se pagar - para quem a quer adquirir; pois só compra quem quer, que não quer não compra; não havendo prejuízo maior para isso que uma pequena birrinha ou amuo.

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  16. Mário,

    «O Pirate Bay fornece um serviço, que providencia a conexão de dois ou mais utilizadores para descarregar um ficheiro que permitirá a audição de uma música ou instalação de um software que não é permitido ser feito dessa forma por quem originalmente fez essa música/software.»

    Isto não é correcto. Quem fornece o serviço de conexão são os ISPs. Tal como os CTT nos permitem a nós enviar fotocópias de livros um para o outro.

    O Pirate Bay fornece um fórum onde as pessoas podem ler e escrever as moradas e os livros que têm para fotocopiar.

    «É a mesma coisa de que eu fornecer o serviço que permita dois indivíduos de procederem a uma actividade ilegal, eu sou conivente se sei que estou pelo menos a fazer esse tipo de serviço que irá desencadear por meu intermédio uma actividade ilegal.»

    Sim. Construir estradas permite violações por excesso de velocidade, tal como vender carros. Os transportes públicos podem ser usados por carteiristas. Os correios podem ser usados para enviar droga ou cópias ilegais de material protegido por copyright. A internet pode servir para difamar, para insultar religiões ou para copiar ficheiros mp3. Tornar tudo isso ilegal por poder ser usado para fins ilegais é parvoíce.

    «Tecnicamente servem-se da orgânica das coisa para se esquivarem, nada mais.»

    Se esquivarem do quê? Imagina que eu permito aos comentadores neste blog trocarem informação acerca dos livros que têm, ou CDs, quem copia o quê e quem envia por correio para quem. Deve o tribunal fechar-me o blog por eu permitir que vocês façam isso?

    E adianta de alguma coisa? O que achas que acontece à partilha de ficheiros se fecharem o Pirate Bay? Eu sei. Nada. Fica tudo exactamente na mesma.

    Já agora, no Google podes encontrar todos os torrents que encontras no Pirate Bay. Vamos fechar o Google também?

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  17. Mário Miguel,

    Esta parte é um assunto diferente:

    «Nota que não sou contra que o autor forneça de borla tudo, sou contra (mesmo penalizando-me) o facto de descarregar à borla da parte de quem combina com os potenciais compradores antes de fazer a sua obra»

    Aqui estamos de acordo. Se eu combinar contigo pagar-te 100 euros por uma música, tu compões a música e eu não te pago, isso está errado.

    «essa regra - só consome se pagar - para quem a quer adquirir;»

    Aqui estás a confundir as coisas. Ninguém consome ficheiros de computador. O que fazem é copiá-los, que é precisamente o contrário de os consumir.

    Essa regra faz sentido para bens que se consomem. Para batatas, casas, automóveis. Não faz sentido para bens que se multiplicam sem esforço. Anedotas, modas, fórmulas matemáticas, palavras e números.

    «pois só compra quem quer, que não quer não compra; não havendo prejuízo maior para isso que uma pequena birrinha ou amuo.»

    Concordo, mas não da mesma maneira que tu. O material que eu publico sem acordo prévio de remuneração só mo paga quem quiser. E se o copiarem o único prejuízo para mim será uma birrinha ou amuo, porque não me devem nada se não me prometem nada nem me tiram nada.

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