domingo, novembro 23, 2014

Treta da semana (passada): o muro da defesa

O que defendo acerca do papel do Estado na economia e na redistribuição de riqueza devia aproximar-me do PCP. Também o contacto que tive com o partido, se bem que apenas com um deputado e a propósito do copyright, devia contribuir para esta aproximação pela boa impressão que me deixou. No entanto, surge sempre o problema do núcleo do PCP ser controlado por pessoas que vivem num universo tão estranho que nem as minhas quatro décadas de infância* como fã da Marvel me ajudam a compreender. Este é um problema que vai desde o mais genérico, como o slogan da CDU (“Uma Política Patriótica e de Esquerda”) até detalhes como o de não saberem se o regime da Coreia do Norte é opressivo ou pérolas como o comunicado a propósito das celebrações da queda do muro de Berlim. Começa assim:

A chamada «queda do muro de Berlim»
[...]Perante a campanha anticomunista de intoxicação da opinião pública desencadeada a pretexto da passagem de 25 anos sobre a chamada «queda do muro de Berlim», o PCP considera necessário afirmar o seguinte:
(1)

E depois piora.

Segundo o PCP, celebrou-se «a anexação [...] da [República Democrática Alemã] pela República Federal Alemã». O termo “anexação” é pouco adequado aqui. Um exemplo que ilustra melhor a situação que se vivia até 1990 foi o que aconteceu em 1989 quando a Hungria desmantelou o seu muro, uma vedação guardada de 150km que impedia a passagem para a Áustria. Assim que isso aconteceu, milhares de alemães de leste que estavam na Hungria passaram para a Áustria, de onde puderam livremente viajar para a Alemanha. A outra Alemanha. Meses antes do desmantelamento oficial desta vedação, num “Picnic Pan-Europeu” organizado entre austríacos e húngaros, centenas de alemães de leste aproveitaram para se pirar pelo pequeno buraco (2). O que aconteceu à Alemanha em 1945 não foi uma divisão em dois países. Foi uma divisão em duas administrações, uma pelos aliados e outra pelos soviéticos. Os aliados rapidamente deixaram os alemães do seu lado decidir o que fazer da vida mas os soviéticos só largaram o osso em 1990. O muro caiu como baixam os braços de quem já não está na mira da metralhadora.

Acrescenta aínda o PCP que «É necessário desmascarar a hipocrisia daqueles que, clamando contra o muro erguido em Berlim pelas autoridades da RDA, têm construido e continuam a construir barreiras do mais variado tipo (sociais, raciais, religiosas e outras) por esse mundo fora, incluindo muros físicos, intransponíveis de que o exemplo mais brutal é o muro erguido por Israel para cercar e aprisionar o povo palestiniano na sua própria pátria». Eu também sou contra barreiras à imigração. Não me parece eticamente defensável a tese de que alguém nascido do outro lado de uma fronteira tem menos direito às oportunidades que eu tenho só porque eu nasci deste lado. Mas essas barreiras são uma consequência inevitável de qualquer política patriótica, porque o patriotismo é precisamente a doutrina de que “nós”, aqui, valemos mais do que “eles”. Parece-me hipocrisia defender políticas patrióticas e ser contra barreiras à imigração, e é uma das razões pelas quais rejeito o patriotismo. Primeiro as pessoas.

Mas mais preocupante que esta contradição é o PCP não perceber, ou não querer perceber, como o muro de Berlim, e toda a cortina de ferro, eram diferentes dos muros de Israel na Palestina, dos EUA na fronteira com o México ou da Espanha em Marrocos. Estes últimos são muros criados por governos a mando das pessoas que representam e que não querem que os pobres lhes venham estragar o ambiente. O muro de Berlim foi criado por um regime contra as pessoas que governava porque sem o muro elas piravam-se. A característica mais preocupante do núcleo dirigente do PCP é a incapacidade notável de distinguir entre governar de acordo com a vontade do povo e governar atropelando o povo na defesa de alguma pseudo-ideologia mais demagógica do que concreta.

Dizer que «o socialismo é mais actual e necessário do que nunca» parece-me injusto para com os trabalhadores da revolução industrial, que sofreram consideravelmente mais do que sofrem os seus congéneres de hoje. Mas concordo que o socialismo é actual e necessário e agradeço o esforço de todos os que tornaram a nossa sociedade tão socialista. Quem critica a esquerda fá-lo normalmente ignorando que muito do que todos tomamos como garantido, desde a segurança social à liberdade de associação e da escola pública ao acesso universal à justiça, são invenções de esquerda. Mas discordo desta dicotomia de que «o futuro da Humanidade não é o capitalismo mas o socialismo e o comunismo.» O futuro da Humanidade exige que se respeite a vontade das pessoas em vez de construir muros para as manter na linha e é um facto incontornável que o capitalismo agrada a muita gente. Por isso, o que temos de fazer é garantir que há socialismo suficiente para equilibrar as injustiças do capitalismo e de resto deixar as pessoas viver a sua vida à vontade. O que se perde em pureza ideológica é mais do que compensado pelo que se poupa em holofotes e arame farpado.

* Não, não é gralha. É honestidade.

1- Avante, A chamada «queda do muro de Berlim»
2- Wikipedia, Pan-European Picnic

3 comentários:

  1. Portanto, és social-democrata :) Oh, não no sentido em que o Partido Social-Democrata o entende, pois este, pelo menos desde o Sá Carneiro, que deixou de ser social-democrata. Como dizia o Freitas do Amaral, quando o criticaram por estar no PS, ele diz que a sua ideologia não mudou: o que mudou foram os partidos que se tornaram cada vez mais de direita...

    Pessoalmente também sinto a falta de um verdadeiro partido social-democrata em Portugal. É que infelizmente as únicas opções que nos dão é o comunismo, o bolchevismo (são mais honestos na forma de tirania que pretendem :) ), ou uma camada de patacoadas mais ou menos de esquerda, sem grande ideologia, misturadas sob forma de partido sem saber o que querem para além de falar mal do Governo (qualquer que ele seja).

    Faz falta em Portugal um partido social-democrata que defenda ideologicamente uma economia de mercado e o direito ao capitalismo, mas em que o papel do Estado é a redistribuição da riqueza e a fiscalização para que os capitalistas, na sua ganância, não violem os direitos básicos dos trabalhadores e consumidores.

    Quanto ao artigo que comentaste, confesso que o li, enviado por uma amigo meu, esse sim, profundamente anti-comunista, e que o usou para ilustrar como muita gente do PCP vive num universo paralelo que praticamente não tem nada a ver com a realidade. É pena que assim seja, pois eles têm de facto gente com boas ideias e capacidade de trabalho entre os seus militantes activos. Mas continuam a ter muitos idiotas (que é diferente de «ter ideias»), e, pelos vistos, revisionistas históricos sem qualquer fundamento...

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  2. Um artigo científico interessante sobre o "muro de defesa" à volta da Terra, que Deus criou para proteger a vida da radiação cósmica.


    Os próprios cientistas envolvidos na descoberta do "muro" acabam por reconhecer que se trata de evidência de design inteligente e poderoso quando afirmam:

    "It's not obvious how the slow, gradual processes that should be involved in motion of these particles can conspire to create such a sharp, persistent boundary at this location in space."

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  3. A CIÊNCIA DA SINGULARIDADE DA TERRA E A DOUTRINA DA CRIAÇÃO

    O astrofísico Stephen Hawking compraz-se em alardear que Deus não existe!

    Trata-se de uma afirmação não científica, na medida em que os cientistas não conhecem a totalidade do Universo, muito menos o que pode estar para além dele.

    No caso de Hawking, ela é auto-refutante, porque reclama o atributo divino da omnisciência para negar a existência de Deus.

    Stephen Hawking, é o mesmo que, depois de rejeitar a vida eterna que Deus nos oferece numa Criação restaurada e livre do pecado e da maldição, tem dito que o ser humano necessita de conquistar outros planetas para sobreviver.

    Uma leitura atenta da Bíblia acompanhada de uma reflexão científica mais profunda poderia fazer bem a Stephen Hawking.

    A Bíblia ensina que a Terra é um planeta singular, tendo sido por isso desenhada, sintonizada e posicionada para tornar a vida possível. Ela diz:

    “Pois assim diz o Senhor, que criou os céus, ele é Deus; que moldou a Terra e a fez, ele fundou-a; não a criou para estar vazia, mas a formou para ser habitada; ele diz: Eu sou o Senhor, e não há nenhum outro.” (Isaías 45:18)

    Nas últimas décadas, a procura de planetas semelhantes à Terra só confirmou a sua singularidade e a sua localização numa zona galáctica habitável. A radiação cósmica torna impossível a sobrevivência do homem noutros lugares do espaço.

    Na verdade, foi recentemente descoberto um anel-escudo em torno da Terra que a protege da radiação cósmica.~.

    A Terra tem as condições necessárias para a vida. O espaço, não.

    A própria possibilidade de reprodução humana no espaço está posta em causa.

    Mas não basta estar numa zona habitável para um planeta ser habitável e muito menos habitado.



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