Evolução, Tautologia, e Teorias Testáveis.
Um argumento criacionista engraçado é que a teoria da evolução (TE) é uma tautologia, não pode ser testada nem é refutável, e assim não pode ser científica. A graça é ver este argumento dado pelo mesmo criacionista que diz refutar cientificamente a TE. Como, por exemplo, o Jónatas Machado, que após muitas tentativas de mostrar que as previsões científicas da TE estão mal, afirma que «Na verdade, o evolucionismo é que não faz previsões científicas».
Ora aí está. Um golpe mortal nesta teoria, que não só foi refutada como foi provada irrefutável.
Este argumento é atraente por causa da tal tautologia. Uma tautologia, em sentido lato, é uma afirmação que é necessariamente verdadeira pelo significado dos termos, e a favorita dos criacionistas para demonstrar como a TE não faz sentido é algo como: a TE diz que os mais aptos sobrevivem, mas define os mais aptos como sendo os que sobrevivem, o que é uma tautologia pois é sempre verdade por definição, e por isso a TE é irrefutável e não científica.
Mas as tautologias não são sempre inúteis. Por exemplo, «se o triplo de X é seis, então X é dois» é uma tautologia, pois tem que ser verdade pelo significado de termos como triplo, seis, e dois. Sempre que criamos modelos matemáticos acabamos por depender de tautologias, como: «Se um combóio se desloca a 100Km/h, em duas horas percorre 200Km».
A TE é um conjunto de modelos matemáticos acerca da forma como populações de replicadores vão mudando ao longo do tempo, e na base da TE temos a seguinte tautologia, simplificada para omitir os detalhes quantitativos:
Se numa população de entidades que se replicam:
1) Há herança de algumas características.
2) Há competição por recursos limitados.
3) O sucesso reprodutivo depende, pelo menos em parte, das características herdadas.
Então
4) A cada nova geração será mais provável um aumento na frequência das características relacionadas com maior sucesso reprodutivo, relativamente à frequência das outras características.
Isto é tão tautológico como X ser dois se o seu triplo for seis. Pelo significado dos termos, sempre que 1), 2) e 3) são verdade, 4) é necessariamente verdade.
Pois é verdade que estas tautologias não são testáveis. Nem é testavel a definição de um conceito na teoria. A velocidade é a derivada da posição em função ao tempo. A viabilidade de um genótipo é a fracção de indivíduos com esse genótipo que chega à idade reprodutiva. Não se testa se estes termos são assim ou não, pois isto são definições.
O que é testavel é a hipótese de podermos aplicar a tautologia. Por exemplo, o que é testável em «Se o combóio se desloca a 100km/h percorre 200km em duas horas» é a condição. Será que o combóio se desloca a 100km/h durante duas horas? Se sim, então aplicamos a tautologia e concluímos que percorre 200km. Se não, então temos que usar outra.
Na TE testamos se o objecto é uma população de replicadores nas condições 1), 2), e 3). Um saco de pedras não preenche estas condições. Características não hereditárias não preenchem as condições. Uma espécie em que os organismos nasçam com características ao acaso em vez de as herdarem dos pais não preenche as condições. A TE, tal como outras teorias científicas, contém tautologias e definições, mas é testável porque se aplica a casos bem definidos que podemos testar.
O criacionismo não. Tem uma tautologia: «se um deus omnipotente criou os seres vivos, pode tê-los criado da forma como eles são». Pelo significado de omnipotente, isto é necessariamente verdade. Mas ter uma tautologia não é o problema. O problema é que esta não nos permite determinar se podemos aplicar a teoria da criação ou não. Qualquer que seja o objecto, é sempre possível que tenha sido criado por um ser omnipotente, e é sempre possível que tenha surgido de outra forma qualquer. É por isso que o criacionismo não é falsificável, e é por isso que se reduz a uma mera afirmação de fé num criador omnipotente.
Eu não sou criacionista, não sei se Deus existe, prá mim é irrelevante(engraçado que precise dizer isso).Talvez, como foi sugerido por um bioquímico, que no momento não lembro o nome, a vida deve ser encarada como um dado, como a matéria e a energia na Fisica. Seria melhor assim do que defender teorias com grandes problemas, como a falta de evidência histórica, por exemplo,que é admitida até pelo maior defensor da evolução, Richard Dawnkins e muitos outros evolucionistas. As "pequenos dificuldades" da teoria são resolvidas com muita retórica e hipóteses complementares(equilíbrio pontuado,etc..) e argumentos plausíveis no universo das coisas que não podem ser verificadas. Tudo isso é só porque alguns cientistas acham que fazer a menor crítica a teoria da evolução significa dar armas para os criacionistas (olhar crítico = argumentação criacionista) e estes acham que se a teoria carece de evidência histórica então está provado que Deus existe, junte as duas coisas. Darwin conseguia olhar de maneira crítica para a sua teoria, Dawnkins, o gênio da retórica inteligente, não consegue, segundo ele, Darwin permitiu que ele fosse "um ateu realizado". Olha a preocupação do cara?
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