Uma “filosofia” diferente.
Aos vendedores de terapias alternativas é útil a ideia que os seus remédios e mezinhas não podem ser comparados com a medicina. Mas normalmente defendem-no de forma subtil, disfarçadamente. Por exemplo, o “Dr” Pedro Choy explica que «Não é possível a um médico formado na Medicina do Ocidente fazer um diagnóstico ou um tratamento de Medicina Chinesa, pois a diferença entre as formações é abissal»(1). Ou seja, se eu me queixar de alguma maleita e for a um médico posso pedir a outro uma segunda opinião. Afinal, a maleita é a mesma. Mas se vou a um acupunctor fico já avisado que nenhum médico vai sequer perceber o que o acupunctor recomenda. Coitados dos médicos. Anos a estudar o que pensavam ser medicina e afinal era só medicina do ocidente, válida apenas para meio mundo.
Recentemente, num diálogo com um leitor que alegou ser acupunctor e a quem pedi referências demonstrando a eficácia da sua arte, a afirmação foi mais explícita, talvez encorajada pelo anonimato: «nem eu nem colega meu algum tem que lhe provar o que quer que seja. Só exigem bases científicas unicamente com o propósito de tentar achincalhar quem honestamente trata e respeita os doentes como seres humanos que são.»(2) Se querem tratar os doentes com respeito, o mínimo que se exige é alguma evidência que essas terapias funcionam. A convicção que podem prescrever tratamentos sem ter de justificar nada a ninguém é desonesta e potencialmente perigosa. E assenta numa premissa errada.
Não é verdade que a acupunctura, por exemplo, seja fundamentalmente diferente da medicina a que chamam “ocidental”. É certo que assume coisas que a medicina moderna rejeita, como haver um fluxo de Qi pelo organismo e os seus bloqueios provocarem doenças. Mas a história da medicina está pejada de hipóteses como essa, de resto muito semelhante à teoria dos humores. Tal como hoje muita gente leva picadelas para harmonizar o fluxo de Qi, também há uns séculos muitos eram sangrados para harmonizar o sangue com a bílis e a fleuma. O negócio das terapias alternativas assenta na repescagem de hipóteses que a medicina já rejeitou, com algumas alterações cosméticas para vender melhor nesta nova era (as agulhas são esterilizadas, não vá uma bactéria infectar o Qi).
A grande diferença está na abordagem do problema. A patologia humana é muito complexa e, à falta de uma banha de cobra que trate tudo, os médicos têm de se especializar. Mas especializam-se no que é constante. Os pulmões, coração, nervos, ossos e assim por diante, que serão aproximadamente o mesmo ao longo da carreira do médico. Em contraste, um médico que se forme hoje não está à espera de usar exactamente as mesmas técnicas e medicamentos daqui a trinta anos. A medicina progride com o aprofundar do conhecimento e o melhorar da tecnologia. Por isso vamos ao pneumologista e ao cardiologista em vez de irmos ao comprimidologista, estetoscopista ou seringuista.
Nas “medicinas” alternativas passa-se o oposto. Cada praticante especializa-se na sua técnica e essa serve para tudo. O iridologista diagnostica tudo olhando para a íris, o quiroprata trata tudo alinhando as vértebras e o acupunctor livra-nos de qualquer maleita com meia dúzia de picadelas. Nem é preciso acabar a licenciatura em medicina. Tira-se um curso de medicina tradicional em Marselha e pronto, cura-se mais coisas que qualquer dúzia de especialistas com décadas de estudo e experiência. E não é preciso provar nada. Basta convencer os clientes a pagar pelo serviço.
Há muito a dizer das seguradoras. O que querem é o nosso dinheiro, é preciso atenção às letras miudinhas nos contractos e quando chega a altura de pagar tentam sempre esquivar-se. Mas, mesmo assim, quem se quiser acautelar contra um imprevisto faz melhor investir num seguro que num astrólogo. Com a medicina é o mesmo. Os médicos não são anjos, as farmacêuticas são negócios e há que ter cuidado com asneiras e trafulhices. Mas é melhor recorrer a quem estuda os problemas a fundo e presta contas pelo que faz do que àqueles que se convenceram que conseguem resolver tudo e que julgam não dever explicações a ninguém.
1- Clínicas Dr Pedro Choy Medicina Chinesa
2- Comentário em Treta da Semana: Kevin Trudeau
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ResponderEliminarÉ o relativismo no seu melhor.
ResponderEliminarQuando analisados pela medicina oriental o nosso corpo deixa de ter linfa, sangue, nervos, musculos, etc, para ser Qi e seus desajustes.
Felizmente que graças ao Pedro Choy podemos oferecer um cheque prenda acupunctura para salvar um amigo. Não vá o corpo dele orientalizar-se sem avisar.
Porque é que toda a gente tem de achincalhar a ciencia quando a coisa não lhe agrada?
ResponderEliminarQuerem todos ser cientistas e são todos baseados em evidencias.
Mas quando se pede para as ver é sempre a mesma coisa.
Este senhor parece um criacionista:
"Quanto à palavra cientifico, depende daquilo que cada um quizer atribuir ao termo"
Não, não depende do que cada um quiser atribuir ao termo. Para quem madou o Ludovic ir estudar este senhor é um pouco ignorante.
"Consideram-se terapêuticas não convencionais aquelas que partem de uma base filosófica diferente da medicina convencional e aplicam processos específicos de diagnóstico e terapêuticas próprias. "
ResponderEliminarÉ o que diz a lei.
Ludwig,
ResponderEliminarNão percebi se o problema é contra as medicinas alternativas ou com o facto do Pedro Choy não ter acabado o curso.
A mim não me interessa se quem me trata é dr. ou não, interessa é que me trate os meus males, isto sem bruxarias...
Cumprimentos.
Tiago,
ResponderEliminarSe alguém diz tratar uma data de coisas completamente diferentes, desde o feto mal posicionado à bronquite, justifica-se exigir evidências que suportem tais alegações.
Se, além disso, se propõe fazê-lo com técnicas pseudo-místicas que partem de pressupostos contrários ao que sabemos acerca do corpo humano, ainda mais exigentes devemos ser.
Finalmente, se isto vem de alguém que nem acabou o curso de medicina mas se intitula de "doutor" e se faz passar por médico, ainda mais se justifica o cepticismo.
Parece-me que é uma situação diferente da do médico que se especializou em cardiologia, usa técnicas de acordo com o conhecimento que temos e apenas se propõe tratar de problemas cardíacos.
EXPLICAÇÃO: DUAS "FILOSOFIAS" DIFERENTES
ResponderEliminarNos debates que os criacionistas têm levado a cabo com os evolucionistas algumas coisas sintomáticas aconteceram.
O Desidério Murcho, no seu site Criticanarede, ainda tentou contrariar os argumentos criacionistas, tendo acabado por retirar a discussão do “ar”, eliminando a secção de comentários. Curiosamente, fez questão de apagar os seus próprios argumentos.
O mesmo acabou por acontecer com o Rerum Natura, depois de a Palmira Silva e o Paulo Gama Mota, entre outros, terem tentado contrariar o criacionismo, dando lugar a respostas criacionistas que foram repetidas várias vezes nesse blogue de ideologia naturalista.
O David Marçal ainda tentou fazer humor, mas também aqui os criacionistas responderam com tiradas humorísticas colhidas ao longo do debate. A única saída era mesmo fugir, quanto antes, ao debate com os criacionistas.
Alguns tentaram interpretar a participação criacionista como motivada pela obsessão ou pelo ódio (o que só atesta a grande imaginação evolucionista!), talvez porque não tenham conseguido responder com sucesso aos argumentos criacionistas apresentados.
Se os criacionistas não respondessem, seriam acusados de não terem argumentos. Como responderam, repetidamente, são acusados de obcecados ou motivados pelo ódio.
Que conveniente, quando não se tem argumentos!
Não se trata nem de obsessão nem de ódio. Era o que faltava!
Trata-se apenas da demonstração empírica de que um criacionista bíblico pode calmamente avançar os seus argumentos em sites científicos, no meio de cientistas, sem nunca ser refutado cientificamente.
Isso é assim, porque todas as observações científicas que possam ser mobilizadas encaixam muito bem no modelo criacionista.
Este acomoda muito bem o código genético, as mutações, a selecção natural, a especiação, a adaptação, os triliões de fósseis, as camadas transcontinentais de sedimentos, as diferentes concentrações de isótopos, a quantização das galáxias, os campos magnéticos planetários, a craterização dos planetas, etc.
A única coisa que o criacionismo não acomoda são as interpretações naturalistas e evolucionistas destes factos observáveis.
A incapacidade de resposta demonstrada pelos evolucionistas, foi especialmente clara nalguns momentos.
Na verdade, ao argumento da origem inteligente da informação codificada contida no DNA (com uma densidade estimada de 1.88 x 10^21 bits/cm3, os evolucionistas responderam com argumentos baseados em:
Cubos de gelo!
Berlindes!!
Pegadas de cão!!!
Isto, mesmo quando aqui e ali foram espicaçados por uma linguagem cáustica e provocatória, como aquela que o forcado usa para chamar o touro e impedir que ele se refugie nas tábuas.
O problema do criacionismo não é com a ciência. É apenas com a filosofia naturalista e evolucionista que é tão antiga como a rejeição de Deus, existindo já, sob varias formas, no pensamento de Platão, Demócrito, Epicuro, Empédocles, Lucrécio, etc.
A todos eles a Bíblia sempre respondeu, como responde ainda hoje, com a autoridade da Palavra de Deus.
Naturalismo e Revelação de Deus são mesmo duas "filosofias" diferentes.
As ditas medicinas alternativas deveriam simplesmente ser proibidas por serem uma treta. Não existe nenhuma prova de que alguma funcione, todos os estudos indicam o contrário e as pessoas são cobradas por tretas. MAis ainda, as pessoas que tenham patologias sérias andarão a adiar a sua resolução com energias, massagens etc.
ResponderEliminarEsta gente faz-me lembra a figura do médico falso na série de banda desenhada do lucky lucke
enfim, haja pachorra
Era o elixir do Dr . Doxey ( algo assim )
ResponderEliminarHEHEH
Off Topic
ResponderEliminarCompra legal de música na Internet: afinal onde está o negócio?
Off Topic
ResponderEliminarMusic Sales
Off Topic
ResponderEliminarPerspectiva
Mas se houver pessoas tratadas não serão provas mais que evidentes?
ResponderEliminarTiago,
ResponderEliminarSim. Se objectivamente conseguirmos observar que certas terapias tratam certas doenças, isso basta como evidências.
Mas é preciso distinguir as pessoas que são mesmo tratadas das pessoas que dizem que aquilo trata. Sem distinguir isto seremos também conduzidos a concluir, erradamente, que a astrologia funciona só porque há muita gente que gasta dinheiro com isso...
Ludwig,
ResponderEliminarConcordo. Acho que deviam ser feitos estudos sérios e credíveis de modo a poder esclarecer a população e se se comprovar a eficácia incluir no Serviço Nacional de Saúde.
Tiago:
ResponderEliminarEsses estudos sérios estão a ser feitos para mal destas artes da cura.
Os Estados Unidos já gastaram 2,5ml milhoes de dolares.
Achas que devemos investir dinheiro em investigação de algo que não é plausivel que funcione e ja se provou um survedouro de recursos noutros paises?
Ou não será melhor, fazer investigação baseada em previsões cientificas?
Deixo aqui o meu primeiro comentário neste fantástico blog. Parabéns Krippahl pelo espírito crítico que é cada vez mais raro.
ResponderEliminarA malta gosta de acreditar em coisas improváveis, pois as pessoas são sociais, demasiado sociais. Sentem necessidade de não remar contra a maré, e se a avozinha diz que é verdade e "já diziam os antigos..." então há que acreditar para não ser rotulado de anti-social ou chico-esperto.
É verdade... custa a acreditar que tantos milhões de pessoas estão erradas nas suas crenças. Mas o que muita gente não percebe é que uma mentira repetida milhões de vezes continua a ser uma mentira.
Não se trata nem de obsessão nem de ódio. Era o que faltava!
ResponderEliminaródio duvido...mas Obsessão tenho a certeza...
e Já agora Ludwig, será que há desses truques para Safari? É que tambem estou farto de copy/pastes injustificados e demagogicos encherem o meu monitor...
É que é mesmo interessante quando a pessoa é refutada mas não quer mesmo aceitar que a refutem... é daquelas alturas que a pachorra acaba e de facto começo a pensar que certas pessoas deveriam de ser internadas ...
Enfim..é só um desabafo de um leitor ocasional do blog...
JAC
JAC,
ResponderEliminarAcho que sim. Experimenta seguir isto:
How to run Greasemonkey scripts in Safari
e diz-me se funciona...
Tiago,
ResponderEliminar«Acho que deviam ser feitos estudos sérios e credíveis de modo a poder esclarecer a população e se se comprovar a eficácia incluir no Serviço Nacional de Saúde.»
Exacto. Das medicinas alternativas deviamos exigir o mesmo que exigimos às empresas farmacêuticas.
Ludwig:
ResponderEliminar"Exacto. Das medicinas alternativas deviamos exigir o mesmo que exigimos às empresas farmacêuticas."
E quem paga? Não vais sugerir que sejam eles a apresentar os proprios estudos...
Não achas que se pode aprender com o que ja esta feito? Não deve haver critérios para o investimento cientifico?
Acho que a informação que já existe é conclusiva.
Tens os livros "Treat or treatment" ou o Suckers da Rose Shapiro se quiseres um apanhado do que ja foi feito.
ResponderEliminarSe achares a leitura muito enviesada podes pedir aos outros o que eles tem.
E atenta nos nomes das revistas e quem as financia.
João,
ResponderEliminarQuem paga depende de quão promissor for o tratamento face aos dados que já dispomos. Quem quiser testar se o zumbido das abelhas cura o cancro que o faça do seu bolso. Mase se for algo com boas probabilidades de funcionar sou até a favor que o estado financie mais para evitar ter de ceder tanto nas patentes.
Seja como for, a minha ideia é só permitir que se chame terapia, tratamento, medicamento ou essas coisas àquilo que foi demonstrado servir para esse propósito.
Estamos largamente de acordo. Mas eu não sei se estas a par dos estudos publicados por eles em revistas financiadas por eles.
ResponderEliminarVe por exemplo os artigos avançados para defender a quiropratica no caso que decorre contra o Simon Singh. (que por acaso até acho estranho nao teres tocado no assunto).
João,
ResponderEliminar«Mas eu não sei se estas a par dos estudos publicados por eles em revistas financiadas por eles.»
Sim, e não me parece mal. Normalmente não têm grande qualidade e são enviesados por tentarem encontrar resultados favoráveis (se não encontram, não publicam). Mas se houver um efeito grande nota-se mesmo num estudo fraquinho. E se o efeito for muito modesto dá para avaliar logo se vale a pena fazer um estudo melhor.
Por exemplo, de memória, um estudo que comparava acupunctura com tratamento herbal para eczemas, em que ao fim de uns meses algo como 40% dos pacientes tratados com acupunctura tinham melhorado, comparado com 30% dos tratados com ervas. Isto demonstra que a acupunctura não é um bom tratamento para eczema. 40% de chance de melhorar ao fim de uns meses é pouco satisfatório para algo que custa uns 40€ por sessão, e isto sem contar com o enviesamento do estudo...
João,
ResponderEliminar«Ve por exemplo os artigos avançados para defender a quiropratica no caso que decorre contra o Simon Singh. (que por acaso até acho estranho nao teres tocado no assunto).»
Os posts mais fáceis de escrever são aqueles em que eu tenho uma opinião acerca de algo que todos conhecem. Mais difícil é explicar algo que a maioria não conhece. E mais difícil aínda é quando eu não conheço bem o assunto e tenho de me informar primeiro. Não falei nesse caso porque está na terceira categoria, e preciso tempo e paciência para me informar, decidir o que quero dizer, e pôr tudo num máximo de duas páginas em algo que me pareça valer a pena ler.
Mas como isto não é um noticiário, tenho tempo, e tenciono lá chegar :)
O caso é muito bizarro. Mas eu considero que atenta a liberdade de expressão e a necessaria abertura ao debate.
ResponderEliminarAgora, o Juiz considerou que "Bogus" implica intenção de praticar a aldrabice. E esse foi o termo usado pelo Singh para designar a quiropratica e os quiropraticos.
Em relação a isso, penso que podera ser verdade que esse termo implica isso e nesse caso o Simon Singh não tem uma defesa facil. Porque provar intenção é complexo.
Mas a questão é que ele disse que nunca teve em mente usar a palavra nesse sentido. Se a palavra pode ser usada noutro sentido, declarado pelo autor, usar isso para silenciar uma voz critica é abuso. Isto na minha opinião. E de quase toda a comunidade pró-ciencia.
O que se passa é que em inglaterra a propriedade mais importante de uma pessoa, é aparentemente a reputação, e as leis que protegem o individuo de difamação sobrepoem-se às outras.
Não é a primeira vez que isto é usado para silenciar criticas cientificas ou reviews de aparelhos (pelo menos 1 caso conhecido).
Mais escandalosamente, esta lei pretende abranger tudo o que possa ser lido em Inglês por um Inglês. Com pelo menos um autor americano condenado.
A lingua da ciencia é o Inglês.
Bem, não pretendo fazer a tua opinião,(como se fosse possivel) apenas uma introdução, e dizer-te a minha.
Um dos sites que deves visitar é o de um Jack of Kent. Alem dos oficiais de ambas as partes claro, mas podes mesmo começar por ir à BCA. Vale a pena se estiveres de bom humor e optimista.