domingo, maio 13, 2012

Treta da semana: Einstein dixit.

Segundo José Reis Chaves, espiritista brasileiro, «Os materialistas do passado incomodavam-se com a Igreja. Os de hoje se preocupam mais é com o espiritismo, por ser ele uma religião científica. [...] Não é, pois, por acaso, que têm surgido muitos ateus fanáticos contra a doutrina codificada por Kardec, "o bom senso encarnado".»(1) Pessoalmente, não me preocupo muito com o espiritismo, o Kardec ou a cor do seu bom senso. Preocupam-me mais coisas como o Estado português ter de pedir autorização ao Vaticano para mudar feriados, o negócio da religião não pagar impostos ou a forma como se ensina religiões nas escolas públicas. Se a «médium psicógrafa dra. Marlene Saes, de São Paulo (SP)» publica o «seu novo livro "Nas Águas do Mar da Vida", pelo espírito Luizinho» e alguém o compra, pois que lhe faça bom proveito. Quanto à alegação de que o espiritismo é uma “religião científica”, concordo parcialmente. Dizer que «Para a física quântica, as coisas invisíveis são mais importantes do que as visíveis. E o espírito é invisível» ou «o espírito do médium tem que vibrar na sintonia da do espírito comunicante» não tem nada de científico, mas para religião basta.

O que me interessa mais no texto do José Reis não é a comunicação «de períspirito para períspirito», a aura, a quinta-essência ou o corpo bioplasmático. É esta frase de Einstein, tantas vezes mal compreendida quantas é usada em defesa da tretologia: «A religião sem ciência é cega, e a ciência sem religião é aleijada». Esta frase é frequentemente invocada como querendo dizer que a ciência complementa, e é complementada por, uma crença esperançosa no sobrenatural, uma devoção a um suposto criador e essas superstições envolvendo deuses, espíritos e vida depois da morte que associamos ao termo “religião”. No entanto, não era nada disto que Einstein queria dizer. No artigo de onde citam apenas aquela frase e, normalmente, sem referir a origem, Einstein explica bem que sentido estava a dar ao termo.

«em vez de perguntar o que é religião eu preferiria perguntar o que caracteriza as aspirações de uma pessoa que me dê a impressão de ser religiosa: uma pessoa religiosamente esclarecida parece-me ser alguém que, de acordo com as suas capacidades, se tenha libertado dos grilhões dos seus desejos egoístas e se preocupe com pensamentos, sentimentos e aspirações aos quais se prende pelo seu valor sobrepessoal. Parece-me que o que é importante é a força deste conteúdo sobrepessoal e a profundidade da convicção acerca do seu significado avassalador, independentemente de haver alguma tentativa de unir este conteúdo a um Ser Divino, pois de outro modo não seria possível contar Buda e Espinosa como personalidades religiosas. Assim, uma pessoa religiosa é devota no sentido de que não tem dúvidas acerca do significado e elevação desses objectos e propósitos que vão além da sua pessoa e não requerem nem admitem um fundamento racional. Existem com a mesma necessidade e factualidade da própria pessoa. Neste sentido, a religião é o esforço milenar da humanidade em se tornar claramente e completamente consciente dos seus valores e propósitos, e de constantemente os fortalecer e estender os seus efeitos.»(2)

Ou seja, neste sentido, “religião” refere um esforço de se guiar por algum ideal que transcenda interesses pessoais, mas sem implicar nada acerca de deuses, espíritos ou crenças no sobrenatural. Um ateu pode perfeitamente ser religioso no sentido que Einstein dá ao termo, e o exemplo que Einsten dá é que a «ciência só pode ser criada por aqueles que estejam completamente imbuídos de aspiração para a verdade e a compreensão». É isto que Einstein quer dizer com essa frase tão célebre e tão deturpada. A devoção sem conhecimento objectivo é cega e a investigação sem devoção à verdade é paralítica.

Isto não tem nada que ver com as crenças que normalmente chamamos religiosas nem com o espiritismo do José Reis Chaves, superstições acerca das quais Einstein também foi bastante claro. Por exemplo, nesta carta ao filósofo Erik Gutkind:

«A palavra Deus não é para mim mais do que a expressão e o produto da fraqueza humana, a Bíblia uma colecção de lendas honráveis mas puramente primitivas, lendas que, no entanto, são bastante infantis. Nenhuma interpretação, por mais subtil que seja pode (para mim) alterar isto... Para mim, a religião judaica é, como todas as outras religiões, uma encarnação da superstição mais infantil.»(3)

Os argumentos de autoridade são muitas vezes falaciosos e quase sempre fracos. Mas penso que há boas razões para concordar com Einstein para além do simples facto de se tratar de Einstein. E, seja como for, invocar Einstein como autoridade para apoiar doutrinas espíritas e tretas afins é um tiro no pé, seja no da aura, no bioplasmático ou no do períspirito.

1- Blog de Espiritismo, José Reis Chaves - 'Abalado está o ateísmo'
2- Sacred-Texts, Science and Religion II, Science, Philosophy and Religion, A Symposium, 1941.
3- Letters of Note, The word God is the product of human weakness

Editado a 14 para corrigir uma gralha. Obrigado ao Zarolho pelo olho aguçado.

94 comentários:

  1. Na frase que refere «superstições acerca das quais que Einstein espíritas também foi bastante claro»… parece haver qui uma gralha.

    De resto, muito bom. Essa frase do Uma-Pedra sempre me espantou, vejo agora o contexto.

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  2. Obrigado Zarolho; escaparam umas palavras à facadela final :)

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  3. Off topic interessante: como evolucionistas e criacionistas bíblicos interpretam os mesmos dados de forma diferente:


    Um estudo recente mostra a extrema complexidade dos sistemas de ataque de algumas aranhas


    1) Os evolucionistas, mesmo especulando sobre a hipotética evolução das aranhas, que nunca foi observada por ninguém, reconhecem que as mesmas evidênciam um "design" engenhoso e extremamente complexo, devendo ser imitado para o desenvolvimento de novos materiais.

    2) Os criacionistas notam que a evidência de design existe mesmo num mundo amaldiçoado por Deus e sujeito à corrupção por causa do pecado humano.

    Duas visões do mundo, duas maneiras diferentes de interpretar a mesma evidência.

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  4. Off topic interessante: como evolucionistas e criacionistas bíblicos interpretam os mesmos dados de forma diferente:

    Um estudo recente mostra como a existência de policromatismo dentro de um determinado género de aves de rapina acelera a "evolução" de uma nova espécie dentro do mesmo género


    1) Os evolucionistas olham isso como evidência da evolução de partículas para pessoas ao longo de milhões de anos, embora reconheçam que se trata de um processo que pode demorar poucas décadas, já que foi documentada em algumas décadas de estudos.


    2) Os criacionistas consideram que esse fenómeno, que depende da variabilidade genética existente em cada género, demonstra que a sub-especiação é um processo rápido, não necessitando de milhões de anos, permitindo explicar muito bem a biodiversidade gerada em alguns milhares de anos depois do dilúvio.


    Duas visões do mundo, duas maneiras diferentes de interpretar a mesma evidência.

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  5. Estou inteiramente de acordo contigo... e com Einstein. Aliás, fiz um comentário algures no teu blog a separar um pouco a distinção entre «espiritualidade» — a defesa desses valores enumerados por Einstein (e, felizmente, tantos outros apregoavam, imensos dos quais ateus) — e a «religião», que (na maioria das religiões mais praticadas em todo o mundo, embora não todas) também os defende, mas por «imposição divina», sugerindo que esses valores só se conseguem «obter» através de uma prática ritual místico-mágica com a união com algo perdido (daí a palavra «religião» — que etimologicamente pode significar «voltar a ligar-se»); nas religiões teístas, isto normalmente está associado a uma união com o divino, que pode ser dogmaticamente definida como sendo literal, ou não-dogmaticamente como meramente uma ambição de emular as qualidades de algo considerado «divino» ou sobrenatural, mas que, ao fazê-lo, revelará no praticante essas mesmas qualidades e ajudará a construir uma sociedade melhor.

    Os princípios que Einstein (e tantos outros) enumera não são realmente «sobrenaturais». São, isso sim, aquilo a que chamamos «ser-se humano» (os ingleses usam a palavra humane para designar estas características positivas que são profundamente humanas). São a base dos movimentos humanistas, que defendem que estas características conduzem a sociedades melhores, o que pode ser argumentado racionalmente, e não requer mais do que algum trabalho pessoal — não é preciso «inspiração divina» para revelar qualidades que todos temos e sempre tivémos.

    No entanto, pode não ser fácil a cada indivíduo compreender ou aceitar que essas características sejam efectivamente desejáveis. Por exemplo, o altruismo sem expectativa de retribuição não é facilmente assimilável por quem se coloque a si mesmo no centro do universo e meça tudo em termos de benefícios pessoais; não é imediatamente visível porque é que um modelo altruista, beneficiando toda uma sociedade, é «melhor» para o próprio indivíduo que pratica o altruismo. Assim, ao longo dos milénios, pensadores e profetas procuraram justificações lógicas para este comportamento antagónico para a maioria das pessoas. Espinosa, no mundo ocidental, é talvez quem melhor o exponha na sua Ética, já que se baseia em centenas de proposições lógicas cujo raciocínio é difícil de refutar; mas quando o faz, refere uma entidade platónica idealizada à qual (talvez infelizmente) dá o nome de «Deus», embora nada tenha a ver com o deus das Religiões do Livro, nem existe em Espinosa sequer a intenção de criar um «culto» ou aquilo a que vulgarmente se chama de «religião». Deus, para Espinosa, é pouco mais do que um argumento abstracto para as suas proposições lógicas; semelhante, por exemplo, à noção de «infinito» em lógica matemática: outro conceito abstracto que é-nos muito útil para determinadas demonstrações matemáticas mas que não é um conceito palpável, enumerável, ou capaz de ser descrito com exaustão — basta o conceito platónico em si.

    Os movimentos humanistas nem sequer precisam desse tipo de argumentação lógica para justificarem a racionalidade dos seus fundamentos éticos. Os Budistas também não necessitam do recurso a algo externo e sobrenatural para chegarem à mesma conclusão que Espinosa.

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  6. Nas religiões teistas, falta normalmente a argumentação lógica para a defesa destes valores, porque é sugerido que a maioria das pessoas não têm capacidade para a seguir. Mas como essa sociedade baseada em princípios éticos humanistas é desejável, usa-se um argumento bem eficaz para induzir as pessoas a mudarem o seu comportamento ético: o Medo. Medo da morte, medo da «retribuição divina», medo do Juízo Final, medo da ausência de sentido da vida. Criando-se um clima de terror para aqueles que se recusam a participar numa sociedade melhor, procura-se assim estimular o desenvolvimento ético. Este modelo funcionava muito bem em sociedades altamente repressivas onde o medo e o terror predominavam — desde o medo dos fenómenos naturais ao medo dos governantes despóticos — e, como tal, parece-me compreensível a aplicação do medo como «motor» da construção de uma sociedade eticamente responsável.

    Compreensível, sim; aceitável, não. O medo ou o terror são igualmente grilhões, tais como os outros. Adoptar certos princípios éticos por medo, e não por convicção de que são os pilares de uma sociedade mais justa, reduz também a «humanidade» do indivíduo a tornar-se «escravo do medo». Mesmo que este medo seja subtil, está sempre presente. Espinosa, Buda, e todos os humanistas do passado e do presente propõem como alternativa ao medo a compreensão; mas ao fazê-lo, derrubam a «necessidade» da existência de qualquer coisa que seja «sobrenatural» para «impôr regras».

    Isto é particularmente difícil de aceitar para as Religiões do Livro, mesmo aquelas que consideram que a compreensão e o intelecto são importantes para o desenvolvimento pessoal. Já conheci muita gente de inspiração religiosa que tem muita dificuldade em aceitar que fora da religião não exista apenas niilismo. Ainda mais difícil é de aceitar que os valores éticos que constroem uma sociedade melhor possam ser compreendidos, aceites, discutidos e argumentados racionalmente, sem requererem, de todo, qualquer «inspiração divina»: para um crente no sobrenatural, sujeito ao medo e a um certo complexo de inferioridade por ser humano, é difícil de aceitar que um ser humano racional consiga, apenas com recurso às qualidades da sua própria mente, e sem requerer «muletas externas», desenvolver sozinho essas qualidades. É por isso que Espinosa, que não só mostra como são derivadas essas qualidades através de um raciocínio lógico, mas que expõe um método para o fazer, era perseguido e condenado à fogueira não apenas por cristãos, mas por judeus — penso que o único registo histórico de «excomunhão» no Judaísmo é o de Espinosa (já que do ponto de vista judaico não faz sentido de falar de «excomunhão»...). Ironicamente, esses documentos são em português :) já que a comunidade judaica holandesa que o condenou era essencialmente portuguesa (Baruch Espinosa era luso-descendente; o pai nasceu na Vidigueira, o avô em Lisboa, mas Espinosa já nasceu em solo holandês no seio da comunidade judaica portuguesa de Amsterdão).

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    1. Caro Luís Miguel Sequeira

      Medo? Olhe que não. Por acaso, tenho até uma teoria que não sei se alguma vez publiquei aqui. Vou explicá-la:

      O ateísmo militante e o seu desejo de conversão dos religiosos (podem negá-lo mas qualquer miúdo de 5 anos percebe que existe um desejo de conversão, mais ou menos agressivo consoante os mentores) baseia-se no medo. Medo de estarem enganados. Se um dia o Juízo Final se confirmar, afirmarão candidamente: "Não tenho culpa! Aquele que dizia que Te conhecia, também Te negou!".

      Outra questão: a compreensão da minha crença libertou-me e fez-me perder o medo de algumas coisas. Exactamenteo o contrário daquilo que o Luís pensa.

      Para terminar: os primos ateístas têm uma visão religiosa um poucochinho infantilizada. Infelizmente isso gera muitas confusões porque lemos e tornamos a ler e muitas vezes pensamos: "Valha-me S. Tomás de Aquino! Mas do que é que eles estão a falar?!"

      Saudações,

      António Parente

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    2. Caro António,

      Fico satisfeito que no seu caso não é crente devido ao medo, mas eu estava a comentar segundo uma perspectiva antropológica, não pessoal.

      Ah, e a propósito, felizmente não sou «ateu militante» :)

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    3. Caro Luís

      Eu já tinha percebido que não é "ateu militante". Escrevi também numa perspectiva antropológica, não pessoal :-)

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    4. Luís Miguel Sequeira,

      Nas religiões teistas, falta normalmente a argumentação lógica para a defesa destes valores, porque é sugerido que a maioria das pessoas não têm capacidade para a seguir.

      Não sei como é nas "religiões teístas", mas no Cristianismo, a lógica em si é algo cuja origem tem explicação simples. Portanto, não se entende como é que o Cristianismo está em falta no que toca à "argumentação lógica" quando a existência da lógica é evidência em favor do Deus Bíblico.

      Nas religiões ateístas, por outro lado, vazias de Referência Absoluta, não há forma de explicar a existência de entidades absolutas, abstractas e universais. Para um militante ateu, a "lógica" é a mesma coisa que calças: uns podem usar outros não. Ambas as escolhas são válidas. No ateísmo.

      Portanto, antes do Luis querer (de modo hilariante) usar a lógica (ou a alegada falta de uso da mesma nas "religiões teístas") como arma contra o Cristianismo, o melhor que tem a fazer é explicar 1) o que é a lógica 2) se é contingente do mundo material 3) se não é, donde surgiu 4) como é que ateísmo e o naturalismo explicam a sua existência.
      Em caso de dúvidas, lembre-se que no universo paralelo ateu, só a matéria existe.

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    5. Lucas, está a começar por um mau exemplo — no Cristianismo há dogmas para os pressupostos principais, que não são passíveis de discussão ou argumentação lógica. O Cristianismo, em particular, tem um subterfúgio bastante inteligente (comparado com outras religiões monoteistas não baseadas na Bíblia) que é justificar tudo o que não é justificável com o Plano Divino, incompreensível para os meros mortais, e, dessa forma, evitar raciocinar sobre o assunto.

      Quando diz que a "existência da lógica é evidência em favor do Deus Bíblico" parece dar a entender que foi o Deus Bíblico que criou a lógica — se calhar entendi mal o queria dizer, porque parece-me que queria defender que o Deus Bíblico é explicado logicamente. Mas como isso ainda é mais absurdo não sei bem o que quer dizer com essa frase :-) Explique-me por favor o que pretendia dizer.

      Mas tudo bem! O meu ponto era bastante diferente, e talvez me tenha explicado mal. Vou tentar esclarecer. A argumentação lógica para criar uma sociedade que siga determinados valores éticos e morais é extensa e não é imediatamente óbvia quais são as vantagens para o indivíduo e para a sociedade se seguir essas normas. Por outras palavras: é demonstrável logicamente que há, de facto, vantagens para todos em seguir essas normas, mas a argumentação não é óbvia, especialmente quando cada um de nós sente a necessidade de se preocupar primeiro consigo e só depois (se tiver tempo e se não for prejudicado) com os outros. Rebater isto logicamente não é trivial.

      Como não é trivial, há uma solução simples, que existe há dezenas de milhares de anos: pressupõe-se a existência de entidades sobrenaturais que escolheram essa via como sendo a melhor, e, por obediência/devoção/medo a essas entidades, segue-se o seu Caminho. A "argumentação lógica" neste caso resume-se a: "se eu seguir determinados comportamentos éticos/morais, estou a agradar à minha entidade sobrenatural preferida". Isto é de compreensão simples e elementar para a maioria das pessoas, que nada mais necessita para seguir um caminho ético. Depois pode-se aplicar uma lógica reversa: se não se seguir esse caminho — que se afigura como desejável socialmente — então é porque a pessoa em questão não acredita na entidade sobrenatural (ou percebeu tudo mal, etc.). Então há "claramente" uma entidade sobrenatural que desenvolveu o caminho e que o revelou. Chama-se a isto também lógica circular :) Mas o que interessa é o resultado: independentemente da "razão" para seguir um caminho ético, o que importa é o resultado. Daí a importância, no meu entendimento, do papel da religião para todos aqueles que não encontram outra justificação para seguir um comportamento ético, e para os quais a justificação de que "há uma entidade sobrenatural que deseja que siga esse comportamento ético" é condição sine qua non para o seguirem. Por mim, pessoalmente, acho bem. Aliás, não querendo menosprezar nada, a razão pela qual se criou o mito do Pai Natal foi para induzir as criancinhas a adoptarem um comportamento ético — e a o seguirem com energia, vigor, felicidade — por saberem que vão ter uma recompensa no futuro. Criamos constantemente esse tipo de mitos para induzir pessoas a seguirem um comportamento ético.

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    6. Talvez como diz também: a ideia de que podemos conceber entidades "absolutas/universais" sem necessitar de uma explicação lógica facilita imenso as coisas. Mas facilitar não é "mau", quando o resultado é um comportamento ético e social que beneficia o indivíduo e toda a sociedade; do meu ponto de vista, todos os métodos que conduzam a isto são perfeitamente válidos. Ou seja: não sou um "apologista da lógica e da razão" quando se trata de construir uma sociedade melhor em que os indvíduos sejam felizes e capazes de se entenderem uns com os outros se seguirem voluntariamente e de boa vontade algumas normas simples. Não sou positivista :) Para mim, ditar que "foi uma entidade sobrenatural que nos mandou seguir este caminho" é um modo hábil perfeitamente válido e justificável; um daqueles casos em que os fins justificam os meios (bem sei que justamente os positivistas e ateus militantes discordam desta visão, mas para mim é muito mais importante que as pessoas vivam numa sociedade justa e tenham um comportamento ético, do que discutir se é "melhor" fazê-lo com recurso à lógica ou à devoção a entidades sobrenaturais — para mim, isso é pouco relevante).

      "Nas religiões ateístas, por outro lado, vazias de Referência Absoluta, não há forma de explicar a existência de entidades absolutas, abstractas e universais." Nalgumas talvez não haja, não sei; não posso alegar que as conheça todas.

      "Para um militante ateu, a "lógica" é a mesma coisa que calças: uns podem usar outros não. Ambas as escolhas são válidas. No ateísmo." Não percebi muito esta sua afirmação, porque, pela descrição, isto aplica-se talvez ao niilismo e a certos tipos de filosofias que advogam o relativismo moral, mas certamente que isso é uma gota de água na infinita variedade de filosofias ateistas que existem e existiram. Não se pode generalizar dessa forma. A não ser que de facto o tenha entendido mal.

      Quanto às suas perguntas:
      1) "Logic (from the Greek λογική logikē)[1] is the philosophical study of valid reasoning.[2] Logic is used in most intellectual activities, but is studied primarily in the disciplines of philosophy, mathematics, semantics, and computer science. It examines general forms that arguments may take, which forms are valid, and which are fallacies. In philosophy, the study of logic is applied in most major areas: metaphysics, ontology, epistemology, and ethics." (fonte: Wikipedia)
      2) Não sei se é ou não é. Não sou materialista.
      3) http://en.wikipedia.org/wiki/Logic#History
      4) Como existem milhões de formas de ateísmo e naturalismo, não lhe posso dar uma resposta precisa e única :) (ver abaixo)

      "Em caso de dúvidas, lembre-se que no universo paralelo ateu, só a matéria existe." Ora essa — isso é mais uma vez uma generalização. Há filosofias e tradições que são ateistas mas nem todas são materialistas; muitas são nilistas (nem sequer a matéria existe); algumas não sem nem uma coisa nem outra. Já no século II (ou talvez antes) se resumiam as quatro posições possíveis da seguinte forma:

      1) Todas as coisas existem: afirmação de existência, negação da não-existência (existencialismo,
      naturalismo...)
      2) Nada existe: afirmação da não-existência, negação da existência (niilismo)
      3) Tudo existe e não-existe (simultaneamente): tanto afirmação como negação
      4) As coisas nem existem, nem não-existem: nem afirmação, nem negação

      Há apenas uma tradição que refuta as quatro em simultâneo e propõe uma via intermédia para resolver os paradoxos.

      Por isso, mais uma vez, a sua afirmação é mesmo muito generalista — está apenas a falar do 1º caso, que nem é o mais interessante do ponto de vista das filosofias ateistas.

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  7. Caro Luis,

    "Mas como essa sociedade baseada em princípios éticos humanistas é desejável, usa-se um argumento bem eficaz para induzir as pessoas a mudarem o seu comportamento ético: o Medo. Medo da morte, medo da «retribuição divina», medo do Juízo Final, medo da ausência de sentido da vida. Criando-se um clima de terror para aqueles que se recusam a participar numa sociedade melhor, procura-se assim estimular o desenvolvimento ético."

    Quando leio afirmações como esta, - e há por aí em circulação um número quse infinito delas - pergunto-me se realmente sou um homem religioso, algo de que tenho estado convencido desde criança. É que desde que me conheço com ser humano o medo foi coisa que nunca associei à religião.

    Por outro lado, também nunca entendi muito bem o discurso, tanto crente como ateu, acerca do sobrenatural, como algo que está, literalmente, 'sobre' o 'natural'. É provavelomente com base na incapacidade de entender este pressuposto, que também nunca entendi, por mais que me esforce, o facto de em tempos recentes terem surgido inúmeras publicações a anujnciar triunfantemente o fim da religião com base na decoberta de que ela não passa de algo que surgiu no processo evolutivo e tendo alguma função 'positiva', função essa que hoje não necessita ser assegurada pela religião, a qual pode assim ir em paz.

    Pelo mesmo pressuposto se afirma que a ética não precisa da religião para nada, não tem nada a ver com revelações divinas, com a Bíblia; as origens evolutivas da religião também estão suficientemente esclarecidas.

    O desenvolvimento das neurociências também parece ter provado sem margem para dúvidas que os rituais e as crenças religiosas são pura criação do cérebro (daqui a ‘Neuroteologia’), o mesmo se diga da ética (daqui a ‘Neuroética’), da estética (daqui a ‘Neuroestética’), da filosofia (daqui a ‘Neurofilosofia’), da econiomia, etc.

    O Ludwig não gosta que eu fale em equívocos, mas parace-me cada vez mais que aqui alguma coisa não bate certo. Ou então eu nunca fui um homem religioso e o equívoco está do meu lado!

    Saudações,

    Alfredo Dinis

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    1. Já agora, Alfredo, quando diz que as "origens evolutivas da religião também estão suficientemente esclarecidas", quem é que está a citar? Nesta linha de pensamento, gostei de ler How the Mind Works de Steven Pinker que propõe uma teoria evolutiva para a religião. É a isso que se esta a referir? Se não, estou interessado em conhecer teorias alternativas; nem sei sequer se já houve debunking do Pinker, mas pelo menos achei a teoria dele bastante credível.

      Em segundo lugar, deveria ter sido um pouco mais preciso na minha afirmação. Por um lado, substituir a palavra «religião» por «religião institucionalizada». E depois, acrescentar a «medo» também as expectativas (que são o reverso da medalha). Mas estar preso a expectativas é igualmente um grilhão.

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  8. Caro Ludwig,

    Essa atribuição a Einstein de um pensamento religioso no sentido mais tradicional do termo é fruto de pura ignorância, e irrita-me cada vez que alguém a repete. Como também a afirmação, repetida por ateus, de que Darwin era crente e se tornou ateu talvez precise de alguma qualificação.

    O comentário que deixei dirigido ao Luis também é dirigido a ti.

    Saudações,

    Alfredo

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  9. Off topic interessante: como evolucionistas e criacionistas bíblicos interpretam os mesmos dados de forma diferente:

    Um estudo recente mostra como uma única enzima assume um papel fundamental para detectar e corrigir cerca de um milhão de erros de cópia no genoma causados durante a replicação das células...


    1) Os evolucionistas continuam à procura de uma explicação naturalista para o código de DNA, a informação complexa nele armazenada e o complexo sistema de correcção e edição automática.


    2) Os criacionistas notam que tudo isso demonstra a dependência da vida de instruções precisas codificadas no genoma, até ao mais ínfimo detalhe, cuja degradação causa doenças e morte, sendo que a existência de um sistema de correcção automática é apenas mais uma evidência de design inteligente, omnisciente e omnipotente.


    Duas visões do mundo, duas maneiras diferentes de interpretar a mesma evidência.

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  10. Alfredo,

    Em primeiro lugar, não defendo que «que as pessoas têm crenças religiosas simplesmente porque têm medo da morte, doinferno, etc». Penso que as religiões são coisas muito diversas, com crenças muito diferentes e que o percurso pessoal de cada religioso pode ser diferente dos dos outros. Dito isto, também não acho que por tu não teres medo do inferno se possa inferir que o medo não é um dos factores que motivam algumas pessoas. Penso que desde a virtude de “temer a Deus” aos tele-evangelistas e às testemunhas de Jeová que nos dizem sempre que o mundo está a acabar, o medo parece ser uma ferramenta importante, mesmo que esteja longe de ser a única.

    Quanto ao sobrenatural, pelo que entendo é apenas uma desculpa de alguns crentes para não terem de fundamentar minimamente as suas alegações. Por exemplo, pelo que sabemos da natureza, é fisicamente possível surgirem partículas onde nenhuma havia antes, porque o vazio é instável, mas não é possível um ser inteligente existir sem matéria, porque processar informação exige um aumento de entropia. Vê, por exemplo, o demónio de Maxwell.

    Mas a desculpa dos crentes é que o seu deus criou todo o universo e existe para além da matéria, do espaço e do tempo, porque não é parte da natureza. Por isso podem-se marimbar para a física. E, como bónus, nem precisam de justificar as suas afirmações. É assim porque acreditam, e acreditam porque é assim. Pronto.

    Quanto à neurologia acabar com a religião, não é assim que entendo essa investigação. É como o medo das cobras. Há muito mais gente com pavor de cobras do que de carros apesar de, aqui e agora, os carros matarem muito mais do que as cobras. A evolução e a neuropsicologia explicam isso. Milhões de anos de evolução criaram mecanismos neurológicos que nos tornam propensos a estas fobias, muito mais do que a outras que, neste momento, seriam mais úteis, como ter medo de atravessar a estrada sem olhar. No entanto, isso não acaba com as fobias. Apenas explica a sua origem.

    O mesmo podemos fazer acerca das religiões. Não acaba com elas, mas explica como pode tanta gente acreditar tanto em tanta coisa falsa. O que é útil para rebater o argumento, que tu também invocas, de que deve haver algo de fundamentalmente verdadeiro na (tua) religião pelo simples facto de tanta gente ter acreditado nela com tanta intensidade. O que a psicologia, neurologia e sociologia mostram é que essa inferência é inválida. A intensidade da crença não implica que seja verdadeira.

    Finalmente, a dicotomia que propões parece-me falsa: ou eu estou enganado ou tu nunca foste um homem religioso. Não só porque eu não defendo que o medo é o principal motivador para a religião, como também porque há muitas formas de ser religioso, e não podes assumir que todos os religiosos são religiosos como tu. Há gente que teme a Deus e que tem medo do castigo eterno, e é pena que não dediques mais dos teus posts a ensinar aos religiosos que tanto faz que sejam crentes ou ateus, que Deus ama todos por igual e não castiga ninguém por isso. Se for nisso que acreditas...

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    1. "...Deus ama todos por igual e não castiga ninguém por isso. Se for nisso que acreditas...

      Deus ama a todos por igual, a Bíblia diz. Mas só salva do castigo aqueles que se arrependerem e pedirem perdão pelos seus pecados e aceitarem a salvação por via da morte e da ressurreição de Jesus Cristo...

      Deus não salva quem rejeita a salvação...

      É isso que a Bíblia ensina:

      "Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigénito para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna"

      João 3:16

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    2. "Milhões de anos de evolução criaram mecanismos neurológicos que nos tornam propensos a estas fobias, muito mais do que a outras que, neste momento, seriam mais úteis, como ter medo de atravessar a estrada sem olhar. No entanto, isso não acaba com as fobias"

      Só um problema. Primeiro é necessário demonstrar a evolução...

      Tudo o que o Ludwig demonstrou foi que aqui e agora gaivotas evoluem para... gaivotas!

      Por seu lado, Darwin observou que tentilhões evoluem para... tentilhões!

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    3. Os disparates do Ludwig:

      "...a desculpa dos crentes é que o seu deus criou todo o universo e existe para além da matéria, do espaço e do tempo, porque não é parte da natureza. Por isso podem-se marimbar para a física."

      A física só fala do mundo físico, não de um Deus espiritual e metafísico que criou o mundo físico e ...as leis da física!

      De resto, a lei da conservação da energia mostra que esta permanece constante, não se criando a si própria por processos naturais...

      ... logicamente, alguém sobrenatural a terá criado...

      Do mesmo modo, a lei da entropia mostra que a energia reutilizável e a ordem estão a diminuir, pelo que havia muito energia útil e muita ordem no princípio...

      ... de onde veio essa energia utilizável e essa ordem?

      As leis da conservação e da entropia mostram que nem a energia nem a ordem se criam a si mesmas...

      ...alguém sobrenatural e ordenado (racional) as terá criado...

      Daí que faça sentido dizer: "No princípio Deus (Logos) criou os céus e a Terra"...

      Ninguém se marimba para a física. Ela corrobora exactamente o que a Bíblia ensina...

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    4. "Deus ama a todos por igual, a Bíblia diz. Mas só salva do castigo aqueles que se arrependerem e pedirem perdão pelos seus pecados e aceitarem a salvação por via da morte e da ressurreição de Jesus Cristo..."

      Portanto, não é universalmente compassivo.

      Ou, se é, foi mal interpretado, e realmente todos já estão salvos em Jesus Cristo.

      Em que ficamos?

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  11. Caro Ludwig,

    "o argumento, que tu também invocas, de que deve haver algo de fundamentalmente verdadeiro na (tua) religião pelo simples facto de tanta gente ter acreditado nela com tanta intensidade. O que a psicologia, neurologia e sociologia mostram é que essa inferência é inválida. A intensidade da crença não implica que seja verdadeira."

    A única coisa de que me lembro é a de ter constatado que a crença religiosa é bastante generalizada, mas não considero que isto seja uma argumento para provar seja o que for.

    Saudações,

    Alfredo

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  12. «Os argumentos de autoridade são muitas vezes falaciosos e quase sempre fracos.»

    Neste caso, então, pior ainda, porque se Einstein era autoridade não o era em teologia, matéria religiosa ou de fé. Pelo menos, tanto quanto sei, as opiniões dele sobre questões religiosas não tinham, nem têm, mais valor do que as de qualquer outro mortal. E aqui é que bate o ponto. A matemática e a física não tratam dessas questões. Einstein sabia disso. Ridículo e despropositado é pretenderem que um génio naquelas áreas está abalizado em qualquer outra área. Rir é o melhor remédio.

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    2. «Os argumentos de autoridade são muitas vezes falaciosos e quase sempre fracos.»

      Este parece ser um típico argumento de autoridade...

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    3. É discutível. Se se ler a biografia de Einstein, vai-se ver que grande parte do seu tempo e energia era empregue em dissertação filosófica, que era compartilhada com os seus pares. Talvez não fosse um filósofo brilhante, mas muito do pensamento filosófico de Einstein faz parte do corpus da filosofia do séc. XX e as suas contribuições filosóficas fazem parte do conhecimento humano. Não se pode descartar o pensamento filosófico de Einstein dizendo «era apenas um físico, o que é que ele percebia de filosofia?»

      Há uma certa visão de que a ciência e a filosofia estão de costas voltadas, mas isso só é uma percepção recente, que começa a partir dos finais do século XVIII, inícios do séc. XIX. Ainda hoje em dia, o doutoramento segundo o modelo americano se chama "Philosophical Doctor", porque a base da ciência (ainda) é a filosofia.

      Não quero com isto dizer que todos os cientistas geniais sejam simultaneamente filósofos geniais, claro, isso seria uma afirmação ridícula! (tal como o inverso também não é verdade). Ou que um génio em física seja simultaneamente um génio em, digamos, psicologia ou economia. Também não é verdade. O que queria apenas dizer era que Einstein era simultaneamente cientista e filósofo. Um cientista genial e sem par, e um filósofo talvez medíocre ou pelo menos sofrível, mas não deixava de ser um filósofo à mesma. Para alguns, a filosofia de Einstein é mais interessante do que a sua ciência.

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  13. Alfredo,

    «A única coisa de que me lembro é a de ter constatado que a crença religiosa é bastante generalizada, mas não considero que isto seja uma argumento para provar seja o que for.»

    Tens invocado muitas vezes o testemunho dos crentes, a tradição da tua religião e a forma como a crença no teu deus influenciou a vida desses crentes como justificação (a única justificação, aliás, tanto quanto me lembro) para tu acreditares que a tua religião se fundamenta em verdades. Jesus era mesmo a encarnação do criador do universo, ressuscitou, a nossa alma é eterna, etc.

    Uma coisa que a psicologia e a sociologia explicam, se bem que já se sabia disso há muito tempo, é que esse testemunho de fé, por muito sincero e sentido que seja, não justifica de forma alguma inferir que essas crenças são verdadeiras.

    Daí a minha asserção de que não tens justificação alguma para alegares ser verdade essas crenças que defendes como verdadeiras.

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    1. A idiotice deste argumento é evidente. De acordo com ele não podemos acreditar nos relatos de Heródoto ou de Tácito porque eles constituem "argumentos de autoridade"... ... enfim!

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    2. Não, acreditamos nesses relatos porque há várias fontes que relatam os mesmos acontecimentos. No entanto, se aparecer a posteriori documentação que claramente contradiga Heródoto ou Tácito, então estes podem ser descartados — são apenas «autoridade» na ausência de novos documentos que não os contradigam.

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  14. Off topic interessante: como evolucionistas e criacionistas bíblicos interpretam os mesmos dados de forma diferente:


    Um estudo recente mostra que a dentição em bico do peixe-bola permaneceu inalterada durante 400 milhões de anos (na cronologia uniformitarista e evolucionista)

    1) Os evolucionistas procuram retirar daí ensinamentos sobre a evolução da dentição do ser humano, embora reconheçam os processos "altamente conservados" (i.e. sem evidência de evolução!) envolvidos na dentição em bico do peixe-bola.

    2) Os criacionistas salientam que a experiência foi feita com peixes-bola do presente por cientistas do presente, nada dizendo sobre a origem e evolução de uns e de outros, demonstrando, pelo contrário, que não houve qualquer evolução, pelo que é ilógico pretender usar a ausência de evolução como prova da evolução.

    Duas visões do mundo, duas maneiras diferentes de interpretar a mesma evidência.

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  15. Off topic interessante: como evolucionistas e criacionistas bíblicos interpretam os mesmos dados de forma diferente:

    Um estudo recente mostra que a proteína Cdt1 desempenha um papel crucial na replicação do DNA e também numa fase avançada da mitose, ou divisão celular, podendo o seu mau funcionamento causar cancro...

    1) Os evolucionistas limita-se a especular sobre como a vida terá surgido por acaso e as espécies terão evoluído a partir de um antepassado comum por mutações aleatórias e selecção natural.

    2) Os criacionistas notam que o estudo demonstra, mais uma vez, a extrema precisão e especificidade dos processos genéticos, que dependem da correcta cópia, transcrição, tradução e execução das instruções codificadas no DNA, sendo as mais pequenas mutações responsáveis, de um modo geral, por doenças e morte.

    Duas visões do mundo, duas maneiras diferentes de interpretar a mesma evidência.

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  16. Caro Luis,

    Deixo-te aqui, por ordem alfabética, apenas uma amostra de books sobre o tema das origens evolutivas da religião, publicados nos últimos dez anos. Alguns ainda não foram publicados.

    A maioria, mas nem todos, pretendem resolver evolutivamente o enigma das crenças religiosas, concluindo que está tudo esclarecido. Como disse no meu comentário anterior, não é uma necessidade absoluta para os crentes acreditarem que as suas crenças foram reveladas directamente do céu, numa bandeja, sem nenhuma relação com a sua existência biológica, histórica, cultural, etc. Não é esta a minha perspectiva, por isso considero que a maior parte destes estudos chega a conclusões não logica e necessariamente verdadeiras, porque se baseia na aparente e abstracta mas não verdadeira necessidade de a religião cair do céu, literalmente.

    Envio-te a seguir alguns artigos sobre o mesmo tema, também uma pequena amostra de estudos recentes. Tenho algum deste material no computador e poderei enviar-to pior mail de quiseres. Deixo-te aqui o meu: alfredodinis.facfil@gmail.com.

    Quanto ao livro de Pinker, há um outro livro de J. Fodor, The Mind doesn't Work that Way, a contestá-lo. A Introdução a este livro bem como a book review do de Pinker por Fodor estão na Internet. Basta fazer a pesquisa de 'mind doesn't work that way'.

    • Atran, S. (2004) In Gods We Trust: The Evolutionary Landscape of Religion. Oxford: Oxford University Press.

    •Bering, J. (2012).The Belief Instinct: The Psychology of Souls,…NY: Norton & Co.

    Boyer, P. (2001) Religion Explained: The Evolutionary Origins of Religious Thought. New York: Basic Books.

    Brought, C. (2008) Destiny and Civilization: The Evolutionary Explanation of Religion and History. Bloomington,IN: AuthorHouse.

    •Bulbulia, J., Sosis, R., Genet, C., Genet, R., Harris, E. & Wyman, K. (ed.) (2008) The Evolution of Religion: Studies, Theories, and Critiques. Santa Margarita, CA: Collins Foundation Press.

    •Dennett, D. C. (2006) Breaking the Spell: Religion as a Natural Phenomenon. New York: Viking.

    •Feierman, J.R. (2009) The Biology of Religious Behavior: The Evolutionary Origins of Faith and Religion. Santa Barbara: ABC-CLIO.

    •Frey, U. (ed). (2010) The Nature of God – Evolution and Religion. Tectum.
    Kellerman, H. (2012) The Discover of God: A Psychoevolutionary Perspective (SpringerBriefs in Psychology). Springer Publ.

    MacNamara, P. (2006).Where God and Science Meet: How Brain and Evolutionary Studies Alter Our Understanding of Religion (Psychology, Religion & Spirituality). Praeger Publ.

    Phipps, C. Evolutionaries: The Visionary New Synthesis of Science, Soul, and Purpose. (2012). HarperPerennial

    •Raman, V.V. (2009) Truth and Tension in Science and Religion. New Hampshire: Beech River Books.

    •Rossano, M.J. (2009) Supernatural Selection: How Religion Evolved. New York: Oxford University Press.

    •Schaller, M., Norenzayan, A., Heine, S.J., Yamagishi, T., & Kameda, T. (eds) (2009) Evolution, Culture and the Human Mind. New York: Psychology Press.

    •Schloss, J. & Murray, M. (eds) (2009) The Believing Primate: Scientific, Philosophical, and Theological Reflections on the Origin of Religion. Oxford: Oxford University Press.

    •Slone, J. D. (ed) (2009) Religion and Cognition: A Reader. UK: Equinox Publishing.

    Veldsman, D. et al. (2009), The Evolutionary Roots of Religion: Cultivate, Mutate or Eliminate? (South African Science and Religion Forum), Kindle ed. Amazon.

    •Voland, E. & Schiefenhövel, W. (ed.) (2009) The Biological Evolution of Religious Mind and Behavior.

    •Whitehouse, H. (2004) Modes of Religiosity: A Cognitive Theory of Religious Transmission. Walnut Creek, CA: Alta-Mira Press.

    •Wilson, D. S. (2002) Darwin’s Cathedral: Evolution, Religion, and the Nature of Society. Chicago: University of Chicago Press.

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    1. Todos nós interpretamos a realidade de acordo com a nossa visão do mundo.

      Os evolucionistas, naturalmente, interpretam a religião à luz da teoria da evolução, como o resultado de processos aleatórios.

      Os criacionistas bíblicos, naturalmente, interpretam a teoria da evolução à luz da Bíblia, como consequência do pecado humano e da sua rebelião contra Deus.

      O problema dos evolucionistas é que se a religião é o resultado de processos cerebrais aleatórios, sem qualquer valor intrínseco, a teoria da evolução também o é.

      A teoria da evolução, ao assentar em processos biológicos, genéticos e neurológicos aleatórios, inviabiliza todo o conhecimento.

      Charles Darwin pressentiu isso quando perguntava: "podemos confiar nas convições de um macaco (se é que ele tem algumas?"

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    2. Caro Alfredo,

      Muito obrigado! Agradeço imenso :) Alguns penso que consigo aceder via a rede da universidade; senão, o meu email é lms@esoterica.pt.

      perspectiva,

      Desta vez tenho de concordar contigo. De facto é precisamente isso que acontece: olhamos para a realidade de acordo com as nossas percepções e interpretamo-la de acordo com a nossa visão. Agora podemos é ter (ou não) a capacidade de nos treinarmos para não deixar que as nossas percepções e a nossa visão «interfira» na percepção da realidade. Este treino é difícil.

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  17. Caro Luis,

    Deixo-te aqui alguns artigos sobre as bases evolutivas da religião.
    Saudações,

    Alfredo

    • Alcorta, C. & Sosis, R. (2005) Ritual, Emotion, and Sacred Symbols: The Evolution of Religion as an Adaptive Complex. Human Nature 16(4) 323-359.

    • Atran, S., & Norenzayan, A. (2004) Religion’s evolutionary landscape: Counterintuition, commitment, compassion, communion. Behavioral and Brain Sciences 27: 713-770.

    • Bering, J.M., McLeod, K. & Shackelford, T.K. (2005) Reasoning about Dead Agents Reveals Possible Adaptive Trends. Human Nature 16(4): 360-381.

    • Blume, M. (2009) “The Reproductive Benefits of Religious Affiliation“, in: Voland, E. & Schiefenhövel, W. (eds) “The Biological Evolution of Religious Mind and Behaviour“, Springer Frontier Collection 2009.

    • Boyer, P. & Bergstrom, B. (2008) Evolutionary Perspectives on Religion. Annual Reviw of Anthropology 37: 111–130.

    • Bulbulia, J. (2004) The cognitive and evolutionary psychology of religion. Biology and Philosophy 19: 655–686.

    • Graham, J., & Haidt, J. (in press) Beyond beliefs: Religion binds individuals into moral communities. Personality and Social Psychology Review.

    • Henrich, J. (2009) The evolution of costly displays, cooperation, and religion: Credibility enhancing displays and their implications for cultural evolution. Evolution and Human Behaviour 30: 244-260

    • Murray, M.J., & Moore, L. (2009) Costly Signaling and the Origin of Religion. Journal of Cognition and Culture 9: 25-245.

    • Norenzayan, A., & Shariff, A. (2008) The Origin and Evolution of Religious Prosociality. Science 322: 58.

    • Norenzayan, A., Atran, S., Faulkner, J. & Schaller, M. (2006) Memory and Mystery: The cultural selection of minimally
    counterintuitive narratives. Cognitive Science 30:531-553.

    • Pyysiäinen, I. & Hauser, M. (2010) The origins of religion: evolved adaptation or by-product? Trends in Cognitive Sciences 14(3): 104-109.

    • Ruffle, B.J. & Sosis, R. (2006) Cooperation and the in-group-out-group bias: A field test on Israeli kibbutz members and city residents. Journal of Economic Behaviour & Organisation 60: 147-163.

    • Sanderson, S.K. (2008) Adaptation, evolution, and religion. Religion 38:141-156.

    • Sosis, R. (2009) The Adaptationist-Byproduct Debate on the Evolution of Religion: Five Misunderstandings of the Adaptationist Program. Journal of Cognition and Culture 9: 315-332.

    • Sosis, R. (2003) Why Aren’t We All Hutterites? Costly signaling theory and Religious Behavior. Human Nature 14 (2):91-127.

    • Wilson, D. S. (2005) Testing major evolutionary hypotheses about religion with a random sample. Human Nature 16(4): 382-209.

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    1. Como a evolução é um disparate sem qualquer plausibilidade científica, toda essa literatura cai pela base porque se apoia em premissas erradas...

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    2. É muito fácil refutar cientificamente a teoria da evolução.

      Basta atentar para os efeitos implacáveis da acumulação de mutações nos genomas, eliminando e degradando a informação genética...

      Os próprios evolucionistas já se aperceberam do problema tendo observado recentemente que as bactérias estão a perder genes e a correspondente informação genética, tendo mesmo proposto uma nova teoria chamada "evolução genómica redutiva"

      O grande desafio dos evolucionistas consiste em explicar como é que com perdas sucessivas de genes e de informação genética é possível transformar bactérias em bacteriologistas em milhões de anos...

      Isso eu gostava de saber...

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    3. perspectiva, o teu problema na realidade, ao colocares essas questões, é não compreenderes que elas já foram respondidas. Não há nenhum "grande desafio". Isso já foi respondido. E estamos constantemente a aperfeiçoar as respostas, à medida que se desvela nova informação.

      Agora o que há é a capacidade de seguir essa linha de raciocínio ou não. Requer treino, conhecimentos, experiência. Está ao alcance de cada um de nós o fazer ou não; se o fizermos, chegamos às mesmas respostas e aos mesmos resultados.

      Mas simplesmente porque não temos capacidade de compreender uma coisa não é motivo para a rejeitar :) Por exemplo, eu nunca fiz nenhum esforço para aprender Chinês ou Grego, mas não posso por isso afirmar «não sou capaz de ver nenhuma lógica no Chinês ou Grego, por isso não devem ser línguas válidas».

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  18. Caro Ludwig,

    Provavelmente não estamos a falar do mesmo argumento.
    Em primeiro lugar, como muito bem sabes, as verdades do saber humana, incluindo as da ciência, são sempre provisórias, nunca definitivas. Eu não o pretendo afirmar que as verdades do cristianismo são completas e definitivas. Como tenho afirmado várias vezes. apesar de ter estudado teologia durante cinco anos, considero que sei muito pouco sobre Deus, o céu e o inferno - teoricamente falando, isto é, do ponto de vista argumentativo, isto é, do ponto de vista de apresentar provas irrefutáveis da existência de Deus, do diabo, do céu, do inferno, etc.

    Por isso, quando digo que o testemunho dos cristãos através dos séculos, desde Jesus Cristo, é para mim uma forte razão para crer em Deus, faço esta afirmação no mesmo sentido em que afirmo que acredito no que a minha mãe me diz sobre a beleza e a bondade da minha tetravó, que não conheci. Outras pessoas podem dizer-me o contrário, mas eu tenho razões para acreditar na minha mãe.

    Para seres coerente com a tua posição, deverias avisar os juízes em todos os tribunais que não deverão aceitar como verdadeiras, mesmo que apenas provisoriamente, as afirmações das testemunhas, tanto de defesa como de acusação, apresentadas nos tribunais.

    De resto, como já tenho dito em outras ocasiões, a vida humana não se baseia, em muitos aspectos fundamentais, em razões logica, irrefutavel e definitivamente provadas.

    Saudações,

    Alfredo

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    1. O argumento do Ludwig é circular e refuta-se a ele próprio.

      Basicamente ele quer que aceitemos a sua autoridade quando nos diz que não devemos aceitar argumentos de autoridade...

      Só alguém que se autodenominou "macaco tagarela" é que se podia sair com um argumentos destes...

      Bem dizia Charles Darwin que não devíamos confiar nas convicções de um macaco...

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  19. Off topic interessante: como evolucionistas e criacionistas bíblicos interpretam os mesmos dados de forma diferente:

    Um estudo recente mostra que o envelhecimento é em grande parte devido à acumulação de mutações genéticas, podendo ser em parte revertido por terapia genética


    1) Os evolucionistas tentam explicar como é que a acumulação de mutações maioritariamente deletérias para o genoma pode transformar micróbios em micriobiologistas.


    2) Os criacionistas notam que a tendência geral das mutações para causarem envelhecimento, doenças e morte é compatível com a origem recente do genoma e com a longevidade dos primeiros humanos mencionados na Bíblia, ainda pouco afectados pela acumulação de mutações e pelas alterações climáticas do dilúvio global.


    Duas visões do mundo, duas maneiras diferentes de interpretar a mesma evidência.

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  20. Alfredo,

    «Em primeiro lugar, como muito bem sabes, as verdades do saber humana, incluindo as da ciência, são sempre provisórias, nunca definitivas.»

    Não. O que é provisório são as opiniões acerca do que é verdade. A verdade acerca da idade da Terra, por exemplo, nunca mudou; só o que se julgava ser verdade é que foi mudando. Mas isto é um equívoco que merece um post :)

    «Por isso, quando digo que o testemunho dos cristãos através dos séculos, desde Jesus Cristo, é para mim uma forte razão para crer em Deus, faço esta afirmação no mesmo sentido em que afirmo que acredito no que a minha mãe me diz sobre a beleza e a bondade da minha tetravó»

    Não é no mesmo sentido. Este caso é no sentido de tomares como evidência o relato de alguém que tinha como saber o que está a dizer. Que formou uma crença por um processo fiável, epistemicamente válido. O outro, do testemunho dos cristãos através dos séculos, é no sentido muito diferente de tomares como evidência o relato de alguém cujas alegações são mera crença e não conhecimento.

    Por exemplo, um juiz pode aceitar como evidência o relato de alguém que diz ter visto o acusado roubar o carro mas não o relato de alguém que diz ter lido num livro que o acusado roubou o carro e acredita piamente na verdade desse livro.

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    1. Presumo, então, que o Ludwig não acredite piamente nos papers publicados, caso não tenha possibilidade de replicar as experiências descritas. Por exemplo, digam o que disserem os físicos do CERN ou bosão de Higgs para si será sempre um mito. Estou certo ou a sua fé é selectiva?

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    2. António,

      Já expliquei isto várias vezes e penso que não é complicado. Se não tenho razões para duvidar da honestidade da pessoa, então acredito no que me diz se perceber como é que sabe que o que diz é verdade. Não preciso de reproduzir a experiência pessoalmente, mas preciso de ter pelo menos uma ideia de como é que chegaram aquela conclusão. Daí a importância de descrever o método nos artigos científicos. Isto também serve para o bosão de Higgs.

      Mas se um Papa no século XX proclama que, cerca de dois mil anos antes, o corpo de Maria ascendeu ao céu, não vejo como posso dar crédito a essa afirmação se não compreendo como é que o Papa sabe isso. Ele pode alegar que foi revelação divina, que sonhou, que acredita, mas nada disso serve porque nada disso me esclarece acerca de como se obtém essa informação. Isso também serve para quando o Jónatas ou o Alfredo me dizem que sabem interpretar a Bíblia, cada um à sua maneira, ou que conseguem daí inferir coisas acerca do seu deus, cada um as suas coisas. Sem poder compreender o método e formar um juízo favorável acerca da sua adequação não posso considerar fundamentadas essas alegações.

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    3. Ludwig,

      Não me surpreendeu a sua resposta. Concordo consigo numa coisa: não compreende.

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    4. Então pode explicar-me qual o método que o Papa Pio XII usou para determinar que o corpo de Maria ascendeu ao céu? Ninguém me explicou ainda como se determina isso... só me dizem ah, e tal, a fé isto, a tradição aquilo, etc, mas nada disso serve.

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    5. Essa questão é interessante, na medida em que a Bíblia não fala da ascensão de Maria...

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    6. Ludwig

      Não compreendeu o "não compreende". Eu digo que o Ludwig não compreende a religião porque a limitou a um debate intelectual. Religião não é isso.

      Quanto ao dogma que refere, sugiro a leitura do respectivo documento no site do Vaticano. Está lá tudo.

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    7. Bem, se fosse um cientista histórico, diria que o "método" se baseou na documentação de alegadas testemunhas que viram Maria ascender ao céu, e que, na ausência de documentação contemporânea refutando essas testemunhas, há uma boa base histórica para tomar essa descrição como "provisoriamente verdadeira" :)

      No entanto eu bem sei que este argumento é muito fraquinho... porque na realidade não há relato nenhum, como diz o perspectiva.

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    8. Tem razão, caro Luís Miguel Sequeira. Não há relato nenhum. Se houvesse, não existiria necessidade dum dogma de fé. Mas olhe que o ateísmo militante pseudo científico tem pelo menos dois dogmas: 1) o acaso; 2) a poeira das estrelas. É sobre este frágil alicerce que reside o ediíficio teórico ateista. O método é muito simples: soprar um pouco de pó de estrelas ao acaso para cima dos crentes e esperar que, por mero caso, eles se convertam ao ateísmo. Claro que, por acaso, os debates intelectuais não conduzem à conversão de ninguém. Sai-se e entra-se na religião solitariamente e através de um processo de reflexão pessoal, íntimo e instransmissível. Retire estes dois dogmas ao ateísmo militante pseudo científico fica com uma mão cheia de mentes brilhantes mas falhas de ideias.

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    9. Bem, para já, está a limitar o «ateísmo militante» apenas a um grupo de ateus :) Não digo que não seja um dos mais influentes, mas é apenas um... isso seria como reduzir «os crentes» apenas aos simpatizantes da ICAR, como se não existissem crentes fora dela.

      Seja como for, o acaso é uma explicação plausível que conduz, na maior parte dos casos, a resultados reprodutíveis e que permitem previsões com um elevado grau de precisão. Para alguns propósitos, nomeadamente todos aqueles em que assentam a nossa sociedade altamente tecnológica, este método não é de descartar.

      Se no entanto quiser argumentar que nem tudo se explica usando «apenas» o acaso, então essa proposição é perfeitamente válida. Basta olharmos para o comportamento humano em massas — sociologia, história, antropologia, mas especialmente economia... — em que o «acaso» tem um papel menos preponderante no seu estudo...

      Finalmente, acho que está um pouco equivocado relativamente à forma como se estabelecem hipóteses e teorias. Hipóteses não são dogmas: são «verdades temporárias» que podem ser alteradas logo que surja uma ideia melhor e que permita uma explicação mais profunda, mais detalhada ou mais exacta. Se nos casos em que a hipótese do «acaso» como motor para certas teorias se mostrar pouco capaz de explicar determinadas observações, esta for substituída por uma hipótese diferente que explique mais e melhor essas observações, então a hipótese deve ser descartada e substituída por algo de melhor. Assim se avança em ciência: as hipóteses de hoje são meramente o melhor que se consegue, dadas as circunstâncias e o conhecimento actual, para obter explicações plausíveis com bons resultados de previsão. Se amanhã aparecerem coisas melhores, óptimo.

      Eliminar
  21. Os disparates do Ludwig:

    "A verdade acerca da idade da Terra, por exemplo, nunca mudou"

    Só é possível determinar a idade da Terra se soubermos quando ela "nasceu".

    Se rejeitarmos o relato do Criador sobre a origem da Terra, podemos construir modelos naturalistas e evolucionistas do cosmos.

    Mas são só modelos especulativos... baseados em premissas naturalistas, informação incompleta e observações limitadas... ...por isso em constante revisão

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  22. O Ludwig é engraçado:

    "Não é no mesmo sentido. Este caso é no sentido de tomares como evidência o relato de alguém que tinha como saber o que está a dizer. Que formou uma crença por um processo fiável, epistemicamente válido."

    Fundamentalmente, Tos discípulos relataram a morte e a ressurreição de Jesus, com detalhes factuais e pessoais, porque a presenciaram...


    "O outro, do testemunho dos cristãos através dos séculos, é no sentido muito diferente de tomares como evidência o relato de alguém cujas alegações são mera crença e não conhecimento."

    Os cristãos ao longo dos séculos apoiam-se nos relatos detalhados, fidedignos e independentes dos discípulos de Jesus, que presenciaram os seus milagres, morte e ressurreição...

    Exactamente como nós nos inspiramos nos relatos de Heródoto, Tucídides, ou Tácito sobre os acontecimentos da antiguidade...

    "Por exemplo, um juiz pode aceitar como evidência o relato de alguém que diz ter visto o acusado roubar o carro mas não o relato de alguém que diz ter lido num livro que o acusado roubou o carro e acredita piamente na verdade desse livro."

    Os vários relatos bíblicos da acção de Deus na história de Israel e da vida, milagres e ressurreição de Jesus são escritos por pessoas que dizem ter visto esses eventos e deu uma descrição detalhada deles...

    Precisamente com base nos critérios do Ludwig, eles são efectivamente passíveis de aceitação por um juiz

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  23. Off topic interessante: como evolucionistas e criacionistas bíblicos interpretam os mesmos dados de forma diferente:


    Um estudo recente sobre o enxofre na Terra sugere a existência de interacções ocultas entre o oceano, os organismos do oceano, a atmosfera e o continente

    1) Alguns evolucionistas usam isso para corroborar a hipótese Gaia que vê a Terra como um ser vivo.

    2) Os criacionistas usam isso para corroborar o ensino Bíblico de que a Terra foi criada de forma inteligente, com complexidade especificada e precisão no mais ínfimo detalhe.

    Duas visões do mundo, duas maneiras diferentes de interpretar a mesma evidência.

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  24. Off topic interessante: como evolucionistas e criacionistas bíblicos interpretam os mesmos dados de forma diferente:

    Uma descoberta arqueológica na Irlanda revela a existência de um aldeamento com alguns milhares de anos e a sua ligação a um misterioso tsunami

    1) Os evolucionistas procuram integrar esse achado na sua concepção evolucionista da história, embora fiquem surpreendidos com a evidência.


    2) Os criacionistas não se admiram com a existência de vestígios de um tsunami misterioso, na medida em que o dilúvio global recente e as sequelas locais que se lhe seguiram permitem enquadrar esse "tsunami misterioso".

    Duas visões do mundo, duas maneiras diferentes de interpretar a mesma evidência.

    P.S. O que eles dizem:

    "It is possible that this is the result of a major climatic event, a massive storm or possibly a tsunami, or some other major event of that sort, which would have thrown up a large amount of debris all at one time."


    Génesis tem a resposta...

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  25. A fé é igual para todos os objectos de crença: não só é uma valorização irreprodutível de sujeito para sujeito como também uma crença injustificada. A tradição tem a consequência de ocultar o ridículo que a crença chamaria a si se apresentada sozinha. O ritual oculta a ausência de uma verdadeira comunhão.

    No fim de contas, com a fé, está cada um por si. Mas a fé já tem a solução para isso: basta acreditar que não...

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    1. bankeiro anarkista dixit?
      O ritual do pedreiro oculta a ausência de uma verdadeira comunhão?
      A sério?
      Cê jura?

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  26. Caro Ludwig,

    "O que é provisório são as opiniões acerca do que é verdade...Mas isto é um equívoco que merece um post"

    Do que tens escrito aqui neste blogue, parece-me que defendes a concepção de verdade como correspondência entre uma teoria e os factos para os quais propõe uma explicação. Nesta concepção, o universo está 'aí', à espera que o descubramos completa, objectiva e definitivamente, divertindo-se talvez com as tentativas, avanços e recuos da Humanidade. Neste contexto, faz todo o sentido distinguir entre as teorias, que podem não ser verdadeiras, e a 'realidade', cujo conhecimento constituiria a verdade definitiva. Esta é a posição do chamado 'Realismo Crítico' de pessoas como Karl Popper. Mas não é, nem de longe, a única opinião de filósofos e cientistas, e constitui um – para alguns – irritante debate que – para alguns – não tem justificação e deveria ter terminado há muito tempo. Há quase um século, os neopositivistas do Círculo de Viena decalararam este debate sem sentido mas, apesar da sua grande influência na filosofia e na ciência do século XX, não foram obedecidos. Para alguns, como Stephen Hawking e António Damásio, para só citar dois exemplos, há que partir do pressuposto epistemológico fundamental de que as teorias científicas não são fotografias da realidade. Por conseguinte, a ciência não é constituída por fotografias cada vez mais nítidas e ‘aproximadas’ da realidade. Quando escreveres o teu post, lembra-te de que este debate não é apenas uma inconsequente mania de filósofos e que há várias outras concepções de verdade para além da que defendes,

    Saudações,

    Alfredo

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    1. Não nos podemos apoiar excessivamente na ciência humana, falível e provisória.

      Ela é importante quando se trata de indagar sobre fenómenos observáveis e conhecer o funcionamento das coisas, ou para o design inteligente de televisões, computadores ou aviões, mas nada nos diz sobre a origem do Universo, da vida e do homem, impossíveis de replicar em laboratório ou no terreno.

      Apesar de toda a sua tecnologia, o ser humano não consegue criar energia a partir do nada ou criar vida.

      Isso está para além do que a natureza ou o homem podem conseguir.

      Daí que seja inteiramente razoável e lógico concluir que isso tem uma causa sobrenatural e divina.

      Compreender os fenómenos da física, da química ou da genética nada nos diz sobre a sua causa primeira.

      Sobre essas questões, só temos duas alternativas:

      1) ou confiamos na revelação verdadeira e infalível de Deus, o único presente no momento da criação,

      2) ou confiamos nas ideias e nos modelos falíveis de cientistas falíveis, limitados e imperfeitos, que não presenciara a origem do Universo nem a podem replicar em laboratório, modelos esses muitas vezes assentes em premissas filosóficas ateístas e naturalistas.


      P.S. O Ludwig nem sequer defende uma teoria de verdade como correspondência, na medida em que defende a origem acidental da vida, quando os factos mostram que a vida simplesmente não surge por acaso em circunstância alguma.

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    2. Pode-se criar energia do vácuo, do ponto de vista teórico. :) Quanto a "criar vida", os humanos fazem isso rotinamente desde que inventaram a agricultura.

      Depois o resto é mais simples:

      0) Postular que há uma "causa primeira" já é por si só um dogma. Se não houver causa primeira, não há paradoxo: a física, química ou genética não precisam de se debruçar sobre algo que não existe. Posição essa que é muito simples e segue a razoira de Occam — para quê complicar desnecessariamente as coisas?

      1A) Podemos acreditar no que quisermos, há liberdade de expressão e de religião na maioria das democracias. Agora uma questão é "acreditar", a outra é "raciocinar". Se postulamos "tem de haver uma causa primeira", então é evidente que uma derivação lógica é de que "Deus é a causa primeira". Mas isso é raciocínio circular: postulamos uma coisa para provar outra que comprova o postulado.

      1B) O que é, para o perspectiva, uma revelação "infalível"? :)

      2) Felizmente, não preciso de "confiar" nos modelos falíveis de cientistas falíveis, limitados e imperfeitos para saber que o meu telemóvel funciona sempre que lhe carrego num botão, ou que o meu carro pega de manhã; não preciso de "confiar" em Galileu, Copérnico ou Newton para saber que o sol se vai levantar amanhã; não preciso de "acreditar" na ciência para que as coisas funcionem de forma previsível. Ainda bem que é assim, pois isso significa que independentemente de gostar ou não dos cientistas, das suas crenças e ideologias, as coisas funcionam à mesma :)

      E quanto ao P.S. estou a meter-me em alhadas ao perguntar que "factos" são esses...

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    3. Estimado Luis Miguel Sequeira

      Só por ignorância é que se pode dizer que que se pode criar energia do nada num vácuo violando a primeira lei da termodinâmica, por sinal a lei da física considerada mais forte.

      Não irá longe com disparates desses.

      Por outro lado, a sua utilização da "navalha de Occam" é um disparate, salvo o devido respeito.

      É como dizer que não devemos indagar sobre a origem das estátuas da Ilha da Páscoa porque é mais simples pressupor que sempre estiveram lá! Enfim...

      A sua interpretação de Occam é simplista e simplória...

      Além disso, também é muito mais provável que flutuações quânticas num vácuo produzam coisas simples e não universos complexos e integrados ou cérebros extremamente complexos dependentes quantidades inabarcáveis de informação codificada...


      O Universo, esse, continua a perder energia e ordem a grande velocidade

      Como surgiram a energia e a ordem primordiais? Génesis é claro: um Deus eterno, omnimpotente e omnisciente...

      Guilherme de Occam era cristão.

      Para ele é mais simples acreditar num Deus eterno, omnisciente e omnipotente que se revelou na história da humanidade na pessoa singular de Jesus Cristo, do que acreditar em disparates filosóficos, lógicos e científicos como o de que a energia e a vida surgem do nada por acaso.

      Uma revelação infalível é a produzida por um Deus omnisciente e omnipotente, amplamente corroborada na história ao mais ínfimo detalhe e que se manifestou no livro mais relevante da história da humanidade (Bíblia), no povo mais influente da história da humanidade (Israel) e na figura mais influente da história da humanidade (Jesus).

      O carro pega porque foi criado inteligentemente e não por acaso. O sol nasce todas as manhas porque foi inteligentemente criado para esse efeito.

      As coisas inteligente e intencionalmente criadas com uma função funcionam geralmente de forma previsível.

      É precisamente o facto de serem regulares e previsíveis que nos permite concluir que foram criadas de forma racional e intencional.

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    4. Caro perspectiva,

      A minha ignorância é a mesma de Casimir, Polder, Hawking, Lemaitre, Lee, Yang, Tryon e outros que estabeleceram os fundamentos teóricos da obtenção de energia a partir do vácuo, sem violação da 1ª Lei da Termodinâmica, entre os quais se contam prémios Nobel. Rodeado destes ignorantes todos, até tenho honra de ser também um ignorante. Há mais de setenta anos que isto é estudado, portanto, gosto de saber que faço parte de uma longa tradição de ignorantes.

      Se sou ignorante também quanto a Occam, explique-me então como corrigir as seguintes afirmações:

      1ª Premissa: Tudo o que observamos directamente no universo tem uma causa.
      Consequência: Se tudo no universo segue aparentemente uma lei de causa e efeito, podemos descrever as leis do universo de forma consequente: basta listas as causas e os seus efeitos. Até aqui tudo bem.
      2ª Premissa: Dado que observamos que o tempo é linear, e assumindo que a 1ª premissa é válida, então deve haver uma causa primeira.
      A isto temos várias respostas possíveis:
      1) O tempo não é linear nem absoluto, mas é apenas um referente que depende dos observadores; logo, não faz sentido falar de «causa primeira».
      2) O tempo é de facto linear e absoluto e independente dos observadores, e podemos postular a existência de uma causa primeira, mas esta está oculta e inacessível.

      Depois podemos ver o que conseguimos derivar de cada uma das respostas possíveis. Actualmente, a 1ª resposta obtém melhores resultados a explicar o que observamos no universo: nomeadamente, observamos efectivamente que o tempo depende dos observadores e que não é igual para todos eles. Logo, dificilmente podemos falar de uma «causa primeira», pois esta será diferente para todos os osbervadores. A maioria das explicações que temos para lidar com a observação do universo não necessita, pois, de «encaixar» uma «causa primeira» nas teorias para que estas sejam consistentes e coerentes. Pelo contrário, postular uma «causa primeira» obriga a explicar porque é que em determinado momento o tempo era absoluto e deixou de o ser. Cria mais complicações. Occam aplica-se aqui no sentido de obter a resposta mais simples possível.

      A segunda resposta tem de refutar que o tempo é um referente universal e absoluto para todos os observadores, o que refuta justamente a observação empírica. Cria um problema intransponível ou que tem que recorrer a explicações adicionais: ex. «o tempo até pode ser relativo aos observadores, mas esta é uma ilusão criada pelos mesmos, porque o tempo na realidade é absoluto e existe um mecanismo escondido que o torna "relativo" de acordo com as observações». Podia-se postular então que a «causa primeira» era inteligente mas perversa porque agia de acordo a ocultar o que estava por trás das observações. Mas é este tipo de raciocínio — inventar mais e mais argumentos «empilhados» para tentar justificar a validade uma premissa que Occam propõe que se abandone. O factod e Occam ser cristão é irrelevante; aliás, os princípios enumerados por Occam foram independentemente «descobertos» por filósofos e matemáticos em diversas culturas e épocas. Calha apenas na «nossa» cultura fazermos referência a Occam por ser alguém que faz parte, justamente, da «nossa» cultura.

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    5. «Além disso, também é muito mais provável que flutuações quânticas num vácuo produzam coisas simples e não universos complexos e integrados ou cérebros extremamente complexos dependentes quantidades inabarcáveis de informação codificada...»

      Essa sua afirmação foi de facto um problema complicado de se resolver. Sugiro que leia Gödel, Escher, Bach que resume, a meu ver, bastante bem a questão de como é que de coisas simples, quando interligadas de forma aparentemente aleatória, surgem padrões que, ao nosso nível de consciência, nos aparentam ser extremamente complexos. Concordo consigo se me disser que é justamente por termos uma mente complexa que olhamos para coisas simples e isoladas e que nos parecem assim ser complexas. Também posso concordar que, segundo esta perspectiva, é difícil afirmar o que é «inteligência», pois é necessário um observador inteligente para detectar num conjunto de coisas simples um padrão que denote inteligência.

      Mas o contrário também é verdade. Como o nosso cérebro está adaptado para detectar, identificar, classificar, e comparar padrões em tudo e mais alguma coisa, e atribuir-lhes significado, mesmo com informação parcial — é uma vantagem evolutiva: permite-nos fugir dos tigres quando estes se escondem na selva, mesmo antes de os vermos, porque detectamos padrões que indiciam a sua presença: arbustos que se mexem, pássaros que voam das árvores... — mesmo na ausência da existência de qualquer significado, estamos tão adaptados para detectar inteligência em padrões que nos é difícil de aceitar que essa «inteligência» não existe.

      Assim, a sua explicação ingénua é, na realidade, fruto da forma como o nosso cérebro funciona. Como atribuímos intenção a todos os comportamentos humanos, é natural que quando observamos uma determinada sequência de acontecimentos, lhes atribuamos automaticamente uma intenção também. Assim, o sol «parece» ser inteligente, porque «sabe» levantar-se todos os dias à hora apropriada, e tem um comportamento previsível. O nosso cérebro associa «comportamentos previsíveis» a intencionalidade. Pode ser explícita — quando estamos na presença de todos os dados — ou implícita (mas não menos «verdadeira») — quando temos dados parciais. Como a espécie humana é particularmente boa a fazer deduções a partir de dados parciais (muitas vezes errados, mas na maior parte das vezes correctos — senão, não teríamos evoluído com essa capacidade: os tigres tinham-nos comido a todos) tendemos a atribuir intencionalidade onde ela não está e a encolher os ombros perante a ausência de uma explicação incompleta, por não ser necessária à sobrevivência enquanto espécie. Ou seja: podemos não precisar de saber porque é que o sol se comporta de forma inteligente para identificarmos o seu comportamento como aparentando ser intencional e inteligente: para um agricultor é irrelevante se o sol é inteligente ou não; é sim importante, para a sua sobrevivência, saber que o sol tem um comportamento previsível que lhe permita plantar sementes na altura correcta do ano.

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    6. Substituir este modelo das conclusões precipitadas baseadas em informação incompleta, por um outro em que a informação incompleta é explicada sem recorrer à noção de que «há algo de inteligente que tem uma intencionalidade e que cria, pois, padrões», requer primeiro de tudo alguma introspecção e compreender a forma como a nossa mente funciona: uma «máquina» sofisticadíssima capaz de detectar padrões mesmo onde estes não existam. Isto é fácil de demonstrar em muitas aplicações.

      Portanto, a ilusão de que as coisas são todas «regulares e previsíveis» e que aparentam intencionalidade está apenas na nossa mente que as percepciona dessa forma. Sem um observador inteligente para detectar intencionalidade onde ela não existe, não seria possível atribuir «inteligência» àquilo que observamos. Mas esta abordagem em que observador e observação estão estritamente interligados não é óbvia. É muito simples de demonstrar empiricamente, mas continua a não ser óbvia :) Pessoalmente acho irónico que tanto o positivismo científico, assim como muitas tradições religiosas, postulam que aquilo que observamos existe independentemente do observador, quando depois, do ponto de vista filosófico e científico, exprimem o contrário (na ciência, por exemplo, temos Einstein a dizer que tudo no universo depende de observadores; na teologia cristã, apesar de se gostar muito de falar do papel da alma e da centelha divina sem expressão material, há um agarramento à materialidade da Criação como existindo independentemente do seu Criador e das criaturas com alma com que este populou o universo)

      O resto, meu amigo perspectiva, é a sua fé cega a falar, e contra essa, não se pode argumentar racionalmente. Demonstrar que não pode existir uma entidade sobrenatural que tenha os atributos que lhe dá — eterno, oimnipotente, omnisciente, universalmente compassivo, etc. — por contradição óbvia dessas proposições é uma brincadeira de crianças. Digo-o literalmente porque há tradições espirituais que há 2600 anos que ensinam as crianças de 13 anos a refutar essa argumentação em menos de 15 minutos.

      Mas como não vejo nenhum benefício para si estar a privá-lo de acreditar em algo que lhe traga conforto e que o incentive a adoptar um código de conduta moral e ético, não o vou fazer. Fico-me apenas com o argumento muito mais fraco mas mais a propósito de que não podemos confiar nas interpretações que fazemos das nossas observações, porque a nossa mente está biologicamente adaptada para tirar conclusões com informação parcial, pois isso é uma adaptação que nos deu uma maior capacidade de sobrevivência: a capacidade de atribuir intencionalidade a eventos desconexos. Libertar-nos dessa percepção não é uma tarefa trivial, mas felizmente temos avançado bastante nesse sentido — tanto filosófica como cientificamente.

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  27. "Penso que as religiões são coisas muito diversas, com crenças muito diferentes e que o percurso pessoal de cada religioso pode ser diferente dos dos outros".

    Pois não parece, Ludwig, não parece mesmo. Até aqui tens tratado toda a religião por igual, e o cristianismo todo por igual, e o catolicismo todo por igual, e tudo isso no mesmo saco da homeopatia, da astrologia e do professor Karamba. É esse até o principal indício que tu e o movimento neoateísta a que pertences não têm, até agora, produzido mais do que lixo. Leio a "Scientific American Mind" e pasmo: estudos de "a religião está nos genes", ou "a religião não está nos genes", ou "a religião torna as pessoas mais felizes", ou "a religião torna as pessoas mais infelizes", a religião p'ra aqui e a religião p'ra ali (o nome do Zuckerman repete-se). Penso que terá condições de ser muito mais objectivo o estudo do que se passa no cérebro das pessoas que tentam estudar o suporte físico do que a religiosidade possa ser do que esta tentação de contar romances, que dão largas aos preconceitos de cada um, com a palavra ciência no meio.

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  28. Claro as crenças de krippahl sã homo gee...agonizantes é mais simplex

    krippahl funkciona em binário Treta versus Krippahl (ou a verdade suprema)

    só o perspectiva é unitário (off tokapi in stressante)

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  29. Há outra coisa que vos quero dizer, amigos: Será publicado, ainda este ano, se Deus quiser, um livro que, me parece, irá dar uma marretada praticamente definitiva nestas fantasias neopositivistas do Ludwig, João Vasco & companheiros.
    http://www.fooledbyrandomness.com/Prologue.pdf
    E o que é mais lindo, pelo que se lê no fantástico prólogo, é sem ter a necessidade de as nomear.

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    1. LUDWIG KRIPPAHL: UM EMBUSTE INTELECTUAL?

      Com alguns artigos provocatórios, o Ludwig começou por chamar os criacionistas à discussão.


      O Ludwig é um cientista, defensor da evolução, fortemente naturalista e ateísta e apresenta-se como especialista em pensamento crítico.


      Aparentemente seria um adversário temível para os criacionistas, podendo rapidamente detectar e denunciar as falhas empíricas e lógicas do criacionismo.


      Curiosamente, aconteceu exactamente o contrário.

      O Ludwig mostrou-se uma presa fácil e um opositor inofensivo para os criacionistas.


      As suas “provas” da evolução formam refutadas uma por uma e os muitos vícios lógicos do seu raciocínio amplamente denunciados.


      E o Ludwig estava a jogar em casa, perante o seu público…

      Mas meteu o rabo entre as pernas e bateu em retirada.

      Limita-se a afirmações genéricas e não fundamentadas...

      Ficou apenas o cheiro a pólvora seca…

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    2. Jónatas,
      Note bem: Estou muito distante das ideias do Ludwig. Mas ainda estou um bocadinho mais longe das suas.

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  30. superstições acerca das quais Einstein também foi bastante claro. Por exemplo,(:)dois pontos:
    Deus não joga aos dados com o universo....pois

    Quod krippahl demonstrandum

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  31. Off topic interessante: como evolucionistas e criacionistas bíblicos interpretam os mesmos dados de forma diferente:

    Um estudo recente conclui que o rio Reno, com base nos seus fósseis, é cinco milhões de anos mais antigo do que se pensava.

    1) Os evolucionistas, ignorando que os triliões de fósseis nos cinco continentes podem ser perfeitamente interpretados como o resultado de um dilúvio global recente, concluem que isso prova a extrema antiguidade da Terra e desmente o que a Bíblia diz sobre a criação recente da Terra.

    2) Os criacionistas notam que o estudo parte do princípio de que houve evolução, data os fósseis de acordo com a evolução e data o rio Reno com base nos fósseis, pelo que em vez de provar a evolução e a extrema antiguidade da Terra o estudo assume-as desde o princípio, num bom exemplo de raciocínio circular.

    Duas visões do mundo, duas maneiras diferentes de interpretar a mesma evidência.

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  32. Off topic interessante: como evolucionistas e criacionistas bíblicos interpretam os mesmos dados de forma diferente:

    Um estudo recente mostra que as galáxias bebés se formaram mais depressa do que se pensava

    1) Os evolucionistas procuram rever os seus modelos de evolução cósmica.

    2) Os criacionistas mostram que esses modelos não passam de especulações naturalistas constantemente desmentidos pelos factos e que todas as observações corroboram a criação intencional, inteligente e rápida do Universo.

    Duas visões do mundo, duas maneiras diferentes de interpretar a mesma evidência.

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  33. Apesar de já ouvir as bordoadas do perspectiva há um bom par de anos continuo a surpreender-me com sua estupidez e ignorância acerca das questões da física e da cosmologia

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    1. O artigo que refere esclarece que se trata apenas de uma "admittedly speculative hypothesis"

      Não se pode confundir especulação com prova científica.

      Os criacionistas dizem, precisamente, que os evolucionistas fazem sistematicamente essa confusão.

      O Paulo Sustelo, ao dar como "prova" uma especulação é apenas mais um exemplo.

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  34. Nuno Gaspar,

    «Pois não parece, Ludwig, não parece mesmo. Até aqui tens tratado toda a religião por igual, e o cristianismo todo por igual, e o catolicismo todo por igual, e tudo isso no mesmo saco da homeopatia, da astrologia e do professor Karamba. »

    No que toca ao fundamento, sim. É tudo infundado. Mas isso é como dizer que as obras de ficção são, como o nome indica, ficção. Não quer dizer que sejam todas iguais. Apenas que são todas fictícias.

    As crenças características das religiões, tal como das astrologias, dos videntes e assim, são fantasia. Não correspondem à realidade. No entanto, a fantasia tem muita diversidade, e as fantasias não são todas iguais. São é todas fantasia.

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    1. Para ser coerente deveria ter incluído as crenças do ateísmo no rol, Ludwig. O nosso espírito crítico deve aplicar-se também às nossas próprias ideias, não somente às ideias dos outros.

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    2. Trata-se de apenas de afirmações não fundamentadas...

      O Ludwig já não consegue fundamentar o que diz...

      Que mais se poderia esperar de um autodenominado "macaco tagarela"?

      Não esperávamos tantas facilidades de um cientista ateu, evolucionista e especialista em "pensamento crítico"...

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    3. Caro perspectiva

      Não apoio nem partilho a sua visão do criacionismo científico nem a forma como a expressa na sua relação bloguística com o Ludwig. Sinto-me intelectualmente tão distante de um como de outro.

      Abraço

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    4. Apenas acrescento que dizer peremptoriamente que «as crenças não correspondem à realidade» é algo de universal e também engloba a maior parte do pensamento científico :) Em ambos os casos, postula-se o que a realidade é e depois procura-se justificar a sua percepção usando determinadas premissas.

      A ciência do século XX tornou-se particularmente interessante quando começou a questionar a «existência» dessa realidade, se ela dependia tão fortemente dos observadores, como a relatividade e a mecânica quântica mostram. Bem sei que continua a haver a discussão — filosófica — sobre o que é um «observador» em termos científicos, e pessoalmente rio-me muito quando me dizem que «pode ser uma partícula a observar outra, não é preciso que seja uma entidade inteligente» (o que é conveniente por evitar paradoxos e refutar o Princípio Antrópico), pois significa que estamos a antropomorfizar «partículas», dando à palavra «observar» — uma característica que encontramos em mentes, mas não em matéria inerte — apenas para podermos refutar certos paradoxos.

      A realidade da relatividade e da mecânica quântica é, ela própria, relativa e não absoluta; falar de que «a ciência estuda a realidade mas a religião inventa uma realidade» é um pouco arrogante. A ciência materialista/naturalista também postula a existência de uma realidade última que está para além das percepções dos observadores, mas a verdade é que desenvolveu mecanismos que refutam esta própria observação, criando assim paradoxos interessantes...

      Para mim o mais interessante é que não é nada de novo; já se reflectia nisto (chegando-se às mesmas conclusões) há séculos e séculos, desde os clássicos gregos, aos estudiosos místicos judeus, aos matemáticos e filósofos indianos. O Ocidente só se debruça sobre esta problemática a sério desde 1906...

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  35. Os evolutionistas gostam de especular sobre como as mutações aleatórias criam códigos e informação codificada e estruturas e funções inovadoras e mais complexas (sem qualquer prova, claro!)

    Mas no mundo real as mutações tendem a degradar a informação genética existente causando doenças e morte

    Como eles dizem,

    "Changes to DNA lie behind all cases of cancer. Cancer develops as a result of mutations -- called somatic mutations -- that are acquired during a person's lifetime."

    Isto nada tem que ver com evolução. Isto é corrupção.

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  36. Off topic interessante: como evolucionistas e criacionistas bíblicos interpretam os mesmos dados de forma diferente:

    Um estudo recente revela que em poucos anos algumas populações de cobras tigre duplicaram em tamanho para dar à luz crias com boca grande

    1) Os evolucionistas apresentam isso como prova de evolução.

    2) Os criacionistas notam que se trata de evolução de cobras tigre para... cobras tigre (!), que não precisa de milhões de anos para ocorrer e que depende da informação genética pré-existente, podendo ajudar a explicar a rápida diversificação pós-diluviana.


    Duas visões do mundo, duas maneiras diferentes de interpretar a mesma evidência.

    P.S. O artigo diz:

    "When sea levels rose around 10,000 years ago, some tiger snakes found themselves marooned on islands that would become dry and frog-free."

    Curioso! A Bíblia também fala na elevação das águas há alguns milhares de anos...

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  37. "No que toca ao fundamento, sim. É tudo infundado."

    Ludwig,
    Tu não sabes se é tudo infundado ou se tudo deixa de ser. De certeza que pode haver algo mais fundamentado e menos fantasia do que o dizer que "é tudo infundado". O que sabes, como eu sei, é que vives e morres. A aparelhagem expressiva com que cada um convive com esse pouco que sabe pode ser mais ou menos fantástica mas nunca deixará de ser real.

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  38. O Ludwig gosta muito de tiradas que, vistas bem as coisas, não passam de pirotecnia argumentativa...

    Lembram-se de quando ele disse que "a chuva cria códigos"?...

    Que faria se não fosse especialista em pensamento crítico...

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    1. Já não me lembro em que contexto é que ele disse isso, mas é verdade que um ser humano é capaz de ver padrões nos pingos da chuva. Isso não quer dizer que esses padrões tenham um significado profundo. Quer apenas dizer que pelo facto de observarmos as coisas, inventamos padrões, mesmo que eles lá não estejam. Faz parte da forma como a nossa mente funciona, sempre a classificar coisas e a dar-lhes nomes.

      Não sei se era isso que o Ludwig pretendia dizer com a sua afirmação, mas se era, estava apenas descrever o processo cognitivo que envolve um observador humano e um fenómeno natural.

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  39. Off topic interessante: como evolucionistas e criacionistas bíblicos interpretam os mesmos dados de forma diferente:

    Um estudo recente descobriu uma enzima responsável pelo funcionamento de um relógio biológico, com ciclos de 24 horas, em todos os seres vivos

    1) Os evolucionistas, apesar de a enzima ter sido descoberta aqui e agora, aproveitam para especular como é que ela teria evoluído há cerca de 2,5 mil milhões de anos quando o oxigénio supostamente apareceu na atmosfera no passado distante não observado por nenhum cientista.

    2) Os criacionistas sugerem que a descoberta deste relógio biológico em todos os seres vivos corrobora a ideia de que todos têm um Criador comum, como Génesis ensina, que os preparou para viverem numa Terra suficientemente oxigenada e com um movimento de rotação de 24 horas.

    Duas visões do mundo, duas maneiras diferentes de interpretar a mesma evidência.

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  40. Off topic interessante: como evolucionistas e criacionistas bíblicos interpretam os mesmos dados de forma diferente:

    Um estudo recente descobriu muitas mutações raras observadas no genoma humano, muitas vezes causadoras de doenças, ocorridas a partir da explosão demográfica verificada há alguns milhares de anos atrás.

    1) Os evolucionistas ficam surpreendidos com as profundas alterações ocorridas no genoma em escassos milhares de anos, procurando acomodar esse dado com a sua crença em milhões de anos.


    2) Os criacionistas observam que as profundas alterações recentemente provocadas no genoma humano em poucos milhares de anos corroboram a idade recente do ser humano e a explosão demográfica pós-diluviana, constituindo um grave problema para aqueles que pensam que o genoma poderia suportar milhões de anos de mutações.

    Duas visões do mundo, duas maneiras diferentes de interpretar a mesma evidência.

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  41. Off topic interessante: como evolucionistas e criacionistas bíblicos interpretam os mesmos dados de forma diferente:

    Um estudo recente descobriu que O RNA mensageiro codifica informação epigenética sobre a expressão genética, introduzindo mais complexidade e revolucionando o modo como entendemos o genoma


    1) Os evolucionistas procuram explicar como é que as mutações aleatórias podem explicar códigos sobre códigos de informação genética e epigenética altamente complexa, densa e miniaturizada.

    2) Os criacionistas observam que essas sucessivas camadas e informação e meta-informação corroboram a ideia bíblica de que a vida foi criada por um Deus omnisciente e omnipotente que se revela como Logos, Verbo, Palavra.


    Duas visões do mundo, duas maneiras diferentes de interpretar a mesma evidência.

    P.S. O Ludwig, na sua proverbial idiotice chegou a dizer que o DNA não codifica nada...

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  42. O Ludwig, na sua proverbial idiotice chegou a dizer que o DNA não codifica nada...

    Ontem foi noticiada uma nova técnica que permite ver ainda mais informação codificada no código do DNA...

    Não há pior cego do que aquele que não quer ver...

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    1. Eu diria que o DNA só «codifica» coisas porque há um observador humano que atribui significado ao código; sem observador humano o DNA, por si só, não tem «significado». Significado é algo que só existe numa mente humana :)

      A não ser que esteja a argumentar que «o DNA é inteligente e consciente», o que me parece difícil de fundamentar...

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    2. Que tirada tão estúpida:

      o código é transcrito, traduzido e executado por máquinas moleculares que lêem e executam as suas instruções para a produção e reprodução de seres vivos...

      Nós existimos porque existe um código com todas as instruções para nos criar.

      Não somos nós que criamos o código do DNA. È ele que nos cria a nós...

      Não é o DNA que é inteligente e consciente. É o Criador do DNA e da informação que ele codifica.

      Não é um programa informático que é inteligente e consciente. É o criador do programa informático.

      É difícil aguentar tiradas tão idiotas...

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  43. Este comentário foi removido pelo autor.

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