terça-feira, junho 19, 2012

Economismo, parte 2.

O Rui Albuquerque criticou o meu post anterior, que caracterizou de «cheio de afirmações e desprovido de quaisquer demonstrações». Apelando ao rigor científico, pediu-me para fundamentar a alegação de que os impostos elevados «“não destroem a economia”» com detalhes acerca da política fiscal dos EUA no período que eu referi (1). Mas eu apenas rejeitei a alegação dele, que impostos elevados são «a fórmula necessária e suficiente para a destruição de qualquer economia»(2). Para isso basta dar um exemplo de uma economia que tivesse aguentado impostos elevados sem ruir. Se o Rui quiser mais detalhes, que consulte a explicação da Priscila Rêgo (3). Entretanto, fico à espera do fundamento empírico dele para a regra que enunciou.

A seguir, o Rui questionou algumas afirmações minhas, classificando-as «de simples conteúdo ideológico [sem] sombra de demonstração»(1). Primeiro, que “Quanto mais dinheiro se tem mais fácil é obter o dinheiro dos outros” (4). Isto é fácil de demonstrar. Quem tem muito dinheiro pode fazer tudo o que poderia fazer sem dinheiro, mais tudo o que só pode fazer com dinheiro. Logo, tem mais opções. Além disso, um dos fundamentos do capitalismo é que o dinheiro pode servir para ganhar mais dinheiro. Que “a melhor forma de enriquecer no sector privado é apropriando-se da riqueza criada por outros” também é fácil de demonstrar. Por muito enérgico e talentoso que um indivíduo seja, só tem 24 horas por dia para trabalhar. Mas se contratar mil empregados e ficar com 10% da riqueza que cada um gerar pode ganhar muito mais. É por isso que quem monta um negócio contrata empregados. Não é para fazer favores, caridade ou combater o desemprego. É porque lucrar com a riqueza que os outros produzem é a melhor maneira de enriquecer. Por muito bem que chute a bola, o Cristiano Ronaldo não consegue ganhar mais do que o Belmiro de Azevedo, com quase quarenta mil a trabalhar por ele.

O Rui pede-me também que demonstre que a riqueza “é simplesmente um somatório de preços”. O conceito é complicado e varia muito com o contexto mas, em economia, a riqueza acaba por ter de ser quantificada em unidades monetárias. Ou seja, em preço. Se o Rui, quando fala de riqueza, não está a falar de euros então que explique o que quer dizer. Também é fácil perceber porque é que a economia privada sem redistribuição é insustentável. No mercado livre, a riqueza de cada um vai variando, seja por mérito, demérito, sorte ou falta dela. No entanto, enquanto que no extremo inferior se torna cada vez mais difícil obter os meios para enriquecer – o esforço, por si só, não basta, especialmente de barriga vazia – no extremo oposto acontece o contrário. Os ricos têm sempre mais opções e mais poder para as concretizar. Como há um limite para a desigualdade que uma sociedade pode comportar até que a AK-47 se torne mais relevante do que a conta bancária, sem mecanismos de redistribuição é só questão de tempo até que a economia colapse. Mas esta é das tais regras universais que se pode facilmente refutar com um contra exemplo. Basta ao Rui indicar um país onde haja estabilidade e prosperidade sem redistribuição.

É óbvio que, ideologicamente, eu e Rui divergimos muito. Seria interessante identificar os pontos chave dessa divergência mas, antes disso, temos de resolver a confusão entre valores e factos. O Rui pergunta se eu estou «satisfeito com a evolução da justiça, da segurança, da saúde e da educação de Portugal». Não estou. Subjectivamente, gostaria que fossem melhores. Mas, objectivamente, na última década a esperança média de vida subiu quase 3 anos (5) e o número de licenciados duplicou (6). Uma coisa é discutirmos se isto é bom ou se poderia ser melhor. Outra, bem diferente, é saber se há uma forma prática de obter o mesmo resultado com menos dinheiro. Podemos discutir qualquer um destes aspectos, mas é crucial distingui-los. Da minha satisfação, ou falta dela, não se pode inferir que os impostos destroem a economia ou deterioram a saúde e a educação.

Este problema é ainda mais claro com a justiça e a segurança. Num post posterior, notando que o número de seguranças privados já ultrapassou o dos agentes policiais, o Rui pergunta «se a iniciativa privada já cumpre melhor aquela que é a primeira justificação da existência do estado – a segurança dos cidadãos – por que não o poderá fazer com todas as outras?»(7). Objectivamente, o papel da segurança privada é diferente do da polícia e, para garantir que todos são livres de transaccionar os seus bens e trabalho é preciso uma polícia que proteja todos por igual. Se a substituímos por guardas a soldo temos um sistema como o feudal, no qual os pobres não tinham propriedade. Eram propriedade. Se o Rui defende, subjectivamente, que esse sistema é melhor, então que seja explícito nos seus critérios para podermos decidir se aceitamos o seu juízo de valor. Se, por outro lado, defende como facto que a segurança privada garante a todos os mesmos direitos que a polícia, então afirme-o claramente e justifique a afirmação. Esta misturada de que «a iniciativa privada já cumpre melhor» esta função do Estado deixa-nos sem saber nem qual é, objectivamente, a função que refere nem, subjectivamente, que critérios invoca para a considerar melhor cumprida.

O que talvez seja de propósito. Suspeito que os valores deste liberalismo do Rui sejam tão repugnantes, e os factos que presume tão inverosímeis, que a única forma de o defender seja misturando tudo na esperança que a confusão disfarce o disparate.

1- Rui Albuquerque, que tretas!
2- Rui Albuquerque, economia capitalista e “economia” parasitária
3- Priscila Rêgo, O que sabemos (mesmo) acerca dos impostos
4- Treta da semana: economismo.
5- Index Mundi.
6- Jornal de Notícias, Licenciados duplicam em dez anos
7- Rui Albuquerque, mais uma das coisas que «só o estado pode garantir»

12 comentários:

  1. "Suspeito que os valores deste liberalismo do Rui sejam tão repugnantes, e os factos que presume tão inverosímeis, que a única forma de o defender seja misturando tudo na esperança que a confusão disfarce o disparate."

    Mas porque pensas que a partir de certa altura os grandes argumentos para o (pseudo) liberalismo passaram a ser a "escolha" e a "liberdade?"

    É mais fácil vender o snake oil se este cheirar a morango...

    ResponderEliminar
  2. Às vezes pergunto-me pq alguns destes "liberais", que tanto dizem implicita ou explicitamente que o estado não serve para nada e a iniciativa privada faz tudo melhor, não emigram para a Somália. Lá não teriam estado algum a atrapalhar-lhes a vida. Nem impostos, nem regulamentos, nem nada. Seria o paraíso para eles, não?

    ResponderEliminar
  3. Uma refutação ainda mais curta do argumento do RA, inspirada nos comentários ao post da Priscila Rêgo:

    Um asteróide que colida com a Terra, destruindo-a completamente, destrói necessariamente todas as economias. Logo, os impostos altos não são são uma condição necessária para a destruição de uma economia...

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Ah!Ah!Ah!

      A velha confusão entre «necessária» e «suficiente».

      Eliminar
    2. já pens haste que phodias formar um grupo religioso con o teu grupe de marados e ganhar milhões meu entre «n'acess'ária» e «sufi ciente».
      vês uma boa relegio os sufis cientes que são in con's cientes

      ó velho burn Away a famelga é da que troca livros por cavalos dados

      ou da que remexe em antigualhas?

      Pisanis há muytos e todos de a ven tale
      agente num é bobão para os cat alugar tutti...

      Eliminar
  4. “Quanto mais dinheiro se tem mais fácil é obter o dinheiro dos outros”

    Mais fácil ter-se "amigos", mais fácil ter-se mulheres modelos, mais fácil ter-se saúde, mais fácil ser-se considerado excêntrico em oposição a maluco :))), mais fácil tudo um pouco, até viver mais , melhor e de forma mais calma.

    Mas na realidade portuguesa com distorções como a cunha , ter-se dinheiro é sinónimo de ter-se poder o que permite exercitar com mais facilidade o lobbing que por sua vez gera oportunidades que levam a melhores negócios.
    repare-se que esta cambada de bandidos do BPN só foi apanhada porque a crise colocou a nu o buraco que fizeram, para eles ter-se dinheiro era sinónimo de impunidade total. curiosamente continuam por julgar. coincidência ?

    Mais em portugal durante muitos anos ter-se dinheiro era a única forma de se aceder ao crédito e poder-se ter negócios que por sua vez geram dinheiro.

    QDE

    O fenómeno do micro crédito é o exemplo acabado , em muito locais dar a baixo juro um pouco de dinheiro é o suficiente para gerai N vezes o investimento. ter-se dinheiro gera dinheiro que só pode vir dos outros.

    claro que para um liberal a coisa nunca deveria funcionar assim, as pessoas pelo mérito próprio apenas deveriam conseguir singrar, etc etc
    tralhada intelectualmente indigente

    ResponderEliminar
  5. Liberais como o Rui A leram demasiado os contos de Ayn Rand e fazem-me sempre lembrar umas palavras que li através do Paul Krugman e que achei que lhes assenta que nem uma luva:
    "There are two novels that can change a bookish fourteen-year old’s life: The Lord of the Rings and Atlas Shrugged. One is a childish fantasy that often engenders a lifelong obsession with its unbelievable heroes, leading to an emotionally stunted, socially crippled adulthood, unable to deal with the real world. The other, of course, involves orcs."

    ResponderEliminar
  6. bom pá decididamente podes dar aulas de in conan mia in cu in bra...ou noutro síte eroto-exotikus

    a impostura mais elevada no IVA do restaurador mor deu no que deu

    idem nas pequenas lojecas de trapos e sabrinas de aldeia e vilória
    que facturavam milhares de eurros por mês de 2002 a 2005 mas ódespois foram-se

    há casas loggias fabriquetas negociatas aqui no deserto meu que fecharam há 30 anos e nunca mais abriram no tempo da rapina fiscal do soarismo-bolsa na mãoismo espécie de maoismo do centrão

    agora que a câmara é comuna o pequeno industrial do ajuste di rectum tá mais protegido
    agente que aparentemente tem casas de 70 anos a caire de podres
    paga pelas mansões de meio-milhão a milhão e picos que só pagam 0,4% dos 50 mil que valem as piscinas e os ginásios com garage acoplada

    mais impostos sobre quê?

    sobre os funcionários púbicos ? bom pressuponho que podiam só ganhar
    10 mesitos

    mas ódespois a quem é que os bancos emprestam dinheiro

    para comprar férias no Tahiti Mercedes e BMw's e casas novas no All garve?

    ResponderEliminar
  7. é um excelente raciocínio, dogmático e orthodoxos commo um bom grego
    é pena que sejas alemão, temos de te trucidar meu...

    ResponderEliminar
  8. vamos para os 101 emails já perdi uns 40% deles pelo menos...
    e eram dos mais dez intere s s antes
    interesse rate 12% in scutum tuo...
    em drachmas pesa 0,0005 drachmas in quicksilver

    2 bit con's krippahlistas mais ou menos
    este texto de papier machée hygienicum vale 30 bit con's

    logo quando puderes paga-me queu nã sou grego...
    mataste metade da minha FAMELGA ó huno do caraças...

    e deves 300 milhões de bit con's A cada judeu que mataste

    e um burro a cada gitano...

    ResponderEliminar

Se quiser filtrar algum ou alguns comentadores consulte este post.