domingo, março 18, 2007

Está claro?

A linguagem serve para muita coisa. Para encorajar, prometer, provocar, pedir, causar emoção... e para explicar ou informar. Estes efeitos não são automáticos nem intrínsecos á linguagem. Dependem sempre de como a utilizamos é importante não os confundir.

Por exemplo, não se explica o amor dizendo que é fogo que arde sem se ver. Parece uma verdade profunda, pode despertar emoções, mas não esclarece quem amou nem informa quem nunca se apaixonou. No outro extremo, que os insectos têm seis patas pode parecer trivial. Mas é informativo: quem não sabia passa a saber.

Então como é que o cientista explica o amor? Não explica, porque para explicar é preciso compreender primeiro. Todos (ou quase todos) conhecemos esta sensação, mas não compreendemos o que é. Provavelmente evoluiu por ser uma vantagem na criação dos filhos. Provavelmente envolve hormonas, neurotransmissores, certos padrões da actividade neuronal. Mas sem o perceber não podemos explicar o amor. Podemos fazer poesia, mas só poesia que não esclarece.

Aqui não há nada de controverso. Ninguém explica o amor, mas não há problema porque ninguém finge que o explica. Mas noutros casos há. As doenças, por exemplo. Antigamente ninguém percebia o que eram, e fingiam explicá-las com o equivalente ao fogo que arde sem se ver. Desequilíbrio dos humores. Mau karma. Castigo divino. Bruxaria.

E hoje também. Da biodança à magnetoterapia, quem não sabe engana quem não quer saber com palavras que nem fazem sentido. Sabemos o que é energia, mas energias negativas ou bloqueios energéticos são termos sem sentido. Vibração é um termo claro, mas quando dizem que as essências florais têm vibrações curativas ou se referem ao abanar do frasco ou tiram o sentido à palavra.

A teologia é ainda pior. A espiritualidade, o mistério, a revelação, o sagrado, e mais uma data de termos indefinidos são ideais para fingir que se diz algo profundo sem se dizer nada. Um exemplp da Bíblia é I João 4:8. Deus é Amor. Excelente. Como ninguém sabe o que é deus e ninguém compreende o que é o amor, é a definição perfeita...

Há coisas que ainda não podemos explicar, e algumas que talvez nunca expliquemos. E a linguagem tem funções em que a ambiguidade é importante. A poesia, a política e a religião seriam impossíveis se tivéssemos que dizer tudo com clareza. Mas qualquer explicação tem que assentar em termos claros e bem definidos, senão não explica, não esclarece, não informa. E qualquer pedido de esclarecimento tem os mesmos requisitos. Nem se pode explicar algo com palavras sem sentido, nem se pode pedir que expliquem se não é claro o se quer ver explicado.

A que propósito vem isto? Não perca os próximos episódios: a crença, e a oviniologia...

18 comentários:

  1. Ahahah...o seu post está muito cómico. Explique-me apenas duas coisas:

    1 - Se a ciência explica tudo, não explica também o amor? O João Vasco explica-o como uma reacção química no cérebro, discorda? E se faz parte da natureza do Homem tentar descobrir as razões para tudo, e conseguiu-o como disse em muitas doenças, porque não tenta descobrir a explicação do amor? É uma noção assim tão irrelevante? Penso que não...

    2 - Porque cita "Deus é amor" como se fosse tudo o que essa carta diz do amor? Aliás, até parece que tudo o que a igreja diz sobre o amor se resume a essa frase. O ludwig limita-se a tirar uma frase do contexto, e a dizer que não explica nada...claro, não mostra o contexto! Se não tivesse tido desonestidade intelectual tinha citado toda a parte da carta que se refere ao amor. Mas compreendo que assim fosse mais difícil dizer mal da "teologia". A crítica injusta e infundada acima de tudo! Viva o preconceito!!

    Pedro Silva

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  2. Olha o anónimo, "Pedro Silva"; agora é "Pedro Silva"?!?! E amanhã será o quê?

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  3. Ops! esqueci de assinar o comentário anterior,

    Mário Miguel

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  4. Vou dar milho aos criacionistas...

    http://cosmo.fis.fc.ul.pt/~crawford/palestra_JM07.htm


    Mário Miguel

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  5. Pelo menos a existência de deus deverá ficar definitivamente decidida até 15 de Janeiro de 2008. É o prazo que uma resolução do senador norte-americano Raymond Finney deu à Comissária da Educação para dizer se Deus existe ou não. Quando esse assunto estiver enfim arrumado, o iluminado senador - creacionista convicto - poderia então requisicionar dos representantes do Governo que definam deus, e, já agora, o amor, e muitas coisas mais.
    Decerto que as explicações dos políticos não serão mais absurdas do que as dos criacionistas.
    Cristy

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  6. Caro Pedro,

    A ciência não explica tudo. Talvez um dia o faça, mas de momento não se consegue explicar tudo.

    E não cito essa passagem como se fosse a única coisa que essa carta diz sobre o amor. Apenas o cito como um exemplo de algo que parece explicar quando não explica nada. Mesmo no seu todos, 1 João não explica o que é o deus cristão. Tem umas metáforas e uma certa poesia, mas não esclarece nada.

    E isso era o ponto que eu queria frisar. Há muitas formas de dar a ilusão que se explica, ou esclarece, ou informa, mas em muitos casos é mesmo só ilusão. Sem uma linguagem rigorosa com termos bem definidos não há clareza nem explicação.

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  7. Resumindo, o facto de a ciência não poder explicar, não implica que não exista.

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  8. Karin,

    Sem querer substituir-me ao Ludwig, neste aspecto particular, penso que te posso dar uma ideia do assunto. A biodança, que outras crenças designam "O tango de Odin", ou "O pas-de-deux de Buda", é um dos arcanos mais secretos da Blinologia, revelada apenas aos iniciados pelos Blins, na sua Grande Revelação, que ficou também conhecida como "O caso do spam massivo".

    Nesses documentos sagrados, os blins mostram claramente que a palavra biodança não tem, possivelmente, qualquer significado lógico. Não significa nada, e, caso significasse alguma coisa, essa coisa seria claramente um disparate. Isto basta, concluem triunfalmente, para demonstrar à saciedade que se trata de uma verdade superior, misteriosa e inefável. Ao homem não compete questionar, mas apenas dançar, porque isso agrada aos Blins.

    Pretendo aqui, simplesmente, esboçar uma explicação muito rudimentar, apenas para dar uma ideia do assunto. Muitos textos sagrados existem, como o famoso, "Da artrite dos sacerdotes, e o seu papel no fox-trot", que poderiam acrescentar uma multitude de esclarecimentos, tão sagradamente infundados como este.

    Espero que isto tenha sido de alguma ajuda, e peço desde já desculpa ao Ludwig, por me apropriar assim dos seus Blins. É uma vergonha, mas que mais posso eu fazer? Os Blins pertencem ao mundo, e o Ludwig é apenas o seu profeta. As suas teorias evolucionistas poderão ser verdade, mas os Blins são A Verdade, e não há nada que não fique mais impressionante, quando é escrito com maiúsculas. Amanhã converto-me ao Evolucionismo, se tiver de ser, mas o seu evolucionismo, assim pequenino, não me convence.

    Agora, os Blins, isso é outra história...

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  9. Caro Ludwig,

    claro que a ciência não explica ludo, mas a ciência está a tentar explicar o amor? Alguma vez esteve e alguma vez estará? Ou será que isso deve ser deixado para algo além da ciência? Algo que forçosamente não use os mesmos métodos?

    É que não percebo como é que alguém que se orgulha do facto do Homem procurar incessantemente o conhecimento, se conforma com o facto de ninguém conseguir explicar o amor. Para a grande maioria das pessoas, é mais relevante para a sua vida perceber o que é o amor, do que saber qual a constituição do sistema solar. Teria muitos mais efeitos práticos no dia-a-dia.

    Quanto à frase que citou, o seu argumento não existe. Pega numa frase e diz que não explica nada. Quantos textos conhece, em que possa pegar numa frase com 3 palavras q consiga explicar todo o texto? Isso é o cúmulo do resumo. Arranje lá uma forma mais válida de poder usar a sua tão querida má-lingua em relação à "teologia".

    Cumprimentos

    Pedro Silva

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  10. «É que não percebo como é que alguém que se orgulha do facto do Homem procurar incessantemente o conhecimento, se conforma com o facto de ninguém conseguir explicar o amor.»

    Por não nos conformarmos com o que ainda há para saber é que queremos continuar a fazer ciência :)

    A ciência já sabe umas coisitas sobre o amor, mas ainda falta muito até estar convenientemente compreendido.
    Espero que a ciência continue a todo o vapor a dar respostas a estas questões. Está no bom caminho , pois cada vez se compreende melhor o cérebro :)

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  11. Eu cá nunca vi um electrão, mas compreendo o conceito, sei até escrevê-lo matematicamente (não é complicado). Vejo efeitos e causas do electrão que me permitem descrevê-lo conceptualmente. Consigo produzir tecnologia, dominar novos conceitos.

    Eu cá nunca vi o amor, mal compreendo o conceito, não possuo instrumentos que me consigo descrevê-lo (pobre química). Não vejo efeitos e causas que me sugiram uma conceitualização, e não me serve para produzir tecnologia, dominar conhecimento.

    Se mesmo assim o amor deve ser objecto de estudo da ciência? Claro que sim. Se reacções neurológicas/fisiológicas que levam ao aparecimento de estados mentais/fisicos próprios (sentimentos) devem ser objecto de estudo? São objecto de estudo, suponho que ninguém desconfia que a depressão, ansiedade, pânico, ect.. são objecto de estudo. O que provoca, como evitar, como controlar. Agora não esquecer que as ciências costumam trabalhar com objectos bem definidos. Não com sintaxe.

    Na ciência é útil nunca esquecer que: Conseguir descrever é muito diferente que explicar. (aqui o rato troce o rabo) mas começa-se sempre por esse lado

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  12. Pensarcusta,

    Ri-me imenso com o teu comentário, devido aos erros ortográficos e gramaticais. Ri-me sem cinismo, sei que não dominas o nosso idioma (ainda), mas vais no bom caminho. Não estou a gozar contigo, aliás até concordo com quase tudo o que escreveste. Já agora, não é assim que o ditado é dito: "aqui o rato troce o rabo", sendo, "aqui é que a porca torce o rabo" Bom trabalho, e não me leves a mal.

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  13. Então cabe à ciência explicar o que é o amor? E tal será conseguido quando se souber quais as reacções químicas que despertam esse tal de amor? Só para saber se devo estar à espera que me expliquem porque é que devo amar alguém, e se será a ciência que o vai fazer. Ou se devo procurar a resposta noutro lado...

    Pedro Silva

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  14. r/ pedro silva

    uma explicação será concerteza á da psicologia e similares, mas é o objecto de dificil estudo. varias abordagens de diferentes disciplinas sao requeridas. A filosofia e poesia tb sao uma forma de explicar as coisas, bem vistas as coisas até a religião é uma forma de explicar as coisas. O senhor escolherá aquela que mais lhe agradar. Mas por gostar de uma determinada explicação nao a torna mais verdade. e no reino da verdade, a abordagem racional e cientifica é o deus maior.

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  15. caro pensarcusta

    concordo quase plenamente com a sua resposta, obrigado. A única excepção é a última frase. Concordo que só se pode chegar à verdade racionalmente, mas muitas vezes isso não passa pelo pensamento cientifico. (não quer dizer que muitas outras vezes não passe)

    Pedro Silva

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  16. "Pelo menos a existência de deus deverá ficar definitivamente decidida até 15 de Janeiro de 2008. É o prazo que uma resolução do senador norte-americano Raymond Finney deu à Comissária da Educação para dizer se Deus existe ou não." lol

    biodança? a dança não é´intrinsecamente biológica, claro que as mulheres têm mais aptencias porque, evolucionáriamente, creio que todos fomos um dia mulheres capazes de procriar por ovos, contradizendo um pouco a cena dos macacos mas indo parar em cheio à cena da atlantida, peixas que desovaram macaquinhos lol agora costelas de adão é puro patriarcado fascista do catolicismo gordo e nojento e pegajoso nos seus privilégios... "é preciso muito caos interior para criar uma estrela que dance"

    sou mais novo que todos vocês mas u amor provém do desejo e da necessidade inconsciente de multiplicação, cujo acto por acaso dá um prazer do caralho, agora amor é tempo, é como vivere trinta anos numa casa e não quereres sair de lá porque conheces cada recanto onde já passaste tanto anti-bacterial, onde a conversa já vai, amor é psicológico portanto só é matemático, porque tudo é matemático e neste espaço colorido que habitamos tem 11 dimensões até agora descobertas pela fisika, apesar de não as percepcionarmos, se estudar-mos os electrochoques cerebrais que sucedem quando um apaixonado reencontra sua amante perdida, aí talvez alguém possa tirar uma fotografia ao amor e acaba-se a discussão... blins=? hmmmmm......... mais conhecimento pá carola, uma foda ék caia bem.


    www.motoratasdemarte.blogspot.com

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  17. Pois... são ateus como este que me levam a questionar, por vezes, se os católicos não terão alguma razão... beati paupere spiritu.

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