sábado, julho 07, 2012

Os bugalhos e o busílis.

Tenho visto várias pessoas a desvalorizar a confusão com a licenciatura do Miguel Relvas por ele não a usar para nada, por ser uma questão insignificante, por ser só para fazer notícia e assim por diante (1). Na verdade, não é preciso canudo para ser político nem ele desempenha funções que só um técnico habilitado em Ciência Política e Relações Internacionais possa desempenhar. Se é que há disso. Se tem ou não tem licenciatura é, em si, irrelevante. Mas o problema é que obter a equivalência a 32 das 36 disciplinas da licenciatura graças ao “percurso profissional” sugere bastante mais do que mérito académico (2). O processo pode ser formalmente legal, mas não é para qualquer um e, sem amigos nos sítios certos, é duvidoso que alguém consiga uma licenciatura assim. E isso é um problema.

Não que seja problemático alguém ter um certificado de relações internacionais sem estar devidamente habilitado. Não é como se fosse cirurgião ou piloto. Mas se o Miguel Relvas usou a sua influência e contactos para obter esta licenciatura de borla, isto demonstra um poder além dos que lhe foram atribuídos, legitimamente, pelo eleitorado. Os poderes de deputado, secretário de Estado, ministro e outros cargos que tem ocupado são bem definidos. Em contraste, o poder de obter uma licenciatura desta forma é uma incógnita; não se percebe de onde vem nem onde acaba.

É claro que qualquer político tem desses poderes, infelizmente, e é um problema que os usem. Do Miguel Relvas é difícil não ficar com a sensação de que usa a influência que tem, legítima ou não, quando isso lhe traz vantagem (3). Devíamos exigir mais dos políticos mas já se instalou algum conformismo a este respeito. Já damos o desconto. Se alguma coisa lhes interessa mesmo, não nos surpreende que a tentem alcançar nem que seja palmando-a de saída ou ameaçando alguém por telefone. O problema principal, neste caso da licenciatura, é que o canudo não tem interesse nenhum. Nem para nós, nem para o Miguel Relvas. Até deve ser difícil encontrar uma licenciatura mais próxima de licenciatura nenhuma do que Ciência Política e Relações Internacionais concluída com média de onze valores e apenas quatro exames.

Isto é que assusta. Se o caso é como parece, o Miguel Relvas não é apenas um político daqueles que puxam um cordel aqui e ali quando vêem vantagem nisso. É pior. É alguém que o faz só porque pode, mesmo sem tirar vantagem real disso, e sem considerar quem prejudica pelo caminho (4). Isto não é um “não assunto”. É um exemplo extremo de como este homem usa o poder que tem e é uma boa justificação para lho tirar.

Adenda: “ah, e o Sócrates?”. Sim, era a mesma coisa. Deve ter feito mais uns exames mas também deu muitas demonstrações de ter um carácter parecido. Independentemente de estar mais à esquerda ou à direita, também não é pessoa a quem seja sensato dar poder.

1- Helena Matos, Pedro Froufe, Rodrigo Moita de Deus
2- AF, Licenciatura: Relvas fez quatro das 36 cadeiras
3- Por exemplo, as alegações da ameaças à ERC, via Esquerda Republicana
4- Como os infelizes que se licenciaram na Lusófuna.

14 comentários:

  1. tirando que no caso de socrates todo o processo foi inspecionado pelo MP 2 vezes e o problema era a cadeira final do curso que poderia ter sido uma trapalhada e não foi. os papeis recentemente apareceram e não houve nenhuma ilegalidade

    neste caso é o curso todo por uma cadeira, equivalências da treta , etc
    ahahah

    aliás quando sócrates tira a 1ª licenciatura nem era pol+itico, pequenos detalhes

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  2. Nuvens, ensandeceste?

    Vamos recapitular, pela mão serena da wikipedia:

    «Antes de ter obtido a sua licenciatura, José Sócrates apareceu na biografia oficial do Parlamento Português com a profissão de engenheiro, quando pelas suas qualificações à data apenas poderia referir engenheiro técnico. Sócrates respondeu a esta questão dizendo tratar-se provavelmente de um mal-entendido da responsabilidade dos serviços parlamentares. Antes e depois de obter o seu diploma de licenciatura, Sócrates utilizou o título de engenheiro em diversos documentos oficiais (em vez de licenciado em engenharia), apesar de o seu curso de engenharia civil não ser acreditado pela Ordem dos Engenheiros, organismo que regula a profissão em Portugal, nem de ter prestado provas de admissão à Ordem. (...)
    A biografia publicada pela Presidência do Conselho de Ministros refere que José Sócrates possui uma pós-graduação em Engenharia Sanitária pela Escola Nacional de Saúde Pública, contudo, esta pós-graduação não existe naquele estabelecimento.
    Em 3 de Novembro de 2007 o semanário Expresso, publicou uma notícia com novas suspeitas quanto às habilitações do primeiro-ministro. Este quando se candidatou a uma pós-graduação no ISCTE-IUL (ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa), terá incluído no currículo a prática de funções de engenheiro civil na Câmara da Covilhã, entre 1981 e 1987. O advogado José Maria Martins disse, citado pelo semanário, que este é um facto falso e que, sendo o currículo um dos critérios de admissão ao curso, foi utilizado de forma a induzir o instituto de que seria engenheiro civil. Veio entretanto a público que nesse período Sócrates terá de facto assinado, como engenheiro, dezenas de projectos de engenharia e inclusivamente de arquitectura, sem ter as habilitações necessárias e sem estar inscrito na Ordem.
    Em Junho de 2011, o antigo responsável pelos cursos de Engenharia da Universidade Independente, Eurico Calado, afirmou ao tribunal que julga um dos processos-crime relacionados com esta instituição que José Sócrates «não é engenheiro»
    »


    O Ludwig acrescentou em adenda ao texto sobre licenciaturas, e por respeito aos factos mais evidentes, um paralelismo nas habilitações para a habilidade entre Relvas e Sócrates. O paralelismo por respeito aos factos menos evidentes mas igualmente óbvios ficou apenas ao cargo das reflexões do leitor...

    A única incógnita verdadeira com que nos deparamos nisto tudo é o teu súbito voluntarismo :)

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    1. as duas situações não são comparáveis, como disse sócrates tinha um curso de 3 anos , completos e a questão de ser ou não engenheiro é que na minha opinião entra no provincianismo nacional sobre títulos.

      o que na prática deveria estar neste tipo de registo era uma carta de curso e assim não haveria lugar a erros destes.
      se se pretende fazer de uma ficha que se preenche uma prova do carácter das pessoas estamos muito mal.adiante

      mais uma vez volto a dizer que os factos foram investigados pelo MP sem ter havido qualquer prova de ilícito. e aqui já não se aplica a ideia de todos os estados de lei e democráticos que é o princípio da inocência, aqui tem de se aplicar o princípio da total falta de provas

      sobre relvas saiu hoje no expresso nem sequer frequentou as aulas , os professores dizem que nem o conheciam, fez quando muito uma cadeira e o resto já cheira a esturro

      mais , foi-lhe atribuída equivalência pelo percurso profissional que se resume a uns meses numas empresas como consultor.

      querer compara as duas situações , a de uma pessoa que conclui um curso de três anos e depois a equivalência para engenharia com um pessoa que fez uma cadeira, teve todo o resto do curso por equivalência a uma suposta experiência que nunca teve é no mínimo um exagero ou uma piada.

      o Ludwig meteu uma piadola que eu não achei justa e comentei

      a politica desperta paixões e como tal cada um defende o seu ponto de vista de forma mais intensa :)

      mas num país onde estamos a caminhar a passos largos para um desastre , a estupidez certificada do relvas é mesmo o menor dos nossos problemas

      :)

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    2. Concordo com o Nuvens. São casos distintos. Relvas representa com mais propriedade a geração facilitista e superficial de formandos numa série de Universidades privadas que, para nossa desgraça, até já predomina no parlamento e no governo. Não é preciso conhecer com pormenor o currículo académico de homens como Jerónimo de Sousa, nem sequer concordar com eles, para aceitar que as suas competências e autenticidade ficam a anos luz desses "doutores da mula ruça".
      Mas a novela Relvas ainda não acabou. Falta saber o género de serviços de consultoria que interessou a quem lhe deu trabalho e se teve a ver com alguma outra coisa que não a sua proximidade com os corredores do poder. Relvas disse que teria vergonha de ser da família de Sócrates. Pois eu, habitual votante de direita, tenho vergonha de ser eleitor de um país onde políticos do seu calibre ainda têm influência.

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  3. E são estas pessoas que nos governam.

    O que me aborrece na politica, e não só na portuguesa,é que um politico deve ser visto como alguém melhor que a média.

    Quer se concorde com a politica do mesmo ou não este deve ser percebido como alguém duma elite.

    O que temos é o governo dos piores....

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  4. Mas o problema é que(bírgula) obter esta problemática na silly season quando já toda a gente sabia que ele só fez uns cadeirotes...


    agora krippahl muito jornalista teve equivalência a equivalência de licenciatura e mestrado com o percurso nospasquins deles a 32 das 36 disciplinas da licenciatura graças....a não terem copiado no exame para juízes


    tens cá uma visão do mundo ó Dottore Lud cum Wig

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  5. obviamente que é uma all drabice como muitas...ay nai-pubish

    tante putalítico e jornalista que fez o mesme

    viva nosso santanah...

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  6. Nuvens,

    Como mencionei na piadola, concordo que o caso da licenciatura do Sócrates é diferente. Nos detalhes. No entanto, parece-me que revela o mesmo problema.

    «se se pretende fazer de uma ficha que se preenche uma prova do carácter das pessoas estamos muito mal.»

    Não é isso que pretendo. Se o caso fosse eles escreverem "licenciado" ou "engenheiro" numa ficha e ser engano, queria lá saber. Corrijam a ficha e pronto. Mas em ambos os casos o que se passou mostra que estão dispostos a usar o poder e influência que têm, de forma imoral mesmo que não seja ilegal, por qualquer merdice que lhes dê na cabeça. Nem que seja vaidade. Ora isto não é o tipo de gente a quem se deve dar poder.

    «mais uma vez volto a dizer que os factos foram investigados pelo MP sem ter havido qualquer prova de ilícito.»

    Ao que sei, no caso do Relvas é tudo 100% legal. No caso do Sócrates:

    «Rui Verde, ex-vice-reitor da Universidade Independente e a ser julgado pela prática de vários crimes na gestão daquele estabelecimento de ensino, disse, em Novembro de 2011, ao jornal Público, que os documentos originais da licenciatura do ex-primeiro-ministro estão em sua posse. O Departamento Central de Investigação e Acção Penal considera que o ex-vice-reitor da Universidade Independente, Rui Verde, cometeu um crime de subtração de documentos autênticos» (daqui).

    «aliás quando sócrates tira a 1ª licenciatura nem era pol+itico, pequenos detalhes»

    Tanto quanto sei, tirou um bacharelato antes de ser político, não uma licenciatura. Mas o ponto do comentário não era os detalhes do percurso. Era sim a disposição para dar um "empurrãozinho" com os meios que tivessem para se graduarem por portas travessas. Achas que se Sócrates não tivesse usado a sua influência tinha obtido o canudo? Parece-me duvidoso...

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    1. Breves notas:

      Não acho que se possa, depois de duas investigações do MP, continuar a falar de uma pessoa como se ela fosse suspeita.
      Não é rigoroso e é deitar por terra o objetivo da justiça que é o de permitir a defesa das pessoas, o castigo dos culpados e sobretudo a ilibação dos inocentes. Este arrastar o nomes das pessoas em suspeitas do diz que diz é , a meu ver, simplesmente inaceitável.

      Não é a mesma coisa os dois casos e sobretudo não são da mesma gravidade , acho que todos concordamos nisso, ok.

      divergimos é na subjetividade que toda a apreciação política tem e aí não há pensamento analítico que nos valha, quando se começa a falar em política a objctividade esvai-se , tb dou isso de barato.

      nota final : o dito caso sócrates foi ao ponto de se andar a vasculhar se a nota foi dada com um lápis ou foi uma fotocópia etc

      espero o mesmo rigor com este senhor de nome relvas.

      nunca ninguém em portugal teve a vida tão escrutinada como o ex PM, foi ao ponto de serem abertos inquéritos , como no caso freeport, baseados em cartas anónimas mais tarde demonstradas serem uma cabala. cabala demonstrada em tribunal.
      mas ainda se fala do envolvimento de socrates num caso fantasma,

      a irracionalidade do ser humano não é só na religião, infelizmente tb na política , e esta mais do que aquela pode trazer grandes amargos de boca.

      continuaremos em breve esta conversa, mas acho que aqui pode estar um tema muito interessante sobre as limitações do pensamento analítico :)

      abraços cordiais a todos, e só pela nossa conversa já nos devem uns créditos em ciências políticas e pensamento actual ahahahah

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  7. Nuvens,

    «a questão de ser ou não engenheiro é que na minha opinião entra no provincianismo nacional sobre títulos.»

    Se a diferença entre bacharelato e licenciatura resultasse de um preconceito provinciano(*), poderíamos então concluir que Sócrates só se poderia culpar a si mesmo pelo provincianismo de procurar uma licenciatura além de um bacharelato. Mas a diferença é maior do que o preconceito, e nisso eu até dou razão ao Sócrates. Posso ilustrar com um caso, do meu conhecimento pessoal, de um aluno de licenciatura em engenharia civil que não conseguia passar do segundo ano e acabou por pedir transferência para o politécnico de Coimbra, onde passou a gabar-se de fazer aquilo com uma perna às costas.

    A própria Ordem dos Engenheiros estabelece a diferenciação e a «questão de ser ou não ser engenheiro», independentemente da tua opinião, deve-se ao grau de conhecimento adquirido nos diferentes níveis de ensino. Daí decorre uma diferença formal e substancial para a habilitação.

    «a politica desperta paixões e como tal cada um defende o seu ponto de vista de forma mais intensa :)»

    Que isso não te impeça de ser exigente... Exigir o mínimo de idoneidade a um governante, sobretudo o da tua preferência, não é provincianismo.


    (*) tenho alergia a este termo. Parece implicar uma característica negativa que se agrava consoante a distância aos centros urbanos, quando é precisamente nos centros urbanos que encontramos o seu paroxismo. Como por exemplo em Paris, onde é possível encontrar alguém que nem sequer fala francês dedicando-se à colecção de licenciaturas.

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  8. Nuvens,

    «divergimos é na subjetividade que toda a apreciação política tem e aí não há pensamento analítico que nos valha, quando se começa a falar em política a objctividade esvai-se»

    Estás claramente noutro comprimento de onda. Para já, porque ninguém está a falar em política. Depois, porque dizer e fazer asneiras ao abrigo de uma “paixão” não é bem uma regra. É uma desculpa, cada vez mais inaceitável.

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    1. está sempre a falar-se de política quando se apreciam políticos, quando se apreciam factos À margem dos tribunais , quando se continuam a afirmar ilegalidades quando foi demonstrado que não havia nenhuma e quando se comparam pessoas que fizeram todas as cadeiras e suspeitava-se que poderiam não ter feito uma ou duas e pessoas que se sabe que só fizeram uma ou duas e tiraram o curso por correspondência.

      este é o problema de se apreciarem comportamentos de políticos e pensar-se que se pode ser imparcial. não pode, não há imparcialidade como se vê claramente ao comparar coisas distintas e misturar tudo numa amálgama indistinta

      e uma nota, e não estou a desculpar ninguém, apenas digo que um caso investigado pelo MP não pode ser chamado à baila por analogia de um curso tirado por correspondência ,não é a mesma coisa.

      existe uma noção de julgamento de carácter a que gostaria de voltar mais tarde , e que como é óbvia é profundamente política, profundamente perigosa e que está na base de todo o totalitarismo, voltarei a esse ponto em breve.

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  9. Nuvens e Nuno Gaspar,

    Não defendo que, nisto das licenciaturas, o Relvas ou o Sócrates sejam suspeitos de algo que possa ser comprovado crime em tribunal. Nisto, são iguais.

    Não discordo de que, quantitativamente, possa haver diferenças no peso da influência política e poder destas pessoas na obtenção dos seus respectivos graus. No entanto, dada a grande incerteza e dificuldade em quantificar estes factores, considero que, dentro da margem de erro, são iguais.

    Mais importante do que as considerações anteriores, parece-me claro que ambos obtiveram as suas licenciaturas apenas porque se serviram de poder e influência política, e que se não tivessem os cargos que tiveram e os amigos que têm teriam de ter estudado muito mais para acabar os cursos. Como acontece com as outras pessoas menos privilegiadas.

    E é por isto que eu digo que, em ambos os casos, se demonstra que estas pessoas não merecem o poder que lhes foi concedido. Porque é claro que estão dispostos a usar esse poder para benefício pessoal mesmo quando o benefício é irrisório, o que não permite confiar que usem esse poder de forma correcta. Nisto estão os dois na mesma situação.

    Se o Sócrates merecia a licenciatura porque a tirou exactamente nas mesmas condições que seriam dadas a qualquer um de nós, então admito que o caso dele é diferente. Mas não estou ainda convencido disso, e suspeito que vocês também não. O simples facto dele não ter sido condenado por nenhum crime neste processo é insuficiente para concluir isto...

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  10. Miguel Relvas viu o seu currículo valorizado depois de ter transmitido à Universidade Lusófona que tinha sido presidente da assembleia geral da Associação de Folclore da Região de Turismo dos Templários, entre outros elementos do seu percurso profissional, segundo adiantam os jornais de hoje.


    assim sim, fica tudo explicado

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