Crime e castigo à americana.
Em 2001 e 2002, do seu quarto em Londres, Gary McKinnon acedeu a 97 computadores das forças armadas dos EUA e da NASA. McKinnon procurava ficheiros sobre extraterrestres, antigravidade, geração gratuita de energia e outras tretas. E o seu método para cometer o que os americanos chamam «the biggest military hack of all time» foi experimentar palavras-chave que vêm de fábrica em muito equipamento de ligação à Internet. Ou seja, o seu sucesso deveu-se a haver pelo menos 97 computadores nestas redes que ainda tinham as passwords do fabricante.
Os EUA podiam ter despedido os incompetentes que configuraram as redes militares e dado uma medalha ao tipo que mostrou como aquilo estava mal feito (os norte coreanos e os chineses esqueceram-se de os de avisar). Mas para isso era preciso um mínimo de bom senso. Por isso optaram pela alternativa. Pediram a extradição para McKinnon ser julgado nos bons EU da A onde se habilita a 60 anos na cadeia à conta da incompetência americana. Apesar de ter só bisbilhotado e antes do 11 de Setembro, McKinnon é considerado um perigoso terrorista.
Esta semana a justiça do Reino Unido concedeu o pedido de extradição. A menos que o tribunal Europeu dos direitos humanos intervenha, McKinnon vai ser sacrificado numa tentativa inútil de expiar a incompetência americana.
Mais no Guardian, America's cracked code e na Wikipedia, Gary McKinnon. Via Schneier on Security.
O Homer Simpson é mais representativo do que caricatural. Não esquecer...
ResponderEliminar< Advogado do diabo >
ResponderEliminarSe eu deixar a porta destrancada e um ladrão entrar e roubar, isso iliba o ladrão de responsabilidade criminal?
< /Advogado do diabo >
Jaime,
ResponderEliminarSe deixares a porta aberta e um vizinho entrar em tua casa, sair e deixar tudo como está, duvido que apanhe uma pena de 60 anos de cadeia. A não ser que vivas nos EUA, talvez...
Ou melhor. Se um ministro deixa uns documentos secretos no combóio e alguém pega na pasta e dá uma olhada, estamos perante um crime de espionagem ou de negligência?
ResponderEliminarTens razão, a história é ridícula.
ResponderEliminarMas eu cá até aposto que os incompentenetes ainda devem ter sido despedidos... Longe dos holofotes, para que não se perceba publicamente quais os verdadeiros culpados.
Acho as prioridades legais cada vez menos válidas.
ResponderEliminarUm tipo que mata a mulher à porrada é capaz de apanhar 5 anos e saír a meio da pena se for bem comportado.
O que é feito da democracia?
As autoridades norte-americanas acusam o moço de ter causado danos de várias centenas de milhares de dólares. Não sei se é verdade ou não, eu não estava lá. E a minha tendência é como a de toda a gente: instintivamente estou do lado mais fraco, ou daquele que me parece mais fraco. Mas não me esqueço que, para já, só sei o que um lado disse e o outro desdisse. Agora estou à espera de provas.
ResponderEliminarO que penso sim é que a haver julgamento devia ser na Grã-Bretanha onde foi cometido o alegado crime e de onde o réu é natural. Para a extradição até agora só vejo motivos políticos, e, isso sim, parece-me uma grande injustiça.
Cristy
Cristy,
ResponderEliminarAqui podes ler a acusação. Eles alegam que ele apagou ficheiros e que instalou programas para acesso remoto e causou danos de centenas de milhares de dolares.
E aqui está a decisão de negar o recurso da extradição. Os EUA disseram basicamente que ele ia ter 2-4 anos de cadeia, servindo um nos EUA e o resto ficando em liberdade condicional no RU se não contestasse o pedido de extradição. Mas se o contestasse, a pena vai até 70 anos e uns milhões de dólares de multa.
Por isso acho que isto é um caso de bullying, em que tentaram fazê-lo prescindir dos seus direitos, e um caso flagrante de estar a castigar a coisa errada.
O grande crime aqui não é um tipo com um PC a instalar software e apagar ficheiros. O crime é um sistema tão crítico estar assim aberto e sem segurança. É que este tipo esteve um ano a mexericar nos computadores militares dos EUA, e, segundo ele, cada vez que lá estava via pessoal ligado de várias partes do mundo a fazer a mesma coisa...