O Diabo.
Quando se fala de religião é costume falar de Deus. Se existe, se não existe, se é real ou imaginário, se criou o Homem ou vice-versa. Mas este é o meu 666º post. Parece-me mais adequado dedicá-lo ao Seu alter ego.
Tal como com o jovem Clark Kent em Smallville, no princípio era só Ele. Os relatos mais antigos na Bíblia mostram o mal como sendo essencialmente desobedecer a Deus. O resto é tudo Ele. A serpente no Génesis foi mais tarde reinterpretada como Satã, mas no contexto original é mais razoável ver o episódio como uma adaptação do épico sumério de Gilgamesh, a quem o segredo da imortalidade também foi roubado por uma serpente espertalhona. E a serpente era tradicionalmente um símbolo dos aspectos temíveis e misteriosos da Natureza, não necessariamente do mal.
De resto no Êxodo podemos ver que foi Deus que deu a Moisés os poderes mágicos para impressionar o Faraó, foi Deus que mandou as pragas e também foi Deus que «endureceu o coração de Faraó»(Ex, 9:11) para que este não deixasse partir os Judeus. Nesta altura isto parecia justo. Afinal, era Deus, e Deus podia fazer o que bem Lhe apetecesse.
Mais reveladora ainda é a diferença entre os relatos de 2 Samuel e 1 Crónicas acerca do recenseamento que David mandou fazer. Os recenseamentos eram sempre mal vistos. Inevitavelmente, visavam a cobrança de impostos, o recrutamento militar ou ambos. Ninguém gostava quando os reis mandavam fazer um. 2 Samuel foi escrito antes do exílio dos Judeus na Babilónia, e relata que «A ira do Senhor tornou a acender-se contra Israel, e o Senhor incitou a Davi contra eles, dizendo: Vai, numera a Israel e a Judá.» (2 Sam 24:1).
O contacto com a cultura Persa deu aos Judeus uma visão mais zoroástrica do conflito entre o bem e o mal como a luta constante de duas forças opostas. Esta foi muito mais popular em todos os géneros de ficção, dentro ou fora da religião, e influenciou os autores das Crónicas, escritas após o exílio: «Então Satanás se levantou contra Israel, e incitou Davi a numerar Israel» (1 Cró 21:1). Qual cabine telefónica, este encontro cultural transformou Jeová, que nunca foi propriamente mild mannered, num verdadeiro badass. A partir de agora era a sério.
Durante a idade média muitos e doutos teólogos tentaram perceber quem seria Satanás, porque se teria virado contra Deus e como eram as hierarquias de querubins, serafins e outros perlimpimpins. A Enciclopédia Católica tem um artigo interessante sobre o assunto. Entretém, e dá uma ideia do tempo que se perdeu com este disparate (1).
Mas os tempos mudaram. Hoje em dia os católicos mais esclarecidos vêem o Diabo como uma metáfora para as falhas humanas ou um símbolo para o incompreensível, o absurdo, aquilo que está totalmente fora da razão. Curiosamente parecido com Deus em muitos aspectos. Um regresso às origens, de certa forma.
A história do Diabo dá-me esperança. No princípio não se distinguia de Deus. O bem e o mal eram o mesmo, o que importava era saber quem mandava. Mais tarde alguém desconfiou que isso não estava certo e separaram as personificações. O muito bom de um lado, o bicho papão do outro, mas nós ainda cá em baixo acagaçados. Com o evoluir das ideias deu-se mais um passo. O mal afinal é um conceito, uma falha, um símbolo. Não é um ser com existência autónoma. Não é um tipo encarnado de cornos e barbas com quem se possa ter uma relação pessoal, pedir coisas e prometer outras em troca.
A esperança é que dêem o próximo passo neste raciocínio e vejam que Deus está na mesma categoria. É uma ideia, um símbolo, uma marca do limite das nossas capacidades. Nada mais. Se compreendem que o Super-Homem não existe deve ser fácil perceber que o Clark Kent também é fantasia.
Editado para corrigir uma gralha e alterar as tags. Obrigado ao António e à Granada pelas sugestões.
1- Catholic Encyclopedia, Devil
O mal é um zero, rotundinho e bem curvinho! :)
ResponderEliminarOu seja, tipo 0ºK... eis o fulano!
Pretende apenas descrever uma ausência, já que não possui qualquer realidade autónoma. Da mesma forma que só existe o movimento ou a luz, e o estado de repouso e a escuridão são simples não manifestações, sem existência própria, também o famigerado mal... seja qual for o nome e a fantasia correspondente... é simples fogo de vista: invisível, insensível, incognoscível!
Logo, a conclusão final não pega, porque o movimento é constante e real, enquanto o repouso é aparente e transitório!
Ou no universo dinâmico não há nada de estático... e só o Bem é enfático! :)
Ludwig:
ResponderEliminarLeia o último parágrafo:
"...neste raciocínio e bejam que Deus..."
António
A questão da representação da maldade é muito delicada. É bom ter um simbolo que se possa exorcisar.Ajuda muita gente a ultrapassor situações dolorosas...por mais ingénua que possa parecer é...ÚTIL!
ResponderEliminarA tag "Gozo" parece-me mal.
António,
ResponderEliminarObrigado, já corrigi. Saiu-me com sotaque ;)
Granada,
ResponderEliminarÉ... também estive indeciso ser era gozo ou não, por isso sigo a sua sugestão.
Granada e Ludwig:
ResponderEliminarNa minha opinião, o problema de "personificar" o mal é exactamente o mesmo de "personificar" o bem.
Creio que não adianta muito "personificar" um problema de saúde e atribuí-lo ao Diabo. Acho que, apesar de tudo, mais vale enfrentar as coisas cara a cara, e perceber que não somos seres minimamente perfeitos, que nos "avariamos", e que muitos dos mecanismos que nos mantém vivos ainda escapam ao nosso controlo (se bem que cada vez menos à nossa compreensão, mas isso é outra história).
Outra coisa que custa engolir, mas que é um facto, é que, apesar de todo o conhecimento que temos como espécie, há um conjunto assustadoramente enorme de coisas que não controlamos, e cujas interacções caóticas podem interferir com as nossas vidas. Pessoas que nunca fumaram e que desenvolvem cancro de pulmão, ou pessoas que vão a conduzir na sua vida descontraídas e levam com outras viaturas em sentido contrário, sem terem culpa nenhuma.
Podemos até perceber o mecanismo das coisas (como se desenvolve um cancro, por exemplo), mas daí a controlar todas as variáveis envolvidas vai um passo de gigante.
Pessoalmente, não me parece que adiante grandemente personificar a "maldade" ou o "mal", mas sei que há pessoas para quem isso trás algum alívio, através desse tal "exorcismo". Será, talvez, um primo distante do efeito de placebo.
Xtremis
ResponderEliminaro que nos leva á questão: existe bem? existe mal? Se calhar a religião mais não é que a personificação desses dois aspectos humanos.E se calhar há pessoas que precisam de personificações...daí a religião (que é uma coisa humana)ser necessária para muita gente.E não se pense que o ateismo é restrito a pessoas informadas e cultas. Existem na nossa sociedade (eu conheço) pessoas que não precisam de religião para nada e são bastante humildes sob todos os pontos de vista.Rejeitaram.
Outras há que precisam da religião.
Resumindo, personificar é uma necessidade, de muitos, para lidar com o desconhecido.
Porquê, não sei.
Ludwig
ResponderEliminarEssa do sotaque deve ser das más influências...
Granada:
ResponderEliminarLá está. Se calhar a resposta está naquele mecanismo que o nosso cérebro tem de atribuir e reconhecer características humanas a tudo: ajuda os bébés a reconhecer e fixar a cara da mãe, e depois põe-nos a tentar ver caras em omoletes, na lua, em marte, por todo o lado :D
A sério, realmente há pessoas com essa necessidade... e quem sabe, se calhar por causa do tal mecanismo que ainda temos e que, quem sabe, já não tem a importância que tinha quando surgiu.
No fundo, somos também isso: um amontoado de evoluções, becos sem saída, avanços magníficos, que devido à sua natureza tendencialmente caótica (e lenta), acabam por vezes por se atrapalhar entre si.
E, naturalmente, apesar de termos a mesma herança genética, ainda não conhecemos o suficiente da mesma para perceber até que ponto é que determinado mecanismo está mais ou menos activo nesta ou naquela pessoa. Podemos lá chegar por dedução, mas a mecânica propriamente dita, ainda não é para já, digo eu.
há um conjunto assustadoramente enorme de coisas que não controlamos, e cujas interacções caóticas podem interferir com as nossas vidas.
ResponderEliminarNão precisamos de controlar nada, ó Extremista!
Isso é um mecanismo muito infantil, associado ao desenvolvimento da noção do "eu" e da personalidade. Mas se vamos ficar toda a vida nesse estádio de criança, sem aprender que só o modo como reagimos às circunstâncias é que tem importância, então nunca chegaremos a ser plenamente adultos.
Claro que o autocontrolo não exclui o facto de termos alguma acção directa, ainda que limitada, sobre as tais variáveis exteriores. Mas o que eu digo acima traduz-se na famosa máxima do "Dhammapada", que permanece para sempre actual:
Dominar-se a si próprio é uma vitória maior do que vencer milhares numa batalha.
Porque a vitória sobre a natureza, de que a ciência tanto se orgulha, começa sempre no 1º passo da religião: essa conquista de si mesmo, unicamente efectiva no autoconhecimento e na plena aceitação!
É também por isso que a ideia de mal como algo personificável é inteiramente ilusória, mas já o contrário é muitíssimo real. Porque o Bem é simplesmente aquilo que eu próprio sou, a minha existência é o meu bem supremo e todas as existências em conjunto podem mesmo personificar esse espírito de Deus, pois conhecer um é conhecer todos... em essência para além da aparência!
Cada um é senhor de si mesmo, deve depender de si próprio; deve, portanto, controlar-se a si próprio. - Buda
Olha, lembrei-me agora mesmo do exemplo actualíssimo do tal fantástico "aquecimento global"... causado pelo Homem, note-se!
ResponderEliminarEste é o mesmo um "case study" perfeito dessa tal mania infantil do controle.
Das inúmeras variáveis que influenciam o clima - o sol, as nuvens, os oceanos, os ventos, os gases com efeito de estufa e sei lá quantas mais - fomos logo escolher como símbolo do mal algo que podemos ter a ilusão de controlar: o CO2 produzido pela actividade industrial e agrícola.
O facto da sua importância ser irrisória, no contexto dos outros factores, e de ainda talvez só 5% de todo o CO2 lançado para a atmosfera ser de origem antropogénica, é irrelevante. Importa é arranjar um culpado ou bode expiatório, mesmo que o pobre não tenha culpa alguma e até seja um bom sujeito, como é o caso.
Curiosamente, de certa forma este também não deixa de ser um exemplo de algum autocontrolo, o que sempre minimiza o total absurdo de toda esta questão, algo anedótica se não fosse potencialmente grave. Felizmente, a Terra tem mecanismos de auto-regulação que nos devem impedir de fazermos algum disparate grosseiro, pois a própria Natureza que nos deu a inteligência que, por vezes, tanto malbaratamos, é bem mais inteligente e sábia do que nós, vá lá.
Logo, esta treta do "global warming" tem pelo menos a vantagem de ser um 2 em 1 muito conveniente: sabemos que não é possível controlar as variáveis que deveras influenciam o clima, mas concentramo-nos na única, mesmo que sem qualquer significado, sobre a qual podemos ter alguma influência, através da mudança do nosso comportamento, individual e colectivo.
Claro que havia maneiras bem mais práticas e produtivas de o fazer, sem ter de montar todo este circo ou teatro do absurdo, mas somos ainda criancinhas que temem o papão e é o medo que nos guia e dá asas, por muito que até saibamos que esse "diabo" não existe... mas o atavismo do mal lá nos genes subsiste!
Porém, não deve estar longe o tempo em que finalmente iremos compreender que todos os processos naturais e físicos são inteligentes, e que a mera interacção entre tantas variáveis - que nem os supercomputadores dominam! - é uma prova claríssima dessa outra inteligência que tanto nos supera.
Aliás, por que é que não o reconhecemos agora, quando já o fizermos outrora?! Por soberba e ilusão de controle, claro. Em vez de cooperarmos com essa inteligência da qual somos o produto mais refinado, queremos apenas dominá-la e submetê-la ao nosso vão controle, como se tal fosse possível.
Ou ainda, o Homem age como se só ele fosse inteligente e tudo o resto fosse matéria bruta e estúpida, mas este é apenas o estádio adolescente em que nos encontramos, rebeldes querendo afirmar a nossa independência e lugar no universo.
No problem... desde que não fiquemos atolados nestas fantasias de controle e passemos ao estado adulto que não é mais que o regresso à unidade ou ecologia original. Daí, a suprema importância de conhecermos bem as civilizações que nos precederam e mesmo aquelas que actualmente não lutam contra a natureza porque comungam a sua sapiência... e isso é suma inteligência! :)
Já agora, e porque estes temas foram antes debatidos por aqui, também o conceito de informação é fulcral em todas estas considerações. De facto, vários físicos teóricos, entre os quais o famoso John Wheeler consideram que a matéria e a energia são uma simples manifestação da informação que é o verdadeiro constituinte do mundo físico.
ResponderEliminarClaro que de novo temos aqui a famosa entropia...que vedeta! :) Há, naturalmente, uma relação inversa entre inteligência e entropia, ou seja, a inteligência diminui a informação necessária para descrever um determinado estado, o que corresponde a dizer que é ela a responsável pela organização da matéria. Deste modo, é possível traduzir matematicamente a inteligência de um sistema, tal como disse atrás, a qual será tanto maior quanto menos caótico e mais ordenado ele é.
A final theory must be concerned not with fields, not even with spacetime, but rather with information exchange among physical processes. If so, the vision of information as the stuff the world is made of will have found a worthy embodiment. - Jacob Bekenstein
Information in the Holographic Universe
Nesse artigo, o autor calcula que 1 cm3 de matéria possa conter o absolutamente espantoso valor de 10^66 bits de informação, algo equivalente à entropia termodinâmica de um cubo de água com 10 mil milhões de quilómetros!!!
Ora se a moderna física avança nesta direcção, então o conceito de "inteligência", natural ou imanente, torna-se por demais evidente... ó gente! :)
A este propósito, e como homenagem a Wheeler, falecido este ano, eis esta interessantíssima discussão sobre o "princípio antrópico", o qual está intimamente ligado a toda esta questão da inteligência, claro, já que ela se tem de manifestar necessariamente nas próprias leis que governam este universo e só foram enunciadas pela inteligência humana há pouquíssimo tempo!
Modern quantum theory, the overarching principles of 20th century physics, leads to quite a different view of reality, a view that man, or intelligent life, or communicating observer participators are the whole means by which the very universe is created: without them, nothing. - John Wheeler
Se o homem criou deus à sua imagem, deve-lhe ter dado um lado bom (o "deus") e um lado mau (o "diabo").
ResponderEliminarLá está Gnomo! Tu dizes que o primeiro estádio da religião é conhecermo-nos a nos próprios mas eu acho que isso me leva ao ateismo.A negação de deus. Porque eu própria não tenho necessidade de me divinizar.
ResponderEliminarTu vês divindade em todo o lado. Eu vejo humanidade/natureza em todo o lugar.
Para quê uma religião?
De resto a maior parte das pessoas nem sequer pensa nisto e logo fica ao nível infantil...porém todos percepcionamos a existência do mal e do bem. Tu afirmas que o mal é a ausência de bem e eu digo-te que a minha mãe, católica ferrenha sempre me disse que o inferno era não ver deus.
(lol, reparei agora que vivo no Inferno! devo ser uma diaba)
Por acaso acho disparatada a afirmação segundo a qual mal é a ausência de bem.
ResponderEliminarSe um grade amigo pedir a outro: "por favor preciso de 5e para poder salvar a vida do meu filho" e o amigo sabe que isso é verdade mas não está para ajudar, o bem está completamente ausente.
Se além disso o amigo decidir matar após torturar o outro que lhe fez o pedido, podemos dizer que nesta segunda situação há muito mais mal - mas não faz sentido dizer que há menos bem.
A verdade é que um indivíduo que não viva a sua vida de forma ética, vai pensar sempre no interesse próprio e ser completamente egoísta. Menos bom que isso é impossível.
Mas é fácil ser pior que isso: basta prejudicar-se para fazer sofrer os outros. Não existe limite para o mal.
Assim, mesmo que se possa argumentar que mal e bem são incompatíveis, parece óbvio que o mal não se limita a corresponder à ausência de bem; tal como o bem não corresponde apenas à ausência de mal.
Eu vejo humanidade/natureza em todo o lugar.
ResponderEliminarPara quê uma religião?
Isso sim, é ser vidente, ó Maria inteligente! :)
Cá por mim, eu vejo é mamãs lindíssimas em toda a parte... é o meu estado de arte! ;)
Forget about religion and God and all that crap... most of all, let go of fear and evil, my dear!
Se vires o Buda, mata-o!
Já fizemos tanta trapalhada com todos estes conceitos, que temos mesmo de os lançar pela janela e começar tudo de novo.
Mas atenção ao que deitamos fora, cuidado! Quando nos examinamos, vemos algum propósito para a nossa existência? Somos seres inteligentes e conscientes, capazes de reflectir sobre si próprios e o mundo circundante?
De certa forma, este é o mesmo processo cartesiano do "penso,logo existo", mas aqui aplicado ao universo e a nossa relação com ele. E partindo também dessa capacidade básica que é o pensar e o sentir, indispensáveis para nos apercebermos do mundo e o nosso lugar nele.
Ora sendo esses actos inteligentes, a questão básica a saber é se tal inteligência é uma propriedade intrínseca da natureza e não de nenhuma divindade.
Aliás, Lennon disse-o muito bem:
God is a concept by which we measure our pain!
Mas, de novo, temos é ter cuidado para que essa dor e o medo associado não nos levem a rejeitar aquilo que nós próprios somos!
Basicamente, muitos dos conceitos ancestrais terão talvez de ser reformulados. Ateísmo não será já a negação de Deus, mas a da inteligência imanente e que permitiu o nosso aparecimento aqui. E fé é a crença viva nessa inteligência... the belief in ME!!!
Deveras, essa própria inteligência cresce e reproduz-se, e somos agora cada vez mais capazes de, imitando a inteligência primeva da natureza, criarmos também seres dotados dessa mesma faculdade.
Logo, o mal é negar e o bem é afirmar!
E saber que somos...
Rui leprechaun
(...sapiens homos!:))
Crer num deus só por sermos seres inteligentes só demonstra a típica mentalidade de superioridade que o Homem tem em relação aos restantes animais.
ResponderEliminarPara todos os efeitos somos apenas animais... com uma inteligência bem mais desenvolvida. Os crentes tendem a ver-nos como "especiais". Bem... nós somos apenas especiais por sermos talvez únicos em termos de nível de inteligência.
Aliás, eu acredito que a maior parte da nossa racionalidade é mais transmitida pela educação e pelo mundo que nos rodeia do que pela herança genética em si. É só ver os exemplos das várias crianças encontradas que foram criadas por animais. Elas não eram de todo tão racionais como nós. Não tinham, por exemplo, os conceitos de moralidade que nós temos.
Se a nossa inteligência, moralidade, etc. é dada por um deus, por que razão estas crianças não as tinham?
Luís
parece óbvio que o mal não se limita a corresponder à ausência de bem
ResponderEliminarClaro que os conceitos filosóficos são um pouco mais insubstanciais que os físicos.
Mas a comparação mantém-se: a noite e a escuridão existem, mas há partículas escuras? Humm... sei lá, pois se já falam em matéria e energia negra e outras místicas esquisitices... E ainda o anti-fotão... oh não!
A questão é pois a da sua existência autónoma, o que apenas pode ser sustentado num universo de dualidade, não meramente conceptual mas real.
No plano prático isto é importante, muito ao contrário destas histórias da carochinha de Deus e diabo e outros ET. Tal como é importantíssimo... vital mesmo!... saber se o Universo é intrinsecamente inteligente, de facto todos estes conceitos estão interligados.
Aliás, curiosamente eu creio que nem existem palavras para exprimir as ideias autónomas de não-inteligência ou não-consciência. Se assim for, isto até me parece bastante significativo.
Logo, se a inteligência é um bem e é só devido a ela que podemos fazer todas estas perguntas, que papel desempenha no universo... o que é a inteligência?
"A esperança é que dêem o próximo passo neste raciocínio e vejam que Deus está na mesma categoria. É uma ideia, um símbolo, uma marca do limite das nossas capacidades. Nada mais."
ResponderEliminarCuidado, por que é precisamente isso que defende o Pedro Arroja...
Leprechaun,
ResponderEliminar«Quando nos examinamos, vemos algum propósito para a nossa existência?»
Espero que sim. Tal quando olhamos para o pôr do Sol vemos algo belo e quando olhamos para o mar numa tempestade vemos algo impressionante.
Mas não é razoável assumir que o Sol faz aquilo para fazer um bonito nem que o mar está a tentar impressionar-nos. Este sentido das coisas damo-lo nós.
É o mesmo com o propósito e sentido da nossa vida. É algo que nós criamos e não algo que fizeram por nós. E neste caso é ainda mais claro, porque se há coisa absurda é o sentido da vida de um de nós ter sido criado por outrem. Isso seria uma vida sem sentido...
Lopes da Silva,
ResponderEliminarNão costumo ler o que o Pedro Arroja escreve. Mas não vejo o que ele possa defender que me leve a mudar de ideias só porque ele concorda.
Pode explicar?
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarMonsenhor Escrivá esceveu 999 exercícios.
ResponderEliminarSeria a Besta de patas para o ar?
20-07-2008 16:52
Gnomo,
ResponderEliminarli algures (não me lembro onde, eu sou anárquica nas leituras que faço, talvez em algum fragmento nas teorias da complexidade)uma ideia que me convenceu:
a inteligência seria a capacidade de adaptação de um qualquer sistema (fisico, quimico, biológico)se adpatar ao meio externo e evoluir no sentido de entrar em equlibrio com esse meio. Esta é fácil de imaginar, não?
Desta forma, e só desta, o Universo não seria mais que uma imbricação de sistemas inteligentes. A origem? Não sabemos.Investigue-se.
Ah! E porque me chama-se vidente? É só para a rima? ;)
Ó mui sábio Sr. Dr.:
ResponderEliminar(Será que o anónimo é a D. Bobone?! ;))
Há ainda outra pergunta complementar a seguir a essa:
Somos seres inteligentes e conscientes, capazes de reflectir sobre si próprios e o mundo circundante?
Aquilo que eu pretendo é óbvio. Ou seja, se temos um propósito, determinado pela nossa própria inteligência e consciência e NÃO por algo exterior a elas - e claro que falo aqui do Homo sapiens como espécie - por que razão não podemos imaginar ou conceder igualmente um propósito para tudo o resto?
Afinal, ele existe e é aparente. Nem interessa saber, pelo menos para já, se houve alguma intencionalidade preconcebida na evolução das asas, por exemplo. Elas servem para o voo, eis o seu propósito... voilà! Design inteligente ou aparente, essa é uma questão diferente.
E o interessante é que estas estruturas se vão aperfeiçoando, logo o tal propósito vai-se refinando.
Mas não ficamos ainda por aqui, porque o Homem pode proceder com propósitos deliberados e conscientes. Ou seja, mesmo que na natureza tal nem se verifique, houve pelo menos uma altura na evolução em que surgiu esse propósito à priori, determinado de antemão.
Mas isto fica para a actual discussão sobre o tema, que espero venha a aclarar alguns pontos naturalistas sobre o que é na verdade o tão famoso "propósito"! :)
E porque me chamas vidente? É só para a rima? ;)
ResponderEliminarNá! É só propósito inconsciente de um Gnomo incipiente!
Ou seja, é o que sai... hello goodbye! :)
Logo, de facto assim não vou lá. Eu a dizer que a natureza já é inteligente e a proceder como um demente! :D
Essa definição de inteligência está exactíssima, preciso de me documentar sobre isso.
A inteligência seria a capacidade de adaptação de um qualquer sistema (físico, químico, biológico) ao meio externo e evoluir no sentido de entrar em equilíbrio com esse meio.
Mas esse equilíbrio tem de ser sempre dinâmico, sem desafios morre-se! A existência é luta, o grande combate anti-entropia... ó sábia Maria! ;)
É também por isso que há saltos evolutivos e as tais tragédias - súbitas alterações do meio - são enormes oportunidades para avançar um passo mais e o caminho desbravar!
O universo não é estático e nele tudo decorre em ciclos, é essa a verdadeira origem da astrologia no perscrutar as regularidades celestiais. Ora hoje, parece que há por aí muito doutor que já esqueceu uma sabedoria tão elementar e quando algo varia um pouquinho mais... aqui-d'el-rei que o mundo vai acabar e ainda vamos torrar!
Claro que a inteligência natural está presente na complexidade, porque é ela própria que a guia. Procurando sempre escolher a melhor hipótese, como no jogo de xadrez. E se não o faz logo à 1ª, vai à 2ª ou à 3ª até dar... toca a perseverar!
Porque a inteligência natural não é omnisciente, ela também evolui e se aperfeiçoa como tudo o resto.
Quanto à origem, talvez só valha a pena investigá-la depois de compreendermos melhor ainda o seu funcionamento. Mas a mim parece-me rematada loucura negar algo tão simples e auto-evidente...
Rui leprechaun
(...ó Senhora inteligente! :))
Carlos Esperança,
ResponderEliminarnão sei se era de patas para o ar, mas lá Besta com "B" era de certeza.
Cristy
«O contacto com a cultura Persa deu aos Judeus uma visão mais zoroástrica do conflito entre o bem e o mal como a luta constante de duas forças opostas.» (...) «influenciou os autores das Crónicas, escritas após o exílio» (...)
ResponderEliminarNão me parece que as Escrituras Hebraicas apresentem esses exemplos. Por exemplo, essa passagem pode ser explicada comparando com o livro de Jó (ou Job). O "satan" começa a ser referido em Números, como sendo um enviado de Deus para eliminar Balaão que foge no seu jumento. Em Salmos deseja-se que se coloque Satã ao lado direito dos pecadores como bufo divino para julgamento. Em Zacarias, aparece o mesmo, como um advogado de acusação que é repreendido pelo advogado de defesa.
Acho que a imagem Satanás como representante do Mal só surgiu após a escrita das Escrituras Hebraicas. O significado de "messias" também era diferente: David, Ciro e Alexandre, o Grande eram messias (ungidos por Deus). A ideia que temos agora de Messias parece ter influência persa (ao ponto de as primeiras representações dos reis magos que seguiam a estrela de Belém terem vestes de astrólogos persas), tal como a ressurreição dos mortos, a imortalidade e o Juízo Final (vide Wikipedia). Na altura do Jesus Christ Superstar os sacerdotes judeus discutiam esses temas, sendo os fariseus os liberais.
Leprechaun,
ResponderEliminarfaz mais sentido dizer que o mal é a ausência de mal. ;-)
Se apontar uma pistola, premir o gatilho e matar alguém, há ausência de bem.
Se souber que alguém vai cometer homicídio, e não fizer nada para impedir, há ausência de bem.
Se não pagar os impostos, há ausência de bem.
Se oferecer uma faca a alguém, pode haver bem, mas se for usada para matar alguém, então também há mal (mesmo que não fosse a intenção de quem oferece, pois a consequência vai ser má).
No início havia o caos...
Nova arma da igreja contra o mal
ResponderEliminarDARTH VADER!!!
Sgt. Hartman,
ResponderEliminarvê aqui a verdadeira identidade do imperador Palpatine
- com,
ResponderEliminarele é mais parecido com outro.