domingo, maio 27, 2012

Treta da semana: correlação é causalidade.

Na quinta-feira foi apresentado um estudo sobre “pirataria informática”, coordenado por Ricardo Ferreira Reis, economista e investigador na Universidade Católica. O procedimento normal, em ciência, é submeter os estudos a revisão pelos pares antes de os publicar e, depois, publicá-los sempre de forma que outros peritos na área os possam avaliar e criticar. Desta vez foi diferente. O que fizeram foi organizar uma apresentação pública no hotel Marriot, substituindo o peer review por uma “reflexão” conduzida pela Associação Portuguesa de Software (ASSOFT) e os detalhes por bonecos bonitos e espectáculo mediático (1). O que, de certa forma, se adequa à qualidade científica do estudo.

A brochura de publicidade ao relatório começa por referir um estudo da Business Software Alliance (BSA) segundo o qual «em 2011, mais de 50 mil milhões de euros desapareceram da economia mundial devido à utilização ilegal de software»(2). O teledisco do relatório começa com a mesma alegação (3). Isto é absurdo. Primeiro, a BSA estima o índice de pirataria comparando o número médio de unidades de software vendidas por computador com o número médio de programas instalados em cada computador. Tudo o que está instalado sem ter sido comprado é “pirataria”, mesmo que seja software gratuito (4). Depois, a estimativa dos 50 mil milhões assume que todo o software gratuito seria pago ao preço de mercado, e que ninguém que usa um programa gratuitamente deixaria de o usar se tivesse de pagar cem ou duzentos euros (5). Finalmente, o dinheiro que as pessoas não gastam por usar software sem pagar não desaparece. Não se desfaz em cinzas nem fica debaixo do colchão mas acaba por ser gasto noutras coisas ou investido por intermédio dos bancos. A conclusão da BSA, repetida pela ASSOFT e por este estudo, não faz sentido.

A abordagem do Ricardo Ferreira Reis é diferente, mas igualmente incorrecta. Segundo a descrição do estudo, calcularam a correlação entre o índice de pirataria* e o PIB de vários países, entre outros factores. Depois, «com base nos resultados da regressão linear, e aplicando os valores correspondentes para Portugal, estimámos o seguinte resultado[:] um impacto que poderá chegar aos 1150 milhões de euros, ou aproximadamente, 0.6% do PIB atual». Ou seja, a partir da correlação assumiram haver uma relação causal na qual a pirataria é a causa e o PIB é o efeito. Isto é um erro grave, mas explica bem porque é que este estudo foi apresentado em panfletos e telediscos em vez de sujeito a revisão por peritos na matéria. Ou sequer por alguém com um mínimo de bom senso.

A correlação entre os factores A e B pode dever-se a A causar B, a B causar A ou a ambos serem efeito de outros factores causais comuns. Por exemplo, a pirataria também está correlacionada com a idade, sendo mais frequente entre os mais jovens do que entre os mais velhos. No entanto, seria incorrecto assumir que esta correlação se deve à pirataria afectar a idade das pessoas, concluindo daí que aumentar a pirataria iria inverter a tendência para o envelhecimento da população e trazer grandes benefícios para a segurança social.

É neste erro ridículo que assenta o estudo do Ricardo Ferreira Reis. Da mera correlação entre a pirataria e o PIB não se pode prever que a pirataria afecta o PIB. O contrário até faz mais sentido, pois quanto maior for o rendimento das pessoas menor o incentivo para obter software ilegal. O próprio estudo admite isto ao apontar que «a crise financeira representa um risco de contração do rendimento que pode levar a um aumento da taxa de pirataria». Mas não parece haver um mecanismo plausível pelo qual reduzir a pirataria de software aumente o PIB de Portugal.

Há até razões para crer o contrário. Forçar uma redução na pirataria por medidas judiciais implicaria mais despesa pública em fiscalização e castigos e iria reduzir o uso de software. Como muito software é ferramenta de trabalho, reduzir o seu uso, mesmo que ilícito, teria um impacto negativo na produtividade. Além disso, a maior parte do software comercial à venda em Portugal é importado. Por isso, aumentar os gastos com software desequilibraria ainda mais a balança de pagamentos, diminuindo o PIB em vez de o aumentar.

Infelizmente, parece que esta propaganda manhosa funciona porque, na comunicação social, a maioria não questiona as premissas nem pergunta como é que usar menos software estrangeiro de graça aumentaria o PIB nacional. Em vez disso, só vejo estas publicações papaguearem as alegações do “estudo” sem qualquer análise crítica (6).

* Como medido pela BSA

1- Notícias Grande Lisboa, Estudo do impacto económico da pirataria informática apresentado em Lisboa. Obrigado a todos que me enviaram emails e comentários sobre isto.
2- CSLBE, O impacto económico da pirataria informática em Portugal
3- No YouTube, Impacto Económico da Pirataria Informatica em Portugal.
4- BSA.org, Methodology
5- «The commercial value of pirated software is the value of unlicensed software installed in a given year, as if it had been sold in the market.». Há uma boa análise destas e outras asneiras no Techdirt
6- Por exemplo, Público, Diário de Notícias, Computerworld, Exame Informática, Tek, Económico e Agência Financeira.

35 comentários:

  1. Ludwig, só vê isso - no caso da Computerworld - porque tresleu o primeiro artigo - onde algumas destas dúvidas estão explicitadas na parte final - e não leu o segundo texto, onde essas questões foram igualmente colocadas presencialmente aos autores do estudo (http://www.computerworld.com.pt/2012/05/24/crise-pode-fazer-aumentar-a-pirataria-de-software/).

    Eu sei que a generalização do papaguear neste tipo de assunto é fácil (http://www.tudomudou.com/2012/05/25/o-estudo-da-universidade-catolica-sobre-piratearia-esta-errado-e-em-nada-contribui/) e não estou aqui a defender nada, principalmente um estudo cujas bases critiquei presencialmente na apresentação do mesmo.

    Mas, e só porque me parece ter lido o estudo como eu, e ambos não somos pagos por este tipo de opinião (presumo):

    1) a Assoft não conduziu nada. Eu estive lá e o estudo foi apresentado pela Católica. Aliás, o novo presidente da associação tinha três dias no mandato...

    2) sobre a qualidade científica, foi salientada várias vezes a dificuldade de se basear num outro estudo (BSA) que não é da Católica;

    3) eles assumiram esse problema mas, mesmo assim e com todos os erros potenciais, tentaram minimizar os efeitos (contrapondo outras análises sobre a pirataria de software ou de mercado e extirpando outras da BSA que não consideraram credíveis, depois de terem falado com a BSA) e desenvolveram um estudo que é interessante pelas correlações com outras áreas económicas afectadas por esse modelo de análise. Nunca tinha sido feito em Portugal - com base em estudos que não têm dados sobre Portugal...

    Em resumo, para quem não defende há anos os fracos estudos da BSA sobre a "pirataria", também não alinho naqueles que dizem que só por ser apoiado pela Microsoft não vale a pena ler. É um primeiro trabalho e, seja da Católica ou de outra entidade, precisamos deles. E de análises como a sua e de contraditório porque, sinceramente, o mais triste desta história toda é que não temos entidade nenhuma a analisar este tipo de problema e a dar dados fiáveis para termos uma conversa séria sobre o assunto: são 50 mil milhões de euros? Porque não 100 mil milhões ou 10 mil milhões. São 4244 empregos? Como e porquê e em que sectores?

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    1. Concordo com o seu comentário, mas não compreendo a sua referência "Eu sei que a generalização do papaguear neste tipo de assunto é fácil " no que concerne ao artigo que escrevi. Como todos interessados aqui, eu também não sou pago pelas minhas opiniões (poderá ver que não tenho publicidade no site desde o inicio há mais de um ano).
      Mas o Pedro acaba por fazer as mesmas perguntas que eu no fim do seu comentário. Eu vou mais longe, e questiono se de facto não estamos a fazer as perguntas erradas. Mas daí a "papaguear"... Temos todos uma oportunidade de questionar e de ajudar a melhorar a qualidade da conversa online e é através de blogues, como este, que o conseguimos fazer. Podemos todos ter formas diferentes de nos exprimir, mas o objectivo parece-me igual - exigir que os estudos, analise e conversa estejam a um nivel superior. Pelo menos essa é a minha razão para escrever, com base na minha experiência.

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    2. Bastava ler o primeiro texto da Computerworld (que linka) para evitar dizer isto: "Neste caso, os jornalistas deveriam logo ter verificado a incongruência de ter um estudo sobre piratearia de software patrocinado pela Microsoft. Não por ser a Microsoft, mas por ser a maior empresa de software. Mas este pequeno (grande) pormenor parece ter sido ignorado pelo jornalismo que temos presentemente."

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  2. «Tudo o que está instalado sem ter sido comprado é “pirataria”, mesmo que seja software gratuito».

    Exacto. Esta alegação é um erro gravíssimo!

    Dando o meu próprio exemplo, em casa tenho 4 computadores e um telemóvel para o qual também posso comprar aplicações. Todo o software que tenho em casa é legal excepto um — e mesmo esse é porque de facto tentei legalizá-lo mas exigiam-me tanta papelada e burocracia para fazer o upgrade que desisti, e tenho apenas uma licença para uma versão desactualizada.

    Mas a esmagadora maioria do software que tenho instalada é software gratuito. Um dos computadores é Linux — corre 100% software gratuito. Os restantes não são, e correm uma mistura de software licenciado e de software gratuito, mas tenho mais software gratuito do que licenciado! Ora segundo as contas destes senhores, isto significaria que apenas talvez 1/4 do software nos nossos computadores é «legal». Quando na realidade são centenas de aplicações legais, 1/4 das quais com licença paga, 3/4 completamente gratuitas, e uma que realmente é tecnicamente «pirateada» porque não consegui revalidar a licença... mas para as «estatísticas» parece que vivo num antro de pirataria!

    Ainda se pode ir mais longe na distorção de números. Por exemplo, para a cerca de centena de websites que administro uso normalmente WordPress na sua esmagadora maioria (alguns correm de facto software comercial licenciado, pago pelos clientes, não por mim). O WordPress é completamente gratuito e corre num sexto de todas as páginas Web do mundo. É evidente que a Microsoft não acha muita piada a isto (*): se em vez de estar a usar WordPress estivesse a usar software Microsoft de construção de websites, tinha de pagar uma centena de licenças caríssimas. Como não as pago, o «negócio da informática» «perde» dinheiro com isto. Ou seja, há menos funcionários na Microsoft a serem pagos porque em vez de usar produtos da Microsoft estou a usar software gratuito.

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  3. Mas isto não só é uma falácia como é estupidez, mesmo do ponto de vista económico. É verdade que o WordPress é gratuito. Mas existem empresas que vendem temas e plugins pagos. Sou um razoável cliente dessas empresas: quando digo «razoável» é no sentido em dizer que para essa centena de sites, há várias dezenas de plugins e temas que adquiri. Alguns temas foram contratados a Web designers profissionais. Ou seja: há realmente informáticos a ganharem dinheiro — que lhes dou de bom grado, porque me poupam tempo e adquiro coisas que funcionam com qualidade! — apesar da base do software (o WordPress) ser efectivamente gratuita. O meu ponto de vista é que a Microsoft pode não estar a ganhar dinheiro comigo... mas há outras empresas que estão! O mundo não é «só» a Microsoft! Então e essas outras empresas, não merecem ganhar dinheiro também?

    Claro que há uma enorme diferença! O software da Microsoft, para ser licenciado, custa milhares ou dezenas de milhares de Euros. Um bom template comercial para o WordPress pode custar... €10. É evidente que não tenho dinheiro para adquirir um licença de um produto da Microsoft que custe dezenas de milhares de Euros, mas tenho todo o prazer de pagar €10 a um profissional que me faça um plugin ou um template. E se nem quiser pagar isso... há imensos que são gratuitos. Perfeitamente legais. Alguns são tão bons ou melhores que os comerciais. A escolha é minha a quem dou o meu dinheiro! Mas a forma como este estudo está apresentado até parece que firmas como a Automattic (criadores do WordPress) estão de alguma forma a «roubar dinheiro» à Microsoft (a única empresa que «conta»...) e a reduzir o PIB, etc... quando na realidade o que estão é a criar um novo mercado onde ele não existia no Universo Microsoft: o mercado do software gratuito para o qual alguns profissionais vendem plugins, templates, add-ons, etc. por alguns tostões, mas que para eles — e para mim! — fazem muito mais sentido do ponto de vista do preço que estou disposto a pagar. E mesmo se não quiser pagar nada... tenho uma vastidão infindável de plugins, templates e add-ons de borla também.

    Não digo que a pirataria não tenha impacto sobre a economia na área da informática — até tem de certeza! — mas não me parece que esta seja a melhor forma de apresentar uma justificação do impacto da pirataria, quando se baseia em pressupostos errados...

    (*) Ironia do destino: o sistema de criação de blogs no Live.com da Microsoft é feito com recurso... ao WordPress :) Pudera, a Microsoft não é parva. Tinha de concorrer com o Blogger, adquirido pela Google há uns anos atrás, e que é o pior software de blogging alguma vez desenhado pela mente humana (por isso é que a Google o comprou baratinho: o Blogger estava a desaparecer de cena...). Em vez de gastar balúrdios a adquirir uma coisa de jeito, ou a desenvolver algo de raíz, a Microsoft o que fez? O mesmo que eu e 1/6 dos web developers do mundo todo: aproveitou o melhor software gratuito na área e usa-o sem gastar um tostão. :-) Pois. Lá se vai a legitimidade da Microsoft em resmungar contra o software gratuito... :)

    Para além de toda a gente saber que os servidores do Skype (empresa adquirida pela Microsoft) mudaram todos para Linux por causa de problemas de segurança. E consta que apesar do trabalho feito em tirar todos os servidores FreeBSD do Hotmail em 2004 ainda por lá ficaram alguns...

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  4. Encontras esse tipo de erros metodológicos neste outro estudo que vai num sentido oposto: http://dx.doi.org/10.2139/ssrn.2059356 ?

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    1. Acho que não. Esse estudo relaciona as fugas antes do lançamento público com as vendas. Primeiro, a fuga vem antes das vendas, pelo que uma correlação só pode ser explicada ou pela fuga causar as vendas ou por serem efeito de uma causa comum. Fica eliminada a possibilidade das vendas causarem a fuga. E o autor aborda explicitamente a possibilidade de serem efeito de uma causa comum:

      «Availability is not independently correlated with an album's popularity in retail markets because pre-release fi le sharing is driven by leaks, which are “crimes of opportunity" that occur at some stage of the production or album marketing process (Williams, 2009). According to one executive: “Leaks come from all over. Sometimes songwriters, sometimes press" (Wolk, 2007). An example includes an album that was leaked after inadvertently being sold prior to its release date by a French retail store (New Musical Express, 2008). These arguments imply that the variation in an album's
      pre-release availability can be taken as plausibly exogenous.»


      Ou seja, que os factores causais que influenciam as vendas de um álbum (popularidade, qualidade, etc) não são os mesmos que influenciam a probabilidade de fugas (erros, oportunidade, etc).

      Assim, a única explicação para a correlação é que a fuga causa mais vendas. É claro que podemos questionar esta premissa de que a fuga é independente de factores causais relevantes para as vendas. Por exemplo, pode bem ser que um álbum bom ou por um grupo popular tenha mais probabilidade de fuga. Mas isso exige apresentar contra-evidências que permitam rejeitar o que o autor apresenta:

      «Further, I present evidence that my availability instrument is plausibly exogenous because pre-release availability varies widely across albums for idiosyncratic reasons that are uncorrelated with characteristics of the artist such as popularity.»

      Penso que este é um caso em que a incerteza nos números faz questionar os resultados (ele estima 60 álbuns vendidos a mais se houver fuga para as redes p2p, o que me parece estar muito abaixo das margens de erro destas premissas todas) mas não há o erro grosseiro do “estudo” da Católica em que se assume uma relação causal da pirataria para o PIB sem sequer mencionar que se assumiu isso, e no mesmo artigo onde se assume a relação causal contrária ao dizer que a crise aumenta a pirataria. Isso penso até que já vai além de um erro inocente (ou então é de uma incompetência atroz...)

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  5. Caro Pedro F,

    A Microsoft fez mais que apoiar o estudo, a Microsoft encomendou-o.

    Isto é uma relação comercial, pelo que é normal que atropelem tudo para chegar às conclusões pretendidas.

    Este estudo apresentar-se como da Católica é uma vergonha e manchou permanentemente a boa imagem que tinha dos estudos deles.

    Será que afinal todos os seus estudos são matéria de aquisição tal como no mercado de retalho?

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    1. Rui, sobre esse aspecto, cada um acredita no que quiser. Eu não defendo a totalidade do estudo mas também não o ataco só porque foi patrocinado pela Microsoft. É o nome da Católica que seria posto em causa - não sei se eles arriscariam isso mas é lá com eles. Mas é de notar que eles publicitam isso no estudo, não o escondem.

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    2. 1. não é patrocinado, é *encomendado*

      2. escondem sim, apoio e *muito diferente* de encomendado

      3. não ataco o estudo porque é da Microsoft, ataco porque é intencionalmente falso e enganador, em termos de conteúdo, e ataco porque é uma vergonha para a Católica que a partir de agora vai estar sempre na minha mente quando ler em qualquer sítio "estudo da UC"... azar. Acabaram de demonstrar que vendem resultados de estudos.

      4. o estudo parte de premissas falsas, inventa factos e conclusões, há inclusivé locais onde sobressai ser pouco mais que uma tradução adaptada do "estudo" da BSA (eg, traduzem rate para taxa em vez de rácio).

      Não há porção defensável de tal estudo.

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  6. E atenção que não estou a acusar nada, estou meramente a constatar factos que a própria Microsoft afirma. No seu site em https://www.microsoft.com/portugal/presspass/comunicados.aspx?ID=415 dizem:


    «Para demonstrar o impacto económico da pirataria informática em Portugal, a Microsoft encomendou à Universidade Católica – Centro de Estudos Aplicados - o primeiro estudo aprofundado sobre o real impacto económico da redução da pirataria informática software em Portugal, designadamente ao nível da criação de novos postos de trabalhos, cujas primeiras conclusões são esperadas para Fevereiro de 2012.»

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  7. Off topic interessante: como evolucionistas e criacionistas bíblicos interpretam os mesmos dados de forma diferente:

    Um estudo recente refere uma catástrofe que, há 250 milhões de anos atrás, teria eliminado 90% da vida na Terra, levando esta 10 milhões de anos a recuperar


    1) Os evolucionistas vêem nisso uma prova de que a Terra tem muitos milhões de anos, embora não compreendam que fenómeno natural possa ter causado semelhante destruição.

    2) Os criacionistas notam a inconsistência de se reconhecer a existência de um cataclismo global no passado e ao mesmo tempo continuar a aplicar métodos de datação que partem do princípio de que todos os processos naturais observados hoje se mantiveram constantes no passado.

    Duas visões do mundo, duas maneiras de interpretar a mesma evidência.

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  8. Off topic interessante: como evolucionistas e criacionistas bíblicos interpretam os mesmos dados de forma diferente:

    Um estudo recente mostra que os relógios biológicos das plantas estão sincronizados para ciclos de 24 horas, para além de terem instruções precisas para o seu florescimento na estação certa


    1) Os evolucionistas consideram que isso é o resultado de mutações aleatórias e selecção natural, embora tenham dificuldade em explicar a sobrevivência das plantas nos milhões de anos anteriores ao desenvolvimento de maquinaria molecular tão complexa.


    2) Os criacionistas considerem que isso corrobora o facto de que as mesmas foram criadas de forma inteligente e precisamente sincronizadas com demais ritmos naturais estabelecidos na semana da criação.


    Duas visões do mundo, duas maneiras de interpretar a mesma evidência.

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  9. Pedro F,

    O artigo que referida Computerworld refere que os valores da BSA foram criticados, mas não refere nada acerca do problema principal deste estudo da Católica. Este outro artigo que referes, que eu não tinha lido, também faz o mesmo. Questionaram algumas metodologias da BSA, mas o problema principal ninguém apontou. E mesmo neste teu comentário. É claro que os dados nunca são 100% fiáveis, há sempre uma margem de erro e isso tudo. Não é esse o problema. Isso é assim em qualquer área da ciência.

    O problema principal é a premissa, que nem sequer admitem explicitamente, de que a correlação entre a pirataria e o PIB se deve a uma relação causal entre a primeira e o segundo. Isto é um disparate. Não se pode inferir causalidade a partir da mera correlação. E neste caso ainda é pior porque o mecanismo mais plausível, que é a base até do outro artigo que referiste (“Crise pode fazer aumentar a pirataria de software”), é que a relação causal é ao contrário. É o PIB que influencia a pirataria e não a pirataria que influencia o PIB. O mais provável é vir daí a correlação, e atacar a pirataria não faz nada ao PIB.

    O que critico não são os dados ou os cálculos da correlação, mas a conclusão. É um disparate, devia ser óbvio que é um disparate, mas na comunicação social ninguém aponta esse problema.

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    1. Acho que o autor do estudo consegue justificar essa relação PIB/pirataria e porque o fez, eu não. Embora concorde na dificuldade e discussão que isso poderia gerar, como explicitado no post acima.

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    2. Como é que o autor justifica inferir que a pirataria afecta o PIB a partir apenas da correlação entre os dois? Isso seria um ponto muito importante para pôr na notícia, visto não estar na brochura. Podes dar uma ideia da explicação?

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    3. Ludwig, o que eu tentei dizer foi que o autor pode conseguir justificar essa correlação mas eu não e nem quero meter-me nisso, até porque parece que estou a defender um estudo, quando fui o que mais o critiquei no local próprio - na sua apresentação pública.
      Aliás, o motivo do meu comentário inicial foi tentar demonstrar que a Computerworld não devia ser metida no mesmo saco que outros jornais e revistas e sites porque tínhamos feito um trabalho diferente. Eu sei que as generalizações são tramadas mas, neste caso, eram também injustas. Ab

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    4. Pedro,

      O problema não é “justificar essa correlação”. A correlação calcula-se directamente dos dados. Não há nada a justificar. O que falta justificar é inferir, da correlação, que diminuir a pirataria aumenta o PIB. Essa é a conclusão mais importante (e mais publicitada) deste estudo, mas depende da premissa de que a correlação entre pirataria e PIB se deve a uma relação causal onde a pirataria afecta o PIB, em vez de serem efeitos de causas comuns ou de ser o PIB a afectar a pirataria.

      Visto que o próprio estudo defende que o rendimento afecta a pirataria, ao avisar dos efeitos da crise, seria importante que justificassem como concluem que a pirataria afecta o PIB. Saliento novamente, porque é a parte mais importante: não estou a falar de correlação, mas de relação causal. A correlação é simétrica. O cancro correlaciona-se com o tabaco da mesma forma que o tabaco se correlaciona com o cancro. Mas a causalidade é assimétrica. Se é o tabaco que causa o cancro não é o contrário.

      A minha crítica à comunicação social visa precisamente a atitude de “nem quero meter-me nisso”. Eu acho que deviam meter-se nisso porque é o ponto mais importante do estudo. Ou o autor explicou como concluiu haver essa relação causal, e era importante que a comunicação social colmatasse essa lacuna grave na brochura que apresenta o estudo, ou então o autor não explicou isso e era importante que perguntassem como sabe que a pirataria afecta o PIB só a partir de uma correlação. Seja como for, “nem quero meter-me nisso” parece-me ser a atitude errada...

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    5. Já agora,

      «a Computerworld não devia ser metida no mesmo saco que outros jornais e revistas e sites porque tínhamos feito um trabalho diferente»

      Talvez seja um trabalho diferente, mas no que toca ao ponto que foquei aqui penso que não há diferença. Não vi nesses artigos qualquer crítica ao erro crasso de inferir causalidade a partir de uma mera correlação.

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  10. Off topic interessante: como evolucionistas e criacionistas bíblicos interpretam os mesmos dados de forma diferente:

    Um estudo recente permitiu identificar um gene, se não for regulado correctamente, é responsável pelo cancro e pelo envelhecimento


    1) Os evolucionistas procuram conciliar esta realidade com a sua crença (não verificada empiriamente) de que as mutações aleatórias conseguem transformar seres vivos noutros diferentes, inovadores e mais complexos.


    2) Os criacionistas consideram que isso corrobora a longevidade dos seres humanos pré-diluvianos, mencionada na Bíblia, associando as mutações à corrupção da natureza humana que se seguiu à queda no pecado e que conduz às doenças, ao sofrimento, ao envelhecimento e à morte, tal como Génesis ensina.


    Duas visões do mundo, duas maneiras de interpretar a mesma evidência.

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  11. pelo menos Duas visões do mundo, duas maneiras de interpretar a mesma evidência

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  12. Off topic interessante:

    A Bíblia diz que no dia da crucificação de Jesus a Terra tremeu.

    Agora, alguns cientistas consideram ser possível identificar o dia preciso com base em evidência sísmica

    Um tópico a acompanhar...

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  13. Por vezes fico a pensar se o Ludwig não poderia banir o perspectiva de vez deste blog. É que chateia até mais não o spam que ele faz em TODOS os posts, e até podia aguentar isso se não fosse a ignorância profunda, casmurrice e falta de respeito para com a comunidade científica que demonstra ao manipular descobertas científicas importantes de modo a servir os seus próprios interesses, o que pode levar ao engano pessoas mais desatentas que leiam o lixo que escreve.

    Fica o apelo, gosto bastante do conteúdo do blog e só tenho pena que hajam pessoas estúpidas ao ponto de dedicar uma grande parte do seu tempo a destabilizar e boicotar os blogs dos outros.

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    1. Tomaso di Lampedusa 28/05/12 21:21

      Por vezes fico a pensar e depois apelo para a ignorância, o blog está lá encima pá aqui são os cu mentários of toppic e afins e só tenho pena que hajam pessoas estúpidas querias que fossem todos cães não gostas de pessoas, de vírgulas, ou não gostas de ti próprio e abominas os iguais

      terem uma fé doida no ateísmo ao ponto de dedicar uma grande parte do seu tempo a destabilizar e boicotar os blogs dos outros que têm fé?

      bolas pá nã ofendas o krippahl meu ele é alemão e tu italiano
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      Adicionar bit con aos
      Bitcoin's ....adicionado bit con nomine tomaso di lampedusa


      religião (414)

      amendoins (190)
      criacionismo (187)
      gozo (174)
      ética (159)....? ética no meio de gozo e de Eu que é o EGO
      eu (149)
      ateísmo (140)
      filosofia (106)
      política (105)
      digital (57)
      aborto (43)

      Ludwig Krippahl
      Gosto de coisas boas. Não gosto de coisas más. O resto tanto me faz.

      um egomaníaco alemão é uma questão de fé boicotá-lo boy cota boi cota

      pecebeste...claro que nã microcefalia da sardenha dá nisse...

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    2. Mim explica palavra de con firmação sksDurb Thomas é parole de dieu

      acho que te tá a dizer pa nã pensares que aqueces a cacholeira

      Se quiser filtrar algum ou alguns comentadores consulte este post.

      Mensagem mais recente krippahl nã é grego nem dago...nem macarroni

      Mensagem antiga se krippahl kiser deo lo volut

      alles klar

      ass i nado: Garda Nazionale do Krippahlistão

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    3. Estimado Tomás

      Foi o Ludwig que chamou os criacionistas a este blogue.

      Ele é professor universitário, darwinista militante e especialista em pensamento crítico.

      Ninguém melhor do que ele para encontrar erros lógicos e empíricos nos argumentos criacionistas...

      Mas só tem dito disparates...

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  14. him ngygpita? deo é mujer deo é gaija...ó senhore estas mensagens tã peores ca juana do arco...bou-me a eles ou ngygpita?

    dae-me um signal
    in hoc signus k.k.k vinces

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  15. Da metodologia da BSA (a tua referencia 4)

    "To estimate the software load in countries not surveyed, IDC uses a series of correlations between the known software loads from survey countries and their scores on an emerging market measure published by the International Telecommunications Union, called the ICT Development Index. IDC also considers other correlations such as gross domestic product per capita, PC penetration and various measures of institutional strength. From these, IDC estimates the software load for non-surveyed countries."

    Comentário - os valores de "software load" usados para Portugal e muitos outros países são produto de estimativas anteriores baseadas em variaveis económicas. Isto torna as estimativas finais necessariamente dependentes das variaveis economicas usadas na sua construção. Como tal nada mais natural que existam boas correlações entre as estimativas finais e outras variaveis económicas com elas correlacionadas. Isto basicamente significa que as correlações encontradas são mais do provavelmente espúrias, i.e., artefactos dos dados, independentemente de existirem causalidades em jogo ou não.

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  16. a tua asserção de que "Tudo o que está instalado sem ter sido comprado é “pirataria”, mesmo que seja software gratuito (4)" é contradita por esta frase da exacta referência que cita:

    "To convert the software market value to number of units, IDC determines an average price per software unit for all of the PC software in the country. This is done by developing a country-specific matrix of software prices — such as retail, volume-license, OEM, free, and open-source — across a matrix of products, including security, office automation, operating systems, and more. IDC’s pricing information comes from its pricing trackers and from local analysts’ research. The weightings — OEM versus retail, consumer versus business — are taken from IDC surveys.

    IDC multiplies the two matrices to get a final, blended-average software unit price."

    Nela se lê que o software livre é considerado nos cálculos. O que não fica claro é como, e é aí que me parece residir o busilis da questão. Se tiverem sido honestos terão considerado parte do software como tendo custo 0, mas ninguém sabe se isso de facto aconteceu. Mais grave, ninguém sabe como são essas "country-specific matrix of software prices" e delas depende o valor final da suposta "taxa de pirataria". Duvido sinceramente que exista uma matriz específica para Portugal o que terá certamente levado a novas assumpções (irrealistas) baseadas nos inquéritos da IDC (presumo que para os EUA, UK e pouco mais).

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  17. Já agora, ainda na metodologia lê-se:

    "To calculate the total number of software units installed — the denominator — IDC determines how many computers there are in a country and how many of those received software during the year. IDC tracks this information quarterly in 105 countries, either in products called “PC Trackers” or as part of custom assignments."

    Alguém me sabe dizer o que são estes "PC trackers"? scary stuff?

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  18. Rumo,

    «Nela se lê que o software livre é considerado nos cálculos. »

    É considerado no cálculo do valor de mercado do software. Mas sem sabermos como o fazem isso não quer dizer nada. Por exemplo, qual é o valor de mercado de um processador de texto, folha de cálculo e afins? O LibreOffice custa 0, o MSOffice custa 100€. Estimam 50€? Vão pelo market share e fazem 99€? Ou guiam-se pelo preço mínimo que temos de pagar para ter este software e concluem 0€? (não deve ser a última... :)

    Seja como for, isto não é a parte do índice de pirataria. Essa é composta por:

    «1-Determine how much PC software was deployed during the year.
    2- Determine how much was paid for or otherwise legally acquired during the year.
    3- Subtract one from the other to get the amount of unlicensed software.»


    E o busilis está no ponto 2. Por exemplo, uma forma de estimar isto é perguntar às pessoas, mas perguntas como «How often do you acquire pirated software or software that is not fully licensed?» são muito enviesadas. Muita gente vai incluir software livre no “not fully licenced”. Outro problema é que enquanto que a BSA tem acesso fácil às estatísticas de vendas de software comercial (as empresas que o vendem são suas associadas), é muito difícil obter estatísticas de uso de software livre, até porque as pessoas o obtém da mesma forma que obtém software pirateado: procura-se no Google, faz-se download e instala-se (quem é que comprou o WinRar assim que apareceu a janelinha a dizer que o prazo tinha expirado?)

    Pela descrição da metodologia, parece-me razoável concluir que eles não fazem uma distinção fiável entre software legal e software ilegal. Apenas parecem distinguir entre software comercialmente licenciado e software sem licenciamento, não distinguindo entre o que devia ter sido licenciado e o que prescinde de licenças (até porque, para o utilizador, o Office livre e o Office cracado se instalam da mesma maneira. Correr o executável e fazer “sim li tudo”, next, next, next...).

    Os PC trackers são esta coisa (devem ter inquéritos, registos de venda, etc).

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  19. "Se é o tabaco que causa o cancro não é o contrário."
    Talvez até aconteça q o cancro cause tabaco no sentido em q pode levar uma ou mais pessoas a fumar mais.

    E, pelo q percebi, se uma correlação serve para o q se quiser então com sorte o aumento da "pirataria" aumenta o PIB, se bem q pirataria é originariamente a VENDA de cópias. Agora é q o termo já serve para tudo.

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  20. Eu ontem reparei que existe uma correlação entre a minha idade e a idade do universo, no sentido em que sempre que fico mais velho também o universo envelhece, neste sentido conclui-se obviamente que o meu envelhecimento é a causa do envelhecimento do universo.

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