domingo, novembro 04, 2012

Moral e ética.

Nos comentários ao post sobre a dignidade, o João Vasco escreveu que «A moral surge da necessidade de conciliar vontades»(1). Se bem que concorde que sem conflito não é preciso moral nem ética, o conflito, por si, não produz moral. A necessidade de conciliar vontades sem qualquer moral é muito comum. A águia quer comer o coelho, a este isso não dá jeito mas algum irá ceder, resolvendo o conflito. Mesmo quando há moral, no sentido lato de normas sociais, esta pode não servir para conciliar vontades de forma justa. A moral da alcateia dita que o lobo dominante coma antes dos outros. A moral no Irão dita que a apostasia deve ser punida. Muitas regras morais parecem ter como propósito impor comportamentos em vez de conciliar seja o que for. Recorro novamente à citação de Pio XII que colei no outro post: «A ninguém, pois, seja lícito infringir esta nossa declaração, proclamação e definição, ou temerariamente opor-se-lhe e contrariá-la.» As religiões são exímias a inventar regras morais que lhes convenham.

Concordo, no entanto, que conciliar vontades é um problema ético do qual a moral devia depender*. Mas, se bem que o problema só se ponha se houver conflitos, como o João Vasco escreveu, não é do conflito em si que surge a ética. O fundamental é uma escolha pessoal. A ética vem da opção de submeter as regras morais ao crivo de valores imparciais, independentes das nossas tradições, do hábito ou do que nos dá jeito. Basicamente, da decisão de ter consideração pelos outros e conciliar as vontades de forma justa.

O Nuno obstou porque «Se a dignidade humana dependesse de algo tão subjectivo quanto o apetite à consideração que cada um tem por cada qual, era num estalar de dedos que alguém ta podia retirar se para aí estivesse virado.» Precisamente. «E que fundamento materialista arranjas tu para esse respeito automático pela subjectividade alheia? É e deve ser automático porquê?» Não é automático nem tem “fundamento materialista”. É uma escolha e, por ser opcional, pode sumir num estalar de dedos. Pior ainda, apesar de facilmente aprendermos regras morais, a ética tem sido uma coisa rara na nossa história. Basta ver, por exemplo, o tempo que demorou até a maioria perceber que a escravatura é uma coisa má e o que ainda hoje custa, em tantos sítios, explicar que devemos ser todos iguais perante a lei e governados por quem nos representa. Temos muito mais facilidade em aprender a fazer coisas porque “é assim que se faz” do que aferir, de forma crítica, se será essa a opção mais justa.

A ética é frágil precisamente porque é opcional. Entre as tribos do Afeganistão e até aqui por Lisboa, em certos sítios, pode-se ver facilmente como a dignidade e os direitos humanos valem pouco quando a opção de lhes dar valor não é consensual. E um dos maiores perigos para a ética é ignorar essa fragilidade com a ilusão de um fundamento sólido e transcendente que mantenha o universo nos eixos. O Faroleiro comentou que «Para determinar o Mal é necessário um referencial exterior ao sistema senão esse "Mal" é sempre relativo, dependente das relações de força vigentes na sociedade». A ética, realmente, procura uma perspectiva fora de qualquer sujeito. O objectivo não é ver as coisas como eu quero, como tu queres ou como Deus quer mas sim encontrar normas independentes de qualquer sujeito em particular. Mas isso não é um referencial exterior ao sistema. Isso é o sistema, e é um erro confundir a opção pessoal de procurar esses critérios com a imposição de critérios alheios: «Se o amor não corresponder a um mandamento divino, a sua validade lógica é a de uma simples idiossincrasia pessoal ao mesmo nível de uma outra idiossincrasia pessoal qualquer.» Se o amor corresponder a um mandamento divino então não terá nada que ver com a ética. A ética não tem que ver com obediência mas sim com autonomia e responsabilidade.

O que queremos da ética não é uma simples idiossincrasia pessoal mas só podemos ter ética se compreendermos que é uma opção pessoal. Se nos comportamos de certa forma por mandamento, por medo do castigo ou por hábito então temos apenas uma moral sem fundamento ético. As regras estão lá, mas não somos responsáveis por elas nem por garantir que são justas ou boas. Foi essa atitude que permitiu milhares de anos de escravatura, opressão, injustiças e desrespeito até que, nos últimos séculos, finalmente se começou a perceber que a ética não vem de fora – de deuses, bispos ou reis – mas que tem de ser criada por cada um de nós. Infelizmente, delegar os juízos de valor nos “superiores” continua a dar jeito aos que se dizem superiores. O José Policarpo, por exemplo, desaconselha protestos (2) e recomenda respeito pelos órgãos de soberania (3). Em grande parte, a tolerância que a maioria tem pela injustiça que vem de cima – de legisladores, ministros, juízes, bispos e afins – deve-se à ilusão de que a moral também vem de cima, dos soberanos, deuses ou seus representantes, em virtude de estarem lá em cima, e o que importa cá em baixo é obedecer aos mandamentos.

É importante desfazer esta ilusão. A compreensão de que ninguém é “dono” da moral só por ser rei, papa ou deus foi uma grande conquista dos últimos séculos. Deu-nos a democracia, a liberdade de expressão, a igualdade perante a lei e assim por diante. Mas implica que todos nos temos de responsabilizar pela avaliação crítica das normas sociais. É trágico quando a maioria se esquece desta responsabilidade e aceita cegamente ideologias políticas ou mandamentos divinos. É esse o perigo do «referencial exterior». Por outro lado, se tivermos consciência de que cada um só é tão ético quanto queira ser estaremos muito mais atentos às tretas que nos querem impingir e teremos muito mais cuidado com o poder que damos aos que nos governam e aos que policiam o nosso comportamento.

* Há quem use “moral” e “ética” como sinónimos, mas eu prefiro distingui-las e chamo moral às normas de conduta e ética à avaliação crítica dessas normas com o intuito de as fundamentar em princípios justos e imparciais.

1- Dignidade, graças a Deus.
2- Económico, ”Não se resolve nada contestando”
3- Expresso, Cardeal aconselha prudência no exercício dos direitos constitucionais

21 comentários:

  1. Sr. Ludwig,

    Num post sobre "moral e ética", arranja sempre espaço para umas alfinetadas aos seus ódios de estimação, que é, bem no fundo, o que dá algum sentido à coisa, que já de si não tem muito por onde se lhe pegue (mas isto é apenas a minha opinião e vale o que vale). Aqui volta a repetir uma interessante citação de Pio XII:

    «A ninguém, pois, seja lícito infringir esta nossa declaração, proclamação e definição, ou temerariamente opor-se-lhe e contrariá-la. Se alguém presumir intentá-lo, saiba que incorre na indignação de Deus [omnipotente] e dos bem-aventurados apóstolos Pedro e Paulo»(4)

    como se isto fosse uma maldição dos infernos (isto decerto deve andar a causar-lhe calafrios), sempre podia explicar, o que se passaria de terrível a alguém, que no seu prefeito juízo, e após longa (ou curta ou nenhuma) ponderação, se atrevesse a contrariar a proclamação de Pio XII.

    Isto só para ver as pessoas conseguem ter algum sossego, em face das terríveis ameaças que podem pender sobre as suas cabeças (joelhos, tornozelos e outras partes da anatomia de qualquer um).

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  2. Ludwig

    O problema é o meio termo.

    A Igreja Católica reconhece o papel supremo e fundamental da consciência individual.

    Daí a ir até à total arbitrariedade subjectiva que preconizas (amenizando, é verdade, com uma ética de justiça e imparcialidade - mas porquê apenas esse tipo de ética pobrezinho, próximo da ética do Antigo Testamento?) vai de facto um grande passo.

    É algures entre a (ou na fusão da) ética de um referencial exterior de origem divina e a consciência individual que se encontra a zona (frágil e fluida é certo) de equilíbrio.

    Quando especifico que o referencial exterior é de origem divina, é para evitar interpretações - como as que faz o João Vasco - em que esse referencial exterior não é de facto exterior mas sim sociobiológico (nestes termos, a ética é uma espécie de subproduto biológico, com todos os limites, arbitrariedades e injustiças que isso pode implicar).

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  3. moralis und ethicas sunt conjuntos arbitrários de regras

    não é ético maltratar los animales

    mas é ético devorar-lhes os cadáveres

    ou cozer as lagostas e caracoles vivos...

    o referencial exterior é de origem divina zeus escapou de ser devorado pelo pai urano e meteu-lhe um pedregulho no bucho

    ou diz-se bush?
    abaixo a ética dos boches
    viva a moral grega...sexo para diversão só com rapazinhos

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  4. Ludwig,

    «Muitas regras morais parecem ter como propósito impor comportamentos em vez de conciliar seja o que for.»

    A moral não tem de conciliar seja o que for. As pessoas sim, “têm de” conciliar muitas coisas e “devem” conciliar muitas coisas. A moral é a ciência do bem e das regras da acção humana. Se o Ludwig pensar, por exemplo, a que perguntas responde a moral, talvez constate que se trata de virtudes, de merecimentos, em suma, da prática do bem. Quanto ao entendimento do que se considere o bem, já o problema é diferente. A prática do bem, como princípio moral, impõe-se à consciência de cada um e não teria sentido que conciliasse o que quer que fosse. Aliás, se o Ludwig, em consciência, praticar uma boa ação, do ponto de vista da moral, não deixa de ser boa se, por ex., à luz do sistema jurídico ou religioso, o não for. Para a moral, ou o juízo moral, a intenção é que conta. Se o Ludwig der uma esmola a um pobre, isso tanto pode ser condenável como louvável. O acto de dar esmola, por si só, não pode ser considerado boa acção, nem má.

    Valores imparciais? Por exemplo?

    Por outro lado, o Bem, enquanto “fonte” de deveres morais é, digamos, transversal a todas as fontes de deveres, éticos, jurídicos, de trato social. Só que, aqui, voltamos à «vexata quaestio» deste blogue, qual seja, do que é o Bem e onde, em última análise, radicamos o dever de fazer o Bem.

    Neste aspecto, diria, com Kant, que a acção moral é a que é praticada por respeito ao dever.

    Os lobos não têm este problema. Não praticam o bem, nem o mal.

    «A ética é frágil precisamente porque é opcional.»

    A ética não é opcional, pode não ser coerciva e, por via disso, não ser observada, mas não é opcional no sentido de "faz se quiseres", ou, "não importa que faças ou não".

    «O objectivo não é ver as coisas como eu quero, como tu queres ou como Deus quer mas sim encontrar normas independentes de qualquer sujeito em particular.»

    Para o cristão, o objetivo é ver as coisas como Deus quer. O cristão sabe que Deus quer o Bem e sempre o Bem. Não apenas nas acções, mas também nos pensamentos e nas intenções.
    Aliás, para a moral, tudo se resume ao dever de praticar o bem, em pensamentos, intenções e acções.

    Esta obediência não é possível sem autonomia e responsabilidade.

    O Ludwig consegue apontar uma norma independente de qualquer sujeito em particular?

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  5. Os lobos têm este problema. são seres gregários o bem, resulta no maior fitness do matilhame e o mal leva à extinção-----

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  6. A "MORAL" SUBJECTIVA DO LUDWIG MOSTRA QUE ELE ESTÁ ERRADO

    Para poder criticar o comportamento dos religiosos, o Ludwig tem que pressupor a existência de valores morais objectivos.

    Caso contrário, são as suas próprias preferências morais subjectivas contra a dos religiosos.

    A Bíblia ensina que existem valores morais objectivos.

    A teoria da evolução (com a sua ênfase no carácter amoral e predatório de milhões de anos de processos evolutivos), não.

    A Bíblia ganha, porque o Ludwig tem que postular a visão bíblica do mundo para as suas afirmações e condenações morais serem plausíveis...


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  7. OS PROBLEMAS DO LUDWIG COM VALORES E NORMAS MORAIS

    1) O Ludwig é naturalista, acreditando que o mundo físico é tudo o que existe. Sendo assim ele tem um problema, porque valores e normas morais não existem no mundo físico.

    2) O Ludwig diz que a observação científica é o único critério válido de conhecimento. Ora, nunca ninguém observou valores e normas morais no campo ou em laboratório.

    3) O Ludwig diz que a moral é subjectiva. Ora, se são os sujeitos que criam valores e normas, eles não estão realmente vinculados por eles, podendo cada um criar valores e normas a seu gosto, o que nega a existência de normas morais.

    4) Se a moral é subjectiva, como o Ludwig diz, dificilmente se poderá justificar qualquer pretensão de conferir validade universal às suas pretensas normas.

    5) O Ludwig está sempre a dizer aos outros que não devem dizer aos outros o que devem ou não devem fazer. Ou seja, ele faz exactamente o que diz que os outros não devem fazer.

    6) De milhões de anos de processos aleatórios de crueldade, dor, sofrimento e morte não se deduz logicamente qualquer valor intrínseco do ser humano nem qualquer dever moral de fazer isto ou aquilo.

    Conclusão: sempre que fala em valores e normas morais o Ludwig mostra que é irracional e arbitrário.

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  8. A IRRACIONALIDADE DA CONCEPÇÃO DO LUDWIG SOBRE DIGNIDADE HUMANA

    O Ludwig diz que a questão da dignidade humana não pode ficar dependente da questão factual da dignidade humana não pode ficar dependente da questão factual da existência de Deus.

    No entanto, a ideia de dignidade da pessoa humana é uma doutrina da teologia judaico-cristã!

    Só tem sentido falar em dignidade humana se for verdade que Deus criou o homem e a mulher à sua imagem, tendo-os dotado de racionalidade, moralidade, criatividade e subjectividade comunicativa e relacionai.

    Diferentemente, a dignidade humana nunca poderia ser logicamente deduzida da mitologia grega, em que os próprios deuses se devoravam uns aos outros, de forma arbitrária e sem qualquer respeito pela dignidade uns dos outros, ao mesmo tempo que se compraziam a impor sofrimento e morte aos seres humanos sem qualquer justificação moral.

    Do mesmo modo, ela nunca poderia ser logicamente deduzida da ideia evolucionista de que o ser humano é um acidente cósmico, sem qualquer valor intrínseco, resultante de milhões de anos de processos aleatórios, predação, dor, sofrimento e morte...

    O próprio Charles Darwin afirmou que, do ponto de vista evolucionista, falar em dignidade da pessoa humana é uma manifestação de preconceito natural e orgulho natural...

    A dignidade da pessoa humana é uma doutrina bíblica, fundada na noção de que o homem e a mulher foram criados à imagem e semelhança de Deus e salvos por Ele.

    P.S.

    Um estudo recente mostra que tartarugas supostamente do Jurássico, alegadamente com dezenas de milhões de anos, são exactamente iguais às actualmente existentes, demonstrando mais uma vez que a evolução só existe realmente na imaginação dos evolucionistas...


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  9. Embora concorde que não haja «moral absoluta» — no sentido platónico da expressão — existe a possibilidade de analisar diferentes morais e ver quais «regras» ditam comportamentos mais racionais e funcionais para uma sociedade. Por exemplo, podemos observar na História quais as sociedades em que matar outrém era penalizado, e as em que o homicídio não era moralmente condenável, e comparar os resultados. O mesmo relativamente, por exemplo, ao direito à propriedade («não roubar») ou o respeito pelos pais.

    Regra geral há muito poucos exemplos de sociedades estáveis e duradouras que não incorporam os mesmos princípios morais que todos conhecemos. Se efectivamente foi preciso «impô-los» de cima (recorrendo a uma autoridade qualquer que usa a violência — verbal ou física — para manter essa moral) ou se foram coordenados «de baixo» a partir de processos democráticos, o resultado é pouco mais ou menos o mesmo, para os princípios morais fundamentais. É que as sociedades (poucas, antes do período moderno) onde os princípios morais vieram «de baixo» inspiraram-se evidentemente nas sociedades que lhes precederam e que defendiam certos princípios que foram analisados, discutidos, e incorporados se se consideravam serem úteis para uma sociedade funcional.

    Não quer isto dizer que hajam «valores morais absolutos» mas meramente que, com o correr do tempo, há sempre os mesmos valores morais que surgem e que acabam por ser adoptados... quando pessoalmente afirmo que há uma certa universalidade de alguns valores, não quero com isto dizer que esses valores são «absolutos» no sentido de estarem «escondidos no universo» e que foram «revelados» por alguém iluminado. Quer apenas dizer que os seres humanos são seres humanos em todas as épocas e períodos, e acabam por chegar às mesmas conclusões — pelo menos no que concerne a um conjunto enumerável de regras.

    A diferença está nos pormenores. Está em quem impõe o quê. Está na forma como essa imposição é feita: à força, pelo medo, pela violência... ou através de uma adopção voluntária daquilo que faz mais sentido do ponto de vista funcional. E obviamente que este conjunto de regras não é idêntico entre sociedades, épocas e culturas, e há excepções. Alguns exemplos típicos: o homicídio é proibido nas religiões do Livro, excepto se for cometido em nome de Deus. Tomar aquilo que não é nosso («roubar») é permitido, na maior parte das sociedades, se for o Governo a fazê-lo. Mentir é permitido na maioria das sociedades, desde que não se seja apanhado a fazê-lo! E assim por diante.

    Independentemente das «excepções à regra» o que me importa pessoalmente aqui estabelecer é que existe uma noção de dignidade humana que existe e existiu sempre, baseado num conjunto de normas morais que todas as sociedades, ao longo dos tempos, reconheceram como sendo as melhores e as mais funcionais. Isto apenas porque as sociedades, por si só, são um produto das capacidades e características dos seres humanos, que, como tal, tendem a encontrar as mesmas soluções para os mesmos problemas. Obviamente com pequenas variantes da forma como aplicam as soluções ou como as justificam...

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  10. Sr. Luís Miguel Sequeira,

    Este seu parágrafo:

    «A diferença está nos pormenores. Está em quem impõe o quê. Está na forma como essa imposição é feita: à força, pelo medo, pela violência... ou através de uma adopção voluntária daquilo que faz mais sentido do ponto de vista funcional. E obviamente que este conjunto de regras não é idêntico entre sociedades, épocas e culturas, e há excepções. Alguns exemplos típicos: o homicídio é proibido nas religiões do Livro, excepto se for cometido em nome de Deus. Tomar aquilo que não é nosso («roubar») é permitido, na maior parte das sociedades, se for o Governo a fazê-lo. Mentir é permitido na maioria das sociedades, desde que não se seja apanhado a fazê-lo! E assim por diante.»

    é muito interessante, está cheio de sugestões curiosas, mas isso é lá consigo (gracejos seus...). Eu gostava de saber o que é que você engloba nas "religiões do Livro", é que eu tenho impressão que para a igreja católica o homícido (em nome de seja quem for)é tão lícito (ou proibido como você diz) como outro qualquer, mas se calhar é só impressão minha e você conhece o assunto melhor do que eu. Também tenho a impressão que os Governos (que nós conscientemente mandatamos para nos representar) estão sujeitos ao direito como todas as outras entidades e não é suposto estarem fora da lei. Quanto a mentir, acho que está enganado, não é proibido em lado nenhum (ou pelo menos neste cantinho onde vivemos), e pode-se mentir livremente, a menos que se cause dano a alguém com intenção (e aí sim é um problema ser apanhado a fazê-lo, porque podem conseguir provar tudo o resto).

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    1. Bom, todas as Religiões do Livro supostamente aceitam os Dez Mandamentos (embora sejam na verdade uns 14 e cada religião ou tradição conta-os de forma diferente). «Não matar», «Não roubar» e «Não mentir» fazem sempre parte dessa lista, e, da forma como são apresentados, são valores absolutos.

      No entanto, depois nas sociedades em que temos, supostamente inspiradas por esses Dez Mandamentos, pode-se matar em nome de Deus e/ou «interesses superiores», pode-se mentir em certas circunstâncias, e pode-se roubar (desde que seja o Estado a fazê-lo) que não se é punido. :)

      O meu comentário era apenas no sentido de que a base para a consciência moral dos seguidores das Religiões do Livro está bem clara, mas que todas elas depois «redefinem» essa base com argumentos do tipo «sim, mas há excepções permitidas...» :) Nem estou a falar dos praticantes — esses obviamente que é suposto arrependerem-se se transgrediram as regras, já que são apenas humanos e perfeitos. Mas são as próprias instituições a promover a quebra dos seus princípios morais! A «guerra religiosa» é tolerada, ou mesmo encorajada, por todas as Religiões do Livro, em maior ou menos grau...

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    3. Sr. Luís Miguel Sequeira,

      Claro que isto diz respeito à “ética e à moral” (e não só às religiosas, mas também às supostas não religiosas)

      Eu tenho a impressão que quem alguma certa inclinação para diferenciar as práticas inspiradas na religião de todas as outras, pois para as primeiras acha válido considerar todo o seu espaço temporal de existência, imaginar que essas práticas ocorreram como que completamente descontextualizadas, ou seja que algo que ocorreu há centenas ou milhares de anos pode ser avaliado, como se tivesse sido ontem (como se este exercício fosse razoável ou honesto). É que infelizmente temos exemplos bastante mais recentes, quase contemporâneos, como os regimes nazi (na Alemanha sec XX) e os comunistas (Europa, Asia e Cuba, séculos XX e XXI), regimes grande parte deles de inspiração anti-religiosa, onde era o homicídio, não só era aceite, como era recomendado, para delitos de opinião e actividades consideradas contrária aos interesses, do povo, da maioria, dos proletários, da ideologia, da pátria. Curiosamente a religião (e os religiosos) nestes locais era perseguida (com muitos religiosos e crentes mortos), a não ser que se conformassem aos ditos interesses do povo, dos operários, do partido, do que quer que fosse. É claro que nestes casos podia-se roubar, porque isso se tornava moral (na defesa dos interesses do povo).

      É claro que a atitude sensata, hoje em dia é ignorar estes crimes (talvez por terem essa moralidade, de serem feitas em nome do povo ou do que for) e focar a atenção nos crimes que foram cometidos há centenas de anos em nome de Deus (ou do que fosse), que na altura foram o que foram e tiveram a validade que tiveram, contudo a avaliação moral destes acontecimentos a este tempo de distância, faz todo o sentido e apenas credibiliza o carácter hediondo desses crimes ser feita agora, digamos que só agora a humanidade é capaz de analisar devidamente esses acontecimentos. E, o mais grave é o medo que todos temos que esses crimes se repitam nos dias de hoje e haja que tomar medidas urgentes para que eles não tornem a repetir-se.

      Na realidade, o facto de o homicídio passar a ser aceitável (desde que em nome do povo), nos regimes comunistas e nazi (grande parte deles ter acontecido recentemente, na maior parte dos casos produtos de regimes democráticos), isso sim é algo de que nos podemos esquecer, com toda a facilidade, porque como é óbvio o que nos devemos preocupar é com os homicídios realizados em nome de Deus.

      Outras notas:
      Já agora não matar, não roubar e não mentir fazem parte de qualquer moral, seja do livro ou fora do livro.
      As sociedades europeias são laicas, e não são inspiradas nos Dez Mandamentos, apenas a cultura vigente reflecte ainda esses valores (e cada vez menos), podendo livremente pô-las de parte, desde que as pessoas queiram substituí-las por outras.
      Também gostava que me dissesse qual foi a última “guerra religiosa” que ocorreu (ligada à igreja católica) e se no seu imaginário considera que hoje em dia isso seria possível.

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  11. Estimado Miguel Sequeira

    A ideia de que não existe moral absoluta é apenas uma concepção subjectiva defendida por aqueles que não acreditam em Deus.

    O problema é que se não existe moral absoluta cada um pode criar as suas normas, não havendo qualquer critério de valoração.

    Por exemplo, uma pessoa poderia criar uma norma à luz da qual é moralmente correcto matar o Luis Miguel Sequeira (LMS) e não haveria critério para dizer que estava errada.

    É claro que o LMS poderia criar uma norma oposta e analisar as diferentes morais, mas seria sempre a sua opinião contra a opinião oposta.

    Uma pessoa poderia achar moralmente correctos os valores da instabilidade social e da violência e o LMS poderia objectar.

    Mas não haveria maneira de dizer qual das duas posições é mais correcta porque todos os padrões são subjectivos.

    Teríamos que concluir que se uma sociedade considerasse útil e vantajoso exterminar uma maioria étnica que isso seria moralmente correcto do ponto de vista dessa sociedade, já que não existe nenhum critério moral objectivo à luz do qual o genocídio possa ser considerado errado.

    Do ponto de vista bíblico é claro.

    Se os seres humanos, em todas épocas e períodos acabam por chegar às mesmas conclusões, isso significa que, no seu íntimo, têm consciência da existência de uma moral objectiva eterna e universal, o que corrobora a ideia de um Deus moral, eterno e omnipresente que colocou um sentido moral na consciência humana.


    P.S. Existe claramente ampla evidência de um dilúvio no passado.

    Os criacionistas interpretam essa evidência como parte de um dilúvio global cataclísmico recente, apoiando-se na Bíblia e em centenas de relatos idênticos das culturas da antiguidade.

    Os evolucionistas interpretam essa evidência como referida a episódios isolados no tempo e no espaço, apoiados em modelos de cientistas do presente.

    Em última análise é uma questão de crença, na medida em que nem uns nem outros podem viajar no tempo e confirmar o que realmente se passou no passado.


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    1. Já tivemos esta discussão antes, perspectiva. Do seu ponto de vista, considera que os seres humanos são uns mentecaptos incapazes de compreender o que é melhor para si e para os outros.

      Do meu ponto de vista — e estava justamente a ilustrar esse ponto — parece ser Deus que não sabe muito bem o que é melhor para os humanos, já que define normas que depois ninguém cumpre, ou, pior que isso, define excepções às normas para corromper uma moral que até estava bem no papel (ou na pedra...), e faz pior trabalho do que os humanos :)

      Um ponto que ilustra isto muito bem é o mandamento «Não matar». Não se diz, «não comerás homicídio». Diz-se apenas que é proibido, de forma absoluta, matar ser vivos. Não é dada nenhuma excepção. Mas, mais à frente na Bíblia, já temos indicações de que YHWH, o «Senhor dos Exércitos», mata à vontade todos aqueles que não acreditam n'Ele e que não O veneram. Então mas que raio de moral é esta? O princípio «não matar» aplica-se só quando nos apetece?

      E, de facto, é assim que ele é aplicado nos dias que correm. Basta olhar para o IRA, para a Al Qaeda, para o Estado de Israel. Todos eles, usando a desculpa de que «matam em nome de Deus», transgridem o mandamento à vontade, porque acham que não se aplica.

      Então quem decide em que circunstâncias é que o mandamento se aplica, e em que circunstâncias é permitido matar? Seres humanos. Porque se se acreditar que os Dez Mandamentos são divinos, então é mais que claro que os seres humanos que dizem segui-los não só não os estão a cumprir (o que ainda seria aceitável porque não somos perfeitos...), mas, muito mais grave que isso, estão a enganar-se a si próprios e aos outros inventando justificações para poder contornar e ignorar os Dez Mandamentos quando mais lhes convém.

      Não posso confiar de todo numa mensagem alegadamente «divina», que impõe uma moral supostamente absoluta, mas que depois pode ser livremente pervertida a bel-prazer daqueles que se dizem seguidores dessa moral. E justificando-a com episódios do próprio livro sagrado! Se não se pode matar, porque é que a Bíblia descreve os sangrentos episódios em que YHVH massacra rios de seres humanos e animais só porque não gosta deles, e inspira alegados crentes a fazer o mesmo?

      Prefiro, pois, uma moral bem humana, sem recorrer a interpretações pseudo-sobrenaturais, que estabeleça o princípio universal de que não é permitido matar nenhum ser vivo.

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    2. Por outras palavras: se realmente fosse verdade que a Bíblia, ou qualquer outro livro supostamente sobrenatural, impusesse uma moral absoluta, estabelecendo uma conduta clara e inequívoca, e que afirmasse que esta moral era a única possível porque tinha origem divina, então talvez me sentisse tentado a concordar com o perspectiva.

      Na prática, o que temos, pelo menos nas Religiões do Livro, é uma moral deturpada com todo o tipo de excepções e justificações para contornar as regras estabelecidas nos Dez Mandamentos. E já não falo sequer das restantes milhares de regras no Antigo Testamento — que obviamente que só o judeus mais ortodoxos é que cumprem. Até ficaria contente que a única moral fosse «amai o outro como a vós mesmos» como ensinou Jesus de Nazaré dizendo que era a única regra importante! Mas até isso tem servido como pretexto para interpretações, justificações, e excepções à regra.

      Concluo, pois, que o amigo perspectiva, que assumo que seja um ser moral, está a seguir uma moral que é apenas sua, já que o exemplo claro que temos é que quando esta moral é imposta por origem divina, ninguém não só a respeita, como os altos dignatários religiosos justificam as excepções às regras com leviandade, sem qualquer problema de estarem a contradizer os princípios divinos (aparentemente achando-os demasiado abstractos e impossíveis de seguir!... afinal de contas, como poderíamos matar os nossos inimigos se os Dez Mandamentos não permitem que se mate nenhum ser vivo?).

      Não me parece, pois, ser uma boa base de imputação. Até quase que posso acreditar que o autor dos Dez Mandamentos (historicamente atribuídos a Moisés) estivesse realmente inspirado divinamente quando os escreveu. Mas foi o primeiro e último a fazê-lo, e durou pouco tempo, porque Moisés tb. andou à porrada com muita gente e não teve quaisquer escrúpulos a afogar dezenas de milhares de egípcios no Mar Vermelho :)

      São esses os exemplos da moralidade inspirada divinamente?

      Prefiro mil vezes mais a moralidade criada pelos seres humanos! Essa pelo menos pode ser definida sem ambiguidades através daquilo que é efectivamente melhor para o próprio e para a sociedade onde vive, através da razão, da observação, da análise, da inferência, da história... os resultados estão à vista: as sociedades onde vivemos estão ironicamente muito mais próximas do espírito dos Dez Mandamentos apesar de serem laicas e inspiradas por valores humanistas, que propõem modelos de moral e de conduta baseados em argumentos racionais.

      Lamento que o perspectiva tenha tão fraca opinião dos seus congéneres e não lhes reconheça a capacidade de pensarem pelas suas próprias cabeças e chegarem à conclusão do que é, efectivamente, melhor para todos nós. Eu, em compensação, tenho forte desconfiança de uma moral alegadamente «divina» mas que tem mais buracos que um queijo suíço e que é descartada na primeira ocasião que seja preciso, encontrando-se habilmente uma «justificação» para «dar a volta» a uma regra de conduta moral que não seja conveniente seguir...

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  12. A avaliar pela crise em que nos encontramos, tudo indica que o ser humano tende a violar as normas existentes, sejam elas de criação divina ou humana...

    A ideia de que a norma "não matar" é apresentada como uma proibição sem excepção é errada: a lei de Moisés estabelece a pena de morte.

    Além disso, estabelece cidades refúgio para aqueles que tenham praticado homicídio negligente...

    Também admite a legitima defesa de indivíduos e povos...

    Por outro lado, Deus tem o direito de castigar o pecado do homem, dizendo claramente que o castigo devido pelo pecado é a morte física e espiritual eterna.

    Na verdade, Jesus diz: "se não vos arrependerdes, todos de igual modo perecereis".

    Leia melhor a Bíblia.



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    1. "Por outro lado, Deus tem o direito de castigar o pecado do homem, dizendo claramente que o castigo devido pelo pecado é a morte física e espiritual eterna." Ainda bem que o seu deus não existe. Sinceramente, as pessoas religiosas dizem cada coisa mais horrível. Então, se as pessoas religiosas dizem que só sendo cristão se salva a alma do pecado, se eu não sou cristã, logo sou pecadora e mereço a morte física e espiritual (seja lá isso o que for)? Lindo... Mas que simpatia.

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  13. A IGNORÂNCIA DO LUDWIG

    Ele diz:

    "A compreensão de que ninguém é “dono” da moral só por ser rei, papa ou deus foi uma grande conquista dos últimos séculos. Deu-nos a democracia, a liberdade de expressão, a igualdade perante a lei e assim por diante."

    Curiosamente, John Milton, o famoso puritano inglês, é considerado o pai da liberdade de expressão.

    A doutrina da democracia e da igualdade perante a lei, tal como as conhecemos hoje, são o produto das doutrinas judaico-cristãs, estando bem presentes na Declaração de Independência dos Estados Unidos, pela pena de Thomas Jefferson, onde se lê:

    "We hold these truths to be self-evident, that all men are created equal, that they are endowed by their Creator with certain unalienable Rights, that among these are Life, Liberty and the pursuit of Happiness. That to secure these rights, Governments are instituted among Men, deriving their just powers from the consent of the governed".

    O Ludwig não sabe do que fala.

    Ele devia ler um bom livro sobre os fundamentos teístas do Estado Constitucional.











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  14. «Nos comentários ao post sobre a dignidade, o João Vasco escreveu que «A moral surge da necessidade de conciliar vontades»(1). Se bem que concorde que sem conflito não é preciso moral nem ética, o conflito, por si, não produz moral. A necessidade de conciliar vontades sem qualquer moral é muito comum. A águia quer comer o coelho, a este isso não dá jeito mas algum irá ceder, resolvendo o conflito. »

    Hã???

    Não creio que precises de dizer que o conflito por si não faz moral, não me parece que alguém defenda que faz. Isso é suposto estar em oposição ao que penso?


    «Concordo, no entanto, que conciliar vontades é um problema ético do qual a moral devia depender*. Mas, se bem que o problema só se ponha se houver conflitos, como o João Vasco escreveu, não é do conflito em si que surge a ética. O fundamental é uma escolha pessoal. A ética vem da opção de submeter as regras morais ao crivo de valores imparciais, independentes das nossas tradições, do hábito ou do que nos dá jeito.»

    As diferentes morais são os diferentes sistemas de regras que são criados para a forma como os agentes devem usar as suas escolhas, mas algumas dessas regras resolvem os conflitos entres as vontades de formas mais harmoniosas e eficazes que outras. A ética estuda essas diferentes moralidades, e deverá ajudar a distinguir as melhores e as piores.


    Se bem percebo, a única coisa concreta que obstas ao que escrevi é o "perigo" do "referencial exterior".

    Mas pode ser que seja um mal entendido, pois quando criticas esse referencial assumes que haverá um "dono", e aí estou contigo em discordar que exista. Aliás, se existisse, entraríamos no puro relativismo moral.

    O referencial exterior existe porque muito do problema moral depende dos constrangimentos que a realidade nos coloca: as consequências das acções, na natureza e nas pessoas. Se a realidade não é uma escolha, mas sim algo que existe "lá fora", e essa realidade tem o impacto que tem nas nossas vontades, desejos, medos, dores, então um bom sistema moral não pode ser simplesmente acordado: tem de ser em grande medida descoberto. Por exemplo: mesmo que todos acreditem que a escravatura é boa, escravos incluídos (o chamado "efeito de hegemonia"), ela continua a ser má na medida em que haveriam formas de conciliar as vontades dos agentes envolvidos muito melhores. Isto deve-se em grande medida à natureza humana, que ainda estamos a desvendar.

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  15. Os princípios éticos da nossa sociedade têm sido o resultado da matriz judaico-cristã que a estruturou durante séculos. É apenas com com base nesses princípios que se pode defender, logicamente, a igual dignidade de todos os seres humanos.


    Se os seres humanos são um acidente cósmico e o produto de milhões de anos de predação, crueldade, sofrimento e morte, é totalmente arbitrário afirmar que têm valor intrínseco e que devem ser tratados de forma igual.


    O que tem valido aos Estados ocidentais é a sua matriz de moralidade, igualdade e justiça social derivada da Reforma Protestante e da Bíblia que a estruturou durante os últimos quatro séculos.


    São os valores judaico-cristãos que nos ensinam o desvalor de certos actos, que devemos considerar criminosos, ou das drogas, bem como o valor da educação e do desenvolvimento pessoal.


    Mas os valores não são massa e energia, nem se podem observar no campo ou em laboratório, existindo apenas num mundo espiritual e imaterial, refutando, pela sua própria existência, uma visão estritamente materialista, naturalista e ateísta do mundo.


    É fácil deduzir logicamente a existência de valores de dignidade e igualdade a partir da premissa, que o Génesis estabelece, de que existe uma dimensão imaterial e valorativa no mundo, resultante da natureza boa e justa de Deus, e da igual dignidade de todos os seres humanos por terem sido criados à imagem de Deus.


    Mas é impossível deduzir, de forma lógica e não arbitrária, a existência desses valores a partir de uma visão materialista que nega a existência da dimensão espiritual e de tudo que não se pode ver e testar cientificamente.


    Em todo o caso, o Ludwig, como especialista que diz ser em pensamento crítico, poderia testar esse exercício aqui, de forma racional e fundamentada.

    Ficamos à espera.

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