sábado, setembro 29, 2012

Treta da semana (passada): a fábula.

No domingo passado, o Miguel Macedo disse que Portugal «não pode continuar um país de muitas cigarras e poucas formigas», aludindo à fábula que, disse, é «pedagogia para os tempos difíceis»(1). Explicou mais tarde que a sua intenção foi fazer «uma homenagem ao trabalho de todos aqueles que criam riqueza no país […] aos trabalhadores por conta de outrem e aos pequenos e médios empresários, comerciantes e agricultores, que, pelo trabalho de formiga que todos os dias fazem, criam riqueza, mantêm empregos e criam postos de trabalho em Portugal» (2). Ou não percebeu a fábula ou é a treta do costume.

A fábula da formiga e da cigarra tem várias variantes, mas sempre a mesma mensagem. Quem é prudente trabalha, poupa e arrecada quando a vida corre bem. Assim, tem com que se safar quando chega o inverno. Quem é mandrião trama-se. Isto é pedagogia, mas não é para os tempos difíceis. No inverno já não há nada a fazer. Também não é uma homenagem ao esforço da formiga. É um aviso. E não tem nada que ver com a nossa sociedade.

Até há poucos anos, as formigas europeias foram arrecadando o que ganhavam pelo seu trabalho. Infelizmente, durante esse verão, nem todas as cigarras andaram por aí a cantarolar. Se assim fosse, estávamos bem. Na Europa temos que chegue para pagar comida e abrigo a quem precisar para não passar fome e frio. É bem mais barato do que as negociatas das privatizações, do BPN, das PPP e dos submarinos. O problema é que, ao contrário da formiga da fábula, as formigas da Europa têm de guardar as poupanças nos bancos e não no formigueiro. E os bancos são das cigarras. Como as formigas alemãs trabalham bem, as cigarras alemãs viram-se com uma dispensa cheia de provisões. Em conjunto com as cigarras portuguesas, espanholas, gregas e irlandesas, desataram a apostar as poupanças das formigas. Nem interessava em quê. Casas, estradas, empresas, o que calhasse, porque o importante não era dar lucro a longo prazo. Era sacar comissões até rebentar a bolha. Afinal, o dinheiro era das formigas.

As cigarras dos governos foram fazendo o mesmo. Não a troco de comissões, que seria ilegal, mas a troco de cargos de administração e consultoria, que é apenas imoral. Os impostos das formigas seriam, em teoria, parte do pé-de-meia que lhes valeria se alguma coisa corresse mal. Hospitais, pensões, apoios sociais. Mas as cigarras no governo decidiram que isso é desperdício. É despesa. Por isso toca a cortar nos subsídios, serviços e salários, a vender o que é de todos e a meter ao bolso o que se puder. E depois há que recapitalizar os bancos. Temos de fazer mais esse sacrifício porque as desgraçadas das cigarras banqueiras estão a ficar sem dinheiro dos outros para apostar e é óbvio que não vão meter do delas. Isso seria imprudente.

O Miguel Macedo quer que nos preocupemos com o número de cigarras. Quer mais formigas a trabalhar para ele. Mas o número de cigarras importa pouco. O Miguel Macedo até pode continuar na política, a receber o ordenado de ministro ou deputado e a cantar até que a voz lhe doa. Mesmo com ajudas de custo isso paga-se bem e sempre é menos um a arrumar carros. O que é mesmo importante é as cigarras como ele devolverem a chave da dispensa, porque enquanto andarem a desbaratar o que as formigas arrecadam não há austeridade nem esforço que nos safe.

1- Público, Portugal não pode ser “país de muitas cigarras e poucas formigas”, diz Miguel Macedo
2- Público, Miguel Macedo quis homenagear trabalhadores quando falou de cigarras e formigas

6 comentários:

  1. Respostas
    1. Exacto o João Bascu é a proverbial cigarra que amealha uns tustes pois as formigas não têm $ para poupar

      Um checo deu um tiro com uma bala de plástico no VlaclaV klaus
      as nossas formigas nem isse fazem...

      Uma bolsa de investigação dá uns tustes valentes em escudos eram 184.700$ nos idos de 98

      era mais do que se ganhava em neves corvo

      o cobre andava em baixo

      agora um engenhero do IST ganha 1500 em neves corvo
      iliquidos

      uma bolsa nã paga IRS...nem Segurança Social

      é verdade que também não dá subsídio de desemprego

      mas isso poucos trabalhos de 3 ou 4 meses dão hoje em dia

      e há muitas cigarras 80 mil licenciados e mestres com emprego como 40 mil professores universitários e politácnicos 6000 em afundações 8000 em institutos e observatórios 4000 no ministério da agricultura 3000 no da in justiça e nem meto o da saúde e educação
      quisso metia mais 140 mil com os tarefeiros licenciados

      as empresas púbicas (RTP excluida que deve ter uns centos nos 2000 que lá tem) têm apenas 9000 licenciados menos de 6% dos trabalhadores
      deviam meter lá uns 40 mil ao menos
      uns

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  2. olha uma cigarra na televisão queria ser bailarina e agora anda em hollyhood a neta do doutor Ruah com consultório na rua do Alecrim mesmo ao lado do antiquário Trindade e à frente do livreiro Trindade
    Burnay's também tinham um antiquário e um livreiro que vendiam milhões a outras cigarras

    o silva´s vendia muito à fundação da universidade de lisboa e às cigarras da biblioteca naxional

    as cigarras do palácio do correio velho vendeu um dia à torre do tombo 300 mil contos em papel velho
    e no outro 120 mil contos em meia dúzia de peças umas para o museu de arte antiga uma pela manutenção militar quiçá para o museu militar
    uma para o ministério da justiça em bronze 6000 contos um bronze do século XIX e nem era do Rodin nem do Rodinhas

    puze o rodin por causa da cara em perfil da cigarra em rodinhas aí de cima

    nã há cigarras ó palerma...há e têm mais $ que as formigas

    muito e muito mais

    olha o Pinto da tua Nova Universidade
    Professor José Pinto da FCSHumanas Cigarras sunt insecta meu...

    já as formigas são parvas...emmigrem formigas emmigrem
    só que as putas das formigas não emmigram
    já tão velhas

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  3. Não tens um observatório de qualquer coisa que te dê mais uns extras?

    só 3000 ao mês?
    merda e dizes tu ser professor universitário

    se calhar dás 20 horas de aulas por septimama nun?

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  4. Realmente, o Miguel Macedo estava tão bem caladinho. Só nos faltava agora, um ministro, com o rei na barriga, a lembrar-nos que somos formigas e que é preciso mais. Esses tipos não têm a noção do ridículo. Ele que faça o trabalhinho dele e que não se meta a besta a falar de cima da burra, que é a cultura (missão?) dos nossos políticos. Alguém lhes meteu na cabeça (a eles e a nós), desde pequeninos, que são uma elite muito especial. E são, mas não é por boas razões. Para resolver problemas de governação é que não é com eles, não sabem nem foram feitos para isso. Até quando vamos andar nisto, baralha e volta a dar? Este "fatalismo" de vivermos a trabalhar para construir pirâmides e clubes de futebol e alimentar sanguessugas continua a ser o padrão de organização e de racionalização das sociedades.

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    1. fatal ismo de vivermos sem fazer nada é bóptimo
      é verdade que tirando a construção civil e a venda de adolescentes para fins vários já não há grande indústria no formigueiro do deserto

      as formigas trabalhadoras não usam óculos nem são machos

      de resto macho de formiga não vive lá grande coisa

      C.B. Murray (CdE, E=S, Se, Te), 1993
      Dimethylcadmium (Me2Cd) + bis(trimethylsilyl) sulfide ((TMS)2S) or trioctylphosphine selenide (TOPSe) or Trioctylphosphine telluride (TOPTe) + solvent (Tri-n-octylphosphine, TOP) + capping material (tri-n-octylphosphine oxide, TOPO)
      before aging (440 ~ 460nm), after aging at 230-260°C (1.5~11.5 nm)
      Size-selective precipitation e alimentar sanguessugas

      é feyo chamar sanguessugas ó krippahl e aos restantes

      se nã é sanguessuga candidatasse-se tem edade pra isse...

      lamentamos que seja um pobre trolha com internet no café...
      que desabafa a sua bidinha de insecto honrado a 475 ao mês

      ou a 200 por mês a apanhar batatas e marmelos...

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