O pulmão natural.
Os dirigentes da Igreja Católica têm estado a decidir se a Idade Média já acabou. O assunto pode parecer simples para quem está de fora mas, como o Espírito Santo diz umas coisas ao Papa e outras aos bispos, a decisão está complicada. Entretanto, alguns comentadores católicos por cá já chegaram à sua verdade revelada. Admito que aquilo que João César das Neves pensa acerca do casamento e do divórcio é entre ele a a sua esposa, e o que Gonçalo Portocarrero de Almada pensa é só com ele. Mas achei piada aos argumentos que apresentam para fazer de conta que não defendem um disparate.
Neves argumenta que o divórcio é inadmissível com uma analogia entre o cônjuge e o pulmão. «Tenho problemas respiratórios desde pequeno, com asma, bronquites, etc. Viver com os meus pulmões não é nada fácil, mas nunca me passou pela cabeça andar sem eles.» Foi «pelas mesmas razões» que não lhe ocorreu divorciar-se (1). É uma analogia estranha mas reveladora da noção que Neves tem do casamento. Eu não trocaria os meus pulmões porque, com a medicina que temos hoje, isso teria consequências desagradáveis. Mas se, quando eu tiver sessenta anos, a medicina permitir trocar de pulmões com a mesma facilidade com que se tira um apêndice, não verei problema ético nenhum em trocar os meus pulmões de sessenta anos por uns de vinte. Trocar assim de cônjuge já não seria um acto moralmente neutro. Mas, ao contrário do que Neves defende, isto não tem nada que ver com preservarmos «aquele corpo a que pertencemos desde que nascemos». Não se trata de um dever de permanecer juntos só porque calhou estar juntos. Tem que ver com o cônjuge ser uma pessoa e não um apêndice.
À primeira vista, isto pode parecer dar ainda mais razão à tese de Neves por ser pior trocar de cônjuge do que de pulmões. Mas o dever de ter consideração pelo cônjuge pode tornar o divórcio numa obrigação moral se a relação não for aquela que ambos merecem. A tese de Neves revela um problema comum a muitas religiões: descurar o facto de que, mesmo quando fazem parte de famílias, comunidades ou cultos, as pessoas continuam a ser indivíduos. Não passam a ser órgãos.
Gonçalo Portocarrero de Almada tenta chegar ao mesmo sítio por outra via. Invoca que «O matrimónio cristão [é] o casamento natural elevado à condição de sacramento» e que, por ser natural, «essa união só pode ser estabelecida entre uma mulher e um varão e deve durar enquanto os dois cônjuges forem vivos.»(2). Concordo que o casamento é algo natural na nossa espécie. A nossa espécie é, apesar do que por vezes parece, especialmente inteligente, e temos muito a ganhar por viver em grupos mistos de adultos e crianças. No entanto, as nossas crias precisam da atenção de ambos os progenitores, o que exige que os machos saibam quais são as suas crias. A dificuldade de combinar a vida em grupo com o investimento paternal e evitar que os machos matem as crias dos outros obrigou a nossa espécie a criar rituais e normas de comportamento que permitissem este tipo de colaboração. O casamento é um dos mecanismos resultantes desta pressão.
Mas se há algo natural na nossa espécie é a capacidade de nos adaptarmos às circunstâncias. É por isso falso que o casamento tenha de ser entre “uma mulher e um varão” e durar a vida toda. Todas as culturas têm formas de divórcio e quantos casam com quem e com quantos depende das condições em que vivem. Culturas nas quais os homens arriscam frequentemente a vida em confrontos para capturar recursos tendem a favorecer a poliginia. Habitar em regiões mais pobres pode favorecer a poliandria, com uma mulher tipicamente casando com dois irmãos, o que lhe permite reunir os recursos necessários para criar os filhos. Com a formalização legal das uniões e a separação entre o Estado e a vida privada, é perfeitamente natural que o casamento possa ser a união entre duas pessoas, qualquer que seja o sexo. Não será um matrimónio no sentido original do termo mas, como as evidências claramente demonstram, não sai do intervalo de adaptabilidade destas normas sociais.
É perfeitamente legítimo que os católicos concebam o seu casamento como bem entenderem. Mas a sua condenação do divórcio é uma idiossincrasia religiosa que não reflecte qualquer realidade profunda acerca da natureza humana ou dos transplantes de órgãos.
1- DN, Amputação
2- Voz da Verdade, Divórcio, casamento natural e matrimónio cristão
António,
ResponderEliminarCada católico pode conceber o seu casamento como bem entender. Tem essa liberdade. Por isso, um católico pode decidir que não se vai divorciar.
No entanto, é falso que o divórcio seja algo que se tenha de excluir, seja pelas limitações da medicina seja por algum facto da natureza.
E, tal como qualquer católico tem o direito de conceber o seu casamento como bem entender, tem também o dever de respeitar o mesmo direito do seu cônjuge. Assim, se o cônjuge do católico quiser o divórcio o católico tem o dever de respeitar esse desejo.
António,
ResponderEliminar«Em relação à doutrina da Igreja sobre o divórcio, cada um é livre de a aceitar ou não.»
Esta frase é um pouco ambígua. Se queres dizer que cada um é livre de aceitar ou rejeitar porque se trata de uma questão de valores pessoais acerca da qual todos têm igual legitimidade de opinar, na condição de opinarem acerca das suas escolhas sem limitar as de terceiros, estamos de acordo.
Se queres dizer que as pessoas deve ser livres de aceitar ou não mas que, objectivamente, a posição católica é a correcta por causa da amputação, do casamento natural, do Pai Natal ou do que raio for, então a crítica que dirigi aos comentadores mencionados no post dirijo-a a ti também. A minha crítica não foi à opinião pessoal de quem é contra o divórcio enquanto opinião pessoal. Se alguém disser “eu não me divorcio porque não acho certo que alguém se divorcie”, por mim está tudo bem desde que o cônjuge não queira o divórcio. A minha crítica foi aos argumentos segundo os quais isto é algo objectivamente verdadeiro e não uma mera questão de preferência pessoal.
«Considero que a Igreja e os católicos têm o direito de defender o casamento como bem entenderem e também de se manifestarem contra o divórcio, sem que isso signifique coartar a liberdade de alguém»
Aqui também não ficou claro o mais importante. Eu concordo que os católicos têm o direito de opinar como entenderem. Mas isso vale para ambos os casos. Vale para os católicos que são contra o divórcio, mas vale também para os católicos que aceitem o divórcio. E acho que é uma violação indecente da liberdade religiosa que um católico que opte por se divorciar seja excluído da participação nos rituais da sua religião.
Este é um aspecto importante por causa duma diferença acerca do que é a religião. Justifica-se que haja um direito à crença religiosa como direito humano pelo direito da pessoa ter as suas crenças e adorar os seus deuses. Justifica-se que ninguém seja impedido de praticar uma religião porque a pessoa tem o direito a essa prática, desde que não viole direitos análogos a terceiros.
Mas isto implica que todas as questões doutrinárias fiquem subordinadas aos direitos das pessoas. Não é a religião que tem direitos. Não é a doutrina que tem direitos. É a pessoa que tem direitos. Por isso, parece-me inaceitável que uma religião viole os direitos religiosos dos seus adeptos por motivos doutrinários.
«O que achei estranho no último parágrafo foi estar implícito ilegitimidade na crítica ao divórcio.»
Enquanto liberdade de expressão, a crítica é sempre legítima, por muito infundada ou disparatada que seja. Mas enquanto crítica e argumento, será mais legítima se for sólida e menos legítima se for um disparate.
Conclusão: nunca confiar num Espírito Santo...
ResponderEliminar«É objectivamente verdadeiro e não uma mera questão de preferência pessoal.»
ResponderEliminarÉ isso que critico por ser um disparate. Não tens legitimidade para dizer isso acerca dos casamentos dos outros.
«Lê o regulamento interno da associação ateísta de que és vice-presidente: determina a pena de expulsão "fundamentada em qualquer atitude ou desrespeito grave dos valores, princípios, objectivos e normas que regem a Associação;". Parece-me que é uma violação indecente da liberdade individual, de expressão e de pensamento.»
Estás a baralhar as coisas.
Há aqui dois direitos em conflito. O direito de alguém pertencer a uma organização e o direito de quem pertence a essa organização decidir quem pode fazer parte da organização. A lei regula esse conflito exigindo das associações que:
1- Respeitem os princípios da democracia. Por isso, em todas as associações o órgão soberano é a Assembleia Geral, composta por todos os associados. Esse órgão tem o poder de alterar os estatutos sempre que a maioria dos membros da associação quiserem. Não é o Papa. Não é o sínodo dos bispos. É toda a gente, democraticamente, que decide.
2- Respeitem a lei e a Constituição. Não é permitido uma associação ter nos seus estatutos artigos que sejam contrários á Constituição. Por exemplo, não é permitido a uma associação de ateus expulsar alguém ou recusar admissão por causa da religião dessa pessoa, porque a Constituição proíbe que se faça esse tipo de discriminação.
Nestas condições, parece-me aceitável dar aos membros de cada associação o direito de decidirem as regras desse grupo desde que respeitem estes princípios democráticos, legais e constitucionais.
E por mim ficava-se por aqui. As religiões todas seriam associações também, regidas pelos mesmos princípios.
No entanto, as religiões dizem que são coisas especiais porque a fé de cada um é uma coisa especial. Não me parece um argumento muito convincente, porque a fé pode ser especial sem ser religiosa. Mas, mesmo admitindo que a fé religiosa seja mais especial, se o que fundamenta as religiões estarem isentas destas restrições é o direito individual à fé, então as religiões têm de respeitar esse direito à fé.
Se a religião católica decide impedir os católicos divorciados de participar na missa está a violar esse alegado direito especial que supostamente fundamentaria o estatuto especial da igreja católica enquanto associação. Se, por outro lado, defendes que deve ser uma associação como as outras, então essas medidas só poderão ser tomadas se estiverem em conformidade com a legislação vigente – e duvido que se possa discriminar as pessoas por algo pessoal como estar divorciada – e sujeitas à vontade da maioria dos associados.
António,
ResponderEliminar«tu pareces tê-la já que opinas sobre o casamento católico»
Não opino sobre o casamento de ninguém. Opino sobre os argumentos daqueles que acham que a sua opinião acerca dos casamentos dos outros é mais legítima do que a dos próprios.
«Não é possível efectuar uma assembleia geral com 3 mil milhões de católicos.»
Não é preciso uma assembleia geral com toda a gente. Podem perguntar aos sócios em cada paróquia ou diocese se querem excluir da missa outros católicos só porque se divorciaram.
«3) A Igreja Católica é uma instituição supranacional. Não é compatível cumprir a Constituição portuguesa e a constituição norte coreana em simultâneo. São os católicos, cada um por si, que cumprem as leis e a Constituição do país em que vivem.»
A McDonalds também é uma instituição supranacional. No entanto, não pode ter políticas de admissão aos restaurantes que violem a legislação em vigor em cada país.
«O que está aqui em causa é o princípio de penalização por não cumprimento de regras internas: nesse caso, defendes que o podes fazer mas negas esse direito a outros.»
Não. Eu defendo que uma associação o pode fazer apenas quando respeita a legislação em vigor e quando isso é a vontade da maioria dos associados. Eu defendo que nenhuma associação pode fazer isso à revelia da Lei e da Constituição ou da vontade da maioria dos associados.
« Quem adere ao catolicismo sabe as consequências do divórcio em termos de participação na Eucaristia.»
O que seria razoável se, tal como a Associação Ateísta Portuguesa, a Igreja Católica também só aceitasse associados com mais de 18 anos. Mas se os baptizam logo à nascença essa ideia de que «Quem adere ao catolicismo sabe as consequências» é um belo disparate.
António,
ResponderEliminar«Pelos vistos, confesso a minha surpresa, consideras que o Estado deve legislar sobre os rituais católicos. Tomo nota.»
Não percebo a surpresa. Parece-me perfeitamente evidente que o Estado deve regular as religiões de forma a que a prática religiosa cumpra as leis vigentes. Lá por ser um ritual católico não quer dizer que possa ignorar a lei. Se olhares para as práticas da tua religião ao longo da história certamente encontrarás exemplos de coisas que o Estado pode e deve proibir se alguém se lembrar de as fazer hoje.
«Defendes a Lei e a Constituição porque as consideras favoráveis ao que pensas.»
Claro que sim. Uma das razões que me levam a ser ateu é o hábito de só defender aquilo com o qual concordo.
«Não acredito que se algum filho teu tiver tendências religiosas não o queiras influenciar. Até estou convencido que nesse campo seja mais tolerante do que tu.»
Sim. Já reparei que não hesitas em ficar convencido de que sabes mais da vida privada dos outros do que eles próprios, seja do casamento, do divórcio, das relações sexuais ou da forma como educam os filhos...
António,
ResponderEliminar«O que diz o catecismo da Igreja Católica é que todos os católicos devem respeitar as leis e a Constituição dos países em que vivem.»
A Constituição diz que é proibido discriminar as pessoas quanto ao sexo. Por isso, é proibido que qualquer organização impeça as mulheres de ocupar algum cargo na organização. Impedir uma pessoa de praticar a sua religião só porque se divorciou também me parece atentar contra as leis de liberdade religiosa.
O ponto principal aqui, já que gostas tanto de fazer a analogia entre a AAP e a ICAR, é Igreja Católica em Portugal não respeita as nossas leis, nem a nossa Constituição, nem os direitos fundamentais das pessoas. Como, por exemplo, o direito de uma pessoa religiosa não ser impedida de participar na sua religião só por se ter divorciado.
«Quanto ao passado, verifico que és defensor do conceito de pecado original, na versão ateísta. Consideras-me responsável por dois mil anos de história.»
Considero-te responsável pelos disparates que escreves. Apenas isso. Eu mencionei esses dois mil anos de história para tornar evidente, até para ti, que se justifica que o Estado regule a prática religiosa de forma a impedir que as religiões violem os direitos das pessoas. Nunca te responsabilizei pela Inquisição, autos de fé, cruzadas ou afins.
«Quanto ao último parágrafo, o que referi é apenas baseado naquilo que tomei conhecimento pelo que escreves nos posts ou caixas de comentários...Nada mais. Posso estar equivocado? É possível.»
Mas, se nos basearmos no que cada um de nós escreve e defende aqui, penso que é razoável concluir que tu doutrinas muito mais os teus filhos do que eu os meus. Por exemplo, eu nunca levei os meus filhos à AAP mas, pelo que escreves aqui, suspeito que já tenhas levado os teus à missa.
António,
ResponderEliminar«1) Se fores à missa ao domingo, verás que há mais mulheres do que homens na assistência.»
Mas nunca no altar a dirigir os rituais. O problema, quer legal quer moral, não está na proporção de sexos na assistência, porque essa será o que os membros da assistência fizerem ser. O problema está nas regras que vedam o acesso a certos cargos na organização com base no sexo. É essa discriminação que é ilegal e imoral.
«Não provaste que eu escrevi nenhum disparate.»
Não se trata de provar. Trata-se de argumentar. Eu argumento contra os disparates que escreves, como por exemplo «és defensor do conceito de pecado original, na versão ateísta. Consideras-me responsável por dois mil anos de história.»
OS PROBLEMAS LÓGICOS DO LUDWIG COM VALORES E NORMAS MORAIS
ResponderEliminar1) O Ludwig é naturalista, acreditando que o mundo físico é tudo o que existe. Sendo assim ele tem um problema, porque valores e normas morais não existem no mundo físico.
2) O Ludwig diz que a observação científica é o único critério válido de conhecimento. Ora, nunca ninguém observou valores e normas morais no campo ou em laboratório.
3) O Ludwig diz que a moral é subjectiva. Ora, se são os sujeitos que criam valores e normas, eles não estão realmente vinculados por eles, podendo cada um criar valores e normas a seu gosto, o que nega a existência de normas morais.
4) Se a moral é subjectiva, como o Ludwig diz, dificilmente se poderá justificar qualquer pretensão de conferir validade universal às pretensas normas proclamadas pelo Ludwig.
5) O Ludwig está sempre a dizer aos outros que não devem dizer aos outros o que devem ou não devem fazer. Ou seja, ele faz exactamente o que diz que os outros não devem fazer.
6) De milhões de anos de processos aleatórios de crueldade, dor, sofrimento e morte não se deduz logicamente qualquer valor intrínseco do ser humano nem qualquer dever moral de fazer isto ou aquilo.
Conclusão: sempre que fala em valores e normas morais o Ludwig é irracional e arbitrário.
P.S.
É claro que muitos ateus têm valores! Também eles foram criados à imagem de um Deus moral e muitos vivem com dignidade e liberdade numa civilização judaico-cristã.
O problema é que os ateus não conseguem justificar logicamente esses valores a partir da visão do mundo naturalista e evolucionista a que aderem pela fé.
Como diz a Bíblia (Romanos 1, 21 e 22):
“tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe renderam graças…”
“…dizendo-se sábios, tornaram-se loucos”.
O Ludwig defende o divórcio com entusiasmo, criticando aqueles que pretendem defender o ideal do casamento para toda a vida.
ResponderEliminarÉ claro que nalguns casos o divórcio é inevitável e é a solução menos má. Mas não devemos celebrá-lo, como se fosse algo de intrinsecamente bom, atendendo ao modo como afecta negativamente a saúde as crianças envolvidas, com reflexos na saúde pública, ao contrário do que sucede com os efeitos positivos de bons casamentos.
Isto para não falar da delinquência e violência juvenil, abandono e insucesso escolar, pobreza, consumo de drogas, etc., associadas a roturas familiares.
Em última análise, todos sabemos que numa sociedade decaída constituida por pessoas pecadoras e falíveis, é contraproducente obrigar duas pessoas a permanecerem casadas contra a sua vontade, sendo que isso também é negativo para as crianças envolvidas.
A própria lei de Moisés admitiu o divórcio, "por causa da dureza dos corações".
No entanto, em vez de defender uma cultura de amor próprio, egoismo, infidelidade e rotura, pode-se procurar desenvolver uma cultura que valorize positivamente a estabilidade conjugal e crie recursos e soluções que permitam aos jovens e adultos aprender a adaptar-se às novas situações da vida melhorando o seu casamento e não recorrendo ao divórcio.
O PAPA, a CRIAÇÃO E A EVOLUÇÃO
ResponderEliminarO Papa veio recentemente dizer que Deus não é um mágico, não fazendo as coisas de repente. Para ele, Deus criou através do Big Bang e da evolução, ao longo de milhões de anos.
Existem vários problemas teológicos e científicos com esta afirmação. Vejamos alguns:
1) O ensino acerca da criação, queda, corrupção e dilúvio global é reiterado desde o Génesis até ao Apocalipse. No Novo Testamento, Jesus Cristo fala da criação de um homem e de uma mulher no princípio da Criação, e não no fim dela como ensina o (Big Bang), mencionando também o dilúvio global. O Apóstolo Paulo afirma que todos descendemos de um só homem e que a morte entrou no mundo por causa do pecado de Adão. O Apóstolo Pedro prediz que nos últimos anos muitos se irão esquecer do dilúvio global dos tempos de Noé. Adão, Eva, Caim, Abel, Noé são mencionados como personagens históricos reais. Se o Papa não acha credível todo esse ensino, que pensará ele do único versículo da Bíblia em que se apoia o Papado se pretende apoiar?
2) As teorias do Big Bang e da evolução constituem tentativas, assentes em premissas do naturalismo filosófico ateu, para explicar tudo sem recorrer a causas inteligentes e sobrenaturais. Em sentido contrário, o Apóstolo Paulo ensina que as evidências da inteligência e do poder de Deus são facilmente visíveis na criação, sendo as pessoas inexcusáveis por não levarem essa evidência a sério. A estrutura matemática e computacional do Universo, os códigos complexos e miniaturizados, contendo quantidades inabarcáveis de informação e meta-informação genética e epigenética altamente densa e complexa, juntamente com os triliões de triliões de galáxias e estrelas que se sabe existirem no Universo, testemunham de um Deus racional, omnipotente e (super-)inteligente. Se o Universo, a vida e o homem foram efetivamente criados por um Deus racional e omnisciente, porque é que o Papa não acredita na teoria do design inteligente e muito menos na doutrina bíblica da criação?
3) A criação tal como é ensinada na Bíblia é um processo racional, ordenado, estruturado, poderoso, eficaz e pleno de intencionalidade, cuidado e bondade. Ele adequa-se plenamente aos atributos de racionalidade, poder e moralidade com que Deus se revela. O homem tem dignidade intrínseca e capacidade racional e moral porque criado à imagem de Deus. Na Bíblia, a morte, a corrupção e a catástrofe são a consequência do pecado humano e da maldição que, por causa dele, Deus fez impender sobre toda a Criação. É livrar das consequências eternas do pecado que Jesus Cristo incarna, morre e ressuscita ao terceiro dia, no evento mais marcante da história universal. Em sentido contrário, a evolução tal como apresentada por Darwin e os darwinistas atuais é um processo cego, irracional, ineficiente, cruel, assente em milhões de anos de predação, doenças, sofrimento e morte, sem qualquer sentido moral. O homem é um acidente cósmico aleatório, sem qualquer pretensão de dignidade, racionalidade e moralidade.
O Papa pretende conciliar duas realidades inconciliáveis. No Novo Testamento diz-se que quando
Pedro tentou conciliar dois ensino opostos sobre a lei, de procedência judaica e cristã, Paulo argumentou duramente com ele e “resistiu-lhe na cara”. É isso que devemos fazer ao Papa Francisco.
Caro António,
ResponderEliminarDuvido que algum dia tenha a resposta pretendida.
Eu já tentei e não consegui... mas espero que não desista. Já dizia Camões: "vale sempre a pena quando a alma não é pequena".
O criacionismo tem um ponto interessante. Se o Génesis , escrito como uma narrativa de factos, e referenciado noutros livros e mesmo por Cristo não se refere a factos históricos mas a outra coisa qualquer que confiança podem ter os cristãos nos outros relatos como o da ressurreição?
ResponderEliminarDizer que um foi assim escrito para ser entendido noutra época levanta a dúvida se a ressurreição não é um relato alegórico para ser entendido por malta doutra época.
Acho que o Génesis é um grande bico de obra.
A posição do Criacionismo e a da ICAR são tentativas de resolver um problema que me parece insolúvel.
ResponderEliminarA base teórica do cristianismo é a Bíblia. Quando os livros foram escolhidos como base não havia grande coisa a opor.
Certamente foi por isso que foram escolhidos estes e não outros.
O bico de obra aparece com a ciência moderna. Os relatos base aparecem como produtos culturais duma época e com os erros próprios da época.
Para salvar a coisa surgem duas doutrinas:
Os YECS negam todas as evidências contrárias e verberam que foi mesmo assim.
usam todos os argumentos possíveis e imaginários, tapam os ouvidos, fecham os olhos e gritam : LÁ LÁ LÁ. ...
A ICAR diz que não é incompatível, que ele são coisas diferentes, que nuns pontos da narrativa foi mesmo assim, que pouco importa, que se tem de ler o texto no contexto , que a tradição ainda é o que era, que eruditos eruditaram sobre a questão e assim pode ser e por aí fora.
Parecem os velhos militantes do PCP quando lhes fazem perguntas sobre o comunismo....
E o que é que a Idade Média tem a ver com o assunto? Querem ver que em 1909 estávamos na Idade Média?! Que eu saiba foi a República que legalizou o divórcio e o Estado Novo depois deu três passos atrás, os quais duraram até 1975.
ResponderEliminarEsta mania de atribuir à Idade Média tudo o que parece atrasado, fruto de ignorância histórica, devia evitar-se de vez.
Cristina Sobral,
ResponderEliminarhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Hipérbole_(figura_de_estilo)
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarQue desagradáveis as hipérboles que obscurecem a vista!
ResponderEliminarAlguma luz para os seus tempos livres:
file:///C:/Users/Cristina/Downloads/Regine-Pernoud-Luz-Sobre-a-Idade-Media.pdf
(desculpe a eliminação anterior, achei que tinha posto o link errado)
"Não percebo a surpresa. Parece-me perfeitamente evidente que o Estado deve regular as religiões de forma a que a prática religiosa cumpra as leis vigentes"
ResponderEliminarFoi isso que os comunistas ateus fizerem, com os resultados que se sabe.
Mats
Cristina Sobral,
ResponderEliminarO link errado foi este último (aponta para um ficheiro local, na pasta Users/Cristina, e não para um URL online).
Mas não é muito importante. Se reler o meu post verá que não é sobre a idade média. É sobre o divórcio. Se substituir em «Os dirigentes da Igreja Católica têm estado a decidir se a Idade Média já acabou» a expressão “Idade Média” por século XIX, século XX, século XVIII ou o que quiser o post fica exactamente na mesma. Não há nada no meu argumento que dependa da premissa de que o divórcio se legalizou na idade média.
É por isso que usei hipérbole nessa expressão. Precisamente por ser irrelevante para o que eu estava a argumentar. Caso contrário, seria realmente uma hipérbole que obscureceria a vista. Mas, neste contexto, não é.
E não foi por ignorância, que antes de escrever o post andei a ler sobre isso. Mas nunca pensei que alguém que lesse este texto fosse embicar com essa expressão irrelevante. Julguei que havia mais substância aqui para discutir. Peço desculpa por esse meu equívoco.