Treta da semana (atrasada): Indignado com a indignação
Alexandre Homem de Cristo julga «impossível de deixar escapar a contradição assente no facto de gerar mais indignação a morte de um leão a milhares de quilómetros de distância do que as atrocidades contra homens, mulheres e crianças com que nos defrontamos frequentemente» (1). Ironicamente, escapa-lhe a contradição entre esta posição e dedicar um post artigo a indignar-se com a indignação nas redes sociais. Alega também que «as redes sociais lincham com total impunidade», quando nelas se critica sem julgamento ou defesa prévia, ao abrigo da opinião pessoal e da liberdade de expressão. O que é completamente diferente daquilo que Cristo faz porque o post artigo dele está num prestigiado jornal e não nessa coisa plebeia das redes sociais.
Uma de várias coisas que Cristo parece não ter percebido é que as pessoas não manifestam a sua indignação apenas para encher uma quota semanal de caracteres. Fazem-no também na tentativa de mudar alguma coisa. E, por isso, fazem-no mais quando a expressão da sua indignação tem algum efeito. Uma grande diferença entre o dentista americano que caça leões e os milhões que mutilam crianças a sangue frio, chacinam vizinhos por serem de etnia diferente ou decepam quem tem outras crenças é que estes últimos não ligam muito aos likes no Facebook. Ao contrário de Cristo, muita gente percebe que não é com comentários sarcásticos na Internet que se vai desmantelar o ISIS ou acabar com a mutilação genital de crianças. Isto não elimina a indignação mas reduz o incentivo para a expressar. Expressar indignação também serve para informar e despertar indignação nos outros. Antes da vaga de indignação pela morte do leão muitos nunca se tinham indignado contra isto simplesmente por nunca terem pensado no assunto. Também por isto é menos útil manifestar indignação para com grupos terroristas. Pouca gente deve haver que precise de presenciar tal indignação para admitir “pois é, nunca me tinha ocorrido, mas isto de decapitar gente e vender crianças para escravatura sexual não é muito decente”.
Outra diferença é que o problema dos dentistas idiotas que matam leões tem soluções evidentes. Pelo menos um desses irá ter dificuldade em financiar o “desporto” depois de ter ficado sem clientes pelo enxovalho que apanhou; várias companhias aéreas deixaram de transportar troféus de caça (2); e até o Zimbabué está a rever a legislação e suspendeu estas actividades (3). Neste tipo de coisas, a indignação nas redes sociais resolve alguns problemas. Combater o Boko Haram é mais difícil, não só porque mandar os filhos para a guerra custa mais do que mandar bitaites na Internet mas também porque muitos destes grupos descendem de tentativas análogas de eliminar grupos semelhantes. Mesmo quando se sentem indignadas, algumas pessoas têm relutância em se manifestar sem ter primeiro ideia do que se deve fazer. É outra coisa que Cristo, aparentemente, não compreende.
Mas o que mais assusta Cristo é que «o caso demonstra como esta cedência às redes sociais, tanto aqui como em outros casos, é errada. E, sobretudo, como é perigosa, pois legitima-as enquanto tribunais populares da modernidade, tão despóticos quanto os originais, e munidos de poder e influência assustadores.» A hipérbole, provavelmente devida à pressão para escrever alguma coisa, seja o que for, impediu-o de perceber mais uma diferença importante. Se comparamos o que aconteceu ao dentista que matou o leão e o que aconteceu, por exemplo, aos cristãos novos de Lisboa em 1506, é possível notar algumas diferenças em detalhes como o número de pessoas espancadas até à morte e queimadas, que foi de zero no primeiro caso e de algumas centenas no segundo. A diferença importante é que o perigo dos “tribunais populares despóticos originais” estava no comportamento de cada indivíduo nessa turba enfurecida, que fazia coisas inadmissíveis como matar, pilhar ou destruir. Nas redes sociais, o que a vasta maioria das pessoas faz é aquilo que todos têm o direito de fazer. Criticar, apontar defeitos, assinar petições, fazer troça e afins. Há sempre uns poucos que exageram, com ameaças e outras atitudes menos aceitáveis, mas são a minoria e mesmo esses ficam muito aquém dos tribunais despóticos que Cristo refere.
Cristo manifesta-se indignado com as manifestações de indignação de quem se indigna com aquilo que Cristo não considera o mais indignante. Está no seu direito. Ninguém é obrigado a ser consistente. Mas ignora que muitos problemas graves não se resolvem com manifestações de indignação, enquanto outros, menos graves, são mais sensíveis a isso. Uma campanha de indignados no Facebook pode acabar com a tourada em Portugal mais facilmente do que com a guerra no médio oriente, e não perceber esta diferença reduz ainda mais a parca relevância que o texto dele poderia ter. Finalmente, alerta-nos para o suposto perigo da «cedência às redes sociais» mas sem explicar quem cede o quê nem onde está o perigo. Diz ser «um mundo estranho aquele que [...] glorifica Dzhokhar Tsarnaev, o bombista da maratona de Boston [...] elevando-o a ícone pop na capa da revista Rolling Stone» e defende que os jornais deviam contrariar isto «detendo a tentação das audiências e não deixando que sejam as redes sociais quem decide o que é a notícia.» Mas não são as redes sociais quem decide. São as pessoas. As redes sociais são apenas uma ferramenta que permite estender a conversa de café por milhões de pessoas ao mesmo tempo. De resto, o que lá se passa é a mesma coisa. Alguns protestos com razão, algumas ideias interessantes, muita coscuvilhice, muitos boatos e uma dose enorme de disparates. Mas, nisso, as redes sociais não são nem mais nem menos perigosas do que os correios, os telefones ou os posts artigos de opinião nos jornais.
1- Observador, O leão Cecil e as redes sociais que também matam
2- Mashable, Airlines ban transporting exotic trophy animals after Cecil the lion's death
3- Sunday Express, Cecil the Lion: Zimbabwe FINALLY bans trophy hunting after 1 million sign petition
A grande questão é: Como é que se evolui de partículas para pessoas ao longo de milhões de anos a perder informação genética no processo?
ResponderEliminarGénesis tem a resposta: não houve evolução. O que há é corrupção com eliminação e degradação sucessiva da informação genética inicialmente criada!
Criacionista,
EliminarComo é que prova que "há é corrupção com eliminação e degradação sucessiva da informação genética inicialmente criada"? Onde está a "informação genética inicialmente criada" para comparar? Onde estão as provas?
Se não tem, não escreva disparates. Em especial, não escreve sobre alhos quando o tema é bugalhos!
Contrariamente às previsões baseadas na Teoria do Big Bang (que não deve ser confundida com a realidade) as galáxias apresentam-se quantizadas e estruturadas por referência à posição da Terra!
ResponderEliminarO que eles observam:
"Astronomers believe these GRBs (and therefore the galaxies they inhabit) are somehow associated as all 9 are located at a similar distance from Earth."
"According to its discoverers, there's a 1-in-20,000 probability of the GRBs being in this distribution by chance — in other words, they are very likely associated with the same structure, a structure that, according to cosmological models, should not exist."
Génesis tem a resposta!
Criacionista,
EliminarO artigo que refere em nada contraria a teoria do big bang. Pode quanto mais levantar dúvidas sobre os modelos de formação de galáxias e/ou os modelos de formação das estrelas. São coisas diferentes, e uma não implica a outra.
Por outro lado, como é que se justifica que o artigo seja sobre uma zona do espaço com 5000 milhões de anos luz, cerca de 1 milhão de vezes mais antigo (pelo menos a luz que nos chega agora) do que a palermices criacionistas que apontam para uma idade 5000 anos? A resposta é sempre a mesma: a Bíblia não diz nada disso, logo é falso, porque só é verdade se a Bíblia disser!