Confuso.
Já foi há mais de um ano mas só agora é que o Google me levou lá: «Senhor Ludwig Krippahl Que confusão vai nessa cabeça.»(1) Não dá muitos detalhes mas, pela data e pelo nome da autora, presumo que seja a propósito do meu post do dia anterior, sobre o Fernando Ulrich e a confiança que gentilmente manifestou na capacidade dos (restantes) portugueses aguentarem a austeridade (2). Seja como for, pouco importa porque a crítica é tão certeira quanto sucinta. Há mesmo muita confusão na minha cabeça.
Hipoteticamente, se eu tivesse uma inteligência muito superior à que tenho, talvez pudesse compreender a complexidade do que me rodeia sem sentir confusão nenhuma. Mas como estou muito aquém desse ideal, compreender as coisas é uma tarefa árdua e cheia de confusões e dúvidas. Qualquer clareza que consiga arrancar à confusão é preciosa, não só pela raridade relativa mas também porque só ideias claras podem ser testadas e nos dão compreensão. No entanto, o resultado de compreender algo com clareza é, quase sempre, abrir os nossos horizontes a uma confusão ainda mais vasta que a ignorância antes escondia. Vou dar um exemplo, a ver se isto não fica mais confuso do que é necessário.
Numa entrevista em Fevereiro, Fernando Ulrich afirmou que «É um mito - e em breve vamos divulgar algumas informações sobre isso - não ter havido taxa de esforço e sacrifício para praticamente todos na austeridade» porque «As pessoas que mais ganham, tiveram cortes - seja pela via dos cortes, seja pela via da carga fiscal - muito maiores do que as pessoas que ganham menos.»(3) Realmente, o próprio Fernando Ulrich teve um grande corte no ordenado, com uma redução de 33% entre 2011 e 2012 (4). Se não pensarmos mais não há confusão: todos esbanjaram e agora todos têm de suportar a austeridade. Mas, se pensarmos, então está tudo estragado.
A menos que comprem as coisas queimando as notas como oferenda aos deuses, é impossível que todos gastem sem que ninguém ganhe. A origem da crise foi mais confusa. Foi, basicamente, uma burla. O colapso do crédito subprime aconteceu quando se descobriu que os pacotes de dívidas que os banqueiros estavam a vender não valiam nada, ao contrário do que os vendedores prometiam, porque tinham sido inventados ao desbarato com garantias fictícias e credores sem possibilidade de pagar. Um BPN à escala mundial. Como uma parte ridiculamente grande da economia assenta no negócio de fazer apostas com o dinheiro dos outros, toda a economia ficou abalada com isto e a receita fiscal caiu. O Estado teve de cortar nas prestações sociais e aumentar os impostos porque alguns banqueiros destruíram uma boa parte da economia para se reformarem milionários.
Também é confuso que o Ulrich meça a tal «taxa de esforço e sacrifício» pelos cortes no salário e pela carga fiscal porque isto presume que quem se esforça assim ainda tem salário e com que pagar impostos. O esforço e sacrifício dele, a uma taxa nominal de 33%, correspondeu a passar de um rendimento de 734,2 mil euros por ano em 2011 para 490,5 mil euros em 2012. A minha taxa de “esforço e sacrifício” foi pouco menor, mas eu ganho num ano metade do que o Ulrich ganha num mês. E eu estou muito melhor do que os ex-empregados do banco que ele gere. O BPI «fechou os primeiros três meses de 2011 com lucros de 45,3 milhões de euros» mas, ainda assim, anunciou logo que ia «fechar 47 balcões e reduzir o quadro do pessoal»(6). De 7.234 empregados que o banco tinha em 2011, já se livrou de mil e tenciona chegar aos 6.000 em 2015. No entanto, esses 1.200 desempregados podem ficar descansados porque a “taxa de esforço e sacrifício” foi bem distribuída e o Ulrich agora só ganha uns meros quarenta mil euros por mês. Curiosamente, este grande esforço do Ulrich nem foi por causa da austeridade em si. Foi porque «o BPI foi um dos bancos portugueses que recorreu à linha de recapitalização estatal para reforçar os seus rácios de capital [e] ficou obrigado a reduzir o valor do conjunto das remunerações fixas dos membros do Conselho de Administração». Só assim o banco podia contrair empréstimos usando os nossos impostos como garantia.
Admito que estas coisas me fazem confusão. Acredito que talvez fosse mais feliz se não pensasse nisto. Podia acreditar nas “informações” que pessoas como o Fernando Ulrich gentilmente nos fornecem. Podia usar este blog para contar o que me aconteceu ao pequeno almoço e pôr fotografias bonitas em vez de escrever coisas deprimentes. Quando discordasse de alguém bastava dizer que era o outro que estava confuso porque nesta cabeça nunca haveria confusão nenhuma. Infelizmente, apanhei o vício de pensar e, desde então, nunca mais deixei de estar confuso.
1- Firenghi (Ana Ulrich?), Senhor Ludwig Krippahl
2- Treta da semana: aguenta, aguenta.
3- Negócios Online, Fernando Ulrich: “Nunca provavelmente a Esquerda fez em Portugal uma política tão redistributiva”
4- CM Jornal, Ulrich perde 33% do ordenado
5- Está aqui um gráfico pouco confuso: Austeridade, parte 1: a crise da dívida pública.
6- Record, BPI despede 200 funcionários
7- Expresso, BPI antecipa fecho de 21 balcões
Os pontos 5, 6, e 7 da bibliografia estão na mesma linha. (Fazes isto com BRs em vez de com LIs? Estou chocado, chocado!…)
ResponderEliminarObrigado. Já corrigi.
ResponderEliminarNunca experimentei usar ordered lists no blogger mas para posts acho que prefiro o br/ do que fazer ol, /ol e mais um par li /li para cada linha. Faço isso nas minhas páginas, mas como aqui nunca vou olhar para o código fonte prefiro o menor número de tags :)
É uma tentação da moda julgar uma pessoa por uma ou outra frase mal colocada numa entrevista. A razão de ser de um banco é garantir depósitos e créditos. É uma função importante na sociedade. Ao que se sabe hoje, o BPI é dos que menos mal a tem desempenhado em Portugal. Quem o dirige merece um salário mais generoso do que quem não corre o risco de responder em tribunal ou mesmo ir para a prisão ou ser alvo de desdém público, por exemplo, por transmitir uma informação errada numa aula ou escrever um artigo fantasioso.
ResponderEliminarNuno Gaspar,
ResponderEliminarConcordo que os bancos desempenham uma função importante de gestão do risco de crédito. No entanto, para podermos confiar isso ao sector privado é preciso, no mínimo, que o risco seja assumido pelos privados. O sistema que temos em que os bancos privados são salvos pelos contribuintes sempre que é necessário não funciona.
Mas essa de ir para a prisão por transmitir informação errada é uma treta. Os banqueiros nem sequer vão para a prisão por burla ou fuga ao fisco, ilícitos pelos quais qualquer um de nós era preso com certeza, quanto mais por “transmitir informação errada”.
E ganham o que merecem é simplesmente um disparate. O dinheiro que cada um ganha não tem nada que ver com o que merece, senão quem ganhava mais eram os bombeiros. O dinheiro que pessoas como o Ulrich ganham é função dos amigos que têm. Olha para a carreira política e profissional do Ulrich (e do pai e do avô dele) e verás que as mais valias que ele traz aos accionistas do BPI não se devem a uma capacidade extraordinária de calcular riscos de crédito...
Nuno Gaspar,
ResponderEliminarDe qualquer forma, a minha crítica aqui não era nem à gestão dos riscos de crédito nem ao salário do Ulrich. Era à tese dele de que a “taxa de esforço” pela austeridade está distribuída de forma justa, implicando que a redução do salário dele para quinhentos mil euros por ano é um esforço equivalente ao dos 1200 empregados que ele decidiu despedir para preservar o valor dos dois milhões de euros em acções do BPI que ele detém. Essa tese parece-me não estar 100% correcta.
O CONFUSO MACACO TAGARELA E A INGRATIDÃO DE CHARLES DARWIN
ResponderEliminarA certa altura, talvez por começar a antecipar a sua conclusão de que “não há nenhuma prova isolada e definitiva de que o ser humano evoluiu de um antepassado distante unicelular, ou de um antepassado primata comum ao chimpanzé.”, o Ludwig Krippahl autodefiniu-se como “macaco tagarela”.
Provavelmente o objetivo seria o de apresentar-se a ele próprio como o derradeiro e definitivo “missing link” entre macacos e homens.
Com esse gesto, a questão ficaria definitivamente resolvida.
Talvez contasse com o apoio póstumo de Charles Darwin, que integra o corpo místico dos evolucionistas em decomposição.
O curioso é que Charles Darwin, longe de se mostrar agradecido ao Ludwig Krippahl e de aplaudir o seu espírito de sacrifício pessoal, limitou-se a repetir aquilo que havia dito na sua carta 13230, de 1881, dizendo:
“the horrid doubt always arises whether the convictions of man's mind, which has been developed from the mind of the lower animals, are of any value or at all trustworthy.
Would any one trust in the convictions of a monkey's mind, if there are any convictions in such a mind?”
Ou seja, nem Charles Darwin lhe agradece! Antes se limita a chamar a atenção para o facto de que se o homem evoluiu do macaco as suas convicções não são dignas de crédito.
Ao auto descrever-se como "Pithecus Tagarelensis" o Ludwig mete-se num beco sem saída epistemológico.
Deste modo, foi chumbado a pensamento crítico pelo próprio Charles Darwin.
O LUDWIG CONFESSA: NÃO EXISTE NENHUMA PROVA DEFINITIVA DE QUE O HOMEM EVOLUIU
ResponderEliminarRecentemente, o Ludwig escreveu:
“Não há nenhuma prova isolada e definitiva de que o ser humano evoluiu de um antepassado distante unicelular, ou de um antepassado primata comum ao chimpanzé. Mas, perante o conjunto das evidências, a hipótese é claramente plausível.”
Esta afirmação do Ludwig é muito interessante, porque vem depois de alguns anos de debate com criacionistas.
Foi difícil extrair esta confissão, mas ela lá acabou por sair! Custou, mas foi!
Essa afirmação encaixa muito bem no conselho que os criacionistas dão aos leitores de artigos científicos para distinguirem entre os factos (a assinalar com cor amarela) e interpretações e especulações a partir dos factos (a assinalar com cor de rosa).
Quem usar esta metodologia depressa irá ver que as “provas” da evolução de partículas para pessoas, ou de um antepassado comum para chimpanzés e humanos, estarão sempre na parte cor-de-rosa. Assim é porque, como diz o Ludwig, “não há nenhuma prova isolada e definitiva de que o ser humano evoluiu”.
Ou seja, o que vemos aqui e agora são chimpanzés e seres humanos (as semelhanças e diferenças entre eles devem ser marcadas a amarelo).
O hipotético antepassado comum e os milhões de anos de evolução têm, quando muito, que ser imaginados especulativamente (e por isso devem ser marcados a cor-de-rosa).
Além disso, a frase do Ludwig adequa-se muito bem à ideia, que temos vindo a sustentar, de que os factos são os mesmos, para criacionistas e evolucionistas.
A ciência é a mesma para uns e para outros.
Não existe nenhum facto observado que os criacionistas neguem. O problema é que, no entender dos criacionistas, a hipótese da evolução nem sequer é cientificamente plausível.
Vejamos porquê:
Hoje sabe-se que existem grandes diferenças epigenéticas entre chimpanzés e seres humanos, o que significa que a regulação da expressão da informação genética comum a ambos é, afinal, muito diferente.
Mais, o “junk-DNA” que se pensava guardar vestígios da suposta evolução, é afinal fundamental para regular a expressão genética e até a codificação de muitas proteínas, contrariamente ao que se pensava.
Além disso, sabe-se que as mutações são esmagadoramente deletérias, criando disfunções, doenças e morte, à razão de 1 000 000 de mutações deletérias por cada 1 mutação benéfica.
O problema é que essas mutações tendem a acumular-se, sendo que a esmagadora maioria acaba por não ser eliminada por seleção natural, degradando progressivamente o genoma.
Qual seria o resultado depois de vários milhões de anos de acumulação de mutações?
Um outro problema, não menos grave para os evolucionistas, é que todo o conjunto das evidências realmente observadas relativas a chimpanzés, homens, mutações e seleção natural (assinaladas a amarelo) pode ser interpretado facilmente à luz do que a Bíblia ensina acerca de um Criador comum, de uma criação recente e da corrupção e decaimento que afeta toda a natureza criada desde que o pecado entrou no mundo.
Ou seja, as evidências em si mesmas corroboram o que a Bíblia ensina.
Só as interpretações e especulações dos evolucionistas é que contrariam a Bíblia.
Uma conferência interessante sobre o modo como a astronomia corrobora a doutrina bíblica da Criação.
ResponderEliminarUm estudo recente sobre o genoma humano conclui:
ResponderEliminar"The sources of human complexity lie more in how genes are used rather than on the number of genes,"
A CIÊNCIA DA MATEMÁTICA E A DOUTRINA DA CRIAÇÃO
ResponderEliminarOs números não existem no mundo físico e biológico. Eles são realidades imateriais, conceituais e abstractas.
As relações que existem entre eles não são criadas pelo Homem. Elas são apenas descobertas e formuladas por ele.
O quadrado da hipotenusa, num triângulo rectângulo, já era igual à soma dos quadrados dos catetos antes de Pitágoras.
Na verdade, hoje sabe-se que 1000 anos antes de Pitágoras já esse teorema tinha sido descoberto, formulado e usado pelos caldeus.
Mas ele já era verdade antes disso e seria mesmo os caldeus não o tivessem descoberto antes ou que posteriormente Platão ou Aristóteles não concordassem com Pitágoras nessa matéria.
Os números são importantes para compreendermos o mundo físico, nomeadamente quantidades, pesos, comprimentos, larguras, áreas, volumes, probabilidades, etc.
Por outro lado, alguns objectos do mundo físico seguem claramente padrões matemáticos. Assim sucede, por exemplo, com o movimento dos planetas, teorizado por Kepler e Newton, e com os padrões de tipo fractal que podemos discernir flocos de neve, plantas, nuvens, cadeias de montanhas, raios, etc.
Existe, como se vê, uma conexão interna entre o mundo imaterial e abstracto da matemática e o mundo físico, o que é extremamente interessante e tem intrigado filósofos e matemáticos.
Nós precisamos da matemática para compreender o mundo e usufruir dele.
A capacidade matemática também se encontra pré-programada no cérebro humano Ela manifesta-se em estruturas cognitivas geneticamente programadas.
Como se pode compreender essa ligação? A que propósito é que o mundo físico obedece a fórmulas matemáticas?
Se a matemática é uma realidade abstrata e intelectual, quem a ensinou aos átomos e aos genes?
Euclides dizia que a matemática é a linguagem de Deus. Einstein dizia que Deus é uma mente matemática pura.
À luz da Bíblia, a matemática faz todo o sentido, na medida em que um Deus espiritual, que se revela como LOGOS (Razão, Verbo) criou o mundo físico racionalmente e criou o Homem à sua imagem, com capacidade racional e pensamento abstracto.
Como Deus é espiritual, racional, eterno e omnipresente, criador de todas as coisas, as leis da matemática sejam intemporais universais, constituindo um instrumento fundamental para compreender o Universo criado por Deus.
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ResponderEliminarJonatas:
ResponderEliminarOlha, não sei o que te diga, mas tenta usar antes este programa de browser:
http://pdos.csail.mit.edu/scigen/
Vais ver que fica melhor. Já pouca gente ainda olha para os teus posts, mas mesmo assim talvez te ajude.
Uma notícia interessante sobre DNA de dinossauro corroborando a ideia de que eles existiram recentemente.
ResponderEliminarUma notícia recente sobre a a confusão que reina na teoria de que os dinossauros evoluíram para aves.
ResponderEliminarO tema deste post não é evolução, nem sequer religião.
ResponderEliminarQue treta!
Está sempre a cometer o mesmo erro. Além de cometer um outro: os dinossauros não evoluíram para aves, mas partilham antepassados comuns. Quando é que aprende as noções básicas de biologia evolutiva? Pode não concordar, mas ao menos não diga disparates!
Já agora, talvez o sr. criacionista queira dar uma vista no caso Kitzmiller v. Dover". Pode ser que aprenda algo sobre vários temas; fósseis, elos perdidos, e de como a (des)informação dos fundamentalistas funciona.
ResponderEliminarSe convenceu um júri, talvez queira dizer algo sobre o caso.