domingo, dezembro 25, 2011

Treta da semana: adopção natural.

Num texto aparentemente publicado no Público de dia 16, Gonçalo Portocarrero de Almada apresenta um argumento fascinante contra a adopção por casais homossexuais. Fascinante por ser uma inferência falaciosa assente numa premissa falsa, maximizando assim a treta na argumentação. «Na realidade, só há dois modelos para a adopção: o natural e o que, por ser o seu contrário, é não-natural. Só um homem e uma mulher podem "ser" pai e mãe […] A adopção não-natural é um mal maior, contrário ao bem do menor, que é o superior interesse que a lei deve tutelar.»

A falácia, querida dos defensores de qualquer “é assim porque sim”, consiste em inferir uma norma moral a partir da mera constatação de um facto. É a falácia naturalista. Neste caso, o Gonçalo Portocarrero, assumindo que a forma natural de adopção é por um casal heterossexual, deriva daí a regra de que só estes casais devem poder adoptar. Isto faz tanto sentido como concluir que a violação é moralmente aceitável, ou que temos a obrigação moral de comer comida crua, apenas porque na natureza é assim que as coisas acontecem. A justificação normalmente invocada é que nem tudo na natureza é moralmente relevante, mas alguns aspectos da natureza são. Infelizmente, isto apenas substitui a falácia naturalista pela falácia da petição de princípio, continuando a faltar a justificação para decidir que este implica restrições morais. Seja por onde for, não se justifica restringir a adopção a casais heterossexuais só porque, biologicamente, é necessário os dois sexos para fazer um filho. Entre outras coisas, tal salto de fé implicaria ser também imoral a adopção por um casal infértil.

Além disso, a premissa do Gonçalo é falsa. Ridícula, até. Não há nenhuma “adopção natural”. Ocasionalmente, pode acontecer a cadela amamentar um gatinho ou coisa do género mas, na natureza, há uma forte pressão selectiva contra o investimento em prole alheia, mais forte ainda do que contra o suicídio. A adopção é uma invenção humana, nada natural, que só se tornou prática generalizada recentemente e apenas em algumas culturas.

O argumento invoca também premissas como «Se a adopção tem por modelo a família natural» e «Se se entende que se deve proporcionar ao menor uma família análoga à que o gerou». Mas não há razão nenhuma para assumir isto. O problema fundamental é decidir o que é melhor para a criança. Dada uma criança sem os pais biológicos, a viver numa instituição, e um conjunto de candidatos para a adoptar, é necessário avaliar qual a melhor opção para a criança. Segundo o Gonçalo, «A questão não pode ser equacionada em termos casuísticos ou sentimentais, mas em função do fim a que tende a adopção: facultar uma verdadeira família à criança desvalida.» Mas não é bem isso. O propósito da adopção é dar à criança o melhor ambiente possível. Isso tem mesmo de ser avaliado caso a caso, e não conforme uma definição arbitrária de “verdadeira família”.

Mas numa coisa dou razão ao Gonçalo. Há mesmo aqui «Um Mal Maior Contra o Bem do Menor». Só que não é a homossexualidade nem a adopção “não natural”. O mal maior é o crédito que se dá a preconceitos bacocos só porque têm origem religiosa.

1- Real Associação do Médio Tejo, Um mal maior contra o bem do menor, via perspectivas.

19 comentários:

  1. Até pensei q esse "perspectivas" fosse *do* perspectiva, mas parece q não. Já o ia congratular por finalmente ter criado o seu próprio blog em vez de encher de comentários repetidos os blogs dos outros.

    De resto... ainda há monárquicos? Ainda há quem ache que o melhor método para escolher um chefe de estado é: o primeiro macho a ser parido pela legitima esposa do chefe anterior? Parece-me uma forma um pouco arcaica. Tribal até. But maybe that's just me...

    ResponderEliminar
  2. O superior interesse do menor é sempre uma treta. Uns crescem com mãe e pai, outros só com mãe ou pai, outros até sem nada. Crescer é fácil, não é tão fácil fugir às certezas e preconceitos dos adultos.

    O que será preferível à educação de uma criança? Lidar diariamente com comportamentos homossexuais ou com fobias sexuais?
    "princípio fundamental que caracteriza a vida humana: o ser humano é sexuado. [...] E é a partir dessa realidade humana axiomática [...] que a educação das crianças deve ser orientada"

    ResponderEliminar
  3. Os contos de criança (de fadas ou de ateísmo Krippahlista)têm polarização das personagens, tal ocorre não para que o bem seja dado como modelo mas para que se torne mais notório para a criança a diferença entre esses polos (masculino-feminino, pobre mas honrado-rico e desonesto)

    Assis o papel sexual (e o bissexualismo e a bissexualidade e comportamentos bissexuais são a norma biológica) a heterosexualidade absoluta e a homosexualidade são comportamentos extremos

    enquanto o casal hetero ou múltiplo poligâmico ou poligínico dá à creança referenciais de papéis sociais sexuais

    um casal ou um trio unisexual pode dar à creança atenção cuidados extremos "amor" mas vai também levar à complexificação dos modelos e dos pré conceitos sociais infantis

    até pode ser preferível a uma famelga onde a violência é a norma ou outra onde o pai viola mentalmente (inculcando-lhe os seus traumas ) ou fisicamente os filhos

    mas como em todas as famelgas com desvios normativos marca-as de forma indelével...(cria stress de aceitação-fuga-ocultação é o mesmo que ter um cigano ou um assassino na família...dá fama..)

    ResponderEliminar
  4. Aqui cigano homessexual casa cedo tem muitos meúdos (dele e dos primos )
    e aponta pistola à cabeça de drogados pra mostrar qué duro

    e oviamente os putos são criados pelo casal de primos
    mais o casal de mulheres dos primos..o que lhes dá mai dibersidade

    agora dizer-lhes que são um casal dá chumbo...

    ResponderEliminar
  5. Não vamos mais longe, ainda se lembram da adopção feita por homossexuais não casados? Que a partir do momento que as instituições soubessem que a pessoa que queria adoptar era homossexual já não autorizava e se não soubesse não havia problema?
    Os legisladores podem ser muito bons na área do direito e afins, na parte burocrática da coisa, mas não são bons a observar a sociedade e metem os preconceitos pessoais à mistura, a adopção natural é como o casamento natural, é o único que conhecem e com o qual tem contacto e por isso não equacionam outro modo.

    Consta-me ainda que este senhor é padre e licenciado em direito e doutor em filosofia, não é de estranhar as palavras proferidas, resta-nos como estado de direito e laico manter este tipo de pessoas bem longe das instituições educativas..

    ResponderEliminar
  6. Ps: como padre a sua experiência familiar e de criar uma família é tremenda e deveria ser um exemplo para todos nós..
    Ps2: É uma piada, mas também um reparo à aqueles que falam do que não sabem, a igreja continua até à náusea com o drama da destruição da família, da decadência da mesma, mas de qual família falam?

    ResponderEliminar
  7. Será Ludwig Krippahl um homem realmente sem "preconceitos" e que dorme tranquilo à noite quando pensa na possibilidade dos seus filhos ficarem órfãos e acabarem como objectos de direito de uma qualquer parelha lesbiana ou sodomita ? Fica a questão.


    Comentando agora o assunto, a estupidez da "adopção gay" tem como motivação o mesmo sentimento que leva as pessoas a quererem um cãozinho no quintal. Se estes anormais estivessem preocupados com as crianças, nunca tentariam abolir o direito natural a ter um pai e uma mãe. É verdade que há muita gente que não teve um pai e uma mãe enquanto crescia. Mas daí a achar que é indiferente, e que esse direito não deve ser garantido ( lembro que é recente, pois há relativamente pouco tempo ainda haviam filhos "ilegítimos" e "bastardos"); é o mesmo que achar que não temos direito à preservar as duas pernas, só porque há pessoas que as perdem em acidentes.

    ResponderEliminar
  8. Jairo,

    Se eu fosse perder tempo a preocupar-me com essas coisas, preocupava-me mais que os meus filhos órfãos fossem entregues a uma instituição católica ou criados por alguém como tu.

    «Se estes anormais estivessem preocupados com as crianças, nunca tentariam abolir o direito natural a ter um pai e uma mãe.»

    Não vejo ninguém a tentar abolir esse direito. Isso seria se quisessem tirar os filhos aos seus pais biológicos para os entregar a casais homossexuais. Mas, se prestares mais atenção à discussão, verás que o problema é só com aquelas crianças que já não têm um pai e uma mãe, ou sequer um tio ou avó que possa cuidar delas.

    « é o mesmo que achar que não temos direito à preservar as duas pernas, só porque há pessoas que as perdem em acidentes.»

    Não. É o mesmo que achar que, quem não tem as duas pernas, pelo menos merece uma cadeira de rodas ou umas muletas. E a tua posição é proibir isso. Ou leva pernas, ou não leva nada, o que, na prática, acaba por lixar desnecessariamente muitas crianças.

    ResponderEliminar
  9. «Se estes anormais estivessem preocupados com as crianças»

    Como é lindo ver o amor cristão em ação :)

    ResponderEliminar
  10. Todo o artigo do padre parte de uma falácia básica - ele começa por considerar que, no caso de um casal hetero, prevalece o direito da criança a ser adoptada, no caso de um casal homo, prevalece o direito do casal a adoptar. Claro que não existe «o direito do casal a adoptar». A adopção é um acto voluntário, estritamente controlado pela lei. Não se entregam crianças por dá cá aquela palha. O padre sabe-o, mas finge ignorar porque lhe dá jeito. A partir do momento em que ele apresenta um «argumento» da parte contrária que nem é argumento nem foi alguma vez usado fosse por quem fosse com juízo, a discussão deixa de se fazer em bases sérias.
    Há muito tempo que me deixei de tentar manter um debate razoável com Jairos, Espectivas e quejandos, pois partem sempre de falácias básicas e, quando encontram alguém que não concorda com eles, passam imediatamente ao insulto pessoal mais rasteiro. É tempo perdido a alimentar o ego de trols.

    ResponderEliminar
  11. Krippahl, se fosse como dizes, ninguém lutava para que as duplas gays que brincam aos "casais" tivessem o DIREITO a adoptar em IGUALDADE de circunstÂncias com os verdadeiros casais( homem+mulher), como se fossem um casal, ou seja, abolindo o direito natural à filiação ( um pai e uma mãe). Boa tentativa, mas todos sabemos que esta proposta não é a de permitir males menores para crianças sem possibilidade de um pai e de uma mãe, mas para arrasar definitivamente com a noção de que as crianças têm direito a um pai e a uma mãe. Com a estupidez da "adopção gay", querem estabelecer que é INDIFERENTE ser ou não criado por um pai e uma mãe. Estamos a falar de uma proposta que passa por cima, propositadamente, dos interesses das crianças. Revoltados com a realidade ( o relacionamento homossexual é estéril), querem mudar a realidade politicamente. Não se pode aceitar um crime destes.

    ResponderEliminar
  12. Sobre o facto de me considerares uma pessoa má para educar crianças, não me incomoda. Vindo de quem vem, é indiferente. Tu dizes que a prostituição é uma profissão como qualquer outra, que um dos problemas da educação é o estado fazer demasiado a vontade aos pais ou que os pedófilos têm o direito de tentar legalizar a pedofilia ( se quiseres volto a colocar aqui os links). Um tipo como tu acusar-me de ser um perigo como educador de jovens, é o mesmo que um traficante de droga acusar-me de provocar maus hábitos de saúde na população...

    ResponderEliminar
  13. Jairo,

    segundo a Convenção dos Direitos da Criança desde 1957, as crianças têm o direito de conhecer os pais biológicos (direito de filiação) ou qualquer outro membro familiar e de viver com eles ou visitá-los se for contra o seu interesse (artigos 9, 8), mas não está previsto o direito específico de viverem com um homem e mulher como pais.

    Existe é o direito de: ter uma família (mesmo que não seja biológica) que deve respeitar os seus interesses (artigo 20, 18, 21), as suas opiniões devem ser tidas em conta e não devem ser discriminadas pelas suas opiniões (artigos 12, 13, 14, 15).

    http://www2.ohchr.org/english/law/crc.htm

    No direito de filiação não trata do direito de ter como pais efetivos um homem ou uma mulher. É o direito de conhecer as suas origens genéticas e de ser reconhecida a paternidade fora do casamento como dos pais adoptivos (filiação socioefetiva). Nesse caso, pode ser reconhecida a filiação socioefetica de homossexuais.

    http://www.juridicas.unam.mx/publica/librev/rev/critica/cont/24/pr/pr12.pdf

    Agora, se considera que essa filiação de parentes do mesmo sexo é contrária às crianças, deverá prová-lo. Eu considero que não é do interesse das crianças terem como pais adoptivos do mesmo sexo num meio onde a homofobia é prevalente, independentemente da discriminação da orientação sexual ser crime. Mas vejo qual é a relevância do sexo e do género dos pais adoptivos em si mesmos, especialmente se a criança expressar a sua opinião como favorável a essa situação.

    Poderia então explicar-nos por que é que diz que existe o direito de ter um pai e mãe (trata-se de uma lei, de consequência de uma filosofia essencialista?) e de apresentar provas de que uma criança aos cuidados de duas pessoas do mesmo sexo como pais adoptivos é contrário ao interesse dessa criança?

    ResponderEliminar
  14. Escrevi o último comentário num intervalo para almoço e por isso faltaram palavras; ex:
    - "se for contra o seu interesse" => "se não for contra o seu interesse"
    - "Mas vejo qual é a relevância" => "Mas não vejo qual é a relevância"

    ResponderEliminar
  15. JC,

    Esta sua imagem... lembrei de uma coisa :)

    http://www.youtube.com/watch?v=GAKhF07TcJ8

    ResponderEliminar
  16. Ei, eu falei ontem em amor cristão? :)

    http://www.youtube.com/watch?v=RYFPzaOWeFw

    ResponderEliminar
  17. COMO O LUDWIG TAMBÉM CAI NA FALÁCIA NATURALISTA

    O Ludwig também cai na falácia naturalista em quase todos os seus posts.

    Ele pretende criar normas a partir da sua sua visão naturalista do mundo. Com base nessas normas ele critica os padrões morais dos outros.

    Ao mesmo tempo que critica os outros por determinados valores, defende os seus próprios.

    Qual é o problema com isso? É que os factos não criam normas.

    Além disso, se os valores forem criações humanas não existe qualquer critério que o Ludwig possa mobilizar para considerar os seus valores superiores aos dos outros.



    E muito menos se pode deduzir a primazia da bondade e da justiça a partir de uma visão do mundo assente em milhões de anos de comportamentos predatórios, mutações, selecção natural, doenças e morte.

    As normas são sempre criadas por seres com capacidade moral.

    A santidade da vida humana depende da sua criação á imagem e semelhança de Deus.

    A igualdade depende depende do igual valor que todos têm aos olhos de Deus.

    O valor da família heterossexual monogâmica depende da sua criação por Deus, em Génesis 1.

    Ela é o padrão universalmente aceite. Todos os outros modelos são desvios ao padrão.

    Ele não é naturalista. Ele é sobrenatural.

    ResponderEliminar
  18. Não tenho mão suficiente para o facepalm que os comentários dos anormais requerem...

    ResponderEliminar
  19. Convido a assinar a petição pela legislação da parentalidade por casais do mesmo sexo:

    http://www.avaaz.org/po/petition/Legislacao_da_Parentalidade_por_Casais_do_Mesmo_Sexo_em_Portugal/?fMitKbb&pv=9

    ResponderEliminar

Se quiser filtrar algum ou alguns comentadores consulte este post.