terça-feira, agosto 19, 2008

Pegas

Se virmos que a figura no espelho tem um autocolante na cabeça facilmente reparamos que está na nossa e o tiramos. Parece trivial mas exige a capacidade de reconhecer que o espelho representa o que nós somos e poucos animais são capazes de o fazer. Até agora, que se saiba, só alguns primatas e as pegas (1).

É fascinante que a inteligência surja de formas tão diversas na natureza. Mas não é de espantar. Também há muitas formas de revestimento da pele, de membros, de comportamentos e metabolismos. Em cada ser vivo combinam-se as características que ajudaram os seus antepassados a reproduzir-se. São tão diversas e tão úteis porque surgem como solução para necessidades também diversas.

Por isso um deus omnipotente ser inteligente faz tanto sentido como um deus omnipotente ter penas. É certo que, da nossa perspectiva, a inteligência é uma grande coisa. Mas se os morcegos tivessem deuses os deles teriam sonar. Deus de peixe sabe nadar. O facto é que a inteligência é apenas mais uma das muitas características que os seres têm porque ajudam a colmatar alguma necessidade. Penas para não ter frio, dentes para morder, cérebros para pensar. Nós e as pegas conseguimos perceber que a imagem no espelho representa o nosso corpo porque um cérebro capaz desse raciocínio ajuda-nos a sobreviver e reproduzir. Mas um ser omnipotente precisa tanto disto como de pêlos no nariz. Se Deus existe, se lhe colarem um autocolante na testa e lhe mostrarem um espelho Ele não vai saber o que fazer. Para que precisa ele de tal capacidade?

O mesmo se passa com as outras características que Lhe atribuem apenas porque as prezamos como humanos. Deus ama, fala, pensa, compadece-se, zanga-se, castiga e uma data de outras coisas que são úteis para macacos tagarelas como nós mas que não servem de nada a um ser eterno e omnipotente.

E mais triste que esta crença incoerente é o que custa querer acreditar que a natureza foi criada de propósito por algo inteligente. Essa luta contra o óbvio impede de ver a riqueza de formas com que a Natureza, sem querer, cria inteligências.

1- BBC, Magpie can 'recognise reflection'

33 comentários:

  1. Ludi, ludi...

    Que filosofico!

    Os ares frios fazem-te bem!

    "macacos tagarelas como nós"

    Fala por ti tá! eu não sou nenhuma tagarela ;)

    Beijos

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  2. Tantos anúncios filóficos sem fundamento científico.

    Por onde começar?

    "É fascinante que a inteligência surja de formas tão diversas na natureza."

    "Surja" = ?


    "Mas não é de espantar. Também há muitas formas de revestimento da pele, de membros, de comportamentos e metabolismos.

    huh?! O que é que uma coisa tem a ver com a outra?
    O facto de haver muitas "formas de revestimento da pele, de membros, de comportamentos e metabolismos" não nos diz absolutamente nada sobre como a inteligência "surgiu" ( = apareceu no nada, por si só ?).

    Por isso um deus omnipotente ser inteligente faz tanto sentido como um deus omnipotente ter penas.

    Conclusão baseada nas permissas erradas. Tu assumes que a inteligência é uma característicva física como penas. Mas essa é uma crença que não foi confirmada. É apenas (mais) uma consequência da crença no naturalismo:

    1. Se o naturalismo é verdade, então tudo o que existe no mundo biológico está dentro do domínio do naturalismo.

    2. A inteligência existe.

    3. Então a inteligência é uma característica que está dentro do naturalismo.

    O mais irónico desta posição é que auto-refutante.

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  3. Mats,

    «"É fascinante que a inteligência surja de formas tão diversas na natureza."
    "Surja" = ?»
    Sim. Os algoritmos evolutivos são uma técnica na Inteligência Artificial. Quer dizer, com mutações e selecção pode surgir inteligência numa máquina.

    «O facto de haver muitas "formas de revestimento da pele, de membros, de comportamentos e metabolismos" não nos diz absolutamente nada sobre como a inteligência "surgiu" ( = apareceu no nada, por si só ?).»
    Para já não "apareceu no nada, por si só". Isso é o que chamaste certa vez de caricaturas para mais facilmente refutar. Há um mecanismo natural e vários passos para se chegar a isso. Por exemplo, um ser com um sistema nervoso pode não ser inteligente, mas foi desse que os inteligentes surgem.
    Se há um mecanismo permite variedade em vários níveis, então é de esperar que permita na inteligência: «É fascinante que a inteligência surja de formas tão diversas na natureza. Mas não é de espantar. Também há muitas formas de revestimento da pele, de membros, de comportamentos e metabolismos. Em cada ser vivo combinam-se as características que ajudaram os seus antepassados a reproduzir-se. São tão diversas e tão úteis porque surgem como solução para necessidades também diversas

    «Então a inteligência é uma característica que está dentro do naturalismo.»
    Isto é um non sequitur. Não é necessário um mecanismo inteligente para surgir inteligente (não demonstraste o contrário). Se mutações e selecção não são inteligentes, então provou-se isso na IA.

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  4. «Por isso um deus omnipotente ser inteligente faz tanto sentido como um deus omnipotente ter penas.»

    Ludwig, isso não é um argumento válido. Um deus com penas é tão absurdo como um sonho erótico com a Madeleine Albright. Além disso, quando arriscas que

    «nós e as pegas conseguimos perceber que a imagem no espelho representa o nosso corpo porque um cérebro capaz desse raciocínio ajuda-nos a [...] reproduzir.»

    qualquer cristão entende que estás a falar dos hotéis da rua escura com espelhos no tecto. Mais uma vez te desvias dos pontos essenciais. Um texto desonesto. Desde logo, nem dás um motivo sério para tirar o autocolante da cabeça só porque o vimos no reflexo.

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  5. "qualquer cristão entende que estás a falar dos hotéis da rua escura com espelhos no tecto."

    É impossível para qualquer cristão imaginar o sexo dos outros que não seja porco, imundo, nojento e tudo o mais. Não passam de misoginistas disfarçados. Isto claro, sobre o sexo dos outros. O deles próprios é sempre o sexo mais angélico e santo que é possível imaginar, cheio de rubequins e anjinhos a tocar violino nos postes das camas convulsas.

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  6. Ludi,

    Começo a entender a piadinha dos tagarelas!

    Barba rija,

    " O deles próprios é sempre o sexo mais angélico e santo que é possível imaginar, cheio de rubequins e anjinhos a tocar violino nos postes das camas convulsas."

    Estou esmigalhada com a beleza poetica do teu comentário!, "nos postes das camas convulsas"! É lindo, é de poeta do mais alto gabarito!
    Parabens!

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  7. Mats,

    Se aceitas que as penas são naturais, porque é que a inteligência já não pode ser? Como é que distingues o natural do que não é natural? É outra coisa que "toda a gente sabe" menos alguns que não?

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  8. Sim, também me parece que a inteligência é uma capacidade que surge na sequência da evolução e não como um atributo divino de que tenhamos beneficiado.
    Ela é, contudo, uma capacidade que caracteriza especialmente os humanos e lhes dá a possibilidade de se reconhecerem e situarem no cosmo. Permite-lhes mesmo especularem sobre a existência de um ser supremo capaz da autoria de tudo.
    Talvez por considerarem tão preciosa essa capacidade tenham sentido a necessidade de a encararem como uma dádiva.
    Por isso foi inteligente imaginar o homem criado à imagem de um deus sumamente inteligente como nos contam as religiões do livro.
    Há, todavia, um pequeno equívoco, segundo creio. É que não foi o homem criado à imagem de deus mas sim deus criado à imagem do homem.

    Lino S.

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  9. Bruce Lóse:

    Um deus com penas é um deus à imagem de um pássaro (se os pássaros acreditarem em deus, o seu deus será um pássaro).

    A pega "sabe" que o autocolante não devia estar lá logo quer tirá-lo.

    O texto é muito claro.

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  10. «se os pássaros acreditarem em deus, o seu deus será um pássaro»

    Foi pelo menos o que pregaram os moços colombianos ao avistamento de um povo imprudente curvado ao Quetzalcóatl, mistura de serpente e quetzal, a que alguns psiquiatras chamariam pila com asas, espalhando a boa nova de que as asas se destinam apenas aos anjos do Senhor (a questão da pila mantém-se em aberto). Noutro tempo e por outros motivos também os egípcios ficaram a perder.

    «A pega "sabe" que o autocolante não devia estar lá logo quer tirá-lo.»

    É precisamente neste ponto que o Ludwig é omisso e desonesto. Lá porque as pegas tiram um autocolante da cabeça, por que razão havia eu de o fazer? Aqui é que está o busílis, pois se por um lado Deus quisesse que tivéssemos autocolantes na cabeça já nos fazia nascer com eles, por outro, se não quisesse que tivéssemos autocolantes na cabeça obviamente não nos fazia nascer com ela. Acontece que eu tenho o hábito de não me precipitar.

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  11. Lino,

    o que nos distingue é por termos inteligência, mas por sermos mais inteligentes. Quer dizer, a memória de chimpanzés é superior, podem resolver problemas melhor dos que crianças humanas e até PacMan. Mas com tudo somado, somos mais inteligentes.

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  12. Bruce Losé,
    tens razão. Por exemplo povos semitas consideravam a serpente uma deusa da sabedoria, os querubins são misturas de animais, os egípcios tinham deuses com cabeça de animais (como as hindus) e as religiões africanas e europeias eram animistas. Mas são animais personificados, que podem falar, ler, escrever, considerados fundadores de ciências, com formas humanas (não é o caso das serpentes), etc.

    Acho que o problema é outro. A origem da inteligência entre os animais pode ser explicada com a evolução, e como é explicada podemos fazer IA do mesmo modo e fazer induções, como faz Ludwig. Mas ele diz que a inteligência de Deus teria de ser explicada da mesma maneira, só que Deus não se explica. Aliás, é a excepção para muitíssimas coisas - por exemplo tudo tem uma causa, menos ele -, por isso as induções não se aplicam a ele. Não é para ser entendido como a gravidade. Por isso dizer "Foi Deus" não é explicar coisa alguma. É não saber e em vez de o admitir, inventa qualquer coisa como se isso fosse prova. Isso é outra razão para o argumento do design não servir. As induções feitas com humanos não servem para concluir seja o que sobre Deus.

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  13. Aí para o Bruce,

    Olha, que engraçado, Quetzalcóatl tem cara humana... Cof cof.

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  14. PAC,

    Parece-me que percebeste o meu comentário melhor do que eu próprio! Um abraço por isso.

    Quanto ao enigma da inteligência nos animais estou tão tranquilo quanto tu, principalmente porque a "inteligência" parece-me um conjunto de competências perfeitamente compatível com a adaptação/evolução das espécies. Cada corpo habita um ecossistema, cada cérebro habita uma guerra. E é normal que numa economia de bens escassos (como é a Natureza) uma formiga não seja dotada de um quilo de massa cinzenta, até porque a sua guerra é relativamente simples. Faz a sua vidinha com um "chip" barato.

    Subindo na escala da sofisticação, e um pouco a contragosto aparecemos nós, nus e perplexos, no podium. Parabéns ao cozinheiro. Mas não posso deixar de me rir dos que pensam maravilhas da sua própria inteligência. Somos a espécie que mais modificou o seu habitat (para pior), que mais mata por motivos fúteis. Tudo na nossa organização e "inteligência" se baseia em vulcanismos primários, desde o prazer no repasto ao tribalismo corporativo.

    Daí o solipsismo criacionista ser para mim uma anedota, que eu sobre Deus nada sei.

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  15. Ó penas,

    Então nunca viste ninguém com cara de car****?

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  16. Bruce Losé,
    «Parece-me que percebeste o meu comentário melhor do que eu próprio! Um abraço por isso.»
    Nâo percebi se isso é sarcasmo. :p
    De qualquer modo parece-me que os deuses são como isto: 1. Queria saber se as vacas na Índia são deuses, mas parece que estão sempre associadas a Krishna - não sei o que isso significa. Pelo caminho encontrei isto: 2.

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  17. Ludwig,
    Se aceitas que as penas são naturais, porque é que a inteligência já não pode ser?

    Eu disse:

    "Tu assumes que a inteligência é uma característicva física como [as] penas

    Não usei "natural" mas "físico".


    Como é que distingues o natural do que não é natural?


    Essa é uma pergunta que eu deveria fazer-te a ti, uma vez que a tua filosofia de vida diz que tudo aquilo que não é "natural" está fora da ciência. Com isso, tu demonstras que tens um critério para demarcar o natural do sobrenatural. Qual é esse critério?

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  18. «Essa é uma pergunta que eu deveria fazer-te a ti, uma vez que a tua filosofia de vida diz que tudo aquilo que não é "natural" está fora da ciência. Com isso, tu demonstras que tens um critério para demarcar o natural do sobrenatural. Qual é esse critério?»
    Não respondeste a uma pergunta que eu já te tinha feito já há muito tempo, no primeiro artigo em que nos interagimos sobre fé nos aviões. Perspectiva já disse que existe um Universo porque, segundo ele, "Universo" é tudo o que existe. "Natural" significa tudo o que existe no Universo. Por isso nem sei o que é que significa "sobrenatural". Podes explicar?

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  19. PAC,

    Nâo percebi se isso é sarcasmo

    Não é. Tens razão em como muitas vezes nos meus comentários sou literalmente ultrapassado por uma certa vontadinha. Tenho uma relação de mau perder com o cretinismo e nem imaginas como sou nas minhas cogitações analógicas. Mas este não foi o caso.

    Queria saber se as vacas na Índia são deuses

    De facto já olhei para elas, mas não me arrogo especialista... Concordo no entanto com o que se diz na wikipédia. São uma expressão da fertilidade que, tal como no Templo da Karni Mata (ratazanas), colhe dos hindus um certo sentimento de gratidão. Mas isso, ao contrário do que sugere a tua foto, não as livra de ser cadavéricas e deprimidas, semi-barbeadas pelas razias do trânsito.

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  20. «Subindo na escala da sofisticação, e um pouco a contragosto aparecemos nós, nus e perplexos, no podium. Parabéns ao cozinheiro.»
    Theory of Evolution: Humans are Animals

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  21. Bruce,

    Tendo cara de caralho ou de cu,é irrelevante. É feito à imagem.

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  22. A fim de que os leitores deste blogue não aceitem acriticamente os argumentos do Ludwig Krippahl, convém fazer um apanhado de alguns desses argumentos, com as respostas criacionistas.

    O Ludwig:

    1) Defendeu que a mitose e a meiose são modos de criação naturalística de DNA.

    Na verdade apenas se trata de processos de cópia da informação genética pré-existente no DNA quando da divisão das células. Por sinal, trata-se de uma cópia extremamente rigorosa, equivalente a 282 copistas copiarem sucessivamente toda a Bíblia e enganarem-se apenas numa letra. De resto, o processo de meiose corrobora a verdade bíblica de que todas as criaturas se reproduzem de acordo com a sua espécies, tal como Génesis 1 ensina. A meiose e a mitose existem porque o DNA as torna possíveis. Por explicar fica a origem naturalística do DNA, enquanto sistema mais eficiente de armazenamento de informação que se conhece, e da informação codificada nele contida.

    2) Defendeu a evolução comparando a hereditariedade das moscas (que se reproduzem de acordo com a sua espécie) com a hereditariedade da língua (cuja evolução é totalmente dependente da inteligência e da racionalidade.)

    Em ambos os casos não se vê que é que isso possa ter que ver com a hipotética evolução de partículas para pessoas, já que em ambos os casos não se explica a origem de informação genética por processos naturalísticos.

    3) Defendeu que todo o conhecimento científico é empírico, embora sem apresentar qualquer experiência científica que lhe permitisse fundamentar essa afirmação.

    Assim sendo, tal afirmação não se baseia no conhecimento, segundo os critérios definidos pelo próprio Ludwig, sendo, quando muito, uma profissão de fé. Na verdade, não existe qualquer experiência ou observação científica que permita explicar a causa do hipotético Big Bang ou demonstrar a origem acidental da vida a partir de químicos inorgânicos. Ora, fé por fé, os criacionistas já têm a sua fé: na primazia da revelação de Deus. Se o naturalismo se baseia na premissa de que todo o conhecimento é empírico e se essa premissa não consegue satisfazer o critério de validade epistemológica que ela mesma estabelece para o conhecimento, vê-se bem que o naturalismo não se baseia no conhecimento, mas sim na ignorância.

    4) Defendeu a incompetência do designer argumentando com o sistema digestivo das vacas e os seus excrementos.

    Esquece porém que esse argumento, levado às últimas consequências, nos obrigaria a comparar o cérebro do Ludwig com o sistema digestivo das vacas e os pensamentos do Ludwig com os excrementos das vacas. E poderíamos ter dúvidas sobre qual funciona melhor, já que para o Ludwig todos seriam um resultado de processos cegos e destituídos de inteligência. Apesar de tudo os criacionistas têm uma visão mais benigna do cérebro do Ludwig e dos seus pensamentos. As premissas criacionistas partem do princípio de que o Ludwig é um ser racional porque foi criado à imagem e semelhança de um Deus racional. As premissas criacionistas afirmam que a vida do Ludwig tem um valor inestimável, porque o Criador morreu na cruz para salvar o Ludwig do castigo do pecado. Segundo a Bíblia, todos pecámos e estamos separados da glória de Deus, podendo obter vida eterna mediante um dom gratuito de Jesus Cristo.

    5) Defendeu que a síntese de betalactamase, uma enzima que ataca a penicilina destruindo o anel de beta-lactam, é uma evidência de evolução.

    Nesse caso, o antibiótico deixa de ser funcional, pelo que os microorganismos que sintetizam betalactamase passam a ser resistentes a todos os antibióticos. A betalactamase é fabricada por um conjunto de genes chamados plasmidos R (resistência) que podem ser transmitidos a outras bactérias. Em 1982 mais de 90% de todas as infecções clínicas de staphylococcus eram resistentes à penicilina, contra perto de 0% em 1952. Este aumento de resistência ficou-se a dever, em boa parte, à rápida transferência por conjugação do plasmido da betalactamase. Como se pode ver, neste exemplo está-se perante síntese de uma enzima de banda larga com perda de especificidade e, consequentemente, com perda de informação. A rápida obtenção de resistência conseguiu-se por circulação de informação. Em caso algum estamos perante a criação de informação genética nova, codificadora de novas estruturas e funções. Na verdade, na generalidade dos casos conhecidos em que uma bactéria desenvolve resistência a antibióticos acontece uma de três coisas: 1) a resistência já existe nos genes e acaba por triunfar por selecção natural, embora não se crie informação genética nova; 2) a resistência é conseguida através de uma mutação que destrói a funcionalidade de um gene de controlo ou reduz a especificidade (e a informação) das enzimas ou proteínas; 3) a resistência é adquirida mediante a transferência de informação genética pré-existente entre bactérias, sem que se crie informação genética nova (o que sucedeu no exemplo do Ludwig). Nenhuma destas hipóteses corrobora a criação naturalista da informação codificada necessária à transformação de partículas em pessoas.

    6) Defendeu que o código do DNA, afinal, não codifica nada.

    Isto, apesar de o mesmo conter sequências precisas de nucleótidos com as instruções necessárias para a construção de aminoácidos, cujas sequências, por sua vez, conduzirão ao fabrico de cerca de 100 000 proteínas diferentes, com funções bem definidas para o fabrico, sobrevivência e reprodução dos diferentes seres vivos.

    Existem 2000 aminoácidos diferentes e o DNA só codifica os 20 necessários à vida. O DNA contém um programa com informação passível de ser precisamente transcrita, traduzida, executada e copiada com sucesso para o fabrico de coisas totalmente diferentes dos nucleótidos e representadas através deles. Curiosamente, já antes dos trabalhos de Crick e Watson, já Gamow, por sinal o mesmo cientista que fez previsões acerca da radiação cósmica de fundo, previu que o DNA continha informação codificada e armazenada. E acertou.

    De resto, é universalmente reconhecido que o DNA contém informação codificada. O Ludwig, por ter percebido que não existe código sem inteligência, viu-se forçado a sustentar que o DNA não contém nenhum código, apesar de ser óbvio que contém. Para ele, tudo não passa de uma metáfora.

    O problema para o argumento do Ludwig é que mesmo aqueles cientistas, citados no KTreta, que sustentam que só metaforicamente se pode falar em código a propósito do DNA, afirmam que melhor se faria em falar em cifra, isto, é, em linguagem cifrada e em decifração do DNA.

    Só que, longe de refutar o argumento criacionista sobre a origem inteligente da informação, estes cientistas acabam por corroborá-lo inteiramente, na medida em que sustentam que se está aí diante de informação encriptada. Refira-se que, em sentido não técnico, uma cifra é um verdadeiro código. Também aí tanto a informação, como a cifra (ou o código) usada para a sua transmissão, têm que ter uma origem inteligente. Recorde-se que o código Morse é, em sentido técnico, uma cifra, i.e., linguagem cifrada.

    Ora, o código Morse e a informação que ele pode conter nunca poderiam existir sem inteligência. Como demonstra a teoria da informação, e como o Ludwig reconhece, não existe informação codificada ou cifrada (como se quiser) sem uma origem inteligente. Daí que, tanto a origem acidental da vida, como a evolução de partículas para pessoas por processos meramente naturalísticos sejam uma impossibilidade científica. A abiogénese e a evolução nunca aconteceram. Assim se compreende que a origem acidental da vida nunca tenha sido demonstrada (violando inclusivamente a lei científica da biogénese) e que mesmo os evolucionistas reconheçam que o registo fóssil não contém evidências de evolução gradual.

    Por outras palavras, a partir da linguagem codificada ou cifrada do DNA, as conclusões são óbvias: o Big Bang é impossível, na medida em que a matéria e a energia não criam informação codificada; a origem casual da vida e a evolução de espécies menos complexas para mais complexas são impossíveis, na medida em que dependem intensivamente de informação codificada ou cifrada e esta depende sempre de uma origem inteligente. A esta luz, as mutações e a selecção natural diminuem a quantidade e a qualidade da informação genética pré-existente, pelo que nada têm que ver com a hipotética evolução de partículas para pessoas. Tudo isto pode ser empiricamente corroborado. Basta olhar para o mundo real do DNA, das mutações e da selecção natural.


    7) Defendeu que a ciência evolui como os organismos vivos supostamente evoluem.

    Sucede que a ciência evolui graças à inteligência dos cientistas e à informação por eles armazenada, sendo que nem aquela inteligência nem esta informação conseguem abarcar e compreender a quantidade e a qualidade de informação codificada contida nos organismos vivos, sendo que estes só podem existir e reproduzir-se se a informação necessária para os especificar existir antes deles e codificada dentro deles. A ciência e a tecnologia são um domínio por excelência do design inteligente, onde as experiências e os mecanismos são desenvolvidos com um fim preciso em vista, por cientistas inteligentes e com base em informação acumulada ao longo de séculos. Os cientistas não deixam os seus departamentos ao acaso, nem deixam que as experiências científicas sejam conduzidas por pessoas sem a mínima preparação. A produção de milhões de espécies altamente complexas e especificadas, funcionalmente integradas, num sistema solar e num universo sintonizados para o efeito, corrobora a presença de uma quantidade incompreensível de inteligência e poder. No registo fóssil não existe nenhuma evidência de que as espécies realmente evoluíram gradualmente. Nem se vê como as mutações aleatórias poderiam criar quantidades inabarcáveis de informação codificada altamente complexa. Nunca tal foi observado nem explicado por ninguém.

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  23. Ludwig diz:

    "É fascinante que a inteligência surja de formas tão diversas na natureza."

    A vida, em si mesma, é o produto da inteligência. A vida só é possível graças a informação codificada ou encriptada. E esta só é possível com inteligencia.

    "Mas não é de espantar."

    Para os criacionistas não é de certeza.

    "Também há muitas formas de revestimento da pele, de membros, de comportamentos e metabolismos."

    Mais uma vez, porque Deus dotou os organismos de tudo o que eles necessitam para se adaptar ao meio.

    "Em cada ser vivo combinam-se as características que ajudaram os seus antepassados a reproduzir-se."

    Os organismos reproduzem-se de acordo com a sua espécie. Vemos isso todos os dias. No entanto, eles não evoluem para espécies mais complexas. Tal nunca foi observado.

    "São tão diversas e tão úteis porque surgem como solução para necessidades também diversas."

    É necessário uma inteligência para identificar um problema e encontrar uma solução. A evolução aleatória não tem essa capacidade. Ela não procura meios para atingir fins. A capacidade de adaptação ao meio encontra-se pré-programada. As mutações e a selecção natural diminuem a quantidade e a qualidade da informação genética disponível.

    Nada do que o Ludwig diz aqui demonstra a realidade da evolução.

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  24. "Por isso um deus omnipotente ser inteligente faz tanto sentido como um deus omnipotente ter penas."

    Um Deus omnipotente criou as penas. Elas só são possíveis porque o DNA contém instruções precisas e altamente complexas para o seu fabrico. Acresce que as penas são apenas uma parte de aves extremamente complexas, dotadas de grande capacidade de armazenamento de energia e de sistemas de navegação altamente complexos e sofisticados.

    "É certo que, da nossa perspectiva, a inteligência é uma grande coisa."

    De acordo com a perspectiva criacionista, por maioria de razão. Sem ela, a sintonia do Universo para a vida seria impossível e a informação codificada no DNA não existiria.

    "Mas se os morcegos tivessem deuses os deles teriam sonar."

    Isto é um argumento?


    "Deus de peixe sabe nadar."

    Isto é um argumento?

    "O facto é que a inteligência é apenas mais uma das muitas características que os seres têm porque ajudam a colmatar alguma necessidade."

    A evolução aleatória não tem inteligência nem racionalidade fins/meios. Como é que pode prever
    e realizar milhões de mutações concertadas em milhões de nucleótidos para "colmatar alguma necessidade"? Como é que ela identifica essa necessidade? Normalmente a identificação de necessidades e a procura de soluções acontece quando há um ser inteligente ou um maquismo inteligentemente programado para o efeito.

    "Penas para não ter frio, dentes para morder, cérebros para pensar."

    Voilá! Afinal é tão simples! Basta dizer!! Realmente, para um Deus todo poderoso é simples. Ele criou as diferentes espécies de acordo com a sua palavra e colocou a informação codificada necessária à sua reprodução no núcleo das respectivas células.



    "Nós e as pegas conseguimos erceber que a imagem no espelho representa o nosso corpo porque um cérebro capaz desse raciocínio ajuda-nos a sobreviver e reproduzir."

    E as plantas? Porque é que não têm cérebro? Porque é que não conseguem perceber as respectivas imagens no espelho? E, no entanto, elas também sobrevivem e se reproduzem.

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  25. Ludwig diz:

    "Mas um ser omnipotente precisa tanto disto como de pêlos no nariz. Se Deus existe, se lhe colarem um autocolante na testa e lhe mostrarem um espelho Ele não vai saber o que fazer. Para que precisa ele de tal capacidade?"

    Este argumento, dada a sua inaudita profundidade, ficará certamente para os anais da filosofia naturalista. O Bertrand Russell e o Richard Dawkins que se cuidem.

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  26. Ludwig diz:

    "O mesmo se passa com as outras características que Lhe atribuem apenas porque as prezamos como humanos."

    Somos humanos porque alguém, que não nós, possui toda a informação necessária à nossa produção e reprodução. Infelizmente a comunidade científica não consegue compreender e abarcar toda essa informação.

    "Deus ama, fala, pensa, compadece-se, zanga-se, castiga e uma data de outras coisas que são úteis para macacos tagarelas como nós mas que não servem de nada a um ser eterno e omnipotente."

    Já sabíamos que o Ludwig era tagarela. Agora ficamos a saber mais acerca da imagem que ele tem de si mesmo: "macaco tagarela". Para os criacionistas homens e macacos são e sempre foram espécies diferentes e contemporâneas entre si.

    "E mais triste que esta crença incoerente é o que custa querer acreditar que a natureza foi criada de propósito por algo inteligente."

    A sintonia do Universo para a vida e a informação codificada contida no DNA corroboram a criação inteligente e desmentem a evolução naturalista. Só um Deus eterno pode ter criado o Universo. Se este teve um princípio, ele não pode ter sido a sua própria causa.


    "Essa luta contra o óbvio impede de ver a riqueza de formas com que a Natureza, sem querer, cria inteligências."

    O que é o óbvio? Que o Ludwig é um macaco tagarela?

    Isso só é óbvio para o Ludwig.

    Para os criacionistas o Ludwig, por mais que isso lhe custe, é apenas tagarela.

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  27. Perspectiva:
    «A fim de que os leitores deste blogue não aceitem acriticamente os argumentos do Ludwig Krippahl»

    Bem, isso é porque não temos uma fé cega. Não posso dizer o mesmo de você. Qual é a parte que não concorda na AnswersInGenesis ou da Bíblia?

    O Mats já disse que não gosta de comentários muito longos. Ele está com vergonha de dizer-te isso.

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  28. bruce losé: «Então nunca viste ninguém com cara de car****?»
    Safe Sex: Condom Head
    Por acaso estava à procura de uma cena de um filme asiático onde um homem ofende um feiticeiro, e então o feiticeiro transformou a cabeça dele num pénis.

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  29. alguém tem horas? é que passei quase metade da noite a ler os comentários e não cheguei a lado nenhum, isto porque estive sentado sempre na mesma cadeira, que por sua vez é imóvel.

    Divindade??

    Inteligência é uma cena fisica e tal??? e o tarzan? Passa cá hoje? è que eu tinha aqui uma "missed call"!!

    Pegas? com autocolantes na testa? Deus e pêlos no Nariz? Come a merda da sopa que isso já não tá assim tão quente!!
    Ando com uma merda dentro do sapato a fazer-me impressão desde terça-feira, fonix, e não sai dali!

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  30. Prespectiva...

    "A sintonia do Universo para a vida e a informação codificada contida no DNA corroboram a criação inteligente e desmentem a evolução naturalista. "

    Tendo em conta que num Universo imensamente grande apenas uma infinitésima parte do mesmo é que é habitavel, que raio de sintonia é essa. se tudo tivesse sido criado com o propósito que o prespectiva sugere, porque é que o espaço é mortal para humanos, porque é que marte não é tambem habitavel e assim por diante...

    se eu quisesse criar um local para um determinada população viver, tudo o que eu criasse seria util para essa dita população... no nosso universo isso não é verdade. muito pelo contrario...

    ou seja, caso haja defacto um deus, não é muito inteligente...

    "A vida só é possível graças a informação codificada ou encriptada. "

    claramente o prespectiva não sabe o significado de "encriptação". o que não é de admirar, é um conceito demasido cientifico...

    luis

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  31. Antes de mais, obrigado Joaninha pelo elogio. Corei.

    O perspectiva tem um defeito que supera todos os outros: falta de contenção. Não consegue compreender minimamente o conceito de "sucinto". Deve ter sido daqueles alunos extraordinariamente chatos com trabalhos de 1000 páginas quando só se pediam comentários breves de xpto. Deve também não ter muita gente que lhe dê atenção e então despeja aqui as suas regurgitações intelectuais. Não imagino ninguém em corpo presente que aguente tanto lençol despejado sonoramente...

    Quanto ao conteúdo, não concordo minimamente, faz imensas falácias, mostra incompreensão dos temas discutidos e "straw-mans" evidentes.

    Aquilo que me atraíu para comentar é no entanto esta pérola:

    "na generalidade dos casos conhecidos em que uma bactéria desenvolve resistência a antibióticos acontece uma de três coisas: 1) a resistência já existe nos genes e acaba por triunfar por selecção natural, embora não se crie informação genética nova; 2) a resistência é conseguida através de uma mutação que destrói a funcionalidade de um gene de controlo ou reduz a especificidade (e a informação) das enzimas ou proteínas; 3) a resistência é adquirida mediante a transferência de informação genética pré-existente entre bactérias, sem que se crie informação genética nova"

    Dá-me prazer imenso observar quando o campo contrário começa a recuar nos seus argumentos, e até consegue incorporar a expressão "selecção natural" sem um ataque de comichão, agora até parece que sempre foi uma coisa óbvia, essa da selecção natural. Nem lhe passa pela cabeça (ou pelo menos até o admitir como se tivesse sempre sido "óbvio") que este tipo de processos repetidos pelos milhões de anos da história do globo consegue mesmo alterar completamente a fauna existente... Isso fica para outro recuo mais adiante.

    Claro que esta pérola, após despejar milhões de caracteres inúteis num blog "naturalista" é ainda mais... nem encontro adjectivos! Hilariante não chega.

    "Para os criacionistas o Ludwig, por mais que isso lhe custe, é apenas tagarela."

    Genial. É que nem o Ricardo Araújo Pereira.

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  32. "Para os criacionistas o Ludwig, por mais que isso lhe custe, é apenas tagarela."

    Essa é uma distinção que só o poderá encher de orgulho :-)
    Cristy

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