sexta-feira, agosto 01, 2008

Treta da Semana: o cliente é sempre ladrão.

Antigamente o cliente tinha sempre razão. Agora processam os fãs, “protegem” os CDs para instalar coisas que não queremos e não nos deixar ouvir a música como quisermos (1). As músicas compradas online vem com sistemas de “gestão de direitos” para eles gerirem os nossos direitos por nós. E se a loja fecha temos que comprar tudo outra vez (2).

Os DVDs também nos “protegem” de ver na Europa um filme comprado nos Estados Unidos (3). A premissa é sempre que os clientes são ladrões. O site da FEVIP, e os DVDs que compramos por cá, fazem questão de passar filmes a acusar-nos de ladroagem ou, pior, com um rato a chamar-nos idiotas (4).

O software que compramos vem com dezenas de páginas de “licença” a dizer o que não podemos fazer e o que nos fazem se o fizermos. Acho. Como todos, eu também não leio os EULA. Mas, por norma, estamos proibidos sequer de descobrir o que é que o programa faz ao nosso PC. Nada de bisbilhotar.

Os jogos vêm com sistemas de protecção diabólica (5) e obrigam a deixar o DVD a rodopiar no leitor só para o estragar mais depressa, e pagamos dezenas de euros por uma rodela de plástico. Dizem que o dinheiro é pela licença de utilização, mas um risco na rodela e são mais umas dezenas de euros para uma “licença” nova. Não há protecção contra riscos, mas está tudo protegido contra o cliente que o comprou. Ladrão. E a moda agora já nem é só no digital. Do campo pequeno à costa são cinco módulos mas para a FCT são só quatro. Quando pico um bilhete de quatro módulos o motorista pergunta sempre “Para onde vai?” Compreendo. Devo ter cara de ladrão.

No tempo das disquetes dizia-se que o software original era mais seguro. As cópias podiam ter vírus. Hoje o melhor é deixar o original no pacote e usar a versão pirata- Não “gere direitos”, permite fazer cópias pelo seguro e não pede activações, verificações e afins. Instala-se e funciona. O software original primeiro quer garantias que não somos ladrões. Os filmes sacados da Internet não têm ratinhos idiotas no inicio, mas os DVDs comprados na loja obrigam a gramar idiotices e insultos antes de mostrar o filme pelo qual pagámos. E a música sacada em mp3 toca em todo o lado, sem licenças, incompatibilidads ou “gestão de direitos”.

A semana passada pensei que isto tinha mudado. Sins of a Solar Empire (6) é um jogo de estratégia como eu gosto. Além disso não tem sistemas de protecção e quando fui ver o preço ao site tinha a opção para comprar por download directo. Um click, 25 euros, e tinha o jogo. Foi preciso instalar um programa de distribuição (7), mas isso pode facilitar a vida a quem não se quer preocupar com actualizações ou outros detalhes. E como permite fazer cópias de segurança dos jogos instalados, comprei e descarreguei o jogo.

Mas quando o tentei instalar no PC que usamos para jogos descobri que para recuperar a cópia de segurança também é preciso “validar” o instalador com uma ligação à Internet. Que aquele computador não tem. Após umas voltas descobri que o arquivo é apenas um zip com extensão diferente e cifrado com uma palavra passe que é o nome do utilizador (deve ser mesmo só para chatear). Mas é uma imagem do jogo como está instalado e uns ficheiros à parte com a informação do registo, bibliotecas no sistema e coisas dessas. Vinte e cinco euros, um giga de download e uma carga de trabalhos para pôr aquilo a funcionar onde quero. Felizmente há o Pirate Bay (8).

O problema não é competirem com o gratuito. O problema é serem chatos como o raio. Não me custa dar o preço de um jantar por um jogo que me vai entreter dezenas de horas (se vou ter tempo para o jogar é outro problema...). Mas custa-me esbarrar com obstáculos idiotas ou exigências disparatadas apenas porque assumem que sou ladrão. Ainda por cima sabendo que se não lhes pagar tenho todo o proveito sem nenhuma chatice.

A maior ameaça à economia de informação não é a quebra dos monopólios. É tornarem o comércio, que era uma troca voluntária para beneficio mutuo, em algo mais parecido com cobrança de impostos ou rusga policial. Os videos da FEVIP dizem que «combater a pirataria é um dever cívico». Treta. Dever cívico é não aceitar que vendam carros que só andam à quarta feira ou televisores que só funcionam na cozinha. É exigir que quando pagamos por algo o possamos usar como entendemos. E é não lhes comprar mais porcaria nenhuma enquanto não respeitarem os clientes.

1- Wikipedia, Sony BMG CD copy prevention scandal
2- Miguel Caetano, Remixtures, Yahoo reembolsa clientes que compraram música com DRM
3- About.com, DVD Region Codes - What You Need To Know
4- FEVIP. Façam refresh no site para ver outro filme. Há 3 diferentes, passam ao acaso.
5- Boing-Boing, Anti-copying malware installs itself with dozens of games
6- www.sinsofasolarempire.com
7- Wikipedia, Impulse
8- Pirate Bay

5 comentários:

  1. Fiquei sem saber se o jogo é bom ou não. ;)

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  2. Ludwig,

    «E é não lhes comprar mais porcaria nenhuma enquanto não respeitarem os clientes.»

    É que é isso mesmo... Só compra quem quer. E só vende quem pode.

    P.S. - E as ligações? Foram de férias?

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  3. Paulo,

    Acho que sim. Quando comprares a maquineta nova temos que combinar alguma coisa (assim já jogo neste, para jogarmos em rede). Mas entretanto com estas voltas ainda não o experimentei :(

    Mário,

    «Só compra quem quer. E só vende quem pode.»

    O problema não é esse. O problema é as restrições impostas *depois* da compra feita. O EULA lês quando chegas a casa. O video chato do ratinho aparece-te depois de teres comprado o DVD. O problema de não conseguir instalar o jogo no PC que eu quero só surgiu depois de ter pago. E isso não me parece aceitável.

    Quanto aos links, estavam na outra página e não vieram no copy-paste. Obrigado pelo aviso :)

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  4. Já agora, se eu soubesse que não conseguia instalar o jogo não o tinha comprado enquanto eles não corrigissem o problema. Por isso sinto que fui enganado.

    Mas já deixei a mensagem no fórum do jogo, e estou com esperanças que seja coisa que eles corrijam no futuro.

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  5. Compreendo perfeitamento.
    tornei-me "semi-pirata" depois de colocar um cd da sony music no pc e de este me ter instalado um rootkit e ter aberto uma porta tcp ao mundo sem me dizer nada (nem ao windows porque até a este ele escondeu esse facto). O que me valeu foi o anti virus que já sabia desse rootkit e me avisou imediatamente.
    Fui pesquisar e encontrei mais info aqui.

    Já antes tinha recorrido à pirataria quando comprei o Half Life 2. Para iniciar o jogo, o software ia à net ao site deles (via steam - que agora já funciona bem) verificar se a minha copia era legal. Como comprei o jogo assim que saiu apanhei milhões de pessoas a tentar jogar e a aceder ao site. O que se passou foi imperdoavel. Fiquei mais de um mês sem conseguir arrancar com o jogo original mas uma semana depois já jogava graças ao torrent. Foi a ultima vez que comprei cds/dvds.

    Agora compro musica no alltunes e não tenho tido tempo nenhum para jogar mas quando tiver...

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