quarta-feira, julho 18, 2012

Evolução: polimorfismos.

Já me fartei dos disparates do Orlando Braga, mas a repetição (1), sem atribuição, dos argumentos e diagramas do Behe (2) inspirou-me para este post, o que agradeço. Um problema do criacionismo é olhar para sistemas como o da coagulação humana e imaginar um mecanismo preciso, como o do relógio de Paley, onde tudo tem de ser e encaixar exactamente assim.

Coagulacão
Fonte: Wikipedia

Mas os relógios da mesma marca e modelo são todos iguais e, se tiramos ou dobrarmos uma roda dentada o relógio deixa de funcionar. Os seres vivos não são assim. Os humanos são praticamente todos diferentes, com genes diferentes em combinações diferentes produzindo proteínas diferentes. Uns vêem bem, outros são míopes. Uns deixam de fumar sem esforço, outros não conseguem. Uns ficam a tremer com uma chávena de café, outros podem beber meia dúzia por dia sem problema. As nossas vias metabólicas são muito complexas mas não são como um relógio. São mais como um cozinhado. Deitar meio quilo de sal pode estragar tudo, mas uma pitada a mais ou as batatas cortadas desta ou daquela maneira pode nem fazer diferença. Depende do organismo e dos genes que tem.

É o que acontece na coagulação. Por exemplo, a deficiência de factor XI (PTA no diagrama do Orlando) resulta na hemofilia de tipo C. Esta é uma forma suave de hemofilia que muitas vezes nem é detectada porque mesmo com uma deficiência severa do factor XI não há grande tendência para hemorragias. Até é normal a actividade do factor XI ser muito reduzida antes dos seis meses de idade (3). Ao contrário do relógio, onde uma peça torta encrava tudo, o sistema de coagulação ainda se safa mesmo sem algumas peças. Não tão bem, mas serve. Mesmo na hemofilia A, normalmente muito grave, há casos de pessoas com grande deficiência do factor VIII mas que não sofrem de hemorragias espontâneas e apenas manifestam sintomas leves de hemofilia (4). O que mais importa não é a roda dentada em si mas o efeito no cozinhado todo.

E o mau numas coisas pode ser bom noutras. Por exemplo, a variante Leiden do factor V é uma mutação que aumenta a coagulação do sangue, o que aumenta os riscos de trombose venosa profunda (TVP). Em pessoas saudáveis o risco de TVP é de cerca de 1 em 1000 por ano, em pessoas com uma cópia da variante Leiden o risco é cerca de 1 em 200 e de 1 em 12 para quem tem duas cópias do gene (5). No entanto, esta variante do factor V reduz para um quinto a probabilidade de hemorragias intracranianas (6), possivelmente pela coagulação mais fácil.

Estes exemplos, apenas dois de muitos polimorfismos conhecidos, ilustram vários pontos importantes. Primeiro, nem todas as peças que fazem parte destes sistemas têm um papel igualmente crucial. O factor VIII, por exemplo, é muito mais importante do que o factor XI, a julgar pela severidade relativa das hemofilias A e C. Em segundo lugar, a interacção de várias variantes genéticas influencia estes efeitos, como se nota nos casos em que a deficiência de factor VIII apenas conduz a uma hemofilia ligeira. Em terceiro lugar, como mostra a mutação de Leiden, uma alteração pode agravar um problema (tromboses) mas mitigar outro (hemorragias no cérebro). Finalmente, todas estas variantes coexistem na mesma população que, com o passar das gerações, vai amostrando aleatoriamente o espaço de combinações possíveis e premiando aquelas que se correlacionam com maior sucesso reprodutivo (6). Isso é evolução.

Que o sistema preciso de um relógio de bolso evolua é difícil, não só porque os relógios não se reproduzem mas também porque são concebidos de forma inteligente para funcionar exactamente assim. Se olharmos para um ser vivo como se fosse um relógio não percebemos como pode evoluir. Mas os seres vivos não são relógios. A natureza é mais desorganizada, fluida e desenrascada do que um relojoeiro. Em vez de relógios todos iguais precisamente fabricados para medir o tempo da mesma forma, as populações de seres vivos têm imensa diversidade, com muitas combinações genéticas, umas com mais sucesso que outras, sem haver sequer uma solução ideal única para os problemas que enfrentam. Com esta imagem é fácil perceber como uma proteína nova pode entrar num sistema como o da coagulação sem estragar tudo.

Pode começar por ter um efeito pequeno. Por exemplo, aumentar ligeiramente a taxa de coagulação, como faz a variante Leiden, que até coexiste com o factor V normal na maioria dos portadores. Isto cria uma pressão selectiva que favorece qualquer proteína que, por mutação, ganhe um efeito regulador sobre a primeira. A partir daqui o par já pode começar a ter um efeito mais acentuado e mais focado naquilo que beneficia a reprodução desses genes organismo. Isto não é como o relojoeiro pôr mais uma roda dentada no relógio. É mais como acrescentar uma colher de colorau e depois mais um dente de alho para contrariar o sabor adocicado. O mais interessante é que nem precisa do cozinheiro, porque a competição entre os organismos encarrega-se de “provar” a receita a cada geração.

1- Orlando Braga, A fé inabalável do darwinismo
2- Podem comparar o diagrama no post do Orlando com estes dos livros do Michael Behe.
3- Medscape, Hemophilia C
3- Medscape, Hemophilia A
4- Wikipedia, Factor V Leiden.
5- Corral et al, Polymorphisms of clotting factors modify the risk for primary intracranial hemorrhage
6- Do fibrinogénio humano já conhecemos 20 variantes naturais da cadeia alfa, 14 da cadeia beta e 19 da cadeia gama. Isto dá 20x13x19 combinações diferentes só para o fibrinogénio, assumindo homozigotismo.


Adenda: segundo o Orlando, eu perdi o debate. Desoladíssimo, resta-me apenas dar-lhe os parabéns pela vitória.

13 comentários:

  1. 1) O problema é que os seres humanos são muito mais complexos do que os relógios e dependem de códigos e de informação codificada, genética e epigenética, cuja complexidade, densidade e miniaturização transcende toda a capacidade intelectual, científica e tecnológica humana.


    2) Por isso, quando falamos do Universo e da vida não podemos falar em design inteligente (aplicável certamente a um relógio) mas sim de design super-inteligente. Um ser humano pode desenhar um relógio. Mas um relógio não pode desenhar um ser humano.


    3) Na verdade, nem toda a comunidade científica junta consegue criar vida. E se o conseguisse, isso apenas confirmaria que a mesma depende de inteligência e informação.


    4) Os criacionistas estão fartos de saber que no corpo humano há que distinguir entre informação crítica para a vida (v.g. a que faz bater o coração) e informação não crítica (v.g. que codifica a cor dos olhos). Assim é, também, com um carro, um computador, um avião, etc., todos produtos de design inteligente.


    4) O facto de os efeitos da coagulação dependerem da interacção de várias variantes genéticas, apenas demonstra a complexidade dos processos em presença.


    5) Por seu lado,se uma mutação como a de Leiden pode agravar um problema (tromboses) mas mitigar outro (hemorragias no cérebro), ela nunca cria estruturas e funções inovadoras e mais complexas, por mais gerações que passem.

    6) Selecção natural não transforma espécies noutras diferentes e mais complexas. Ela não cria informação genética nova capaz de codificar estruturas e funções inovadoras e mais complexas. Tal nunca foi visto.

    O Ludwig, que, a avaliar pelo post anterior sofre de uma psicanalítica e freudiana "inveja do pénis", continua na estaca zero.

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  2. pOLIMORFISMOS referem-se a polimorfos logo morfológicos

    Polimorphias bioquímicas...ou de vias biosintéticas é assis a modos que...

    se são vias metabólicas nã são polimorfias strictu sensu....

    espero sinceramente a bem da inducação nazionalle que nunca dês bioquímica evolutiva
    ou endocrinologia comparada ou outra palermice que a Nova abra lá no deserto da margem sud....

    generalmente polimorfo en sus temas y manifestaciones el krippahl
    Sufre d'El delirio es uno polimorfo Malo:Evolución. 5. Caso Clínico: Parafrénia ..... “Delirios crónicos con ideas polimorfas”. Pereyra (1957) ...

    Clima de perversidade pardón preversidade polimorfa, pués es influenciado por riesgo de evolución a Esquizofrenia o Delirio Crónico....pobrecitas das crias
    depois dão as crias que têm a mais quando isto passar a bit con's?
    eu fico com duas para revenda...

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  3. Um estudo científico recente mostra que os Neandertais tinham conhecimento do valor nutritivo e curativo das plantas medicinais corroborando que se tratava de verdadeiros seres humanos, dentro da variedade genética e morfológica do género.

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    1. Mais uma referência ao recente estudo sobre as evidências de conhecimentos médicos dos Neandertais que só vem cobrir de ridículo as macacadas que os evolucionistas têm escrito sobre eles nas últimas décadas...

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  4. Um estudo científico recente mostra que os cogumelos "evoluem" perdendo genes no processo, o que corrobora a ideia criacionista de progressiva eliminação e degradação da informação genética.

    Mas coloca a pergunta: como é que se pode evoluir de partículas para pessoas perdendo genes no processo?

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    1. a evolução pode acontecer através de perdas e ganhos de genes - quem não entende isso não entende a teoria que tanto quer ver refutada

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  5. Um estudo interessantíssimo mostra que na suposta origem do Universo já se observam as chamadas galáxias espiraladas designada por "grande design", contra as previsões dos modelos de evolução cósmica dominantes...

    Os cientistas, incrédulos, reconhecem:

    "Current wisdom holds that such 'grand-design' spiral galaxies simply didn't exist at such an early time in the history of the universe."

    A a explicação bíblica é simples: o grande design já existe nas galáxias supostamente mais primitivas porque existe um Grande Designer.

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  6. Paleosinecologia evolutiva
    Correlação morfológica
    Ciclos de vida e morfismos associados
    Agoara vias metabólicas...valha-nos são cu vier...
    faz uma interpretaçãozinha PALeoautoecológica de co-evolução
    ou estados ontogenéticos idênticos ou mui aproximados

    agora polimorfismos e dimorfismos sexualis até existem dentro da mesma espécie
    e unimorfismos ô monomorphismos por convergênciaa evolutiva sã tantes..

    logo puto da geração de 70...foi um péssimo título
    numa colecção enorme....

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  7. LEITURA DE FÉRIAS: RECORDANDO O DEBATE

    AS ESTRATÉGIAS RETÓRICAS DO LUDWIG


    No seu debate com os criacionistas, o Ludwig tem usado sucessivamente várias estratégias retóricas. Vejamos:


    1) Estratégia científica: tentou analisar temas clássicos da teoria da evolução como os fósseis, os elos de transição, a coluna geológica, o DNA, as homologias, os órgãos vestigiais, os isótopos, etc., Para sua surpresa, foi confrontado com o facto de que os criacionistas, longe de ignorarem essas evidências, afirmam que elas (juntamente com outras que os evolucionistas desvalorizam) encaixam perfeitamente no que a Bíblia diz acerca da Criação, corrupção, dilúvio global, dispersão pós-diluviana, etc.



    2) Estratégia epistemológica: tentou demonstrar a superioridade do conhecimento científico. No entanto, foi confrontado com o facto de que a ciência moderna se baseia nas premissas bíblicas acerca da estrutura racional do Universo e da racionalidade do ser humano. A ciência é exactamente a mesma para evolucionistas e criacionistas. Estes não negam nenhuma lei natural, processo físico ou observação científica. Apenas dizem que nenhuma lei ou processo físico é capaz de criar matéria e energia, criar vida e transformar partículas em pessoas.



    3) Estratégia ideológica: tentou demonstrar as virtualidades ideológicas do naturalismo, embora tenha sido confrontado com a ideia de que acreditar que “tudo veio do nada por acaso” é uma afirmação ideológica, destituída de fundamento científico, lógico e filosófico.



    4) Estratégia moral: tentou demonstrar que os ateus podem ser bons e os crentes maus, embora tenha sido confrontado com a ideia de que o bem e o mal são categorias que supõem padrões objectivos de moralidade que só Deus pode estabelecer. No modelo evolutivo aleatório, nenhum processo físico pode estabelecer normas morais. Estas não são realidades físicas, mas sim imateriais.


    5) Estratégia emotiva: tentou passar a ideia de que os criacionistas, por lhe responderem ponto por ponto, são gente má, radical, fundamentalista e traumatizada. Para ele, as respostas criacionistas representam actos de agressão. Tenta com isso captar a benevolência dos seus leitores, procurando que eles tenham pena dele por estar a ser tão “atacado”. Se conseguir ganhar os leitores através da vitimização e das emoções, livra-se de ter que fundamentar racionalmente a teoria da evolução. De acordo com esta estratégia, o facto de os leitores terem pena do Ludwig conta como argumento a favor da evolução de partículas para pessoas.


    O Ludwig preferiria certamente vir ao varandim, fazer o seu discurso às massas e esperar que toda a gente estendesse o braço gritando “Heil Krippahl!”

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  8. LEITURA DE FÉRIAS: MOMENTOS DO DEBATE

    O LUDWIG ERRA: AS FALÉSIAS DE DOVER, O MEDITERRÂNEO E O DILÚVIO GLOBAL

    Nos seus debates “criação v. evolução”, depois de afirmar que gaivotas dão gaivotas (tal como a Bíblia ensina!) o Ludwig apresentava as falésias de Dover como exemplo de evolução.

    Nunca se percebeu bem qual a relação entre uma coisa e outra, nem ela era explicada, e infelizmente não havia tempo para discutir a questão ao pormenor.


    No entanto, também nesta matéria a abordagem do Ludwig se mostra desadequada.

    Diferentemente, a abordagem bíblica, que afirma a ocorrência de um dilúvio global, apresenta-se bastante mais promissora para explicar as falésias de Dover.


    Dois aspectos devem ser salientados.

    Em primeiro lugar, tudo indica que as falésias de Dover são parte de um complexo mais vasto, com ligações a formações rochosas no Médio Oriente e nos Estados Unidos. Disso existe evidência crescente.


    Em segundo lugar, um estudo anglo-francês recente veio confirmar que a França e o Reino Unido estavam ligados entre si há cerca de 500 000 anos atrás (na desadequada cronologia uniformitarista dominante) tendo um pré-histórico “super-rio”, ou “mega-dilúvio”, aberto um canal de separação entre ambos: o Canal da Mancha., sendo que a evidência sugere que tudo terá ocorrido num passado muito mais recente


    Foi nesse contexto, de muita água em pouco tempo e não de pouca água em muito tempo, que foram formadas as Falésias de Dover.

    Os cientistas ingleses e franceses dizem que as mesmas são o resultado de “eventos dramáticos”.

    É claro que ninguém viu a formação das Falésias de Dover há centenas de milhares de anos atrás, em três eventos distintos separados no tempo.

    No entanto, mais de 200 culturas da antiguidade falam da ocorrência de um dilúvio global, pelo qual Deus castigou a humanidade, um único evento sem qualquer paralelo na história da Terra.


    Ou seja, as Falésias de Dover nada têm que ver com hipotética evolução nem com a demonstração da extrema antiguidade da Terra, na medida em que, de acordo com as datações uniformitaristas, terão sido formadas há escassas centenas de milhares de anos, o que é recentíssimo mesmo para quem aceite essas datações.

    Do ponto de vista de quem acredita na ocorrência de um dilúvio global (de que dão testemunho mais de 200 relatos das mais diversas culturas e civilizações antigas) não deixa de ser significativo o facto de a evidência demonstrar que as Falésias de Dover foram criadas por um “super-rio” ou “mega-dilúvio”.

    Curiosamente, uma notícia recente dá conta de que o Mediterrâneo foi cheio de água em muito pouco tempo.


    A existência dessa evidência não surpreende nenhum criacionista bíblico.

    Referências:

    How a Pre-Historic “Super River” Turned Britain Into na Island Nation, Daily Mail, 30 de Novembro de 2009

    Mega-Flood filled de Mediterranean in Months, New Scientist, 9 de Dezembro de 2009

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  9. não há nada de semelhante a um relógio (ou a uma ratoeira) na natureza, trata-se de uma falsa analogia, uma falácia. quanto á cascata de coagulação sanguínea, não são apenas as espécies que têm ancestrais comuns, as proteínas também. a explicação da evolução deste mecanismo pode não estar ainda completa, mas há fortes indícios de que o fibrinogénio (o qual desempenha a mesma função em todos os vertebrados) tenha evoluido a partir de uma proteína mais simples e com funções diferentes, assim como há indícios de que o flagelo bacteriano tenha evoluido. vejam o meu post: http://allthatmattersmaddy32.blogspot.pt/2012/07/dissecando-as-evidencias-do-darwinismo-v.html (e confiram as referências se quiserem)

    P.S. o que não há é evidencias da existencia de um criador divino, nem uma, por mais minuscula que seja.

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  10. Parabéns ao Ludwig por defender o racionalismo e os pontos de vista que estão cientificamente mais correctos mas que são dificilmente aceites pelos religiosos mais conservadores e fundamentalistas.

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