domingo, julho 27, 2014

Treta da semana (passada): números pares.

«11:11 – Tem Visto Números Pares Por Toda a Parte?», pergunta o título da notícia no portal Prisão Planetária, na secção sobre “Espiritualidade” (1). A primeira frase do artigo é ainda mais intrigante: «Quantos de vocês já tiveram a experiência em ver números pares (11:11) por todo o lado.» O cérebro insiste que termina num ponto de interrogação e, assim que os olhos finalmente o convencem de que não, que é mesmo uma afirmação, interroga-se como raio 11:11 é “números pares”. O enigma esclarece-se ao perceber que este artigo é uma tradução de um outro no site “Waking Times” (2) que por sua vez se baseia num “estudo” do Uri Geller (3). O potencial para a confusão é assim superior a 8000*.

Resumindo, trata-se do extraordinário, enigmático, assombroso e transformador fenómeno de olhar para o relógio e serem 11:11 da manhã ou da noite. Ou 1:11, que também dá e, aparentemente, também é par. Notem que isto vem de alguém que nos assegura «não sou um viciado em horas». Trata-se assim de um testemunho idóneo, muito diferente das alegações duvidosas de quem estiver viciado numa qualquer unidade de tempo.

Olhar para o relógio regularmente a estas horas (mas sempre sem vício) foi um «um gatilho, género de uma activação» que levou a consciência da autora do artigo original «a despertar e a recolher as informações que eu tinha esquecido antes de minhas experiências com os números 11:11. E é isto que muitas vezes acontece, quando você começa a ver estes números, algo muda dentro de si.» Isto explica porque só agora é que a humanidade está a acordar para a consciência planetária, pois este processo seria impossível com relógios de sol, clepsidras ou relógios mecânicos de ponteiro. Só com o advento do digital é que conseguimos expandir a nossa espiritualidade. Por exemplo, parando o forno de micro-ondas aos 00:01 enquanto trauteamos a música da Missão Impossível.

O artigo do Uri Geller também é muito interessante. 11:11 está relacionado com 11 de Setembro. O nome “Setembro” vem do Latim para sete, septem, de um calendário original de 10 meses. Com a adição de Janeiro e Fevereiro, Setembro passou a ser o mês nove. Por um raciocínio que escapa aos não iniciados, 11:11 passa então a referir o ataque terrorista de 11 de Setembro. Que foi uma coisa boa, segundo Uri Geller, porque «esses ataques teriam sido muito piores se os terroristas tivessem usado uma arma nuclear suja na forma de uma mala-bomba que poderia ter sido colocada em qualquer sítio de Nova Yorque, Los Angeles, Londres ou qualquer cidade populosa. Se isso tivesse acontecido as consequências teriam sido muito mais devastadoras». Por isso é que ele crê que «aqueles que morreram a 11 de Setembro não morreram em vão» e quando vê o número 1111 reza «pelas crianças doentes e pela paz mundial, a reza demora só um momento mas é muito poderosa».

O significado profundo do número 11 é comprovado não só por uma das teorias das cordas propor 11 dimensões mas, mais importante aínda, porque «Brian Greene tem 11 letras no seu nome. Para quem não sabe, ele é um físico e o autor d' O Universo Elegante, um livro a explicar a teoria das cordas». Isaac Newton e John Schwarz também têm 11 letras, e «1 pessoa + 1 pessoa = 2 pessoas = igualdade». Mais outras provas do mesmo género, das quais destaco que «se contar os dedos nas suas mãos em aritmética unária – sem zeros – então 10 dedos, em matemática unária, = 11111111111 – EXACTAMENTE 11 UNS»(3). Em rigor, isto não é verdade. Na aritmética unária usa-se um só símbolo para contar, por exemplo um traço, e para contar 10 escreve-se 10 vezes esse símbolos e não 11. Mas, no contexto, nem é dos maiores problemas.

Os mais cépticos certamente dirão que isto é coincidência. Também eu julguei que seria quando me ocorreu que 11:11 aparece no relógio uma ou duas vezes por dia. No entanto, não é só este número. «Quando comecei a entender e a perceber que ver estes números era significativo, então comecei a ver vários outros números numa base regular. Eu iria passar por um período em que via múltiplos de 5 em todos os lugares, todos os dias. E, em seguida, poderia ver múltiplos de 3, ou 4, ou 6, ou 7, ou 12, e assim por diante.»(1). Um ainda poderia ser coincidência, mas ver vários números ao olhar para o relógio é uma evidência forte de que há aí alguma coisa mais. Depois de ler este artigo fiquei sinceramente desconfiado de que os números que surgem no relógio representam alguma coisa e não aparecem aleatoriamente. Julgo que finalmente estou no caminho para uma «consciência iluminada sobre o potencial para a criação da nossa nova terra.» Ou, pelo menos, para saber ver as horas.

* 9000 foi um erro de tradução. Eu posso gozar com deuses, crenças, política e o resto, mas há coisas que levo a sério.

1- Prisão Planetária, 11:11 – Tem Visto Números Pares Por Toda a Parte?
2- Waking Times, 11:11 – Have You Been Seeing These Numbers Everywhere?
3- Uri Geller, The 11:11 phenomenon

8 comentários:

  1. Se compararmos com uma narrativa dum Deus que cria um casal que não distinguia o bem do mal e que era sua intenção que assim se mantivessem para sempre.

    Vem uma cobra falante e diz-lhes que o fruto duma árvore que Deus lhes tinha dito que uma vez ingerido os mataria não era assim tão fatal.

    O casal, que não distinguia o bem da mal, come o fruto e não morre.

    Continuam vivinhos da Silva mas , parafraseando Deus:

    - ficam como nós e distinguem o bem do mal.

    Mais umas pragas. Umas mais ou menos acertadas. Quanto às mulheres darem à luz com dores foi verdade até à epidural. As cobras nunca comeram pó.

    A praga era hereditária e aplicava-se não só aos infractores mas a todos os seus descentes.

    Relembremos que ao momento da falta alegadamente cometida o tal casal não distinguia o bem do mal.

    Para resolver tal imbróglio Deus desdobra-se e finge morrer crucificado.

    Antes do falso passamento ensina como nos podemos salvar a apóstolos.

    Parece que ou se explicou mal ou eles não entenderam patavina porque uns anos depois precisou dum tal Paulo para pôr ordem na sanzala.

    Este falso passamento resolve o problema do tal casal.

    A do Uri Geller nem me parece piorzita...

    São tretas porreiras...

    Quem as leva a sério .... bom sem comentários. ..

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  2. Bem, ainda há pouco vi as horas e eram exactamente 22:22, o que me pareceu uma experiência ímpar...

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  3. E o dia ainda é mais lindo. 14/7/28... 7 e 7 dá 14. 14 e 14 dá 28. Exactamente o numero de minutos que o governo de Santana Lopes teve sem problemas.

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  4. Falta pouco para as 9:09. Até já.

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  5. Lá diz o ditado: "quem peixe procura, peixa acha!"; ou à maneira Yoda: "se peixe procuras, encontrar peixe precisas!"

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  6. Nunca me tinha rido tanto com um post teu! O último parágrafo deu-me uma barrigada de riso. :D

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  7. Uri Geller, esse grande oráculo do século XX. Não sabia que ainda mexia...

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