domingo, novembro 17, 2013

Treta da semana: Ordem de S. Miguel de Ala.

Fundada a 8 de Maio de 1171 por Afonso Henriques, também conhecido por “El-Rei”, consta que é a Ordem de Cavalaria mais antiga de Portugal. Foi fundada depois da vitória sobre os Sarracenos que cercaram Afonso Henriques em Santarém e é dedicada ao arcanjo Miguel « não só na devoção do Monarca pelo Arcanjo S. Miguel, como também por ter sido visto o braço de S. Miguel a combater pelos Cristãos no mais aceso da batalha, e quando estes estavam em alegada desvantagem…»(1) Infelizmente, o relato é omisso quanto ao método usado para identificar o braço do arcanjo.

Depois do regresso relutante de João VI a Portugal, o seu filho Pedro, deixado a cuidar das coisas no Brasil, decidiu que lá é que se estava bem e em 1822 declarou-se independente, a si e ao país, merecendo assim o cognome “o guterres”*. Em 1826, João VI adoeceu subitamente e, tendo nomeado a sua filha Isabel como regente, morreu de forma suspeita. Isabel depois abdicou a favor da sobrinha, Maria da Glória, filha do seu irmão Pedro, para que esta casasse com o outro irmão, Miguel, tio da noiva, deixando assim o país seguro nas mãos de um homem e garantindo um casamento incestuoso, com todos os benefícios genéticos que essa tradição trazia à realeza. Mas o plano não correu bem. O movimento absolutista em Portugal ganhou balanço, Miguel aproveitou para dar o dito por não dito e declarou-se rei, ponto. O Pedro chateou-se por a filha ficar sem reinado e já não casar com o tio (outros tempos, outros costumes), abdicou do trono do Brasil em favor do seu filho, contratou tropas Inglesas, invadiu os Açores e, daí, desatou à batatada ao irmão. Com a ajuda dos liberais derrotou Miguel, pôs a filha no trono e morreu de tuberculose. Um final anticlimático, é verdade, mas as coisas eram assim, naquele tempo, graças à chamada “medicina tradicional”. Mas o que nos interessa aqui é o Miguel. Exilado, sem sobrinha nem reino, decide criar «uma organização secreta(por oposição à Maçonaria) a qual denominou de “Ordem de São Miguel da Ala”. O Objectivo era “confundir” esta organização secreta com a Ordem de São Miguel da Ala, fundada por D. Afonso Henriques.» Criou assim um precedente para outra confusão mais recente.

«A 4 de Agosto de 1981, através de Escritura Pública foi restaurada a actividade social dos Cavaleiros da Ordem de São Miguel da Ala» por iniciativa de Nuno da Câmara Pereira. Durante dez anos, Duarte Pio de Bragança foi considerado “protector” desta ordem (2) mas depois as coisas azedaram. O Duarte reclama o trono por descender do tal Miguel do parágrafo anterior mas o Nuno defende que o verdadeiro rei de Portugal é um Pedro de Mendoça por descender da Ana, outra irmã do Miguel, do Pedro e da Isabel. Com aquela confusão toda, não me admira que quem dê a ponta de um chavelho por estas coisas ainda ande indeciso. Vai que não volta, o Duarte foi mesmo, declarou extinta a associação criada pelo Nuno e, em 2004, registou a sua própria «Real Ordem de São Miguel da Ala». Por muito que as moscas mudem há sempre tradições a manter.

O problema é que Duarte sobrestimou a força legal das suas pretensões a ser importante. Lá por ele declarar extinta uma associação não quer dizer que ela se extinga e como o Nuno tinha registado o nome e os símbolos da ordem no Registo Nacional de Pessoas Colectivas, processou o Duarte por usurpação da sua propriedade intelectual. Agora o tribunal congelou ao Duarte «uma conta bancária com quase 96 mil euros e 17 imóveis e propriedades em seu nome.»(3)

O que me fascina nesta novela, além do ridículo intrínseco, é a forma tortuosa como tudo acaba por encaixar. O monarquismo assenta num ideal de nobreza e superioridade natural dos reis. Afonso Henriques, nobre pai de Portugal e assim por diante. Dizem defender esses valores de nobreza e justiça, que «Toda a Cavalaria é um serviço social e cívico em vista do bem comum da humanidade»(4). Mas o Afonso foi um guerreiro que matou e pilhou para obter terras e poder e toda aquela família era assim, a julgar pelo que fizeram uns aos outros. Pela história vê-se quase sempre a ganância e o apego ao poder como motivação principal para o que os reis faziam. Defender a justiça e o bem comum com base nisto seria uma contradição. Só que a contradição acaba por ser menor porque os seus actos, ao contrário das suas palavras, encaixam perfeitamente nesta tradição de sacanice, cobiça e ganância. O Nuno registou como sua propriedade um nome e simbologia que datam desde a origem de Portugal. O Duarte acha que não precisa respeitar a lei e que pode dissolver associações com um acenar do bigode. E temos um partido e movimento monárquico que nem sequer consegue decidir quem é o rei, se o que diz que é mas que descende do que foi deposto, se o outro que descende da irmã do deposto mas que, aparentemente, nem se quer meter no assunto. Se não votassem nesta gente até dava vontade de rir.



*Errata: aqui confundi o António Guterres com o Durão Barroso. Mas acho que faz pouca diferença (daí a confusão). Ambos ilustram a longa tradição governativa do meh, quero lá saber disto, vou antes por ali.

1- OSMA, Memorial
2- Wikipedia, Nuno da Câmara Pereira
3- Sol, Penhora de 100 mil euros a D. Duarte em julgamento
4- OMSA, Explicação da Cavalaria

9 comentários:

  1. Ludwig:

    Uma coisa é a História como ciência.

    Outra são as estorias dos povos e nações.

    Na História é importante o rigor e as fontes.

    Nas estorias das nações, famílias e até na nossa própria há uma grande liberdade criativa.

    O milagre de Ourique foi fundamental para a construção da identidade nacional.

    A minha família é aparentada, temos papéis e tudo, nada mais nada menos que com o .....Santiago de Compostela.

    A construção dum grupo precisa deste tipo de coisas.

    Não podemos é confundir a História enquanto ciência com este tipo de coisas.

    E sempre que vou a Santiago de Compostela esgalho uma missa e abraço o primo pelas costas.

    Sempre com uma certa distância e respeito que sendo Sousa não é boa ideia dar-lhe uma entaladela por detrás.

    O tal não te estiques que a cama é curta.

    Este tipo de organizações e a criação de certos mitos é boa para a coesão nacional.

    O d. fuas roupinho, a padeira de Aljubarrota e outros mitos como a reconquista são estruturantes duma identidade.

    Ou como diria o José Vilhena de algumas glórias nacionais:

    Si non e vero e ben trovato.

    Com erros crassos em italiano.

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  2. Para não falar que o D.Duarte Pio pelos termos da abdicação do seu antepassado D.Miguel não tem nem nunca terá direito a qualquer pretensão ao trono. (D.Miguel abdicou por ele e por toda a sua própriadescendência)

    Todas as pretensões de rei devem-se ás manobras políticas do grupo absolutista monárquico durante o fascismo. O regime democrático cometeu o erro de dar a Fundação de Bragança a este burlão para "acalamar" quaisquer espíritos monárquicos acabando na realidade por deturpar e perverter os objectivos constítuidos da fundação por D.Pedro...

    Tratou-se de burla, roubo e manipulação terrorista do mais alto nível, que aliás segue na jogatana nos escolhos de naufrágios marítimos e outras coisas mais escuras...

    A tua peça trata claramente, e está muito boa: é uma comédia de burlões e falsificantes que usam uma burla contra outra burla...

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  3. D. Duarte é o que temos.

    No casamento real Mário Soares foi.

    O comentário da CNN foi fantástico:

    Portugal um pais republicano desde 1910 teve o seu primeiro casamento real em não sei quantos anos.

    O presidente Soares, republicano, laico e socialista mandou cumprimentos. ..

    Foi bonito e um sinal da o portugalidade.

    Unir o que não se pode unir, ir onde ninguém pode ir -tipo brasil ou india - e juntar o que ninguém mais juntava.

    E a verdade é que somos o único estado nação da europa e se calhar do mundo.

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    1. o presidente souáres pode ser muita cousa mas a maçonaria tem thalassas já desde os tempos daquele que depois de morto foi rotunda.....

      e a verdade é que somos o único estado noção.....ou noção de estado...

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  4. PELOS CRITÉRIOS DO LUDWIG, A TEORIA DA EVOLUÇÃO É UM MITO E FÁBULA.

    A afirmação da existência de Deus é corroborada inteiramente com base na ciência, tal como o Ludwig a define: “experimenta-se e está validado”.

    A lei da conservação da energia mostra-nos que o Universo não se pode criar a ele próprio, porque a matéria e a energia não se criam a si mesmas, mantendo-se sempre constantes. Não havendo processo natural que crie energia, esta só pode ter tido origem sobrenatural. Isso tem sido experimentado e validado.

    A lei da entropia mostra-nos que a ordem e a energia transformável em trabalho existentes no Universo vão diminuindo progressivamente. Isso tem sido experimentado e validado. Se o Universo tivesse uma idade infinita, já não haveria energia utilizável. Se existe ainda ordem e energia reutilizável isso significa que o Universo não tem uma idade infinita, tendo tido princípio.

    Ora, se o Universo não se pode criar a ele próprio por processos naturais e se teve um princípio, isso quer dizer que teve que ser criado por uma entidade sobrenatural e eterna: Deus.

    Também tem sido experimentado e validado que não existe qualquer processo físico ou lei natural que crie códigos e informação codificada, na medida em que um e outra não são matéria ou energia mas sim entidades imateriais, resultantes de actividade inteligente.

    Ora, se a vida depende, essencialmente de informação codificada em qualidade, quantidade, complexidade e transcende toda a capacidade científica e tecnológica humana, a única conclusão racional é a de que foi criada sobrenaturalmente de forma (super)inteligente.

    Os judeus sabiam que os deuses dos mitos gregos nada tinham que ver com a realidade histórica, diferentemente do que sucedia com o Deus de Abraão, Isaque e Jacó, que fez promessas históricas capazes de confirmação e validação, tendo conformado positivamente toda a história universal.


    Os apóstolos de Jesus sabiam bem a diferença entre mitos e realidade. Eles diziam claramente que os milagres e a ressurreição de Jesus Cristo não eram mitos ou fábulas, mas factos históricos de que eles tinham sido testemunhas oculares.

    Foi por isso que estiveram dispostos a morrer violentamente na defesa desses factos.

    A ciência moderna deflagrou com base na crença de que um Deus racional criou o Universo de forma racional e os seres humanos com capacidade racional para o compreender.

    O drama do Ludwig é que, por mais experiencias e observações que façamos, nunca veremos o nada a criar qualquer coisa nem a vida a surgir da não vida por acidente, porque não existe nenhum processo físico que crie códigos e informação codificada.

    Também nunca veremos uma espécie menos complexa a transformar-se noutra espécie diferente e mais complexa.

    Tudo isso tem que ser imaginado.

    Nada disso pode ser experimentado e validado.

    Para além de não existir nenhuma experiência científica que diga que todo o conhecimento tem que ser experimental, pelos critérios do Ludwig, a teoria da evolução cósmica, química e biológica não é ciência: é apenas mito e fábula.

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  5. Sousa,

    «Este tipo de organizações e a criação de certos mitos é boa para a coesão nacional.»

    Eu acho que este tipo de organizações e criação de mitos é bom é para quem deles se aproveita o que, a longo prazo, acaba por ser mau para muitos e para a coesão também.

    Além disso, a mim interessa-me mais a coesão ponto do que a coesão nacional. Como país estamos cá há mil anos, mas como espécie estamos há pelo menos cem mil e nem é claro para mim que seja apenas a espécie que interessa considerar...

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  6. "Como país estamos cá há mil anos, mas como espécie estamos há pelo menos cem mil..."

    Tanta imaginação... ...tão poucos dados objectivos...

    Os factos, esses, mostram que as civilizações e os escritos mais antigos que se conhecem , as civilizações e os escritos mais antigos que se conhecem têm apenas cerca de 4500 anos, perfeitamente em linha com a cronolgia bíblica...

    Igualmente em linha com a Bíblia está o desenvolvimento demográfico na Terra nos quatro milénios e meio da história humana depois do dilúvio

    Tudo que vá para além dos factos históricos e demográficos observáveis é pura imaginação evolucionista...



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  7. A CIÊNCIA DAS BACTÉRIAS E A DOUTRINA BÍBLICA DA CRIAÇÃO

    Mesmo depois de dezenas de milhares de gerações, as bactérias E.Coli “evoluem” para bactérias E.Coli, eventualmente com uma ou outra função nova, mas não muito diferente das funções já existentes.

    Apesar de os evolucionistas procurarem ver a evolução nas bactérias, a verdade é que elas “evoluem” sempre para… bactérias!


    Isso não difere muito da “evolução” de tentilhões para tentilhões observada por Charles Darwin e da “evolução” de gaivotas para gaivotas observada pelo Ludwig.

    De resto, as bactérias que os evolucionistas consideram extremamente antigas, com 3,5 mil milhões de anos, apresentam-se bem conservadas e claramente identificáveis com as suas congéneres actuais, o que corrobora a sua criação e sepultamento recentes e a ausência de evolução de bactérias em bacteriologistas…

    Mesmo passados os imaginados milhares de milhões de anos, bactérias “evoluem” para… bactérias!

    Elas não dão grande ajuda à causa evolucionista.

    De resto, muita da suposta “evolução “ das bactérias limita-se a aproveitar informação genética pré-existente noutras bactérias.

    Não se cria informação genética nova capaz de criar estruturas inovadoras e mais complexas.

    Daí que seja impossível demonstrar que alguma vez as bactérias transformarem-se em bacteriologistas.

    Isso tem sempre que ser imaginado!

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  8. Bom este Duarte tem porras, olhem o que descobri http://www.scribd.com/doc/114996263/D-Rosario-de-Braganca-Um-Rei-Um-Povo-A-Vontade-de-Vencer

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