Treta da semana: mais uns Passos à direita.
As novas medidas de austeridade são aumentar em meia hora o dia de trabalho dos trabalhadores do sector privado e retirar dois ordenados por ano aos funcionários públicos. Desta maneira, todos partilhamos a austeridade, desde que por “todos” se considere apenas, no sector privado, os que têm de picar o ponto e, no sector público, os que vivem do seu ordenado. Isentos ficam gestores, administradores e grandes accionistas do privado e os cargos públicos cujo rendimento vai muito além do ordenado (1).
Segundo o Pedro Passos Coelho (PPC), uma das justificações para o Estado ficar com os subsídios de Natal e férias apenas dos funcionários públicos é de que «em média os salários na função pública são 10 a 15 por cento superior à média nacional»(2). A estatística é suspeita, pois compara salários declarados, e o sector privado permite uma contabilidade muito mais criativa. Mas, mesmo que seja correcta, não serve de justificação. Deve-se cobrar mais impostos a quem ganha mais, mas com base no salário de cada individuo e não na média do grupo arbitrário onde o colocam. Também não seria justo criar um imposto especial para homens engravatados ou licenciados só por, em média, ganharem mais do que os restantes. A outra desculpa é de que «estender esta medida ao setor privado não resolveria o problema do défice orçamental». Grande barrete.
O Estado não pagar dois ordenados aos funcionários públicos é o mesmo que o Estado cobrar dois ordenados aos funcionários públicos, como imposto extraordinário. Para efeito do défice, tanto faz ver isto como menos a sair ou mais a entrar. É claro que, se o Estado desse este dinheiro às empresas privadas, isso não reduziria o défice. Por isso é que o Estado fica com este dinheiro. Fazer o equivalente no sector privado seria cobrar dois ordenados de cada salário acima dos 1000€. Esse dinheiro, obviamente, seria receita do Estado e não das empresas, reduzindo o défice de qualquer forma, excepto talvez no ideário da demagogia imbecil.
Mas a demagogia funciona. Possivelmente, muita gente julga que a principal despesa do Estado é com os salários dos funcionários públicos. Na realidade, estes perfazem menos de um quarto do orçamento (3). A despesa principal é em prestações sociais, de 37 mil milhões. Os salários totalizam 19 mil milhões e os restantes 35 mil milhões são despesas de capital, contractos com empresas, juros e outras despesas. Seria mais razoável cortar nesses 35 mil milhões antes de cortar nos salários. Infelizmente, esses 35 mil milhões vão directamente para os bancos, para as empresas de construção, para os concessionários das estradas e outros amigos dos amigos que, desta maneira, conseguem muitos e bons negócios. É o tal empreendedorismo que tanta falta nos faz.
Outra ideia comum é a da função pública ser inútil e as empresas privadas mais eficientes. É verdade que a função pública, menos sujeita a pressões de mercado, tende a acumular mais burocracia. Essa é de evitar. Mas o sector privado é eficiente apenas a maximizar a diferença entre o dinheiro a pagar por um trabalho e o valor a cobrar pelo resultado. É fácil ver porque é que precisamos de polícias, professores, enfermeiros, contabilistas, e até cobradores de impostos, para que a sociedade funcione. Mas empregados de mesa, ajudantes de cabeleireiro e aqueles chatos que nos tocam à porta a vender tretas que não queremos só têm esses empregos porque alguém lucra com isso. Se se despedissem todos a sociedade continuava na mesma. Ou até ficava melhor. Mas é fácil passar a ideia de que ensinar crianças numa escola pública é mau porque é “despesa” mas criar uma empresa para dar banho a cães é excelente por ser “empreendedorismo”.
Apesar da conversa do PPC, as medidas deste orçamento não têm nada de justo nem são para todos pagarem a crise. A maior fatia dos impostos vem do IVA, que é cego aos rendimentos (se bem que favoreça os alcoólicos, porque o vinho é um bem essencial), e a segunda maior vem do trabalho dependente. As empresas pagam um décimo disto, e a banca fica a rir. O PPC vai agravar ainda mais a diferença entre quem ganha o dinheiro a trabalhar e quem o ganha a especular ou a vender o trabalho dos outros. Também são formas legítimas de ganhar dinheiro mas, se é para todos pagarmos em função dos nossos rendimentos, então que paguem mesmo todos e em função de todos os rendimentos que auferem, seja qual for a sua proveniência. As medidas do PPC são, novamente, sacar da maioria para dar aos amigos. A única coisa que mudou desde o Sócrates foi os amigos. E talvez nem isso...
1- Expresso, Veja os rendimentos de 15 políticos portugueses antes e depois de passarem pelo Governo
2- Expresso, Passos Coelho justifica eliminação dos subsídios na função pública
3- Governo de Portugal, Relatório do Orçamento do Estado para 2010 (pdf, 6MB), Adenda: no relatório de 2010, o total dos outros gastos é 25 mil milhões. Os 35 mil milhões são uma estimativa aproximada contando com os buracos escondidos que se vai descobrindo aos poucos, e que não constavam desse relatório.
A gravidade da acusação de "sacar à maioria para dar aos amigos" carece de uma boa justificação, de preferência quantitativa.
ResponderEliminarÉ certo que haverá corrupção nas instituições políticas, como de resto há na sociedade civil. Porém, isso está longe de ser uma evidência que sustente que os cortes anunciados servem para "dar aos amigos". Não estando por dentro do assunto, parece-me mais plausível que a maior parte dos cortes anunciados servirá para honrar a outra parte dos compromissos financeiros do estado: dívidas a fornecedores, juros e reembolso aos obrigacionistas, etc.
Se os fornecedores e obrigacionistas são todos amigos do governo, isso não é necessariamente mau. A amizade é salutar, certo?! Corrupção é outra coisa.
Noto porém que não usou a palavra "roubar", o que é um salto qualitativo gigantesco face aos discursos mais habituais que veiculam esta mesma teoria da conspiração.
ttdsxo,
ResponderEliminar«Porém, isso está longe de ser uma evidência que sustente que os cortes anunciados servem para "dar aos amigos". Não estando por dentro do assunto, parece-me mais plausível que a maior parte dos cortes anunciados servirá para honrar a outra parte dos compromissos financeiros do estado»
Uma evidência clara, e quantitativa, é a assimetria nas exigências de esforço, que recai sobre os 19 mil milhões dos salários mas não nos 35 mil milhões de juros, parcerias publico privadas, ajustes directos e afins.
“Honrar os compromissos financeiros do Estado” é um ponto importante. Mas é importante ter em conta que o meu contrato de trabalho é também um compromisso financeiro do Estado. Eu não sou menos fornecedor nem o Estado tem menos obrigação para comigo do que tem para com a Mota Engil ou o BPN. No entanto, o Estado unilateralmente altera a remuneração que se comprometeu a dar-me, retirando, com estas medidas e outras recentemente tomadas, quase um quarto do que me estava prometido por contrato legal. Não me oponho a isso. Compreendo que é necessário. Mas não compreendo porque é que o fazem apenas àqueles com quem têm compromissos salariais ou de pensões e não o façam com outros compromissos. É esse favorecimento que critico.
«A amizade é salutar, certo?! Corrupção é outra coisa.»
Entre a amizade e a corrupção há margem para muita coisa legal mas que deve ser criticada e punida com o nosso voto. Por exemplo, políticos negociarem a aplicação do erário em certas empresas onde, no ano seguinte, vão assumir cargos de direcção.
Já agora, aproveito e trago para aqui um esclarecimento a propósito de outro comentário teu, num post mais antigo:
«A maior parte do trabalho aparenta não ter as características que os trabalhos criativos ou intelectuais têm: as pessoas não gostam de o desempenhar e se dada a hipótese de escolher entre continuar a trabalhar ou deixar de trabalhar e auferir dum rendimento de utilidade equivalente à gerada pelo trabalho, optariam peremptoriamente pela segunda opção.»
A ideia não é que as pessoas tenham de optar entre um rendimento garantido e o ordenado, mas sim que qualquer ordenado será um complemento ao rendimento garantido, que é fixo. E a justificação para isto é que, se bem que seja legítimo incentivar as pessoas a cumprir certas tarefas oferecendo-lhes dinheiro – um mercado livre de trabalho, do qual sou a favor – não considero legítimo coagir as pessoas a trabalhar ameaçando-as com a fome ou a miséria. Assim, para que o mercado livre de trabalho seja legítimo, é indispensável garantir que ninguém fique nessa situação equivalente à escravatura. Além disso, a redistribuição eficaz é essencial para manter o mercado a funcionar; sem isso a inevitável acumulação de riqueza numa minoria leva à estagnação.
A justiça não é para aqui chamada.
ResponderEliminarO que está em causa é o dinheiro que não é investido em Portugal, o descrédito enquanto bom mercado para aplicar dinheiro e uma antevisão de o que será um país cujas empresas não se renovam.
Nuno Dias,
ResponderEliminar«A justiça não é para aqui chamada.
O que está em causa é o dinheiro que não é investido em Portugal»
É desse juízo de valores que eu discordo. Porque se vamos pôr o "dinheiro investido" à frente da justiça, isto vai acabar mal, porque quem não tem dinheiro para investir não terá outro remédio senão fazer justiça pelas suas próprias mãos, o que nunca é bonito...
"O que está em causa é o dinheiro que não é investido em Portugal"
ResponderEliminarInvestir em Portugal? De um lado uma teia burocrática, cuja glândula maior de secreção está em Bruxelas, é verdade, em que o que não é proibido é obrigatório, e vice-versa, própria para entregar os mercados aos 3 ou 4 que, comissionando os escritórios de advogados de transfega ao governo e ao parlamento, têm dimensão para dela se desenvencilhar e servir. De outro uma multidão de saudosos de 75, invejosos, que julgam que o dinheiro cai do céu. Investir em Portugal? Por enquanto, e infelizmente, só para loucos.
"Uma evidência clara, e quantitativa, é a assimetria nas exigências de esforço, que recai sobre os 19 mil milhões dos salários mas não nos 35 mil milhões de juros, parcerias publico privadas, ajustes directos e afins."
ResponderEliminarIsso é uma política orçamental. Entre política orçamental e "sacar à maioria para dar aos amigos" está um mar imenso.
Para além disso, essa política orçamental até faz algum sentido, mesmo a um nível puramente abstracto, uma vez que é possível existirem compromissos cujas consequências de incumprimento são catastróficas ao ponto de porem em causa o cumprimento de todos os outros compromissos.
Aquilo que avança como evidência só o seria se assumíssemos que todos os compromissos financeiros assumidos pelo estado têm o mesmo nível de prioridade. Isto é especialmente falso se estabelecermos esse nível de prioridade usando como critério de seriação a minimização do montante de incumprimento futuro e, eventualmente, a minimização a médio/longo prazo do desvio do índice de qualidade vida em relação ao presente.
"(...) é um ponto importante. Mas é importante ter em conta que o meu contrato de trabalho é também um compromisso financeiro do Estado. Eu não sou menos fornecedor nem o Estado tem menos obrigação para comigo do que tem para com a Mota Engil ou o BPN. No entanto, o Estado unilateralmente altera a remuneração que se comprometeu a dar-me, retirando, com estas medidas e outras recentemente tomadas, quase um quarto do que me estava prometido por contrato legal. Não me oponho a isso. Compreendo que é necessário. Mas não compreendo porque é que o fazem apenas àqueles com quem têm compromissos salariais ou de pensões e não o façam com outros compromissos. É esse favorecimento que critico."
Repare que eu escrevi "honrar a outra parte dos compromissos financeiros do estado", estando implícito que considero os cortes salariais um incumprimento de uma parte dos compromissos financeiros do estado.
Quanto à diferença entre compromissos assumidos com empresas ou instituições financeiras e compromissos assumidos com funcionários ou pensionistas: trata-se de uma diferença que decorre de uma opção de política económica. Não é difícil encontrar aspectos positivos nessa opção, apesar dos aspectos negativos que todos conhecemos.
ttdsxo,
ResponderEliminar«Isso é uma política orçamental. Entre política orçamental e "sacar à maioria para dar aos amigos" está um mar imenso.»
Não precisa estar mar nenhum. A política orçamental pode ser precisamente tirar à maioria (é o que estão a fazer, a tirar à maioria que tem pouco) e dar aos amigos (o que estão a fazer é dar aos que têm mais, ao respeitar na íntegra os contractos com os banqueiros e cortar apenas nos contractos com os trabalhadores por conta de outrem, no IVA, pensões, etc)
«Quanto à diferença entre compromissos assumidos com empresas ou instituições financeiras e compromissos assumidos com funcionários ou pensionistas: trata-se de uma diferença que decorre de uma opção de política económica. Não é difícil encontrar aspectos positivos nessa opção, apesar dos aspectos negativos que todos conhecemos.»
Claro que não é difícil. Mas os aspectos positivos que mais saltam à vista são, logo à partida, para os beneficiários directos dessas decisões. E, logo de seguida, o impacto que essas decisões têm nos rendimentos dos políticos responsáveis (ganhos extraordinários com acções, casas pagas não se sabe de onde, cargos de direcção, etc.) Vê, por exemplo, o BPN, que o Estado negociou com um prejuízo de dois mil e quinhentos milhões, vendido, por coincidência, ao banco de um ex-ministro do PSD, na casa de quem, por outra coincidência, o Passos Coelho foi depois passar férias. Por certo que se pode encontrar muitos aspectos positivos neste negócio. A questão é para quem foram positivos. A julgar pelos cortes no meu ordenado para pagar isto, eu diria que não foram para mim...
Já agora, Nuno Dias, eu penso que a justiça é o principal problema para quem quiser investir em Portugal...
ResponderEliminar"Entre a amizade e a corrupção há margem para muita coisa legal mas que deve ser criticada e punida com o nosso voto. Por exemplo, políticos negociarem a aplicação do erário em certas empresas onde, no ano seguinte, vão assumir cargos de direcção."
ResponderEliminarVocê aplica essa regra taxativamente. Parece-me um bom princípio se olharmos ao longo de uma direcção, mas o problema é multi-dimensional. Um político honesto não é necessariamente melhor do que um político desonesto, não só porque depende da utilidade que atribuímos às coisas (tangíveis ou intangíveis), mas sobretudo porque a honestidade é ortogonal à competência. Ou seja, para um agente que não valorize a "honestidade" infinitamente mais do que qualquer outra coisa, então um político honesto não é necessariamente melhor do que um político desonesto: é preciso levar em conta a multi-dimensionalidade do problema.
«sobretudo porque a honestidade é ortogonal à competência»
ResponderEliminarNão é, de todo.
Nas actividades nas quais se coloca um problema de agência, a desonestidade é das piores formas de incompetência, mesmo descontando a dimensão moral do problema.
ttdsxo,
ResponderEliminar«a honestidade é ortogonal à competência»
De acordo. Mas só me interessa que um político seja competente se os objectivos dele forem representar a vontade de eleitores como eu. Se os objectivos dele forem encher os seus bolsos à nossa custa, quanto mais competente for pior para mim.
Portanto, se bem que a honestidade não seja indicador de competência, é um requisito indispensável. Se é para gerir o nosso dinheiro, prefiro alguém honesto, mesmo que pouco competente, do que um génio que nos sugue até ao tutano com grande mestria e saber.
Ludwig:
ResponderEliminarAssumi que se referia a competência a desempenhar a função pela qual foi contratado. Nesse sentido não há «ortogonalidade» coisissima nenhuma.
João Vasco,
ResponderEliminar«a desonestidade é das piores formas de incompetência»
Isto assumindo que os objectivos estão traçados à partida. O caixa que rouba dinheiro com grande agilidade e de forma que é impossível apanhá-lo é incompetente como caixa mas competente como ladrão. Esse é o problema da ortogonalidade.
Por isso concordo com os dois. Acho que um político desonesto pode ser muito competente a zelar pelos seus interesses. Mas será necessariamente incompetente a zelar pelo bom funcionamento da democracia representativa, onde a honestidade devia ser uma das prioridades...
Argh, comentários cruzados :)
ResponderEliminar"(...) do que um génio que nos sugue até ao tutano com grande mestria e saber."
ResponderEliminarE se for um génio que sugue apenas um bocadinho? Não está disposto a perder um bocadinho para ganhar um bocado mais? Repare que as variáveis são contínuas ;) O problema multi-dimensional é em R^n, ou então uma superfície de R^n (por imposição de alguns constrangimentos). Depende do agente, e da utilidade que atribui às coisas.
A competência é do ponto de vista do agente que vota no político. Pode-se imaginar a competência como uma medida em que um político é tanto mais competente para o agente A, quanto maior for a utilidade do político para o agente.
ResponderEliminarttdsxo,
ResponderEliminar«E se for um génio que sugue apenas um bocadinho? Não está disposto a perder um bocadinho para ganhar um bocado mais?»
Depende de quanto for um bocadinho. Mas, neste momento, estão a prometer tirar-me um quarto do meu rendimento do ano que vem, e não vejo o que vá ganhar com isso. Se me queres demonstrar que fiquei a ganhar com o negócio, sugiro que cumpras a tal exigência da quantificação que manifestaste inicialmente.
«Pode-se imaginar a competência como uma medida em que um político é tanto mais competente para o agente A, quanto maior for a utilidade do político para o agente.»
ResponderEliminarNesse caso, sendo o político o representante do eleitor, a sua desonestidade é um impedimento à sua competência. Ninguém pode ser competentemente representado por alguém que o represente de forma desonesta.
Está enganado. Por exemplo, a uma dimensão (honestidade): dado dois políticos em que um é mais desonesto do que o outro (sendo ambos desonestos), os agentes que valorizem a honestidade vão todos escolher o menos desonesto (mais competente para eles).
ResponderEliminarUm político é tanto mais desonesto quanto mais mente nas suas declarações públicas. Um agente pode aceitar mentiras em declarações públicas desde que valorize outra coisas que obtenha.
Pode pôr em causa como é que o agente sabe que obtém algo de um certo político se o político mente em declarações públicas. Há várias respostas:
a) é um político que já actuou no passado, portanto o agente já sabe o que pode esperar desse político sem ter de se basear nas suas declarações públicas;
b) o agente desenvolve um filtro em que reinterpreta as declarações públcias;
c) o agente tem acesso às declarações privadas do político;
d) as declarações públicas em que o político mente (ou poderá estar a mentir com alguma probabilidade) são irrelevantes para o agente.
Vamos lá ver as coisas como deve ser :
ResponderEliminarNós, parte da Espanha, sul de Itália e Irlanda eramos a miséria das misérias.
Terras de pobrezinhos, prostituição de rua de grávidas e crianças, sem estradas escolas ou hospitais. Quando um pobre comia uma galinha pelo menos um dos dois estava muito doente.
Uns senhores mais ricos do centro e norte da Europa, impedidos pelo muro de Berlim de avançar para leste decidiram manda rpar acá umas guitas para a gente fazer umas estradas, uns hospitais e tirar aquela canhalha e pedintes da rua que tão mau aspecto dão a estas terras ensolaradas, de clima ameno, de praias de areia branca e populações hospitaleiras.
A malta pot cá há que aumentar salários, fazer escolas e hospitais, scuts e vias rápidas, subsidiar grávidas e velhinhos.
Agora os nossos amigos ricos aborreceram-se de nós como de uma amante já entradota que continua a andar de mini saia quando já devia ter era juízo.
Acabaram-se os fundos e malta não tem guita para manter o nível que tinhamos.
Vamos ter de voltar à nossa realidade. De pobres e andrajosos.
É que isto já nem é nada de novo. Com o ouro do Brasil - os fundos comunitários da época - sucedeu o mesmo.
Ficam como recordações o centro cultural de Belém e Mafra.
Ou arranjamos outros fundos ou ouro do Brasil ou voltamos ao que quase sempre fomos.
Estou inteiramente de acordo com os argumentos do post: sem justiça (não tanto no sentido legal, mas sobretudo ético) não há competência que preste. Muito menos em política! Na realidade, não interessam à maioria dos cidadãos ladrões competentes, não servem a democracia, em que aliás não vivemos. Não acrescento mais nada, pq o seu post desenvolve magistralmente o assunto.
ResponderEliminarSousa da Ponte:
ResponderEliminarHá alguma verdade naquilo que dizes: Portugal tem más condições para a agricultura, não está cheio de recursos naturais preciosos, e está distante do centro da Europa, o que prejudica a Indústria.
Se a isso juntarmos piores índices de alfabetização e literacia que nos países vizinhos, podemos explicar porque é que éramos antes um país pobre, e porque é que corremos o risco de voltar a essa realidade*.
Mas o que se está a passar em Portugal não é exclusivo da nossa conjuntura. Em todo o mundo desenvolvido está a acontecer este ataque à classe média.
E ele deve ser denunciado. Nesse sentido subscrevo e aplaudo este texto.
*se bem que tenhamos feito bastante no sentido de educar as pessoas, desde o que diz respeito ao ensino básico até ao que diz respeito ao ensino superior - o que é óptimo.
Uma solução, que precisava dum grande consenso politico, até parece praticável:
ResponderEliminarPrecisavas do apoio do Cavaco, Mário Soares e dos partidos com assento parlamentar. Do BE ao PP.
Falávamos com o Silva gravador da casa da moeda e fazíamos, no maior dos segredos, matrizes e - o que é mais - uns muitos milhões em notas de 100, 200 e 500 Euros.
Investíamos a guita, pagávamos contas e tal e coisa no maior dos segredos. Usavamos as contas off-shore e os truques todos dos bancos para fazer isto com a maior das discrições.
Depois ia uma comitiva chefiada pelo Mário Soares e composta pelo Cardeal, o Gerónimo de Sousa e os lideres de todos os partidos.
Entregávamos as matrizes e levávamos o Silva gravador, única pessoa capaz de fazer as matrizes, com as mão devidamente partidas e incapaz de fazer outras.
Tínhamos todos de guardar segredo até para não se perder a confiança no Euro. Os gajos nunca mais nos podiam ver mas ....que diabos ....o caminho de ferro de Angola foi feito com notas made by Alves dos Reis.
Esclarecimento relativamente à questão da ortogonalidade. Há um equívoco quando digo que competência é ortogonal a honestidade. O que eu queria dizer não é, em rigor, ortogonalidade, mas sim em linha com esclarecimento adicional que dei nesse mesmo parágrafo: não há uma relação global fixa (ou necessária) entre competência e honestidade. A forma da relação depende da utilidade que o agente atribui às coisas.
ResponderEliminarPara esclarecer melhor o exemplo que dei no comentário anterior. Imagine-se um político que mente sempre relativamente às declarações de IRS (públicas). Contudo, é um político que mantém o país seguro, suponhamos pela via do reforço policial. Como "rule of thumb", um agente que valoriza mais a segurança em relação à honestidade, tenderá a considerar este político mais competente do que um político infinitamente honesto que deixa os bandidos impunes.
Ludwig,
ResponderEliminarparabéns pelo texto. Estás cheio de razão. O PPC tira o vencimento a quem não pode dizer não, e isso mostra como ele é fraco e como são fracos os funcionários públicos. Não se pode aceitar que sejam os funcionários públicos a pagar o que devia ser da responsabilidade de todos. Ou então que se determine de quem é a responsabilidade. Por outro lado, estão por esclarecer muitas coisas. Tratando-se de dívidas que surpreenderam até os que tinham obrigação de as conhecer, antes de mais, impõe-se que se averigue se existem ou não, porque estavam ocultadas, por quem, etc.... O Estado português devia assumir a posição de devedor que só paga em tribunal.
ttdsxo,
ResponderEliminarA honestidade do político, enquanto político, não é medida pela sua vida pessoal mas pelo seu desempenho enquanto representante dos eleitores numa democracia. Se resolve os problemas e conflitos de acordo com os princípios democráticos e os objectivos para que foi eleito, é honesto. Se não, não é.
Admito que para alguns agentes possa ser conveniente que o político seja desonesto. O lucro de algumas empresas provavelmente depende disso. E admito que, para essa pessoa, o político desonesto seja mais competente.
Mas se, em vez da bitola ser o que dá mais jeito a este ou àquele usarmos como norma a democracia e o objectivo de gerir um país de forma justa, transparente e de acordo com a vontade soberana e direitos fundamentais dos seus cidadãos, a desonestidade será um preço demasiado alto a pagar por mais eficiência. Pegando no teu exemplo, eu preferia deixasr escapar mais criminosos do que pôr criminosos à frente do sistema de justiça.
Tenho de arranjar uns bitcoins para te encomendar umas postas...
ResponderEliminarUma treta por dia dá saúde e alegria.
«A justiça não é para aqui chamada.
ResponderEliminarO que está em causa é o dinheiro que não é investido em Portugal, o descrédito enquanto bom mercado para aplicar dinheiro e uma antevisão de o que será um país cujas empresas não se renovam.»
"se vamos pôr o "dinheiro investido" à frente da justiça, isto vai acabar mal"
"Investir em Portugal? De um lado uma teia burocrática"
A China e Índia terão, em 2050, uma economia de mercado que equivalerá a 50% da mundial. Tal deve-se aos investimentos que actualmente estão a ser feitos nestes paises.
Por muito que se atire a estes países (e aos da europa de leste e Brasil), acusações de falta de ética, imoralidade, injustiças, e diversos valores morais, jamais o futuro das populações irá ser pior do que o actual. Mas actualmente, inegavelmente, pode-se considerar que crescem à custa de mão de obra escrava.
O sucesso das nações (passado e futuro) deve-se aos avanços das suas tecnologias. São os engenheiros quem fazem o mundo girar. Justiça, música, pintura, filosofias, arquitectura, etc. são acessórios e refletem apenas o sucesso da tecnologia. Trata-se de evolução das economias por selecção natural. ;)
A China ...
ResponderEliminarhttp://globaleconomicanalysis.blogspot.com/2011/10/must-see-heart-wrenching-video-of-moral.html
(atenção que o vídeo é muito puxado)
A "explicação" dada para o "fenómeno" é... aterradora.
Deve ser isto que acontece quando (por evolução das economias por selecção natural?) à vida humana é dado um valor relativo tão baixo.