segunda-feira, fevereiro 15, 2016

Treta da semana (atrasada): o problema da má lógica.

Só nos EUA morrem setecentas crianças afogadas por ano. A criança cai na água, tenta manter-se à tona para respirar, não consegue, entra-lhe água para os pulmões e perde a consciência. Gradualmente, a falta de oxigénio acaba por danificar irreversivelmente o cérebro e a criança morre. É um de muitos exemplos de algo que é imoral permitir que ocorra. Qualquer pessoa que assista ao afogamento de uma criança tem um dever moral evidente de prestar auxílio e tentar evitar o pior. O que é tramado para quem defenda que existe um deus omnipotente, omnisciente e moralmente perfeito porque um deus moralmente perfeito não permitiria o que é imoral permitir. Como, por exemplo, o afogamento de uma criança. Só uma destas proposições pode ser verdadeira: ou existe esse deus perfeito ou ocorrem coisas que é imoral permitir que ocorram.

Para resolver o problema desta hipótese que defendem ser obviamente falsa, os apologistas do Cristianismo encadeiam vários truques numa fabulosa cadeia de aldrabices. O primeiro passo foi tomar conta da filosofia da religião. A religião é um fenómeno social importante que seria útil analisar daquela forma racional e imparcial que caracteriza a filosofia. Infelizmente, a “filosofia da religião” dedica-se quase toda a discutir desculpas para defender os dogmas mais bizarros do Cristianismo em vez de focar os aspectos reais da crença religiosa, os seus efeitos e mecanismos. É tão estranho e lamentável como se o grosso da filosofia da ciência se dedicasse apenas à defesa da astrologia.

O segundo passo é inverter o problema. É tão evidente que há coisas que é imoral permitir que só com muito malabarismo demagógico se pode tentar negá-lo (mas lá chegaremos). À partida, o problema estaria na hipótese de existir um super deus mega bonzinho. Mas chamar-lhe “o problema da hipótese que não é compatível com os dados” abriria demasiado o jogo. Por isso, a apologética cristã prefere chamar-lhe “o problema do mal” (1). Ou seja, a hipótese está bem; é preciso é encontrar uma justificação moral para deixar a criança afogar-se.

Para mostrar como resolvem esse “problema do mal”, recorro novamente ao Domingos Faria, que é uma excelente fonte de resumos destas coisas. As proposições “Deus existe” e “o mal existe” implicam uma contradição lógica quando entendemos por “Deus” esse ser perfeito e “mal” aquilo que é imoral permitir que ocorra. Esse deus não pode cometer a imoralidade de permitir que ocorra aquilo que é imoral permitir. Um truque para resolver este problema é fingir que “mal” tem um significado diferente e esperar que ninguém note. Como escreve Faria, «podemos facilmente conceber que há um estado de coisas bom B de tal forma relacionado com um estado de coisas mau M, e que supere esse mal, que é impossível que B exista e M não exista»(2). Ou, menos formal mas mais claro, há males que vêm para o bem. Mas não é do dentista ou das vacinas que estamos a falar. É da criança a afogar-se, ou os ataques terroristas, ou o genocídio dos Judeus ou qualquer uma de imensas coisas que não vêm para o bem e que, se alguém pudesse, teria um dever moral óbvio de as impedir. Faria reconhece isto na segunda parte do seu post, tentando resolver de outra forma o problema lógico da inconsistência entre a hipótese de Deus e a existência do mal: «dada a nossa situação epistémica e dado o que sabemos, nada impede a possibilidade de que: [...] Há uma razão moralmente justificada para Deus permitir o mal, uma razão que nós não conhecemos e ele permite que, por essa razão, ocorram instâncias de mal.»(3)

Essa «razão moralmente justificada […] que nós não conhecemos» não é mais do que o apelo costumeiro ao mistério sempre que se aponta inconsistências entre a hipótese e os dados. Além de não resolver o problema lógico da hipótese de Deus ser incompatível com a hipótese de haver mal que é imoral permitir – Faria simplesmente propõe que esse mal não existe – esta solução é intelectualmente desonesta. O que Faria defende implica que, se uma criança se estiver a afogar ao pé dele, ele não se considera em «situação epistémica» para saber que é imoral não fazer nada. Como é duvidoso que Faria ficasse mesmo tão indeciso que deixasse a criança afogar-se, tenho de concluir que ele defende uma posição que sabe estar errada. Se bem que nunca estejamos em «situação epistémica» para ter certezas absolutas – se calhar isto é tudo uma ilusão ou um sonho – há casos que podemos classificar com confiança como sendo males que é imoral permitir. E, se estes existem, então Deus não pode existir.

Como Faria demonstra, a inconsistência lógica é clara e robusta. Se existe mal que é imoral permitir então não existe um deus que tudo sabe, que tudo pode e que é moralmente perfeito. Por isso é que a confiança na existência desse deus exige a convicção de que nada pode ocorrer que não seja moralmente justificado. Esta é a única opção racional porque, se esse deus existe, então tem de haver sempre uma tal «razão moralmente justificada […] que nós não conhecemos» para tudo o que acontece. Mas assumir isto torna impossível sequer decidir se é mais correcto tirar a criança da piscina ou deixá-la morrer afogada. É um preço demasiado alto para pagar pela hipótese dúbia, e desnecessária, de que o universo é governado por um deus bondoso. É um preço tão alto que, na prática, só os mais fanáticos o pagam. Aqueles que deixam os filhos morrer porque preferem rezar em vez de chamar o médico ou que matam gente inocente porque lhes deram uma qualquer “razão moralmente justificada” para isso. Aos outros, a maioria, que felizmente não têm estômago para engolir estas consequências repugnantes, resta apenas a opção de disfarçar o problema com demagogias desonestas mascaradas de lógica.

1- Stanford Encyclopedia of Philosophy, The Problem of Evil.
2- Domingos Faria, Argumento lógico do mal – Parte 1
3- Domingos Faria, Argumento lógico do mal – Parte 2

29 comentários:

  1. Caro Ludwig, os teus argumentos são falaciosos porque assentam numa hipótese viciada à partida: o sujeito "dEus" a existir, é um ser de boa índole. Eu já fui esclarecido pelo meu amigo João Lisboa há muito tempo por via de uma outra hipótese que explica, entre outras coisas, eventos como o que descreves: deUs existe e é mau! (como as cobras, acrescento eu) :D

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  2. pennac,

    Realmente, há a hipótese alternativa de que o criador disto tudo não é omniscience, omnipotente e bom mas poderoso, mau e incompetente. Ou talvez isto tenha sido tudo criado por um ministério qualquer da criação divina e acabe por funcionar tudo assim por causa da burocracia.

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    1. Um programa em vídeo muito interessante para quem se interroga sobre como podemos saber que a Bíblia é realmente verdade.

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    2. O argumento desse vídeo é circular. A Bíblia é realmente verdade, porque a Bíblia diz que é realmente verdade.
      Não tem argumento real... realmente... :P

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    3. Pode ser circular mas é autoconsistente. O naturalismo é circular e é autorefutante. Se tudo é o produto do acaso, mesmo os pensamentos dos naturalistas são o produto do acaso, não existindo qualquer padrão de verdade, porque também ele seria o produto do acaso...

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    4. Se é circular, está errado. Ver p.ex. http://www.logicallyfallacious.com/index.php/logical-fallacies/67-circular-reasoning

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  3. Deus é racional, bom e omnipotente, tendo criado todas as coisas sem precisar de milhões de anos de crueldade predatória, sofrimento, desperdício e morte.

    O facto de as leis da lógica e da matemática valerem em todos os tempos e lugares corroboram a origem e estrutura racional do Universo.

    Deus dotou o ser humano com liberdade moral, ou seja, com capacidade para obedecer à Sua lei moral. O ser humano não é um simples robot, programado para seguir as instruções do programador.

    No uso da sua liberdade, o ser humano desobedeceu e por causa disso a corrupção e a morte entraram no mundo.

    A consequência da violação da lei moral de um Deus santo e justo é a morte.

    A Bíblia ensina que por causa da maldade generalizada, Deus causou até um dilúvio global recente, do qual dão testemunho todas as culturas da antiguidade.

    As mutações e a seleção natural, longe de serem provas da evolução, constituem evidência por excelência de corrupção e morte. Elas degradam e destroem informação genética pré-existente.

    Por seu lado, os inncontáveis fósseis que vemos nos cinco continentes, aque apesar de supostamente antigos se mostram muito bem preservados, são evidência óbvia do dilúvio global recente.

    No entanto, Deus escolheu Israel, a quem confiou a Sua revelação, e através desse povo enviou o seu Filho Jesus Cristo (a figura mais influente da história Universal) para levar sobre si o castigo dos nossos pecados para que, pela misericórdia de Deus, possamos ter vida eterna.

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  4. Mais uma notícia interesante sobre proteínas em fósseis datados de 70 milhões de anos, que só corrobora a posição daqueles que entendem que os fósseis são recentes e que as premissas uniformitaristas que estão na base da datação são erradas.

    O que eles dizem:

    "The scientists have used synchrotron radiation-based infrared microspectroscopy at MAX-lab in Lund, southern Sweden, to show that amino acid containing matter remains in fibrous tissues obtained from a mosasaur bone.

    Previously, other research teams have identified collagen-derived peptides in dinosaur fossils based on, for example, mass spectrometric analyses of whole bone extracts.

    The present study provides compelling evidence to suggest that the biomolecules recovered are primary and not contaminants from recent bacterial biofilms or collagen-like proteins."

    O problema dos cientistas que insistem na extrema antiguidade dos dinossauros é não saberem distinguir entre factos observáveis e interpretações.

    Eles pensam que antiguidade do dinossauro é um facto observável, quando não passa de uma interpretação feita no presente por cientistas do presente com base em rochas e fósseis observados no presente.

    Facto observável é mesmo a existência de proteínas, tecidos moles e mesmo DNA em fósseis (e por vezes ossos não fossilizados) de dinossauro.

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    2. Criacionista,

      Diz «[...]Facto observável é mesmo a existência de proteínas, tecidos moles e mesmo DNA em fósseis[...]»

      Porque é que não um facto observável a antiguidade? Como é que prova não é antigo, quando todos os técnicos que realmente sabem avaliar, dizem que é muito antigo? Porque devia aceitar a sua interpretação? Quais são as suas credenciais? Se tem credenciais para criticar a avaliação da antiguidade, porque não publica um artigo contraditório? Mostre que sabe mais!

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    3. Os tecidos moles, as proteínas e o DNA encontrados em fósseis de dinossauro existem aqui e agora, sendo impossível viajar no tempo para observar a sua fossilização há 65 milhões de anos...

      ... no entanto, o facto de eles ainda existirem hoje corrobora a sua idade recente, porque não é plausível que material tão frágil e instável como ligamentos, proteínas, o DNA ficassem aí preservado durante tanto tempo...

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    4. Os tecidos moles têm uma explicação dentro da ciência: http://www.livescience.com/41537-t-rex-soft-tissue.html. Logo não é necessário idade recente para explicar.

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    1. Um programa ainda mais interessantes: https://www.youtube.com/watch?v=DanPOPBsOao.

      Parece que a culpa é do Diabo, que andou a enganar o trouxas dos cientistas e dos naturalistas... Pobres diabos, vão todos arder!

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  7. Falas de males como "crianças afogadas", "ataques terroristas", "genocídio dos Judeus". Ninguém tem dúvida que esses são estados de coisas maus M, que consideramos moralmente errado, que devemos fazer tudo para os prevenir, e que resultam, pelo menos em parte, do livre-arbítrio humano. Todavia, se Deus existe, ele não pode eliminar tais estados M sem que também elimine estados de coisas bons que os superam, nomeadamente o livre-arbítrio. Assim, se é melhor um mundo com livre-arbítrio do que sem livre-arbítrio, Deus pode ter uma razão para permitir todos os estados de coisas que resultam do livre-arbítrio, quer tais estados sejam morais quer sejam imorais (pois, se ele só permitisse os estados de coisas bons, então estaria a impedir que os seres humanos tivessem livre-arbítrio genuíno). Portanto, Deus pode ter uma razão para permitir o mal, uma razão para permitir que ocorram coisas imorais. Para além da justificação do livre-arbítrio, Deus pode também ter outras razões para permitir o mal e que não conseguimos determinar. Por que não? Será isso logicamente impossível? Não parece. Por isso, não parece haver qualquer inconsistência lógica, muito menos "clara e robusta", entre Deus e o mal. Além disso, de que forma é que uma defesa da consistência lógica entre Deus e o mal "torna impossível sequer decidir", para nós humanos, se uma dada ação é moral ou imoral?! Aqui estás simplesmente a delirar e a fazer enormes confusões! Mas já estamos habituados a isso, não é? É por isso que não vale a pena discutir contigo!

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  8. Boas Domingos,

    Diz «[...]pois, se ele só permitisse os estados de coisas bons, então estaria a impedir que os seres humanos tivessem livre-arbítrio genuíno[...]»

    Há no entanto um problema nesta argumentação: a Bíblia apresenta um grande rol de situações em que Deus toma a iniciativa de alterar o desenrolar normal, e por isso impede de facto o tal livre arbítrio que defende na sua tese. P.ex: Gn. 38:6-9, 2Rs. 2:23-24, o dilúvio, a destruição de Sodoma e Gomorra, as pragas do Egipto, etc.

    A minha questão é: porque é que defender que Deus precisa do mal para preservar o livre arbítrio, não é um caso de apelo especial ("special pleading")?

    A minha visão do caso é um tanto simples. A verdade é que o cristianismo não tem uma boa solução, quanto mais, tem uma tentativa de contornar o problema. Adicionalmente, além do lastro que a Bíblia implica em termos filosóficos e teológicos, com todas as suas inconsistências, temos o problema do pecado original, que da forma como St. Agostinho o propôs e as confissões cristãs o seguem, leva a que não tenham qualquer hipótese de saída limpa para o problema do mal.

    Finalmente, do pouco que conheço, parece que apesar de tudo, as variantes gnósticas que tanto influenciaram o cristinaismo emergente, têm a melhor solução, ao colocar o Deus da Bíblia como o arconte mau e invejoso, pois não conhece nem pode alcançar o Logos verdadeiro.
    É pena que estas ideias não estejam mais divulgadas, e em geral, é uma penha que os crentes não conheçam a história da sua própria crença.

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  9. É significativo que a bíblia comece, justamente, por colocar-nos perante o problema do mal, em contraposição ao bem. A árvore da ciência do bem e do mal é, ainda hoje, a mesma. Aquela cujo fruto era proibido comer. E tenhamos em mente que os textos bíblicos em causa foram escritos depois de inúmeras tradições orais. Um verdadeiro monumento à inteligência humana.
    O bem e o mal têm dado origem a notáveis obras de cariz religioso e filosófico, mas foram introduzidos pelo Deus bíblico.
    Foi esse Deus que disse que há o bem e há o mal.
    Para o ateu também assim é. O bem ou o mal são "coisas" de Deus.

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  10. Carlos,

    É preciso notar que os conceitos de mal e pecado, não são, nem foram os que conhecemos hoje; no caso da Bíblia há uma clara diferenciação quando falamos de antes do exílio e do depois do exílio (na Babilónia).

    O conceito original de mal para os judeus era mais simples: o mal é o que afasta de Deus e o bem o que aproxima (Trevor Ling, História das religiões, Editorial Presença, cap. 2.19); da mesma forma, pecado é desobedecer a Deus e não tem a carga moral que hoje atribuímos.

    A diferença do antes e do depois do exílio, tem a ver com a influência que a religião zoroastrista teve no pensamento judaico. Esta religião tem uma carga dualista (bem vs mal) forte, com a luta constante entre os dois deuses (Ahura Mazda vs Ahriman), e embora seja considerado que Ahura seja pai do espírito maligno pois quer o espírito do bem quer o do mal são gémeos (Trevor Ling, H.Religiões, 2.23).
    É depois do contacto entre judeus e persas que a religião judaica adquire a carga moral associada ao bem e ao mal. Também o conceito de pecado evoluí para conter essa mesma carga moral, quando antes era uma simples desobediência.

    Finalmente, sobre "[...]O bem e o mal [...] foram introduzidos pelo Deus bíblico", tal não é simplesmente verdade. Há muito pouco de original na religião judaica, que tendo vizinhos com tradições mais antigas, culturas mais influentes e militarmente mais fortes, foram adquirindo e juntando às suas tradições, ideias de outras religiões vizinhas: dos egípcios tiveram, por exemplo, o conceito de julgamento pós morte e a ideia do monoteísmo; dos persas a ideias da luta bem e mal; da babilónia, o conceito de um Deus imperador do universo, dos conceitos de anjos e demónios.

    Mais uma vez, repito que conhecer a história da religião é conhecer melhor o que (supostamente) acreditamos.

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  11. MORALIDADE E PRINCÍPIOS JUDAICO-CRISTÃOS

    Os princípios éticos da nossa sociedade têm sido o resultado da matriz judaico-cristã que a estruturou durante séculos.

    Com base nesses princípios que se pode defender, logicamente, a igual dignidade intrínseca de todos os seres humanos, porque criados à imagem e semelhança de Deus.


    Se os seres humanos são um acidente cósmico e o produto de milhões de anos de predação, crueldade, sofrimento e morte, é totalmente arbitrário afirmar que têm valor intrínseco e que devem ser tratados de forma igual.

    Mesmo essa afirmação seria, em última análise, o produto de uma sucessão de acidentes cósmico, biológicos e neurológicos.

    Também não se compreende porque é que o homicídio é mau, já que a morte é vista como força criadora e motor da evolução.

    São os valores judaico-cristãos que nos ensinam o desvalor de certos actos, como o homicídio ou o aborto.

    É claro que muitos desses valores são partilhados por outras sociedades, porque Deus colocou uma consciência em todos nós, que subsiste mesmo desvirtuada pelo pecado.

    Os valores não são massa e energia, nem se podem observar no campo ou em laboratório, existindo apenas num mundo espiritual e imaterial, refutando, pela sua própria existência, uma visão estritamente materialista, naturalista e ateísta do mundo.

    É fácil deduzir logicamente a existência de valores de dignidade e igualdade a partir da premissa, que o Génesis estabelece, de que existe uma dimensão imaterial e valorativa no mundo, resultante da natureza boa e justa de Deus, e da igual dignidade de todos os seres humanos por terem sido criados à imagem de Deus.

    Mas é impossível deduzir, de forma lógica e não arbitrária, a existência desses valores a partir de uma visão materialista que nega a existência da dimensão espiritual e de tudo que não se pode ver e testar cientificamente.

    Charles Darwin, baseado nas suas premissas naturalistas e evolucionistas, dizia que a pretensão de dignidade humana é uma afirmação de orgulho natural e preconceito natural.

    À luz dessa afirmação, não se percebe como o homicídio é mau, nem, muito menos, porque é que o aborto é mau.

    Embora os evolucionistas saibam, no seu coração, que o homicídio e o aborto são maus (embora alguns procurem suprimir esse conhecimento), eles não conseguem deduzir uma explicação para isso à luz da teoria da evolução e dos seus milhões de anos de crueldade, sofrimento e morte.

    A Bíblia ensina que a morte é um mal e é o “último inimigo”.

    Foi por isso que Jesus morreu e ressuscitou, alterando com isso o curso da história universal, vencendo a morte e prometendo-nos vida eterna com Ele.

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  12. «Se os seres humanos são um acidente cósmico e o produto de milhões de anos de predação, crueldade, sofrimento e morte, é totalmente arbitrário afirmar que têm valor intrínseco e que devem ser tratados de forma igual. »

    Esta afirmação está errada. Porque é que não devo exigir que os outros me respeitem, e dessa forma, respeitar os outros? Se fosse verdade, em todas as sociedades que não conheceram a Bíblia, destruíam-se sem precisar de inimigos externos - bastava andarem todos à guerra uns com os outros.
    Acontece, que tal ideia é má para a saúde entre outras coisas, e por isso, sem necessidade de qualquer deus a dizer como é que se devem comportar, as pessoas chegaram a leis, como por exemplo o código de Hamurabi, que é muito mais antigo do que qualquer coisa que esteja escrito na Bíblia.

    «Também não se compreende porque é que o homicídio é mau, já que a morte é vista como força criadora e motor da evolução.»

    Agradeço uma citação a demonstrar que exista pelo menos um biólogo que afirme tal coisa.

    «São os valores judaico-cristãos que nos ensinam o desvalor de certos actos, como o homicídio ou o aborto.»

    Definitivamente que não. O facto de ser mau para mim que tal aconteça, é suficiente para que eu não tente fazer a outro. Como diz a regra "Não faças ao outro o que não queres que ele te faça a ti". Mais uma vez, não preciso de religião.

    «É claro que muitos desses valores são partilhados por outras sociedades, porque Deus colocou uma consciência em todos nós, que subsiste mesmo desvirtuada pelo pecado.»

    Como é que prova tal coisa? Tal coisa não é necessária, se cada um perceber que é mais vantajoso uma sociedade ordeira, que o contrário.

    «[...]resultante da natureza boa e justa de Deus[...]»

    Mais uma vez é argumentação circular. Não tem como saber tal coisa. E a avaliar pelo que a Bíblia diz, Deus é o exterminador mais implacável da História: http://dwindlinginunbelief.blogspot.pt/2006/08/who-has-killed-more-satan-or-god.html

    «Charles Darwin[...] dizia que a pretensão de dignidade humana é uma afirmação de orgulho natural e preconceito natural.»

    Novamente, uma citação seria útil para perceber o contexto da citação.

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    1. Felizmente não é verdade que sejamos acidentes cósmicos sem dignidade intrínseca. A humanidade sabe que isso não é assim.

      A humanidade sabe que os seres humanos têm uma dignidade diferente das dos animais.

      Nem mesmo a maior parte dos evolucionistas, apesar de acreditar que animais e seres humanos são produtos dos mesmos processos evolutivos casuais, sustenta que é tão correto os seres humanos se matarem uns aos outros como os leões matarem as gazelas ou os antílopes.

      Felizmente os evolucionistas não são racionais ao ponto de levarem as premissas de que partem às suas consequências lógicas.

      No entanto, isso não impediu alguns cientistas evolucionistas, emlouquecidos pela adesão acrítica a premissas evolucionistas, de defender essa posição, nomeadamente nos campos de concentração da Alemanha e da Polónia.

      Eles achavam que a regra de fazer aos outros o que queremos que os outros nos faça não se aplicava apenas porque alguém se lembrou de a formular.

      Felizmente os mesmos foram julgados pelo Tribunal de Nuremberga por crimes contra a humanidade, tendo sido executados.

      Quem precisa de uma citação de Charles Darwin para confirmar que ele não acreditava na especial dignidade do ser humano só mostra que nunca leu o livro The Descent of Man.

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    2. A necessidade de uma citação tem a ver com a prática comum que os criacionistas fazem de atribuir frases fora do contexto e muitas vezes inexistentes a Darwin e outros.
      Devo assim assumir, que mais uma vez, não base para a acusação mesquinha que fez. Mais um ponto a favor da sua moral fundamentalista.

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    3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  13. Um vídeo muito interessante sobre tecidos moles e vasos sanguíneos de dinossauro, que só corroboram a posição bíblica de um dilúvio global recente.

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    1. Infelizmente só serve para alimentar a ignorância. A ciência já explicou sem necessidade de idade recente. Basta ver nos links que já indiquei neste blogue.

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  14. Domingos,

    «Todavia, se Deus existe, ele não pode eliminar tais estados M sem que também elimine estados de coisas bons que os superam, nomeadamente o livre-arbítrio.»

    Isto não faz sentido. Se até eu posso salvar uma criança que se está a afogar sem eliminar o livre-arbítrio de ninguém, Deus certamente que o pode fazer também. Basta tirar a criança da água.

    Nota que se, para impedir algo, é preciso eliminar algum livre-arbítrio de maior valor moral do que o valor moral de impedir essa ocorrência, então isto não se inclui na categoria que especifiquei das coisas que é imoral permitir que ocorram. Por exemplo, a mulher mentir ao marido (é mais imoral tirar-lhe a capacidade de o fazer) ou dar bufas num restaurante.

    «Deus pode ter uma razão para permitir o mal, uma razão para permitir que ocorram coisas imorais.»

    Qualquer um pode ter razão para permitir coisas imorais. É o que acontece quando é mais imoral ainda impedi-las.

    Mas não pode haver justificação moral para permitir algo que é imoral permitir que ocorra. Isso seria contraditório. Portanto, se Deus é perfeitamente moral ele não pode permitir nada que seja imoral permitir que ocorra. Este é o argumento lógico.

    A questão agora é se, na realidade, ocorre algo que é imoral permitir que ocorra. É incerto que assim seja, mas presumo que se estivesses perto de uma das setecentas crianças que morreram afogadas nos EUA este último ano, terias considerado imoral da tua parte permitir que a criança se afogasse e tê-la-ias salvo. Se assim for (e se não for és um monstro) tu tens de aceitar como verdadeira a proposição de que ocorrem coisas que é imoral permitir que ocorram. Não precisas ter 100% de certeza disso. Mas terás certamente a confiança suficiente para tirar a criança da água se algo assim acontecer perto de ti. Essa é a confiança mínima que tens de ter na inexistência de um deus omnipotente, omnisciente e moralmente perfeito.

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  15. Já agora, Domingos, ocorreu-me uma experiência conceptual que pode ser interessante.

    Vamos supor que o universo funcionava de tal forma que bastava olhar para uma pessoa e estalar os dedos que ela irrompia em chamas e morria carbonizada com imenso sofrimento. Não se pode dizer que seria impossível para Deus impedir tal coisa sem eliminar o livre-arbítrio, visto que no nosso universo não se consegue incinerar alguém simplesmente olhando e estalando os dedos.

    Mas o universo em que vivemos funciona de tal forma que, não sendo possível incinerar alguém com um estalar de dedos, é possível fazê-lo regando a pessoa com gasolina e atirando um fósforo. Não é razoável supor que essa mera alteração insignificante no mecanismo pelo qual se consegue matar alguém pelo fogo torne agora impossível impedir estes actos sem eliminar todo o livre-arbítrio ou algo igualmente drástico.

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