Treta da semana: a assinatura.
Ontem vieram cá uns vendedores bater à porta. A primeira coisa que digo, e ontem foi até sem abrir a porta, é que não estou interessado. Como ontem, quase sempre perguntam como sei que não estou interessado se ainda não me disseram o que era, ao que respondo que não estou sequer interessado em perder tempo a saber o que é. Para alguns, esta insinuação subtil da minha indisponibilidade basta para perceberem que não estou interessado. Infelizmente, os de ontem pensaram que era para voltarem mais tarde.
À segunda volta, abri a porta e disse que não estava interessado em comprar nada que me fosse vendido à porta. É uma heurística muito útil. Em primeiro lugar, porque qualquer empresa que mande gente bater-me à porta para vender coisas é uma empresa que não cumpre os meus requisitos mínimos de respeito pelas pessoas. E, em segundo lugar, porque não é boa prática comprar algo sem saber primeiro se é útil, se vale o preço e o que a concorrência oferece, ouvindo apenas a opinião do vendedor. Para os vendedores não perderem tempo comigo (e eu não perder tempo com eles), deixo isso claro logo à partida.
Mas estes eram espertos. Um deles, pelo menos. Disse que não, que não vinha vender nada e que não me estava a fazer favor nenhum. Duh, pensei, isso sei eu. Mas provavelmente queria dizer que não me estava a pedir favor nenhum, ou algo do género. Explicou que a fibra óptica que estava instalada no prédio já era nossa, dos condóminos, e que precisava apenas de uma assinatura minha a autorizar que a “passassem para minha casa”. Achei estranho que não fosse a administração do condomínio a avisar disto, ou sequer a deixar um papel à entrada do prédio. Por isso fiz mais umas perguntas e, às tantas, ele assegurou-me que não tinha de pagar nada nos primeiros cinco meses.
Espera lá. Então depois tenho de pagar? Sim, mas tem desconto, e sai mais barato do que o serviço que tem agora. Saca do panfleto da Optimus e começa a desbobinar todas as “vantagens”. Porra, pensei eu, grande aldrabão. Disse-lhe que afinal estava mesmo a vender, que eu não queria comprar nada e despachei-o. Vem então com uma das invenções mais imbecis do marketing moderno. Estende a mão para me cumprimentar*.
Nós apertamos a mesma mão que usamos para tapar a boca quando espirramos ou tossimos, e para cumprir certas tarefas de cariz fisiológico e de higiene pessoal. Como, em geral, as pessoas lavam as mãos regularmente e a maioria dos microorganismos não resiste muito tempo nas mãos secas, apertar a mão a um colega ou amigo é um risco insignificante. Em geral. Mas este senhor anda a correr os prédios todos da zona e a esfregar a palma da mão nas de centenas de pessoas. Algumas engripadas, outras que estavam na casa de banho quando ele bateu à porta e sabe-se mais o quê. Nunca sei o que é melhor: se explicar que aquilo não é boa ideia e passar por mal educado; se inventar que a minha religião não me permite apertar a mão a ninguém; ou se dar um “passou-bem” rapidinho e ir logo lavar as mãos.
O truque da assinatura provavelmente é ilegal. Assumindo que se conseguia provar qualquer coisa em tribunal, claro. E toda a filosofia deste tipo de venda, desta arte de impingir coisas a quem não as quer, é errada. Uma transacção comercial deve ser voluntária e em benefício de ambas as partes. Não deve ser um tropeção por ter o barrete a tapar os olhos. Mas não é a lei que deve resolver isto. O que resolvia este problema era um hábito enraizado, como o que nos compele a cumprimentar quem nos estende a mão. Devíamos ter todos o reflexo condicionado de bater a porta na cara de quem nos quisesse vender qualquer coisa.
* Parece-me que isto agora é sistema. Deve ser uma treta qualquer da programação neurolinguística ou afins. Treta da semana: telechatos.
Só hoje soube da existência deste blogue. Excelentes textos, muito bons mesmo, Ludwig. Vou passar a seguir.
ResponderEliminarObrigado, Daniela :)
ResponderEliminar1ºSe não fossem as transacções involuntárias a sociedade actual esboroava-se, eu não queria ter internet ou tv cabo e resisti anos a um produto que é viciante.
ResponderEliminarQue potencialmente provoca a longo prazo ataques cardíacos e outras mazelas
Mas um indivíduo pode dar-se a esse luxo, 10 milhões de consumidores sem telemóvel, televisão, automóvel, era o colapso civilizacional e a cambada trabalhava em quê, se só havia produtos que não necessitam de ser impingidos ?
2ºe a maioria dos microorganismos não resiste muito tempo nas mãos secas...a) mãos secas são uma coisa inexistente tal como mãos sem microorgs
apertar a mão a um colega ou amigo é um risco insignificante
(porque são mais limpinhos e pertencem a um daqueles clubes maçónicos de apertos de mão secretos com toalhetes embebidos em al kohol?
Resumindo estes artigos anarko-atheistas são um perigo para a sociedade
ResponderEliminare para o coronel Kadhafi (que até é um tipo simples não se promoveu a general após o 25 de Abril, dorme numa tenda e empresta a fundo perdido uma data de dinheiro a países do 3ºmundo)
Que experiência! Obrigado pela partilha. Abraço
ResponderEliminarone hundred coiso...
ResponderEliminar«e a maioria dos microorganismos não resiste muito tempo nas mãos secas...a) mãos secas são uma coisa inexistente»
Nem por isso. Depende de quanto se sua. Mas a pele pode até ficar bastante seca.
«tal como mãos sem microorgs»
Nunca ficam sem microorganismos, mas se espirras para a mão e a deixas secar, ao fim de umas horas a maioria desses microorganismos que vinham nas gotículas de saliva está desactivada.
«(porque são mais limpinhos e pertencem a um daqueles clubes maçónicos de apertos de mão secretos com toalhetes embebidos em al kohol?»
Não. Porque é poucas vezes, com poucas pessoas e quando estão à espera. Não é o mesmo que passar o dia a apertar a mão a centenas de pessoas que são apanhadas de surpresa pela campainha quando estavam a fazer sabe-se lá o quê.
Ola Ludwig:
ResponderEliminarQue grandes aldrabões! E eu que ja me passo com os telefonemas regulares a tentar vender-me coisas. E o pior que têm feito é preguntar-me porque é que eu não quero comprar o que eles estão a vender.
Ludwig:
ResponderEliminarEstou admirado que não tenhas dito nada acerca do processo da Sony ao hacker GEOHOTZ que disse como é que se podia usar a PS3 para o que nós quisessemos.
O homem até está a pedir dinheiro e tudo. Não me digas que tens uma fraquinho pela Sony :P
É que aqui, até eu acho que é um abuso.
É porque o GeoHotz é como eu contra a distribuição em massa de material pirata?
ResponderEliminarTEns aqui mais informação (biased):
http://psx-scene.com/forums/f6/geohot-asks-donations-sets-up-new-blog-81401/
PS: não tenho uma PS3, não é uma coisa que refira porque me dá geito queixar. Acho mesmo qeu o tipo tem razão.
mas se espirras para a mão e a deixas secar, ao fim de umas horas a maioria desses microorganismos que vinham nas gotículas de saliva está desactivada....o que se aplica aos virus nã se aplica nem a bactérias nem leveduras e muito menos fungos
ResponderEliminarpodem esporular têm formas de resistência não se desactivam na sua maioria
pode-se fazer cultura de microorgs a partir de um simples esfregaço na pele humana ou não seca ou não
e há microorgs como o estafilococo dourado nosso comensal
que é muito resistentezinho
logo...não que tenha grande interesse
One hundred
ResponderEliminarA diferença está na quantidade de unidades formadoras de colonias.
Se fizeres isso com maos molhadas e depois com mãos secas vais ter uma enorme diferença no numero de colónias.
Aumenta a transferencia e a viabilidade das bactérias.
Lamento dizer-te mas o Ludwig tem razão. Para mais posso dizer-te que foi algo debatido nas minhas aulas de bioquimicas quando umas mãos lavadas deram pior resultado que umas mãos secas e não lavadas. A explicação dada pela professora de microbiologia e confirmada pela aluna foi que ela não tinha secado as mãos.
Ao que parece falhou um dois passos simples no protocolo que servia para ilustrar a vantagem de lavar as mãos. Uma era lava-las efectivamete. O outro era seca-las. Ao que se pode apurar não fez bem nenhuma das duas. Mas a exuberante quantidade de UFC que surgiram na placa de petri ultrapassou as expectativas que so foram explicas por ela não ter secado as mãos.
CLaro que este testemunho é anedótico. Mas no contexto teorico envolvente não precisa de mais para ter plausibilidade.
Com umas testemunhas de Jeová, depois de as ouvir comecei a contrapôr. Dei-lhes tanta conversa q se fartaram e decidiram despedir-se e ir embora.
ResponderEliminarCom outras televendas, tenho a paciência de estar muito interessado e no fim digo q n quero, ou pq tenho melhor ou pq n me faz falta, menos c uns de time sharing e ofertas de hotéis. Com esses digo logo q estou fora em trabalho, o q mtas vezes é verdade.
Há q ver q podemos inventar o q quisermos qdo nos tentam impingir produtos ou serviços.
Indistutívelmente é desagradável um estranho invadir um espaço privado quer seja por telefone ou presencialmente.
ResponderEliminarHá, no entanto, que olhar para o outro lado. São pessoas que ganham à comissão, muitas vezes nem ordenado base têm.
Asseguro-vos que bater à porta, apresentar um sorriso, entrar num espaço estranho, falar para estranhos, procurar expressões faciais que dêem indicação de interesse e a partir daí desenvolver o tema, é muito difícil.
nmhdias:
ResponderEliminarPara as pessoas que têm esse trabalho, pode ser difícil, e é fácil sentir alguma empatia.
Mas a economai é um sistema de vasos comunicantes. Se as pessoas não comprarem produtos vendidos dessa forma, os postos de trabalho que se perdem aí surgem de outras formas, e essas pessoas acabarão por ter profissões que muito possivelmente as realizarão mais, e onde serão mais úteis.
Claro que é difícil não ver AQUELE caso particular, e pensar nestes benefícios abstractos quando está alguém a distribuir papelinhos, ou coisa do género, e a pessoa sabe que provavelmente estará algo desesperado. Geralmente caio na tentação de aceitar esse tipo de panfletos publicitários, que ponho logo de seguida no lixo, e é péssimo para o ambiente. É um erro.
Quanto a vendas a casa, felizmente não tenho tido esse problema.
@Vasco
ResponderEliminaracho que estamos a generalizar um pouco o que são situações distintas. Concordo perfeitamente que campanhas de vigarice deverão ser repudiadas e é bastante frequente os comerciais usarem um qualquer método para vender, se não a maioria.
Mas criou-se uma imagem do vendedor que nem sempre é a correcta. Da experiência que tenho de venda à porta garanto que há bastante gente a vender honestamente o produto. Das experiências que tenho como cliente noto que os miúdos pouco percebem do que vendem e tem uns textos decorados.
nmdias:
ResponderEliminarEu não estava a assumir desonestidade por parte do vendedor.
A empresa tomou uma decisão de aplicar recursos para vender de forma algo invasiva. Se as pessoas recusarem adquirir produtos desta forma, a empresa não vai querer aplicar os seus recursos desta forma, sendo os postos de trabalho criados de outra forma, sem que as pessoas sejam incomodadas em casa. Creio que era esta a ideia do Ludwig, e se é, concordo.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminar@Vasco
ResponderEliminarE apesar deste tipo de venda ser algo intromissivo, vê-se "o perigo ao longe". Não me parece tão prejudicial como é o que imposto por lavagem cerebral nas televisões ou na incrível falta de variedade que têm os 5/6 principais centros comerciais no Porto.
Talvez seja verdade que esses problemas são piores. Mas isso não significa que este não existe.
ResponderEliminarJoão,
ResponderEliminar«O homem até está a pedir dinheiro e tudo. Não me digas que tens uma fraquinho pela Sony :P»
Tem havido uma data de coisas dessas ultimamente, como os EUA fecharem oitenta mil sites ao desactivar um domínio (ooops), um sueco que foi multado em 200€ por partilhar umas 40 músicas (bastante diferente das multas anteriores ao Pirate Bay, por exemplo), e, mais recente ainda, a BREIN caçou uns servidores de um grupo warez mas sem ordem do tribunal. Como esses servidores eram propriedade de um ISP da Àfrica do Sul, aquilo foi efectivamente roubo e violação de privacidade porque acederam ao conteúdo dos servidores.
Só que também tenho emprego, e o tempo não dá para tudo :)
nmhdias,
ResponderEliminar«Há, no entanto, que olhar para o outro lado. São pessoas que ganham à comissão, muitas vezes nem ordenado base têm»
Pode ser. O mesmo se pode dizer dos arrumas. Mas o facto permanece que escolheram uma profissão bem chata.
Dou-lhes um desconto. Não os culpo por tudo isto. Mas, por exemplo, a treta de dizer que é só uma assinatura para me caçar como cliente acho que não se desculpa sequer por ganhar à comissão. É aldrabice seja como for...
nmhdias,
ResponderEliminar«Mas criou-se uma imagem do vendedor que nem sempre é a correcta. Da experiência que tenho de venda à porta garanto que há bastante gente a vender honestamente o produto.»
Essa é outra questão. É que mesmo assumindo que a venda é honesta, que não estão a enganar ninguém, o acto de ir bater à porta das pessoas para vender é errado, e deve ser desencorajado.
nmhdias,
ResponderEliminar«E apesar deste tipo de venda ser algo intromissivo, vê-se "o perigo ao longe". Não me parece tão prejudicial como é o que imposto por lavagem cerebral nas televisões ou na incrível falta de variedade que têm os 5/6 principais centros comerciais no Porto.»
Discordo. A televisão acendo-a quando quiser (e pouco), e as lojas que põem nos centros comerciais é com quem as abre e não me compete a mim decidir. Mas telefonarem para mim ou baterem à porta de minha casa é diferente.
Joao disse...
ResponderEliminarOne hundred
A diferença está na quantidade de unidades formadoras de colonias.
Se fizeres isso com maos molhadas e depois com mãos secas vais ter uma enorme diferença no numero de colónias.
Aumenta a transferencia e a viabilidade das bactérias.
UFC's boy you are a filho da facul de gajos veternários
a questão é que uma esterilização perfeita é impossível
e há muitos virus bactérias e fungos que persistem mesmo após esterilização das superfícies com compostos químicos
e alguns como o microccocus radiodurans
até doses elevadas de radiação dura aguentam
logo é uma questão de probabilidade
uma única legionella tem muito baixa probabilidade de matar
mas se inocular cem ratos com apenas dois microlitros de legionella em suspensão
a probabilidade de alguns baterem as botas é alta
de resto quantidades microscópicas de urina de rato com Leptospirose espalhadas nas águas de uma enchente com milhões de metros cúbicos
têm-se revelado letais logo seu João
nã vamos por aí
Há um gajo chamado Paulo Mascarenhas que trabalhava há uns anos no Piaget e na faculdade de farmácia em projectos vários
contaminou-se acidentalmente com tifo
um rasgãozito micros cópico já tinha acontecido antes e nunca com esses resultados
entendido
há sempre a probabilidade de aspirar uns meningococos e haver um João a menos
em 100milhões de Joões Josés e Yussufs
que andam por aí
ou seja por mais repicagens que faça num disco de Petri
uma delas mesmo com praticamente 0 de inóculo pode revelar-se fatal
One Million whatever:
ResponderEliminarNinguem falou em impossiveis. Falou-se em termos de risco e probabilidades.
Também podes sair porta fora e levares com um piano na cabeça. Mas a probabilidade é pequena.
Mito bom. Adorei! Bem escrito, bem dito, bem feito. E eu gosto de ler assim! :-)
ResponderEliminarAbraço.