sexta-feira, junho 24, 2011

Os conselhos do Jairo.

Normalmente, não ligo aos posts do Jairo. Mas a mensagem principal deste último parece ser que os homens são todos imbecis, o que achei merecer contraditório. O contexto é que um polícia em Toronto recomendou às mulheres que não se vestissem como vadias para evitar serem vítimas de agressões sexuais. Naturalmente, a culpabilização da vítima, a subjectividade da recomendação e a limitação dos direitos dos inocentes como resposta aos abusos dos culpados deu azo a protestos (1). O Jairo achou mal que protestassem, afirmando ser «sábio o conselho do senhor do Canadá que motivou tanta choradeira feminista no mundo inteiro. Por via das dúvidas, as mulheres não se deviam vestir como galdérias. Há tarados por aí», fundamentando esta última alegação com a afirmação «Quando uma mulher usa saias curtas, ou decotes, isso tem muito a ver comigo.»(2)

Mesmo considerando apenas o aspecto prático, o conselho não presta. Não há uma noção objectiva de “vestir como galdéria”, pelo que nenhuma mulher poderá antecipar o que é que um tarado, daqueles que acham que todas se vestem para ele, vai considerar “como galdéria”. E não adianta de nada. Há países onde as mulheres só saem à rua enfiadas em sacos pretos, mas também nesses há violações e tarados.

É também um conselho injusto e, vindo de um polícia, irresponsável. Se houvesse tarados a bater em quem usasse crucifixos ou fosse do Benfica, seria irresponsável da polícia propor às pessoas que escondessem o seu clube ou mudassem de religião. O problema não é vestir mini-saia ou usar um cachecol vermelho e branco. O problema é haver tarados à solta.

Mas isto é evidente para quase todos, mesmo que não o seja para o Jairo. O que me leva a mencionar este post é a forma como o Jairo apresenta o “macho”. Qualquer homem que pense com a cabeça onde guarda o cérebro percebe que há muitas razões para uma pessoa se pôr mais apresentável. Eu não presto muita atenção à roupa, mas também não gosto de ir dar aulas com a barba por fazer. Todos nós temos expectativas, e hábitos, que nos levam a ter cuidados com a aparência mesmo sem intenções de atrair o sexo oposto. Uma mulher vestida de forma atraente não quer necessariamente atrair a atenção dos homens. Pode perfeitamente ser, para ela, o mesmo que fazer a barba antes de sair. Além disso, mesmo que queira atrair alguém, as probabilidades de ser logo o Jairo são muito pequenas. Quando o Jairo acha que a saia curta e o decote são com ele, baseia-se mais na presunção do que nas estatísticas.

No fundo, o Jairo acha que os homens são tão bestas que uma mulher usar mini-saia é como abanar uma toalha à frente de um boi. O tipo descontrola-se e leva tudo à frente. Isto é um disparate. Não é razoável, nem aceitável, que tal coisa desperte tendências violentas. E não há mal nenhum em alguém, mulher ou homem, se vestir ou agir de forma a atrair outra pessoa. Não é com isso que a polícia se deve preocupar nem é esse comportamento que a sociedade deve desencorajar. Pelo contrário. Este é um direito que a polícia, e a sociedade, devem proteger, sob pena de andar tudo tapado dos pés à cabeça e ainda assim haver tarados violentos à mesma. O que devemos combater são estas ideias de que a violação é causada por decotes ou mini-saias, de que os homens têm desculpa se elas os “provocam” ou de que os Jairos têm alguma coisa que ver com a roupa que as mulheres vestem.

1- Arrastão, Slutwalk
2- Jairo Filpe, Paio com Ervilhas, Feminismo slut.

19 comentários:

  1. Sem querer fazer juízos de valor:

    Quem o-d-e-i-a tanto a homossexualidade, batendo com os pés no chão, e acha que as mulheres andam descascadas de mais....

    Eu não sei não...

    Lá que não dormia na mesma cama não dormia....

    Cada um sabe de si e Deus de todos....

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  2. Assustadora a dimensão do atraso mental em pleno século XXI.

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  3. Existe um documento chamado "Rape and sexual assault myths and facts", da Universidade de Utah. Um dos mitos: "Rape victims provoke the attach by wearing provocative clothing":
    - «Most convicted rapists do not remember what their victims were wearing.»
    - «Victims range in age from days old to those in their nineties, hardly provocative dressers.»
    - «A Federal Commission on Crime of Violence Study found that only 4.4% of all reported rapes involved provocative behavior on the part of the victim.»
    - «Victims in Utah range from two months to 94 years of age.»
    - «Gay and straight men are victimized by rapists for the same reasons women and children victimized.»

    É um exemplo de preconceito, mesquinhice e infantilidade?

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  4. A polícia sempre deu conselhos aos cidadãos, por exemplo:

    Quando enviar o computador para reparação ou actualização com o disco rígido, certifique-se que a informação pessoal, nomeadamente, imagens, informação bancária e outros dados pessoais, não estão acessíveis;

    Nunca vi ninguém manifestar-se contra isto, e propositadamente deixar informações importantes facilmente acessíveís, porque quem não está mal é a própria pessoa, mas sim o criminoso que se vai apoderar das mesmas.

    Basta visitar o site da PSP e encontram-se mil e um conselhos do tipo deste:

    Quando se dirigir para a sua viatura, tenha as chaves disponíveis para abrir rapidamente a porta e tenha em atenção a possível existência de elementos suspeitos junto ao carro.

    “Bora lá ser rebeldes e esconder as chaves de nós próprios, para demorarmos mais à porta do carro, e não ligar a pessoas suspeitas perto do carro! Sim! Liberdade!”

    Obviamente ninguém faz isto, só essas sluts (como as próprias se anunciam), imbuídas ainda da libertinagem sexual do Maio de 68, que tantos frutos deu: http://www.spiegel.de/international/zeitgeist/0,1518,702679,00.html

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  5. As pessoas sabem que as manifestações com muita gente descambam sempre e a polícia gosta é de distribuir arraiais de pancada.

    Por isso têm é de se portar bem e afastar-se dessas coisas...

    Claro que se apanharem na tromba a culpa é provavelmente de andarem mal vestidas, como os arruaceiros.

    Por isso, se um polícia vos aconselhar a vestirem-se melhor, é para o vosso bem: ele só não quer ter de vos partir a cana do nariz.

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  6. Não há uma noção objectiva....claro que há exposição de pele ocultação de formas, zonas esparyilhadas ou sobreelevadas que levam a visibilidade de anatómicas feições ou contornos

    Anos 60 e 70 tiveram muitos antropólogos e biólogos que se debruçaram sobre os simbolismos da vestimenta Desmond Morris foi um dos mais vendidos em termos de livros

    o baton como simbolismo bucal-vaginal esteatopigia induzida por blue jean's etc

    são características sexuais secundárias ou seus fac-símiles que são em geral ressalvados e os olhos quer por maquilhagem (ocultação por óculos) ou postos atrás de um véu

    logo a dinâmica está muito estudada

    a um nível básico o Jairus com.ervilhanas spp. tem razão

    é senso comum e biológico
    dizer que alguém mostra as tetas porque se sente bem
    e não para buscar apreciação e sobreelevar o ego

    é idiótico
    vestuários femininos e masculinos ou falta deles
    tem significados psico-biológicos

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  7. ou pondo de um modo mais simples

    um Lud-wig procura aumento da auto-estima através da propalação das suas ideias (ou coisa que passa por ideias) ao invés de usar um chumaço na zona da pélvis ou de ter uma daquelas camisinhas com um crocodilo ou com um monograma ou ter duas mulheres de 18 (ou dois homis) ao invés de um/uma de 36

    há um livro em que Lud em Lud dirige e controla ao realçar os olhos na face, pintura vermelho negro na face Lud de Luditas
    não de wig's ou wight's

    não sei se consegui descer ao vosso nível de compreensão

    provavelmente não

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  8. João Silveira,

    É razoável que a polícia aconselhe as pessoas a fazer aquelas coisas que elas quereriam fazer se se lembrassem. Não deixar informação privada no PC que mandam arranjar, não deixar as portas do carro abertas, etc. Não é razoável que a polícia, em vez de proteger os direitos das pessoas, as aconselhe a prescindir deles. Por exemplo, dizendo às mulheres que devem evitar andar sozinhas pela rua, sem serem acompanhadas por homens da sua família. Ou dizendo-lhes o que devem vestir, a que horas devem ir para casa, etc.

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  9. Ludwig, até à data os conselhos da polícia são só isso, conselhos. Não são lei, nem dão origem a multa ou prisão se forem desobedecidos, ninguém está a tirar "direitos" a ninguém.

    E no site da PSP, destinado às raparigas jovens pode-se ler: Se possível, saia acompanhada de amigos de confiança e regresse a casa com eles.

    Este tipo de conselhos são apenas bom-senso, e só pode ser levado a mal por pessoas com falta dele. Coitado do polícia canadiano foi mexer num ninho de vespas, ai de quem se meta com o movimento feminista!

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  10. Joao Silveira,

    "bom senso" é para pessoas que liguem a essas coisas. As vadias/galdérias não levam em conta o bom senso porque se ligassem, não seriam vadias/galdérias.


    Felizmente que a percentagem de vadias entre as mulheres é bem minúsculo.

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  11. Mats,

    «Felizmente que a percentagem de vadias entre as mulheres é bem minúsculo.»

    Talvez por seres demasiado permissivo. Olha que andam por aí muitas mulheres com os braços à mostra, a cara destapada e nem sequer acompanhadas do marido, pai ou irmãos. Para muita gente este tipo de vadiagem merece cadeia, ou pior.

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  12. O Ludwig é inteligente, mas isso não o impede de não perceber que quase sempre no meio está a virtude. Lá porque existem pessoas que exigem cadeia para as mulheres que andem de braços à mostra ou cara destapada, não quer dizer que as pessoas possam aparecer em qualquer lado vestidas de qualquer maneira. Mesmo que isso não seja motivo para serem presas, pode ser uma falta de respeito para com as outras pessoas.

    Se eu for para um casamento vestido com fato de banho e havaianas, vai-me dar imenso jeito porque tá um calor de ananases, mas isso é claramente uma falta de respeito para quem me convidou, e também para os outros convidados.

    Se eu for vestido com uma camisola do benfica para o meio da Juve Leo arrisco-me a sair de lá directamente para santa maria. Sou eu que estou errado ou quem me vai espancar? Claro que são eles, eu simplesmente tive falta de bom senso. E se a polícia dissesse “é melhor não ir para o meio da Juve Leo com camisola do benfica”, não percebo em que é que isso seria um insulto à minha liberdade.

    É verdade que uma pessoa pode ir vestida como quisere para qualquer lado, em princípio não será presas. Mas também é verdade que isso pode ser visto como um insulto para outras pessoas, ou representar um perigo para a própria, e avisar que isto pode acontecer só é levado a mal quando é interpretado como um suposto ataque ao sexo livre.

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  13. João Silveira,

    Se sou inteligente ou não, não sei, mas parece-me que “no meio está a virtude” é demasiado vago para ter qualquer utilidade. Por exemplo, se estivermos a falar da escravatura não acho que haja grande virtude no meio. A violação parece-me um caso igualmente claro. Não é caso em que se deva ponderar os impulsos sexuais da parte que viola com os direitos da parte violada.

    Quanto à falta de respeito, é irrelevante.

    Quanto ao resto, penso que não está a perceber bem o problema. Se a polícia disser “é melhor não ir para o meio da Juve Leo com camisola do benfica” não está a insultar a sua liberdade. Está, primeiro de tudo, a dizer que os tipos da Juve Leo são uns imbecis e, além disso, que a polícia não consegue garantir a segurança dos espectadores.

    Mas seria insultuoso para si se a polícia lhe recomendasse que não se vestissem de palhaço, idiota, parvo, ou algo com conotação negativa como “vadia” e “galdéria” para evitar levar pancada dos outros.

    Os problemas que o João está a ignorar são que, ao dizer que as mulheres não se deve vestir como “sluts” esse polícia estava a ser ofensivo, ao recomendar que zelassem pela sua segurança alterando o que vestem estava a admitir não conseguir manter a segurança, e ao sugerir que os homens violam porque se descontrola está a difamar qualquer pessoa que tenha nascido com testículos.

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  14. Se o polícia dissesse para eu não me vestir de palhaço, nem sequer ia considerar que estivesse a falar comigo, já que não estava vestido de palhaço

    Só se pode sentir atingido quem realmente se veste de “vadia”. A não ser que a noção de “vadia” não exista, e aí não há problema porque o polícia se estava a referir a um tipo de pessoas inexistente, e ninguém se deve sentir atingido.

    Por outro lado, se é um insulto assim tão grande, não percebo porque é que se insistem em chamar “vadias”. Só me parece lógico se for remetido outra vez para a definição vazia de “vadia”, que não atinge nenhuma mulher, e então não há nenhum problema em ser chamada de “vadia”.

    Se o polícia tivesse dito assim: “As mulheres que se vestem de formas mais provocantes correm um maior risco de sofrerem qualquer tipo de ataque sexual”, já não havia problema? Acho que as “vadias” não iam gostar à mesma.

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  15. O problema é que do ponto de vista evolucionista as mulheres são um acidente cósmico, sem valor intrínseco, resultantes de um processo de milhões de anos de dor, predação, sofrimento e morte...

    E como se isso não bastasse, os homens têm impulsos predatórios, sexualmente agressivos, resultantes do processo de evolução, que os levam a querer propagar os seus genes egoistas a todo o custo...

    E mais ainda, para a evolução não há bem nem mal, e a moralidade é uma ilusão criada pelos genes... na evolução, alguns têm sorte e outros magoam-se...

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  16. O camarada Jairo está com problemas em comentar neste blogue, e como tal requisitou que a resposta a este texto fosse colocada aqui.

    O Combate de Ludwig Krippahl!

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  17. O camarada Jairo que vá para aquele lugar que os cristãos gostam tanto de ameaçar os heréticos.

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  18. Embora tendo lido o seu artigo, devo dizer que o camarada Jairo tem bastante razão no que diz. Ahhh enfim, até relógios parados estão certos de vez em quando... e alguém tem de o admitir!

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    1. OLHA AKI INDA TAVA BIBU EM 4 ANOS 2010-2014 PASSOU-SE DOS 500 MIL BARBUDOS

      PRA 1 MILHÃO E PICOS

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      MUITA GENTE DEVE TER SIDO INTERNADA NO INTERVALO ESPACIO-TEMPORALIS

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