Empreendite crónica.
Quando afirmei, há dias, que «os maiores crimes tendem a ser perpetrados por empresas», o Mats apontou que «Falando no geral, e olhando para a História, o maior criminoso tende a ser o Estado» (1). Em rigor, o Mats tem razão. Segundo a definição jurídica, os Estados cometem muito mais atrocidades do que as empresas. Por outro lado, se nos guiarmos por definições jurídicas, as atrocidades dos Estados normalmente não são consideradas crime. Há limites até para a lei. Seja como for, é mais útil olhar para a diferença fundamental entre um Estado e uma empresa em vez de nos ficarmos por definições legais.
O objectivo de uma empresa é organizar o trabalho de muitos em benefício dos poucos que a controlam. Se eu crio uma empresa e contrato pessoas é para eu ganhar com isso. É claro que tenho de dar algumas contrapartidas aos empregados, senão vão-se embora, mas faço-o em proveito próprio. Se fosse para ajudar os outros criava uma instituição de caridade. Em contraste, um Estado deve organizar o trabalho dos seus funcionários em beneficio de todos os cidadãos do país. O que é algo idealista, admito. Nem é preciso um ditador de má cara e roupa ridícula para dar cabo do plano; mesmo nos países democráticos há sempre quem tente fazer do Estado a sua empresa. E este problema é grave porque a concorrência egocêntrica do mercado livre não é a melhor solução para tudo.
Ganhar dinheiro é uma boa motivação para multiplicar telemóveis, centros comerciais, supermercados e pastelarias. Quando o mercado funciona, a competição entre empresários resulta na melhor relação entre qualidade e preço e cria uma oferta que cobre todos os gostos (de quem tiver dinheiro). Muitos vão à falência, para que sobrem os melhores, mas só joga quem quer, por isso não há nada de injusto ou errado neste sistema. O problema é que não dá para tudo. A procura do lucro não cria serviços de urgência hospitalar, ensino acessível a todos, bombeiros, justiça, segurança e afins. Para isso é preciso trocar a competição egoísta pela colaboração. O tal “serviço público” que, como Deus, é muito falado mas pouco visto.
Hoje sofremos bastante pela confusão entre estes dois sistemas, fomentada pela propaganda dos grandes accionistas do país. Por exemplo, no culto do empreendedorismo. É bom ter restaurantes e jogos para telemóvel, e isso exige que alguém invista dinheiro e trabalho. Mas é errado pensar que quem abre uma pastelaria é um herói salvador da pátria, que merece incentivos fiscais e direitos especiais, enquanto que quem trata doentes num hospital ou ensina crianças é uma despesa a cortar. Uma sociedade saudável precisa de ambos. E uma sociedade com problemas até precisa mais destes últimos. Quando há pouco dinheiro corta-se nos pastéis de nata, não nos hospitais e escolas.
A moda da privatização é outro produto desta confusão. Tudo se privatiza. Escolas, hospitais, e até a cunhagem de moeda. Não as moedas que temos no bolso, que isso é uma pequena fracção da economia, mas o crédito, que é a maior parte da economia e que é inventado pela banca. Foi a desregulação dessa actividade, cada vez mais privatizada, que afundou a economia mundial. O mundo todo passou a ser uma empresa, um meio para lucrar cobrando comissões pela venda de crédito tóxico. Quem o fez sabia que isto não podia durar, que ia dar asneira inevitavelmente. Mas o objectivo de uma empresa é dar dinheiro enquanto dá. Quando já não dá, muda-se de ramo. Ou de empresa. Tratar tudo com empreendedorismo é má ideia.
A “ajuda” externa resulta também da misturar o que se faz a bem de todos com o lucro de uns poucos. A dívida privada em Portugal é mais do dobro da dívida pública (2) e são os bancos que estão mais aflitos (3). Porque os banqueiros criaram montanhas de dívidas para ganhar comissões, afundando as empresas. O que não seria tão mau se deixássemos o mercado livre do capitalismo responsabilizá-los pelas asneiras, mas é péssimo quando o Estado toma parte deste empreendedorismo e lhes vai alimentando o vício do jogo. Depois dos banqueiros já terem levado milhares de milhões de euros em dinheiro público para pagar as asneiras que fizeram, ainda obrigam o Estado a pedir mais oitenta mil milhões.
Agora não há boas soluções. É escolher entre a fome e um prato de merda. Mas o menos mau seria restruturar a dívida, adiando ou falhando alguns dos pagamentos e renegociando o restante. Os bancos amuavam, mas paciência. Melhor isso do que escavar mais oitenta mil milhões de um buraco que não conseguimos tapar e, com isso, sufocar ainda mais a pouca economia que nos resta. Moralmente, não é justo responsabilizar os contribuintes pela dívida privada, mais do dobro da pública. E boa parte da dívida pública foi criada por empreendistas que usaram o Estado para lucrar com negócios dúbios de submarinos, vendas de dívida pública (4), chips de matrículas (5), parcerias público-roubadas e tretas afins. Isso não são dívidas nossas. São deles. Além disso, é justo que parte da austeridade recaia sobre a banca, que é, ao mesmo tempo, o principal responsável pela situação e o principal credor destas dívidas.
Para quem ainda está indeciso se há de votar no Dupond ou no Dupont, deixo aqui uma antevisão do plano deles (6).
1- Menção honrosa
2- Público, Director-geral do FMI diz que o principal problema é o financiamento dos bancos e a dívida privada, via Esquerda Republicana.
3- Esquerda Republicana, A quem beneficia o crime?
4- Ladrões de Bicicletas, 2003: o ano em que o Estado se endividou a mais de 10%
5- Correio da Manhã, Assessor dirige firma de chips
6- Via o FriendFeed do Marcos Marado
O estado foi a entidade que mais crimes cometeu, pelo simples facto do estado ter sido o poder que mais milhões de mortes causou em toda a história humana. Estado ateus sublinhe-se.
ResponderEliminarÈ um ateu quem o afirma:
"Por que continuo hoje sendo tão ateu quanto sempre fui, porém, ao mesmo tempo, um amigo e defensor da religião? Nesse assunto em especial, sou guiado pelo aforismo “o inimigo do meu inimigo é meu amigo”. Embora tal raciocínio nem sempre seja verdadeiro, nesse caso em específico creio que seja.
Assim, qual instituição é a maior inimiga da liberdade humana? Só pode haver uma resposta: o estado em geral; e, em particular, a versão totalitária deste. Talvez não haja melhor exemplo de tal governo do que a URSS e seus principais ditadores, Lênin e Stalin (embora a supremacia em termos de números absolutos de inocentes assassinados pertença à China de Mao). Podemos em seguida perguntar: quais instituições esses dois respeitáveis russos escolheram para o opróbrio? Em primeiro lugar, a religião. Em segundo lugar, a família. Não foi nenhuma coincidência os soviéticos terem aprovado leis que premiavam os filhos que delatassem os pais por atividades anticomunistas. Certamente não há melhor maneira de destruir uma família do que por meio dessa política diabólica. E como eles tratavam a religião? Essa é uma pergunta meramente retórica: a religião foi transformada no inimigo público número um, e seus praticantes foram cruelmente caçados e exterminados.
Walter Block.
http://neoateismoportugues.blogspot.com/2010/12/religiao-e-civilizacao.html
Quando se deixa um banco afundar muito mais afunda com ele, o estado garante pagamentos até determinado montante, o restante, créditos e débitos: "desaparecem". O que fazer a toda a economia que está aqui agarrada? O Lehman Brothers arrastou consigo um mercado fantástico inclusive bancos que não negociavam subprimes. A nossa economia é relativamente pequena, o desaparecimento de um banco ou uma Qimonda tem impactos muito grandes.
ResponderEliminarSou a favor da privatização da economia para todos os sectores, inclusive tribunais. A iniciativa privada funciona bastante melhor do que a pública, mercados aparecem e desaparecem mais facilmente, os funcionários são responsabilizados e beneficiados mediante o trabalho. Não significa o fim do estado social o dinheiro que é gasto em RTPs, CPs, TAPs, etc pode ser orientado para os grupos desprotegidos.
O problema reside na falta regras, fiscalização e cadeia. O problema havia sido antevisto e ficaram a olhar... Quantas pessoas foram presas em Portugal em resultado disto?
nmhdias,
ResponderEliminar«Quando se deixa um banco afundar muito mais afunda com ele, o estado garante pagamentos até determinado montante, o restante, créditos e débitos: "desaparecem". O que fazer a toda a economia que está aqui agarrada?»
O que se faz às encomendas de uma empresa quando ela abre falência. Ou outros contratos.
O problema aqui é a mistura de duas coisas diferentes. Podemos ter bancos do Estado, que garantem os pagamentos mas que são regulados de forma a que não se exponham demasiado. E podemos ter bancos privados, cuja actividade é mais livre, que têm a possibilidade de arrecadar melhores lucros e assim, mas que terão de arcar com as consequências do que fazem, como qualquer empresa no mercado.
Assim, quando alguém quiser depositar dinheiro, terá de avaliar quais os bancos mais rentáveis ou seguros.
Esta misturada em que os bancos privados fazem o que querem, recolhem os lucros dos riscos que correm, não pagam impostos, mas quando as coisas correm mal é o Estado que garante o reembolso dos empréstimos é uma das causas principais para o buraco financeiro. Isto assim não funciona. Ou temos um sistema de mercado governado pela responsabilidade e lucro individual, ou temos um sistema público em que esses factores são colectivos. Mas esta misturada é só para os banqueiros lucrarem dos nossos impostos.
«Sou a favor da privatização da economia para todos os sectores, inclusive tribunais. A iniciativa privada funciona bastante melhor do que a pública»
Depende do que entendes por melhor. Se por melhor entendes “prestar o melhor serviço a quem o pode pagar”, estou de acordo. Se por melhor entendes “prestar um serviço de qualidade a todos, mesmo a quem não o pode pagar”, então não. Para isso a iniciativa privada não serve.
Portanto temos de decidir o que é que pomos no privado. Bolachas, sim. Insulina, não. Cinemas, sim. Polícia, não. Etc.
«O problema reside na falta regras, fiscalização e cadeia.»
Em parte sim. Mas essa falta das regras correctas vem do problema mais fundamental. Aquele de que tu dás também sintomas. O problema de confundir aquelas coisas que se faz melhor competindo pelo lucro com as outras que têm de ser feitas colaborando para um fim diferente do lucro financeiro.
O dinheiro é uma forma prática de medir a economia. Mas a economia não é o dinheiro. As pessoas não comem euros, não conduzem euros, não vivem em euros, não vestem euros. Se um banco colapsa e desaparece mil milhões de euros, o que desapareceu foram promessas. O tal crédito. Não desaparece arroz, batatas, tijolos, conhecimento, etc.
"Mas esta misturada é só para os banqueiros lucrarem dos nossos impostos."
ResponderEliminarEsta misturada faz parte da gestão de um banco. Tem forçosamente que haver misturadas, ou seja, quando depositas dinheiro num banco esse dinheiro é reinvestido numa qualquer aplicação que dê ainda mais dinheiro, dinheiro para te pagar com juros e lucro.
Foi o que aconteceu aos subprime, créditos que foram concedidos a quem não fornecia garantias. Como é que um banco lucra com isto? Como é que não se previu isto? Penso que é algo como "deixa-me emprestar antes que o outro o faça"
Quando os "ninjas" começaram a não pagar é que vieram as chatices. Ou se segurou os banco ou fechavam portas.
"O que se faz às encomendas de uma empresa quando ela abre falência. Ou outros contratos."
Isto não se aplica. Se compraste a tua casa há 10 anos por 100.0000 euros, hoje ela vale 80.0000 euros (na Irlanda nem metade). Para mais ainda há o risco de perderes o emprego. Ninguém quer receber algo que dá mais prejuízos do que lucros.
“prestar um serviço de qualidade a todos, mesmo a quem não o pode pagar”, então não. Para isso a iniciativa privada não serve.
Actualmente muitas escolas privadas funcionam graças ao pagamento do estado por aluno (pense-se nos CEFs), ou seja, o valor das proprinas é quase irrisório.
Penso que podemos ter um modelo destes, instituições privadas financiadas pelo estado, a competirem por resultados e fiscalizadas.
Atrevo-me a acrescentar a privatização da polícia e do exército. Os pagamentos vêm sempre do mesmo local. Qual será o risco de se virarem contra a mão que os alimenta?
"O que se faz às encomendas de uma empresa quando ela abre falência. Ou outros contratos."
ResponderEliminarApenas para acrescentar que isto não transmite a realidade de o que acontece. Quando uma empresa entra em insolvência de falência em que tenha um montante de dívidas de cerca de 300.000 euros, essa dívida é transferida para os sócios, no entanto, é completamente surreal pensar que 1/2 pessoas vão conseguir pagar este montante.
Em termos prático os credores (que sejam outras empresas) nunca mais vêem o dinheiro. Este é o problema da dívida privada.
Agora pense-se num banco e nas consequências sociais que milhões e milhões ficam sem garantias de um momento para outro.
"Atrevo-me a acrescentar a privatização da polícia e do exército. Os pagamentos vêm sempre do mesmo local. Qual será o risco de se virarem contra a mão que os alimenta?"
ResponderEliminarHá muito material escrito a explicar porque é que isto não funciona. Um exército ou polícia privada iria fornecer serviços a quem tivesse mais dinheiro. Passavam a ser capangas e mercenários.
nmhdias,
ResponderEliminar«Foi o que aconteceu aos subprime, créditos que foram concedidos a quem não fornecia garantias. Como é que um banco lucra com isto?»
Simplificando, foi assim:
1- O Estado desregulou a banca e permitiu que bancos privados tivessem as suas reservas em investimentos AAA em vez de em dinheiro.
2- O rating dos investimentos é dado por empresas privadas, portanto o sector privado passou a regular-se a si próprio.
3- O crédito à habitação começou a ser agregado, estratificado e os estratos do topo vendidos como investimentos AAA
4- Muitas instituições financeiras correram a apanhar esses porque era melhor ter esses investimentos do que dinheiro em caixa
5- Ou seja, o negócio de emprestar dinheiro deixou de ser lucrativo só a longo prazo, quando o devedor pagasse, e passou a ser lucrativo de imediato, quando o banco vendesse essas dívidas a outros
6- Como os gestores dessas contas ganham comissão, tinham um forte incentivo para emprestar e vender as dívidas ao maior ritmo que conseguissem. As consequências a longo prazo tornaram-se irrelevantes.
O resultado foi o que se viu. E o problema foi a misturada de Estado com empresas. Se o Estado ficasse fora do assunto, não dando garantias a ninguém nem ajudando os que se afundassem, todos teriam mais cuidado em confiar nestes negócios suspeitos e a bolha não tinha crescido como cresceu. Mas entre bailouts, garantias de depósitos e investimentos e coisas afins, deu bosta.
«Actualmente muitas escolas privadas funcionam graças ao pagamento do estado por aluno (pense-se nos CEFs), ou seja, o valor das proprinas é quase irrisório.
Penso que podemos ter um modelo destes,»
Poder, podemos. Mas é uma bosta. Isto porque além dos custos normais de operação, estás a pagar os lucros do empresário que monta a escola e a abrir as portas para imensas maroscas. Instituições privadas financiadas pelo Estado são apenas um mecanismo para o pessoal ir trabalhar para o Estado de forma a arranjar tachos para os amigos.
«atrevo-me a acrescentar a privatização da polícia e do exército.»
Excelente ideia. Vamos pôr todos esses a licitar os seus serviços online e a vendê-los a quem der mais. A liberalização total do mercado da justiça... :)
Essas soluções não funcionam. É preciso um mercado em que as pessoas sejam livres de transaccionar como querem. Não só porque é um direito, mas também porque é a forma mais eficiente de levar os bens desejados a quem tem algo para dar em troca deles. Mas precisas também de um sistema colectivo que garanta certas condições mínimas de liberdade, justiça, acesso aos recursos, educação, democracia, etc. E essas coisas não podem ser vendidas a quem dá mais. Têm de ser dadas igualmente a todos.
Qualquer sistema híbrido em que tens um mercado supostamente livre mas pago por funcionários públicos usando o dinheiro dos contribuintes e essas tretas não funciona. Isso é o paraíso dos corruptos.
Prémio do pior arrazoado do ano
ResponderEliminarMas o menos mau seria restruturar a dívida, adiando ou falhando alguns dos pagamentos e renegociando o restante.
Brasil anos 80?
pelo menos as importações de medicamentos caiam por falta de crédito
diminuia-se os pílulo-dependentes
e os profs universitários em excesso
Os bancos amuavam, mas paciência. Melhor isso do que escavar mais oitenta mil milhões de um buraco que não conseguimos tapar e, com isso, sufocar ainda mais a pouca economia que nos resta. Moralmente, não é justo responsabilizar os contribuintes pela dívida privada, mais do dobro da pública. E boa parte da dívida pública foi criada por empreendistas que usaram o Estado para lucrar com negócios dúbios de submarinos, vendas de dívida pública (4), chips de matrículas (5), parcerias público-roubadas e tretas afins. Isso não são dívidas nossas. São deles. Além disso, é justo que parte da austeridade recaia sobre a banca, que é, ao mesmo tempo, o principal responsável pela situação e o principal credor destas dívidas.
Odivelas fica em Portucale?
A banca portuguesa a que menos se aventurou menos em especulações de risco
imobiliário incluído
que garante os créditos às universidades
e institutos
que garante as 700 mil tones de comes e bebes
que importamos para deitar no lixo?
as 600 tones de moranguitos que semanalmente vão para o lixo são culpa dos bancos
pois a culpa é dos bancos
é por causa de parvoeiras destas
que avoaram para França e Suiça o que resta dos emigrantes-depositantes
parolice....
Isto porque além dos custos normais de operação, estás a pagar os lucros do empresário que monta a escola e a abrir as portas para imensas maroscas. Instituições privadas financiadas pelo Estado são apenas um mecanismo para o pessoal ir trabalhar para o Estado de forma a arranjar tachos para os amigos.
ResponderEliminarBom e um director de escola pública custa quanto?
e faz o quê
além de meter 5 ou 6 sub-directores de 40 a 60 anos que estão fartos de dar aulas ?
e ganham subsidiozito de 400 euritos acima dos 1800 a 2500 que ganham por mês
os meus funcionários, a minha escola
a escola não é pública ó abbantesma
a escola é das cliques
universidades incluídas
basta analisar a lista de compras da fundação da faculdade de ciências de 1991 a 2011
avantesma,
ResponderEliminarRestruturar a dívida não quer dizer não pagar nada. Quer dizer renegociar com os credores, que também não têm interesse num default completo. E negociar com os credores não implica ficar logo sem dinheiro para nada. Quem deve duzentos mil milhões sempre tem algum poder de negociação.
Também não implica ficar subitamente sem dinheiro nenhum na economia portuguesa só porque a dívida pública é renegociada. Afinal, a dívida privada é o dobro dessa e não há FMI que lhe valha.
Contrair uma dívida de mais 80 mil milhões, e todas as condições que essa "ajuda" acarreta, passivamente, de calças baixas e tronco flectido, é que é um disparate. Só beneficia os bancos.
Quanto aos bancos portugueses serem "dos menos" imbecis, é verdade, mas ainda foram o suficiente para aumentar imenso a dívida privada e nos roubar uma boa fatia do erário em bailouts da treta.
Não duvido que uma restruturação da dívida acarretasse consequências sérias a curto prazo. Mas, a médio e longo prazo, seria muito melhor. Porque mais tarde ou mais cedo é o que a Grécia e a Irlanda vão ter de fazer, porque é impossível pagarem o que deviam mais o que passaram a dever com um crescimento negativo. Mais vale enfrentar a realidade já em vez de contraír mais dívidas e criar um buraco maior.
isto tá difícil postar hoje...
ResponderEliminarem 1991 a grã-bretanha devido à mobilização de especialistas na guerra do golfo tinha falta de especialistas em algumas àreas
recrutou uns centos na Argentina que andava nas bolandas como nós
apesar de ter muitos mais recursos
ao fim de alguns meses havia professores universitários com 40 e 50 anos a limparem o lixo
como arquivistas contratados a 64 libras por semana
a inglaterra não tinha na altura salário mínimo
desconheço se ahora o tem
o ponto é que a dívida portuguesa pública está concentrada nos bancos portugueses e espanhóis
aconteceu o mesmo na Argentina
aí nacionalizou os depósitos e pagou a dívida à custa dos depositantes
20 anos passados muitos argentinos ainda não confiam na banca
Enfrentar a realidade
É diminuir os custos
É uma escola não contratar serviços por 1000
que podem custar só 200
para um chefe de serviços pagar a um cunhado
ou a um primo ou ao filho daquela setôra
que tem uma loja de computadores
idem para justiça polícia
o estado é de todos ninguém poupa
um país com sol quase 250 dias por ano
fecha as cortinas e acende as luzes em serviços públicos e escolas
há muitas soluções
mas gostamos de viver à tripa forra
resumindo é possível diminuir a dívida
ResponderEliminare até amortizá-la
só a untar mãos e partidos são uns 10 mil milhões que vão à vida por ano
empresas públicas como a Rodoviária Nacional
passaram de deficitárias e grevistas a 10% do tempo
a excedentárias em 2 anos com o grupo Barraqueiro
o Civil Service na G.B. é similar ao português
como todos os funcionalismos no mundo
infelizmente a quantidade de pessoal do sector privado aqui é menor
e é muito mais mal pago do que no público
é o que a Grécia e a Irlanda vão ter de fazer.....casos completamente diferentes
ResponderEliminarnós temos muito mais onde cortar
um juiz grego não ganha tanto como um portuga
nem um tribunal irlandês onde tive a boa fortuna de conhecer por dentro
funciona como um português e gasta-se menos
e ainda têm uma caixinha de esmolas prá igreja e para os hospitais
e reciclam o papel todo
ou reciclavam nos anos 90 e vendiam o equipamento antigo
apples a 50 libras com uns 2 anos de uso
quando cá fora custavam 250 parece mau negócio
ou máquinas de escrever eléctricas a 5 libras
mas cá foi tudo para a sucata
ou armazenado a pagar aluguer de 250 contos por mês
nã sê se tá a ver o ponto,,,,provablementi no
"O objectivo de uma empresa é organizar o trabalho de muitos em benefício dos poucos que a controlam"
ResponderEliminarNada disso. O objectivo de uma empresa é criar valor na diferença entre o que custa aquilo que vende e o preço por que alguém está disposto a adquirir. Se não tiver trabalhadores, melhor ainda.
Ó Ludwig, você comprou carro e casa a pronto? Guarda o dinheiro debaixo do colchão? Não lhe dá jeito ter empresas sólidas com quem possa ver se lhe interessa comprar ou vender dinheiro?
funcionário público não necessita nem de colchão nem de banco
ResponderEliminaro estado garante semprre uns tustes
Nuno Gaspar,
ResponderEliminar«O objectivo de uma empresa é criar valor na diferença entre o que custa aquilo que vende e o preço por que alguém está disposto a adquirir.»
Esse é o objectivo de todos. A diferença entre a empresa e aquilo que o Estado deve ser é que na empresa esse valor criado é um meio para dar lucros aos donos, e no Estado o valor criado devia ser o objectivo último do esforço.
Por exemplo, o valor da educação criado por uma escola privada serve para ser vendido para dar dinheiro aos donos da escola. Em contraste, o valor da educação criado por uma escola pública é o propósito da escola pública (aqui estou a usar "valor" no sentido próprio do termo e não como mero eufemismo para "dinheiro").
Nuno Gaspar:
ResponderEliminarExacto, o objectivo das empresas é ter lucro. Antes de mais nada.
Por isso, se as deixarmos, elas vão sugar todo o dinheiro que puderem sem preocupações de onde ele vem.
Ludwig:
ResponderEliminarOs bancos agora estão todos aflitos. Mas alguns estão aflitos porque se puseram a financiar o estado comprando divida publica. Sabemos isto agora, que os compradores eram os nossos próprios bancos, para evitar a queda do ambiente onde se inseriam.
Quando o Banco Central Europeu disse que não podia emprestar mais, para quebrar este ciclo, eles disseram que também não podiam emprestar mais. Até por que agora estão com uma data de dinheiro empatado num estado que não pode pagar.
Isto são factos, não são interpretações.
Idem aspas para a importancia da divida publica, que é maior que 90% do PIB e que teve o seu maior crescimento para um unico governo com José Socrates, com o gasto a aumentar como em todos os casos no periodo pré-eleitoral.
Esta divida publica é que juntamente com a desconfiança dos mercados levou uma economia que não se sustenta por si própria à ruptura.
O que nós precisamos é de crescimento económico. Enquanto país. Porque senão ficamos marginalizados e sem poder entrar no mercado internacional.
Enquanto humanidade precisamos de virar à esquerda. É ao que está a levar a competição economica actual é à riqueza pela riqueza com enormes desiquilbrios e com destruição de ambiente e recursos.
Reduzir o consumo e evitar uma civilização que se apoie em crescimento económico que está a tornar-se insustentavel para todos, é algo que Portugal não pode fazer sozinho. Senão é comido vivo.
Caro Ludwig,
ResponderEliminarEncare isto como um sinal de amizade e consideração, apesar de não nos conhecermos pessoalmente - por favor aplique critérios de rigor tão estritos a temas económicos quanto os que utilizaria em temas científicos.
Por exemplo a sua explicação da crise do subprime deixa de fora aspectos fundamentais. No que respeita ao endividamento dos Bancos, o seu comentário é absolutamente indefensável.
Ao entrar em temas que não domina, expõe-se e desbarata um capital de credibilidade que certamente demorou e custou a criar.
Por outro lado a razão e a lógica puras não seguem no que toca a política social ou económica.
Este blog começa a parecer-se um bocadinho um laboratório de ideias políticas pouco amadurecidas e inconsequentes do seu autor, o que é uma pena, porque já aprendi bastante aqui no passado.
Cara Sónia,
ResponderEliminarLamento desiludir, mas sempre pensei que a minha credibilidade teria de vir de dois factores fundamentais: os dados que apresento e a minha disposição para rever as minhas posições perante dados que não dispunha anteriormente.
Nada disso mudou. Sei menos sobre economia do que sobre evolução, provavelmente, mas nunca foi minha intenção que dessem credibilidade aos meus argumentos apenas por considerar que eu era uma autoridade.
Por isso, quando cometo erros gostaria que mos apontassem da mesma forma: com factos e explicações, e não com lamentos pouco construtivos de que perco uma autoridade que nunca aleguei ter por me atrever a pensar em coisas fora daquilo que me foi ensinado...
A explicação do problema do subprime foi muito simplificada, sim. Até eu percebo que esse problema teve muito mais factores do que aqueles que pude mencionar num comentário. Mas pelo menos tentei apontar alguns dos que me pareceram mais importantes, para não dizer apenas algo como "estás enganado porque não percebes nada disto".
Quanto aos bancos privados portugueses, em traços largos, pela informação que tenho é que devem mais do que o Estado deve, são detentores de apenas cerca de um décimo da dívida pública mas só ao BCE já devem o dobro disso. Portanto parece-me errado ver os bancos portugueses como umas vítimas dos contribuintes, que merecem agora ser ressarcidos pelo seu sacrifício sacrificando os demais cidadãos. Parece-me mais correcto vê-los como empresas privadas – que são – que visam obter lucros – que certamente visam – mas que fizeram asneiras com as especulações em que se meteram e agora devem muito mais do que aquilo que têm.
Mas se estou enganado, estou disposto a mudar de ideias.
«Este blog começa a parecer-se um bocadinho um laboratório de ideias políticas pouco amadurecidas e inconsequentes do seu autor, o que é uma pena, porque já aprendi bastante aqui no passado.»
Este blog é acima de tudo uma oportunidade de expor o que penso à critica dos outros na esperança de que alguém beneficie com isso. Quer os outros no caso de ter eu razão, quer eu no caso de me mostrarem que não a tenho.
E não acho ser pena nenhuma não ter razão. Pelo contrário. Se me mostrarem porque é que não a tenho e me ajudarem a passar a tê-la, é excelente. Pena é quando me dizem só que não a tenho mas não explicam porquê...
João,
ResponderEliminar«Os bancos agora estão todos aflitos. Mas alguns estão aflitos porque se puseram a financiar o estado comprando divida publica.»
A exposição total dos bancos portugueses à dívida pública nacional é de cerca de 19 mil milhões, a maior parte dessa comprada nos últimos anos e, tipicamente, estas coisas vencem a 10 anos ou assim.
Isto é não só uma pequena fracção da dívida pública portuguesa, como uma fracção ainda mais pequena da dívida privada portuguesa.
É claro que pode bem ser que eu não perceba nada disto e isto seja muito complicado, mas essas justificações deixam-me sempre pouco satisfeito :)
Temos dois problemas fundamentais: as dívidas (todas, 2/3 privadas e 1/3 públicas) e o crescimento económico.
ResponderEliminarA solução preferida de momento é pedir mais dinheiro emprestado, cerca de metade da dívida pública, e aceitar medidas de austeridade que vão reprimir imenso o crescimento económico.
À partida, justifica-se cepticismo acerca desta solução mesmo por quem seja ignorante de economia, porque parece ser exactamente o contrário do que se pretende. Beneficia os nossos credores, concerteza, que vão receber o dinheiro do FMI, mas não nos resolve os dois problemas das dívidas e do crescimento. Pelo contrário, agrava-os.
Esta é uma razão pela qual me parece que esta solução é apenas fruto de pressões desses poucos interessados e não uma medida que zele pelos interesses da maioria.
A outra é que sempre que me dizem que isto não é nada assim, é muito diferente, não percebo nada, nunca me explicam porquê.
João,
ResponderEliminar"Por isso, se as deixarmos, elas vão sugar todo o dinheiro que puderem sem preocupações de onde ele vem."
Se fôr a roubar ou a vender droga podem dar-se mal.
Só vão sugar mais dinheiro do que aquilo que merecem se não existir concorrência suficiente. O excesso de regulamentação e a hostilidade ao empreendedorismo contribuem para isso. Mas, tal como nos processos biológicos, a reduzida variabilidade tarde ou cedo faz curto-circuito e reseta o sistema.
Ludwig:
ResponderEliminar"A exposição total dos bancos portugueses à dívida pública nacional é de cerca de 19 mil milhões, a maior parte dessa comprada nos últimos anos e, tipicamente, estas coisas vencem a 10 anos ou assim."
Não estou a ver onde é que na noticia diz que aquela parcela é a que corresponde ao endividametno dos bancos a favor do estado.
Depois, isso era em Fevereiro. E não era uma pequena parcela, era cerca de metade do endividamento total dos bancos todos. Em Fevereiro. Hoje sabemos que o resgate vai custar 80 mil milhoes. Mesmo que a Banca não se tivesse endividado mais em relação ao BCE por conta do estado, o que sabemos so deixou de acontecer a semana passada, 19 mil milhões ainda é uma parcela grande de 80 mil milhões.
" essas justificações deixam-me sempre pouco satisfeito :) "
Pouco satisfeito com o quê? Existem várias fontes a documentar o investimento da banca na divida publica. Existem várias fontes para verificar o estado de saude de grande parte da banca, tirando BPN e outros casos pontuais ( que não me estou a recordar mas existem).
BPI, Bes, CGD não estavam com problemas. Agora estão. Parte da divida privada é realmente de origem publica, o que não deixa de ser engraçado já que parte da divida publica é de origem privada ( estou a pensar nas PPP - sorvedouros de dinheiro)
Nuno Gaspar:
ResponderEliminar"Só vão sugar mais dinheiro do que aquilo que merecem se não existir concorrência suficiente"
Não, porque as empresas terão sempre mais poder negocial que os individuos por uma questão de organisação e especialização. E a cartelização não formal existe. Basta terem como objectivo unico ter lucro... FAz a lei da oferta e da procura - um braço de ferro em quem vende e quem quer comprar - estar sempre nas mãos do braço mais forte.
E depois, concorrencia suficiente é algo que não existe. Era preciso haver uma infindade de escolhas para o mesmo produto para ter uma situação ideial. Está tudo limitado pelos recursos, massa critica, etc. E a oportunidade ainda é um factor importante no negocio e na gestão. Se puderem vender caro porque todos estão a vender caro, como o lucro é que importa, não vão arriscar vender um preço abaixo que provavelmente não aumenta a procura se as pessoas não puderem ter a certeza que o produto é o mesmo e tiverem acesso e conhecimento dele.
Quanto a merecerem seja o que for... As empresas que merecem são aquelas que por uma razão qualquer não têm sucesso mas fizeram tudo igual às que enriqueceram. O consumidor não +e absolutamente racional. E a oportunidade e factores conteztuais ainda são imensos.
Quanto a merecer. Acho que não tem nada a ver com nada,
Ludwig:
ResponderEliminar"A solução preferida de momento é pedir mais dinheiro emprestado, cerca de metade da dívida pública, e aceitar medidas de austeridade que vão reprimir imenso o crescimento económico."
Não temos hipotese se não for pedir dinheiro.
Quem criou divida, foi o país. Se não pedirmos dinheiro não temos com que investir e ter crescimento económico para ter algo para a troca no mercado internacional. Teremos de viver só com o que se produz cá dentro e isso não interessa a ninguém.
Se achas que as medidas são austeras pensa o que significa ter de te alimentar só com o que há ca dentro. Não temos o suficiente para nós.
Quanto à entropia no sistema: Os institutos, os gestores sobrepagos, as más gestões, etc estou de acordo contigo.
João,
ResponderEliminarA dívida ao estrangeiro é cerca de 100 mil milhões do Estado e 190 mil milhões dos bancos privados (daqui). Ou seja, os Estado deve à banca portuguesa um quinto do que deve aos bancos estrangeiros, e os bancos portugueses devem dez vezes mais que isso aos bancos estrangeiros.
Outro ponto importante é que o problema é a dívida toda, uns 400 mil milhões de euros, a maior parte da qual o Estado não tem culpa nenhuma. O empréstimo do FMI não vai restabelecer a confiança em Portugal. Tal como aconteceu com a Irlanda e a Grécia, os juros da nossa dívida vão continuar altos. O que é razoável; esses juros representam o risco que é emprestar dinheiro a Portugal (ao Estado ou às empresas) e esse risco será ainda mais alto com as medidas que o FMI nos vai impor. Sem crescimento económico, não vamos poder pagar novos empréstimos e ninguém nos vai querer emprestar nada.
Portanto o resultado da ajuda do FMI será um pacote de medidas de austeridade que visam forçar-nos a pagar as dívidas existentes (o que interessa aos bancos estrangeiros) mas que nada vão contribuir para termos mais empréstimos de futuro. Pelo contrário, vão tornar cada vez mais difícil conseguir empréstimos por causa do crescimento negativo que teremos.
Haverá também defaults à fartazana, com ou sem FMI. Isto porque a dívida portuguesa é muito maior do que aquilo que o FMI nos empresta e, sem crescimento económico, as empresas que devem os tais 200 e tal mil milhões de euros ao estrangeiro não vão conseguir pagar.
O meu cepticismo quanto ao FMI deve-se a não ver como um novo empréstimo de 80 mil milhões a 5% nos vai resolver os problemas, e a ver, pelo que já aconteceu na Grécia e na Irlanda, o efeito que as medidas que o acompanham têm na economia. Continuam com o mesmo problema de ter dívidas que não conseguem pagar sem contrair novas dívidas a taxas de juro cada vez mais altas, e ficaram com a economia em frangalhos.
Parece-me mais razoável negociar os pagamentos, quer do ponto de vista prático – grande parte das dívidas internacionais são todas dentro da união europeia – quer do ponto de vista ético – é razoável que parte desta crise seja suportada também pelos credores, e não só pelos devedores ou, pior ainda, pelos contribuintes a serem forçados a pagar as dívidas das empresas privadas.
Por isso, se me queres convencer mostra-me como esperas que os quase 400 mil milhões de euros que Portugal deve ao estrangeiro sejam pagos com os 80 mil milhões do FMI, e como esperas que nós fiquemos com mais capacidade de pagar dívidas depois da depressão económica que o FMI nos vai impor. O argumento de que estamos muito aflitinhos, precisamos do dinheiro, não me parece razoável quando o efeito esperado é apenas adiar a aflição e, entretanto, agravá-la com mais dívidas e medidas depressivas...
João,
ResponderEliminar" as empresas terão sempre mais poder negocial que os individuos por uma questão de organisação e especialização"
Se forem poucas.
Toda a teoria económica e de gestão concorre para isso: serem 2 ou 3 empresas no mundo inteiro a assegurar o fornecimento de produtos na sua área. O engano tem sido criar políticas que favorecem e encorajam ainda mais esse processo, como o excesso de regulamentaçao e formalidade. Serem variedade, estamos arrumados.
"Quanto a merecer. Acho que não tem nada a ver com nada,"
Tem a ver com tudo. Se o diferencial de valor que propõe é real ou se é obtido em bens ou serviços onde não há grande possibilidade de escolha, como os serviços de telefone, fornecimento de electricidade, saneamento, fornecimento de água, autoestradas,... Nestes casos, mais vale esse valor ser gerido directamente pelo Estado.
"esses juros representam o risco que é emprestar dinheiro a Portugal (ao Estado ou às empresas)"
ResponderEliminarO maior risco não está no Estado nem nas empresas, que ainda terão algumas garantias para entregar, mas sim nos cidadãos que compraram casas, carros e viagens sem ter dinheiro para as pagar e cujas garantias se desvalorizaram.
Nuno Gaspar,
ResponderEliminarPodes mostrar números para substanciar isso, ou é mais uma coisa que se tem de aceitar pela fé? :)
BCP, do BES e do BPI. Segundo os dados de Dezembro, os três bancos portugueses tinham mais de 19,8 mil milhões de euros sob empréstimo no BCE
ResponderEliminarnada diz relativamente à exposição destes 3 (falta Banif, CGD, Montepio
Santander-Totta
ou seja como a tal raggaza algures diz
o Louçanismo está com falta de bases económicas, lógicas etc
Credibilidade é no entanto algo muito subjectivo
há quem acredite em tudo ateístas incluídos
é uma questão de fé
Ludwig,
ResponderEliminar"Podes mostrar números para substanciar isso, ou é mais uma coisa que se tem de aceitar pela fé?"
http://www.dn.pt/bolsa/interior.aspx?content_id=1680482
Não precisa de fé nem deveria precisar de números. Quantas pessoas conheces que compraram casa e carro a pronto?
Nuno Gaspar,
ResponderEliminarSegundo o link que deste, o crédito malparado está nos 1.74%, e os bancos estão a apertar os critérios. Ou seja, dos duzentos mil milhões de euros que a banca privada tem de buraco, menos de dois mil milhões se devem a crédito malparado.
Parece-me pouco razoável concluir daqui que a culpa é das pessoas que compram casas.
E se bem que, na amostra pequena que tenho, não conheça ninguém que tenha comprado casa a pronto, também não conheço ninguém que não possa pagar as prestações. Talvez se conhecesse estes dados acerca de 50 pessoas encontrasse uma nesses 1.7%, mas não é esse o caso...
Já agora, achei que esta afirmação ilustra bem um dos problemas:
ResponderEliminar«Não precisa de fé nem deveria precisar de números.»
Pois eu acho que, nestas coisas, é sempre preciso números. Daí o meu cepticismo quanto à intervenção do FMI.
"o crédito malparado está nos 1.74%"
ResponderEliminarSim. De 113 mil milhões de euros. Mais do que a dívida pública.
"dos duzentos mil milhões de euros que a banca privada tem de buraco, menos de dois mil milhões se devem a crédito malparado."
Não é um buraco, é uma dívida, da qual 113 mil milhões se referem a crédito à hábitação. Se fosse um buraco de 200 mil milhões amanhã terias de ir a pé para a Costa da Caparica.
"Parece-me pouco razoável concluir daqui que a culpa é das pessoas que compram casas."
Nem de quem compra casas nem de quem empresta dinheiro para o fazer. O facto é que já se comprou muita coisa com o dinheiro que se julga um dia ir ganhar. Não estamos a demonstrar é provável que isso vá acontecer.
"não conheço ninguém que não possa pagar as prestações."
... a juros de 2 ou 3%. A juros de 15 ou 20% conhecerás poucos que o possam fazer. Para continuar a ter juro mais baixo é necessário pedir dinheiro emprestado a quem ainda está disposto a isso: o FMI.
Se tivéssemos superavit na balança comercial ainda poderiamos negociar a dilatação do prazo de pagamento. Com o défice que temos, no dia em que deixarmos de pagar deixam de nos emprestar (ao estado e bancos); param os carros por falta de combustível e deixa de haver trigo para cozer o pão.
Nuno Gaspar,
ResponderEliminar«Sim. De 113 mil milhões de euros. Mais do que a dívida pública.»
113 mil milhões de euros são mais do que a dívida pública *ao estrangeiro*. Não são mais do que a dívida pública total. E são muito menos do que a dívida privada total -- desta, só contando os bancos e só contando o que devem *ao estrangeiro* são 190 mil milhões. Contando todas as empresas vai dar certamente muito mais do que 113 mil milhões.
Mas o ponto principal é que destes 113 mil milhões só cerca de 2 mil milhões é que são problemáticos. O resto é um investimento a longo prazo, porque os bancos saem a ganhar com os juros que cobram. E os juros que cobram já cobrem, em parte, a fracção de default com o qual eles já contam à partida.
O meu ponto é que me parece ilógico assumir que os 190 mil milhões de euros que os bancos devem ao estrangeiro são culpa dos 2 mil milhões de euros em crédito malparado por parte dos particulares.
« Para continuar a ter juro mais baixo é necessário pedir dinheiro emprestado a quem ainda está disposto a isso: o FMI.»
Isso é outra conversa. Se estás a dizer que pode vir a haver problemas no futuro por causa destes 113 mil milhões em crédito que as pessoas terão dificuldade em pagar, concordo. Mas o problema aí não é só as taxas de juro. É também o desemprego, a redução nas prestações sociais, a insegurança no trabalho, as reduções salariais, etc. E isso tudo o FMI vai agravar bastante. Mesmo que tenhas uma taxa de juro mais baixa graças ao FMI (o que não parece estar a acontecer na Irlanda e na Grécia), vais ter muita gente, talvez mais ainda, a não poder pagar por causa das medidas de austeridade que o FMI exige.
E este é o meu problema principal com esta coisa do FMI. Tanto quanto vejo, apenas se adia o problema das dívidas em troca de agravar os problemas estruturais que nos impediram de pagar dívidas em primeiro lugar. E não me parece que isto seja só ignorância minha, quer pelo que os números indicam quer pela opinião de economistas que até ganharam o prémio Nobel, e que presumo não sejam tão burros como eu...
Ludwig:
ResponderEliminarContinuo sem ver dados que me digam que a divida dos bancos não é divida contraida a comprar divida publica.
"O argumento de que estamos muito aflitinhos, precisamos do dinheiro, não me parece razoável quando o efeito esperado é apenas adiar a aflição e, entretanto, agravá-la com mais dívidas e medidas depressivas... "
Sim, há o perigo de cairmos num ciclo de trabalhar para pagar juros para sempre como acontecia com os muitos trabalhadores do tempo da colonização que trabalhavam a vida toda para pagar a passagem de barco.
Mas o problema é que se não pagas ficas isolado. E de fronteira fechada e com processos em cima não vais ter para comer.
O que temos de pedir mesmo ao FMI é uma maneira de fazer o que não conseguimos em 37 anos, que é crescer economicamente.
Por outro lado se queres que os ricos paguem a crise como esperas que isso vá acontecer se não vier alguem de fora exigir o dinheiro?
Nuno Gapar:
ResponderEliminarAchas que podiamos viver só com empresas privada? És contra haver impostos? És contra leis de segurança e qualidade?
EU não proponho que o estado regule os preços e intervenha demais. Sou o mais liberal possivel. Mas ha muitos argumentos, a começar pela sustentação de infraestruturas e acabando na necessidade de concertar estratégias, de que haja alguma regulação.
Caro Ludwig
ResponderEliminarNa verdade não tenho muita paciência para este tipo de debates. tenho menos ainda para ensinar o caminho das pedras a quem tem recursos intelectuais e de tempo (obviamente que tem) para o fazer por si. há milhares de economistas, cronistas, bloguistas e montes de outros istas a escrever com rigor e interesse sobre economia - mesmo em português. já o mesmo não acontece com, por exemplo, um favorito da casa - religião, cepticismo, etc. assim, neste caso sou adepta da especialização.
for starters, devia ter mais cuidado com as fontes, tanto linka para o jornal de negócios como para o blog de João "BPP" Rendeiro (bias anyone?), como para um site de corta e cola chamado fastcredit ou algo no género.
quanto à autoridade, quando alguém faz um "trabalho" consistente, tendemos a dar-lhe algum crédito. não papamos tudo, mas damos algum benefício da dúvida. o meu ponto é que o Ludwig arrisca-se a perder esse goodwill precioso. bem, não maço mais, juro.
Concordo com a Sónia.
ResponderEliminarCausa uma certa surpresa observar uma abordagem tão rudimentar em quem se propõe ensinar a melhor maneira de tomar decisões. Começo a achar que a área onde a aplicação dessas metodologias é mais inofensiva ainda é a religião.
Ludwig,
A vinda do FMI não é uma questão de opinião. Se encontrares alguém que queira emprestar-nos dinheiro (ou ganhar o suficiente para não ter de o comprar) não precisamos que ele venha. Se nem chineses, nem angolanos, nem brasileiros, nem timorenses, nem alemães nos querem emprestar o dinheiro que precisamos, temos que bater à última porta. E temos sorte por ela existir. Sem FMI nem austeridade teriamos; só fome e anarquia.
João,
ResponderEliminar"haja alguma regulação."
Coisa diferente do que temos actualmente: o que não é proibido é obrigatório, o que não é obrigatório é proibido.
Sónia,
ResponderEliminar«há milhares de economistas, cronistas, bloguistas e montes de outros istas a escrever com rigor e interesse sobre economia»
Sim. Uns dizem umas coisas, outros outras. Por isso é que tento encontrar os números e inferir daí alguma coisa. E a minha opinião acerca da vinda do FMI não é uma ideia original. Já encontrei economistas a dizer o mesmo.
«devia ter mais cuidado com as fontes»
E tenho. Retiro das fontes aquilo que me parece ser mais fiável. Por exemplo, do Rendeiro tiro apenas os números. Pode ser biased, mas não deve usar dados falsos acerca da dívida externa. No caso do Krugman já me fio mais na opinião, principalmente porque o que ele explica faz sentido, e deve perceber umas coisas de economia. Note que se perguntar as horas a um cristão e ele disser algo plausível, não há razão para rejeitá-lo como fonte dessa informação. É preciso é ver que coisas a fonte nos pode dizer que sejam minimamente fiáveis.
«quanto à autoridade, quando alguém faz um "trabalho" consistente, tendemos a dar-lhe algum crédito. não papamos tudo, mas damos algum benefício da dúvida. o meu ponto é que o Ludwig arrisca-se a perder esse goodwill precioso.»
Mais do que a economia, este ponto interessa-me.
Especificamente, interessa-me perceber se estou a perder essa minha “autoridade” por um erro metodológico ou apenas porque discordam de mim. Se estou a cometer um erro metodológico então queria saber qual. Tenho os dados errados? Estou a insistir em premissas falsas quando me dão as verdadeiras?
Se a Sónia não tem tempo sequer para me dar um link desses tais milhares que explicam tudo muito bem e onde eu posso ficar esclarecido acerca dos meus erros, paciência. Não lhe quero roubar tempo. Mas penso que merecia perder credibilidade era se mudasse de opinião cada vez que alguém me dissesse “isso não é assim, mas não tenho tempo para explicar”. Nesta altura já era criacionista, astrólogo, etc...
Há dois pontos em particular que gostava de ver esclarecidos com dados concretos em vez de alegações vagas de que eu não percebo do assunto.
O primeiro é como é que um empréstimo adicional, a juros tais que dêem lucro aos credores, nos vai reduzir o nosso endividamento e evitar o default. Julgando pelos ratings e pelos juros da dívida pública, o perigo de default da Irlanda e da Grécia continua alto. Não vejo porque o nosso caso há de ser diferente. Daí a minha conclusão que o FMI vai apenas adiar o default inevitável. Mais valia assumir isso e restruturar já a dívida, em vez de a aumentar em 80 mil milhões.
O segundo é exactamente o que acontece se (quando) a dívida for restruturada e houver defaults parciais. Alegam que é o fim do mundo, que vamos todos morrer à fome, mas não vejo dados nenhuns que susbtanciem isso. Julgando pelos interesses da Espanha, que tem uma exposição grande à nossa banca, e da Alemanha, que precisa manter o Euro a todo o custo (senão fica sem capacidade de exportar), o nosso poder negocial devia ser suficiente para uma solução de compromisso em que os credores arcassem com parte da austeridade. Não encontrei nenhuma explicação para isto não ser verdade. Simplesmente se assume que não se pode negociar a dívida, ponto, sem dizer porquê.
Nuno Gaspar,
ResponderEliminar«Se encontrares alguém que queira emprestar-nos dinheiro»
“Nos” quem? Este é outro problema. O dinheiro vai-nos ser emprestado no sentido de que vamos ser nós, todos os portugueses, a pagar essa dívida adicional. Mas não nos vai ser emprestado no sentido de nos beneficiar. Vai directo para os bancos privados para os capitalizar, e para eles pagarem as suas especulações aos bancos estrangeiros. E vamos pagar isso também com a privatização de infraestrutura que é de todos.
E isto para evitar um default que não parece estar a ser evitado. Por exemplo, que impacto teve o anúncio da intervenção do FMI nos CDS da dívida soberana portuguesa? Tanto quanto sei, não teve nenhum. Ou seja, o pessoal sabe que o perigo de default de Portugal é o mesmo com FMI ou sem FMI. Adia-se um pouco a crise, mas não se resolve nada (pelo contrário; assim que agravarmos a recessão com as medidas que o FMI exige os CDS vão subir com certeza...)
«Sem FMI nem austeridade teriamos; só fome e anarquia.»
Como na Islândia? É que há duas coisas diferentes aqui. Uma é a dívida soberana, outra é a dívida da banca privada. A Islândia decidiu deixar os privados amanhar-se e tratou apenas da dívida pública. Era isso que devíamos fazer por cá.
O meu problema principal com as vossas alegações é que, além de vagas, o pouco que se percebe não faz sentido. Por exemplo, tu apontas o problema do crédito individual, especialmente à habitação. Mas neste momento o crédito malparado é de apenas 2 mil milhões. O problema será grave quando baixarem ordenados, aumentarem impostos, despedimentos e cortarem prestações sociais. Aí sim vais ver o crédito malparado a subir a pico. E o que ganhamos com isso? Mais empréstimos aos FMI para capitalizar os bancos? E quando é que isso pára?
Eu acho que há uma ilusão perigosa de que estamos a resolver o problema com a austeridade e o FMI. A escolha aqui não é entre austeridade e default. O default é inevitável. A escolha é se será um default dos privados, com as dívidas públicas pagas pela austeridade, ou será um default total, com maior endividamento entretanto para alguns privados se encherem de dinheiro.
Gostava que não fosse assim. Gostava que vocês tivessem razão. Mas não é isso que os números indicam. Ou existe alguma lei económica que desconheço que diz que uma recessão facilita o pagamento das dívidas?
«O primeiro é como é que um empréstimo adicional, a juros tais que dêem lucro aos credores, nos vai reduzir o nosso endividamento e evitar o default.»
ResponderEliminarEm resposta a esta pergunta, aquilo que eu tinha percebido é que o estado terá de contraír dívida adicional até ao fim do ano de qualquer das formas** (tendo em conta o défice previsto) e os juros do FMI são inferiores aos juros do mercado.
«O segundo é exactamente o que acontece se (quando) a dívida for restruturada e houver defaults parciais. Alegam que é o fim do mundo, que vamos todos morrer à fome, mas não vejo dados nenhuns que susbtanciem isso.»
Parece-me que a ideia é a de que se um default total seria mau pois o dano provocado pela subida dos juros que se seguiriam faria pior do que o benefício de não ter de pagar o resto; um default parcial seria menos mau, mas mau ainda assim. E que qualquer restruturação pode ser vista como um default parcial (visto que para qualquer alteração dos prazos prejudicial ao credor haveria sempre uma proporção de dívida perdida que o credor consideraria preferível a essa alteração).
Posto isto, parece-me que a tua posição é mais sensata: a restruturação e o default parcial não devem estar fora da mesa. Há o risco de que só o falar disso já suba os juros, mas neste momento essa tem de ser uma opção a considerar.
**senão tinhas austeridade a um ponto tal que provavelmente seria ilegal...
João,
ResponderEliminar«Continuo sem ver dados que me digam que a divida dos bancos não é divida contraida a comprar divida publica.»
Os dados que te apresentei são que a banca portuguesa tem 19 mil milhões da dívida pública, e deve 190 mil milhões a bancos estrangeiros. A menos que sejam todos completamente parvos, julgo pouco provável que tenham pedido 190 mil milhões emprestados para comprar 19 mil milhões da dívida pública.
Se achas que estes números estão errados, diz-me onde encontrar os certos. Se discordas só porque sim, ora estás no teu direito, mas isso vale exactamente 0% da dívida pública :)
«Mas o problema é que se não pagas ficas isolado. E de fronteira fechada e com processos em cima não vais ter para comer.»
O que seria terrível e me preocuparia se houvesse alguma evidência de que é isso que acontece se a banca privada falhar. A Islândia está muito mais isolada que nós, e não foi isso que lhes aconteceu.
Vocês acham mesmo que se os bancos privados portugueses não conseguirem pagar o que devem aos estrangeiros vão construir um muro à volta de portugal e matar toda a gente à fome? Parece-me um pouco ridículo isso...
O que era preciso aqui era uma estimativa fiável e rigorosa das consequências de um default da banca privada. Os únicos dados que tenho são os da Islândia, onde o default da banca privada foi algumas dez vezes maior que o PIB do país inteiro. E estão a safar-se. Ninguém está lá a morrer à fome (e aquilo é uma ilha, e fora da UE).
É claro que posso estar enganado. Mas não vou ignorar os dados de que disponho só porque me dizem ah, e tal...
«O que temos de pedir mesmo ao FMI é uma maneira de fazer o que não conseguimos em 37 anos, que é crescer economicamente.»
E achas que é isso que o FMI vai trazer? Crescimento económico? Penso que nem os optimistas mais disparatados chegam ao ponto de defender essa...
«Por outro lado se queres que os ricos paguem a crise como esperas que isso vá acontecer se não vier alguem de fora exigir o dinheiro?»
Uma forma de obrigar “os ricos a pagar a crise” é renegociar a dívida. Porque os nossos credores são, em grande parte, as instituições que criaram esta crise.
João Vasco,
ResponderEliminar«aquilo que eu tinha percebido é que o estado terá de contraír dívida adicional até ao fim do ano de qualquer das formas»
Sim, mas pelo que tenho visto, isto é principalmente para pagar dívidas. E nunca é claro quanto dessas dívidas que vencem agora são públicas e quanto são da banca privada. Seja como for, o problema de precisar de dinheiro para pagar dívidas pode ser resolvido ou pedindo empréstimos adicionais ou renegociando a dívida.
E a justificação para os juros de empréstimos adicionais serem tão altos é atribuirem a Portugal uma probabilidade alta de default. Que é alta precisamente porque os juros dos empréstimos adicionas são tão altos (e o crescimento é uma bosta). O que sugere um problema cujo único desfecho é o default. Mesmo os 5% do FMI são mais do que o nosso crescimento económico consegue cobrir, especialmente com as medidas do FMI...
«Parece-me que a ideia é a de que se um default total seria mau pois o dano provocado pela subida dos juros que se seguiriam faria pior do que o benefício de não ter de pagar o resto; um default parcial seria menos mau, mas mau ainda assim.»
Os juros dos empréstimos futuros são em função da estimativa de defaults futuros. Vê o que aconteceu na Islândia. Houve defaults enormes da banca, mas assim que recuperaram o crescimento económico os juros e os CDS baixaram imenso. Isto porque a estimativa -- correcta -- agora é de que a Islândia tornou-se novamente num investimento seguro.
Mas na Irlanda e na Grécia não aconteceu o mesmo. Evitaram os defaults da banca, mas os juros continuam a subir e os CDS altíssimos porque está-se mesmo a ver que aquilo, mais cedo ou mais tarde, afunda.
É isto que me faz pensar que um default parcial é a única solução que temos para vencer este ciclo vicioso de recessão e endividamento. As alternativas realistas são ou um default parcial agora ou um default ainda pior mais tarde, com mais dívidas.
«Posto isto, parece-me que a tua posição é mais sensata: a restruturação e o default parcial não devem estar fora da mesa. Há o risco de que só o falar disso já suba os juros, mas neste momento essa tem de ser uma opção a considerar.»
Não me parece um grande risco porque penso que o mercado já notou isso muito antes de mim. É por isso que os CDS e juros não baixaram com o anúncio do pedido ao FMI, e é por isso que anda tanta gente a apostar no default português. O que, nestas coisas, é um self-fulfilling profecy pelo efeito que tem nas taxas de juro.
Ludwig:
ResponderEliminarEu acho que definitivamente temos de considerar o que se passou na Islândia.
No entanto, é preciso ter duas coisas muito importantes em atenção:
a) a Islândia não faz parte da UE, e - mais importante - não faz parte do euro.
Isso naturalmente faz com que tenham outra liberdade de movimentos, e menos compromissos assumidos.
b) a Islândia agiu no seu melhor interesse. Neste sentido, a esquerda e a população (no referendo) defenderam os interesses islandeses bem melhor do que a direita propunha - e a população quis ir mais longe do que aquilo que a esquerda propunha.
Mas aquilo que é o melhor interesse de um país, e aquilo que é moralmente correcto são coisas diferentes.
Se porventura existiu um ataque especulativo a Portugal, em que alguém vende dívida a descoberto na esperança de espalhar o pânico e criar o ciclo "menos confiança -> mais juros -> menos capacidade de pagar -> menos confiança -> mais juros -> etc.." que depois faz com que aquilo que lhe peçam pela dívida seja menos do que o valor a que a vendeu (inicialmente já abaixo do valor de mercado) o deffault dá a vitória a tais especuladores sobre todos os que confiaram nos nossos fundamentais, que eram bons.
E a longo prazo cria uma lição para o futuro. Assim que surgirem profecias sem fundamento das instituições que afundaram Portugal desta vez, vende logo. Pois com tais profecias serão mesmo concretizadas. Não porque tenham fundamento inicialmente, mas porque o constroiem e vemos que Portugal não consegue resistir.
E o próximo país que precise que o BCE compre dívida para não pedir a ajuda do FMI, bom o BCE terá aprendido a lição: o default é inevitável.
Nota que com isto não quero argumentar que a renegociação da dívida e o default parcial não são aquilo que devemos fazer - mesmo moralmente.
Estou apenas a dizer que, pelo que compreendo, todas as opções são más, incluindo essas.
Tenho a sensação de que essas são as menos más, mas bem menos fundamentada do que gostaria.
João Vasco,
ResponderEliminarConcordo com isso que tu dizes. Mas, do ponto de vista moral, penso que só uma pequena parte da dívida portuguesa (e até só parte da dívida pública) é responsabilidade dos contribuintes. A maior parte é da responsabilidade de entidades privadas, e parte da dívida pública é da responsabilidade moral de um grupo de aldrabões.
Concordo também que há uma lição para o futuro, mas a lição mais fundamental que devíamos tirar disto são os problemas estruturais do financiamento público por uma banca privada que é financiada por fundos públicos. Há algo fundamentalmente errado nas finanças do euro por causa disto, em que o sistema financeiro é dominado pelos bancos privados e os governos têm muito pouco poder regulatório. Isso torna os países periféricos do euro muito susceptíveis a este tipo de ataques especulativos.
Há também o problema de termos uma moeda comum mas cada um fazer o seu orçamento. Soberania nacional, e essas coisas, mas quero lá saber. Os orçamentos dos Estados deviam ser regulados ao nível europeu. Desde que sigam princípios democráticos de transparência, representatividade e igualdade, isso funciona melhor do que esta confusão em que as pressões que uns Estados exercem nos outros têm de ser às escondidas por meio de instituições financeiras e não às claras numa assembleia de deputados eleitos.
«E o próximo país que precise que o BCE compre dívida para não pedir a ajuda do FMI, bom o BCE terá aprendido a lição: o default é inevitável.»
É verdade. Mas isso parece-me inevitável. É que no sistema que temos há economias pequenas periféricas, como nós, a Irlanda e a Grécia, que podem ser atacadas isoladas do resto mas que não podem responder com medidas como desvalorizar a moeda ou financiar-se em bancos públicos. É como dar a Trás-os-Montes a sua própria dívida pública, orçamento de Estado e assim, e esses que se amanhassem pedindo emprestado o dinheiro de que precisassem aos bancos privados. Haveria logo muita gente a encher os bolsos a afundá-los.
«Estou apenas a dizer que, pelo que compreendo, todas as opções são más, incluindo essas.»
Concordo. O que me parece é que as pessoas que dizem que uma das opções é evitar o restruturamento da dívida caem em duas categorias: as que andam enganadas, e as que andam a enganar. Porque essa não me parece ser uma das opções que temos disponível. Temos de pensar em quando é que vamos restruturar a dívida e quais são os defaults, mas não vale a pena iludirmo-nos quanto a este desfecho...
Já agora, isto toca num ponto que me parece relevante. Uma grande parte da economia mundial moderna é leverage. É dinheiro emprestado para especular e apostar sobre dinheiro emprestado. É uma consequência do poder que se concede ás instituições financeiras, que podem inventar crédito muito para além daquilo que podem garantir.
ResponderEliminarIsto faz com que uma boa parte destes milhares de milhões, ou milhões de milhões, não corresponda a nada a não ser números. Não é infraestrutura, não é bens transaccionáveis, nem sequer é serviços. É apostas, mais nada.
E parece-me que só um abanão valente é que poderá levar à correcção deste sistema. Vê, por exemplo, a quantidade de dinheiro investida em CDS, que não têm quase regulação nenhuma e não são mais do que apostas acerca da capacidade de terceiros pagarem dívidas entre si. Isto não é economia. É jogo...
Acho que estamos de acordo no essencial, se bem que sobre isto tenho mais dúvidas que certezas.
ResponderEliminarMas sobre o facto de dizeres que grande parte disto é especultivo, é verdade. Mas se bem percebi o que se passa, quanto maior o nosso default, mais ganha quem investiu nesse ataque especulativo. A aposta era que Portugal caía.
Concordo essencialmente com o que dizes sobre a necessidade de regular o sistema financeiro. Não é por acaso que voltaram os problemas tipo 1929 precisamente quando as coisas voltaram a estar tão desregulamentadas quanto antigamente. Essa brincadeira já deu origem a guerras mundiais, e certamente dá origem a inúmeras injustiças.
Mas grande parte do eleitorado não reconhece este problema, e parece-me que a direita terá uma vitória eleitoral em breve... Não com o meu voto, isso é certo.
Já agora, o FMI dá-nos juros mais baixos não porque seja bonzinho mas porque, com o empréstimo, fica com mais poder para nos obrigar a pagar, o que reduz o risco de default e permite juros mais baixos. É incorrecto inferir daí que com o FMI estamos a fazer melhor negócio sem olhar bem para as outras contrapartidas...
ResponderEliminarDe acordo. Mas cuidado, porque isso também não implica o oposto.
ResponderEliminarJoão Vasco,
ResponderEliminar«Mas grande parte do eleitorado não reconhece este problema, e parece-me que a direita terá uma vitória eleitoral em breve...»
A minha suspeita é que muita gente que diz “isto não é assim, é muito mais complicado” está apenas a repetir o chavão que lhe disseram. E assim, de complicado em complicado, ninguém tenta sequer saber os números.
Por exemplo, experimenta perguntar por aí quanto do PIB o Estado cobra em IRC. Duvido que muita gente tenha ideia de que o valor é só cerca de 2%, e que o IRC seja apenas 15% da receita fiscal. A maior parte está convencida da conversa que as empresas são obrigadas a pagar demais, os impostos abafam o nosso crescimento, etc. Ou seja, vão em conversas sem olhar para os números.
«Não com o meu voto, isso é certo.»
Sim, não arrisques, senão estás fu**** com o Bruce ;)
Não, não vou votar no PS. Em princípio voto BE.
ResponderEliminarMas o meu maior medo é ver PSD+PP com maioria absoluta para fazerem o que querem, que será péssimo para o país. Qualquer voto no PS, CDU ou BE será para mim uma boa notícia.
Com uma coligação pré-eleitoral, bastam 44% dos votos para terem maioria absoluta (por causa da distorcidíssima aritmética parlamentar).
ResponderEliminarOs partidos à esquerda, somados têm de chegar aos 56% para evitar essa catástrofe.
Ludwig,
ResponderEliminar"Vai directo para os bancos privados para os capitalizar"
E para evitar que as poupanças dos portugueses se transformem em pó.
" O default é inevitável. "
Nas duas vezes que o FMI aqui esteve, o país não entrou em default, e até se seguiram períodos de alguma prosperidade.
"Como na Islândia?"
A dívida da Islândia tem a ver com aplicações financeiras espatafúrdias, se não fraudulentas. A dívida de Portugal, do Estado e dos privados, tem a ver com gastar mais do que aquilo que produz.
Concordo que existe um excesso de especulação financeira no mundo que confere violência às variações de preços (câmbios, matérias primas, acções, obrigações,...) e que uma certa taxação é indispensável para dar atrito a esses movimentos. No Brasil, por exemplo, a entrada de capital para investimentos financeiros já é taxada em 6% (e mesmo assim a moeda continua a valorizar-se). Contudo, o essencial do problema em Portugal está na antítese do título do post: a falta de empreendedorismo, quando não a própria hostilidade.
"Produzir e poupar, já dizia o Salazar"
"O que seria terrível e me preocuparia se houvesse alguma evidência de que é isso que acontece se a banca privada falhar. A Islândia está muito mais isolada que nós, e não foi isso que lhes aconteceu"
ResponderEliminarhttp://www.tradingeconomics.com/Economics/Balance-Of-Trade.aspx?Symbol=isk
Percebes porquê, Ludwig? São 300 mil pessoas rodeadas de cardumes de bacalhau.
"Vocês acham mesmo que se os bancos privados portugueses não conseguirem pagar o que devem aos estrangeiros vão construir um muro à volta de portugal e matar toda a gente à fome?"
ResponderEliminarNão, Ludwig. Simplesmente não vão ter dinheiro para emprestar a quem compra aqueles navios graneleiros que observas estacionados na Trafaria e ao lado da Ponte quando vais para a Universidade.
Ludwig:
ResponderEliminar"Os dados que te apresentei são que a banca portuguesa tem 19 mil milhões da dívida pública, e deve 190 mil milhões a bancos estrangeiros. A menos que sejam todos completamente parvos, julgo pouco provável que tenham pedido 190 mil milhões emprestados para comprar 19 mil milhões da dívida pública."
Não creio que seja isso que diz a tua ligação. Não é nada claro. Tambem diz: "Deve notar-se ainda que os bancos portugueses devem a curtíssimo prazo cerca de € 40 mil milhões ao Banco Central Europeu "
"Se achas que estes números estão errados, diz-me onde encontrar os certos. Se discordas só porque sim, ora estás no teu direito, mas isso vale exactamente 0% da dívida pública :)"
Não encontrei os certos. Em lado nenhum encontrei a parcela da divida dos bancos devido a divida publica. Mas isso não valida a tua afirmação. Se ainda por cima aquela é a tua fonte, não só não diz o que tu entendes como não me parece infalivel. O resto da divida dos Bancos faz parte do mercado normal financeiro e só um deles tem maturidades as rebentear (visão).
"Vocês acham mesmo que se os bancos privados portugueses não conseguirem pagar o que devem aos estrangeiros vão construir um muro à volta de portugal e matar toda a gente à fome? Parece-me um pouco ridículo isso...
"
Isso só se for metaforicamente. Mas tens e tiveste muitos paises (quase inteiros) a morrer à fome por não ter capacidade de comprar comida e não produzir o suficiente.
A islandia tem produção interna suficiente para uma série de coisas. Nós só temos para satisfazer o mercado interno nas aves, mas é se comermos outras coisas também, como carne de ruminate importada.
Ludwig (cont):
ResponderEliminar"É claro que posso estar enganado. Mas não vou ignorar os dados de que disponho só porque me dizem ah, e tal..."
Tudo depende da justificação que tens para esses dados. Por outro lado põem em causa relatorios conhecidos de testes à nossa banca que mostravam estar em condições antes deste problema de comprar divida portuguesa à grande.
É obvio que todos os bancos devem mas têm sempre alguem que lhes deve a eles. Esquecer a maturidade é em si um erro.
DEpois, tens bancos com grandes problemas mas não são todos. Se calhar ha doi que juntos são responsaveis por metade da divida. E isso é importatne.
É contigo se queres escolher as evidencias pelo que dizem em vez de ser pela plausibilidade.
João,
ResponderEliminarNão percebo qual é a tua dúvida:
«A exposição da Banca nacional à dívida do Estado multiplicou-se por seis em apenas dois anos: de Janeiro de 2009 a Janeiro de 2011, o investimento dos bancos portugueses em dívida pública nacional disparou de 3,16 mil milhões de euros para 18,93 mil milhões de euros, um crescimento de 498%.»
Devem 190 mil milhões ao estrangeiro e têm 19 mil milhões em dívida pública, a maior parte desse dinheiro em títulos comprados muito recentemente.
Ludwig:
ResponderEliminarPorque nós estamos em Abril.
Esses dados eu tenho de melhores fontes, de qualquer modo.
O que eu acho é que desde Janeiro houve mais compra de divida.
E mesmo que seja pouco mais, que algo mais é de certeza, os bancos não tinham problemas antes de entrarem nesse investimento e antes de a republica estar tão mal vista.
Os bancos não podem ter ratings acima dos do país. Talvez por isso comprassem divida. Mas 10% de divida ser perdida, é ainda importante.
Há paises com maiores dividas que nós, até em percentagem do Pib, mas não é por isso que têm de pedir dinheiro ao FMI para se financiar.
O problema não é dos bancos e a divida deles era parte do processo.
A divida publica é que aumentou demasiado em relação ao inexistente crecimento económico. E isso desiquilibrou todo o mercado financeiro que de outro modo estaria ainda a funcionar.
Estou disposto a mudar de ideias, já que não sou especialista nesta area e estou a apreender. Mas esta é a explicação que encontras em vários sites para leigos, mesmo internacioanais - ver BBC.
O nosso problema é viver acima do dinheiro que produzimos.
ResponderEliminarGastamos muito e produzimos pouco.
É preciso produzir mais. É a unica solução.
E para isso precisamos de melhores gestores. Estes não valem nada.
Empresa
ResponderEliminarUma forma de organizar o trabalho em que muitos trabalham para o bem de poucos, em que se dá o menos possível em troca de tudo o que for possível para prestar o pior serviço possível ao maior preço possível, para maximizar o lucro e encher os bolsos a uns quantos, esmifrando o que é precário para alimentar o que é demasiado sólido.
ou
Uma forma de criar emprego para quem as faz e para outros, de prestar serviços a clientes e de sustentar o Estado através do pagamento de impostos. São as empresas que criam o emprego e combatê-las é destruir o emprego privado e público (porque são elas que sustentam o Estado, com os impostos que pagam e com os impostos que paga quem nelas trabalha).
Marco Neves,
ResponderEliminarEsses dois aspectos não são mutuamente exclusivos. As empresas criam postos de trabalho, prestam serviços e, quando as coisas correm bem, pagam impostos que ajudam a sustentar o Estado. E é bom que haja empresas. Mas é também verdade que as empresas têm como objectivo principal fazer com que os seus donos ganhem dinheiro. Tudo o resto -- postos de trabalho, serviços e essas coisas -- é meramente auxiliar e secundário.
É por isso que há muitas coisas (saúde e educação universais, segurança, justiça, governo, necessidades básicas, etc) que não podem ser delegadas em empresas nem no empreendedorismo.
Obrigado pela resposta. Posso responder por mim: criei uma empresa com o objectivo de criar o meu posto de trabalho e mais alguns. Ainda não recebi um cêntimo mais do que o ordenado que recebo (pode ser que um dia possa "distribuir" os lucros). Quantos aos impostos, além dos que pago com o ordenado, como qualquer pessoa, passei a ser responsável por pagar os impostos devidos pela empresa, que nunca imaginei serem tantos antes de começar. Não há propriamente benefícios fiscais para quem cria empresas, pois pagam os impostos como qualquer pessoa e ainda os que competem às empresas -- não há e não me parece que deva haver, registe-se. Além da falta de benefícios, há ainda a falta de subsídio de desemprego e uma certa desconfiança que se sente em relação ao que se faz. Tudo isto só para dizer que quem cria empresas não é herói, mas pelo menos cria emprego e riqueza, que está longe de acabar toda nas mãos de quem teve o trabalho (e dá muito mais trabalho do que eu próprio imaginava antes de começar) de a criar -- afinal, só com essa criação de riqueza há dinheiro para que o Estado possa fazer o que tem a fazer.
ResponderEliminarPor fim, o empreendorismo não resolve tudo, mas mais empresas e mais emprego ajudaria muito a fazer sair o país do buraco orçamental. Quanto mais empresas, mais impostos, menos dívida do Estado.
Só uma outra nota: esqueci-me de dizer que no fundo concordo consigo, não se excluem, há de tudo. Apenas achei melhor apresentar o meu caso pessoal, só para dizer que não me parece positivo para o país ir contra o espírito de empreendorismo só porque as empresas podem criar lucro, tendo em conta que a grande maioria dos empresários nacionais são donos de PMEs e criaram-nas apenas para criar postos de trabalho - e era bom que mais o fizessem.
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