25 de Abril e o fascismo.
Faz hoje 47 anos que os portugueses iniciaram um processo difícil, de vários meses, para substituir uma ditadura por uma democracia. Foi por pouco, mas teve sucesso. Apesar do que defende uma minoria idiota de direita, mesmo admitindo alguns excessos, o resultado foi muito melhor do que a ditadura que havia antes. Quem disser que o 25 de Abril foi má ideia não está a ser meramente ignorante. Está a ser aldrabão. Mas o processo foi imperfeito e o perigo que a promessa da democracia correu nesse período é uma lição importante.
«25 de Abril sempre! Fascismo nunca mais!» é um slogan famoso do PREC ainda hoje apregoado. E ilustra esse perigo que se correu em 1974 e que, em grau muito menor, ainda corremos agora. A vitória da URSS contra o fascismo foi o factor mais importante na projecção internacional do comunismo. A Rússia comunista passou a dominar muitos países e até o comunismo chinês beneficiou dessa vitória. Tendo em conta a ideologia política de partidos como o PCP e o MRPP, que integravam o PREC, é evidente que a escolha do fascismo como alvo veio desta mitologia comunista e do objectivo de conseguir em Portugal uma vitória contra o “fascismo” análoga às de 1945 contra o fascismo na Polónia e por toda a Europa de leste. Não me parece que a escolha deste slogan tenha sido inocente, especialmente considerando que a ditadura portuguesa em 1974 não era um regime fascista. Foi uma falácia para facilitar a substituição de uma forma de repressão por outra e ainda hoje serve esse propósito.
É conveniente para a esquerda rotular de “fascismo” qualquer coisa de direita que queiram condenar porque o fascismo é tão obviamente mau que o rótulo é meio caminho andado para justificar tudo o que se faça em oposição. É este raciocínio falacioso que concede virtude automática a quem diz ser anti-fascista, anti-racista, anti-machista e essas coisas, antes sequer de se questionar o que propõe em concreto. Para muitos em 1974, o anti-fascismo revolucionário justificaria até uma ditadura comunista na linha da URSS ou da China. Mas isso não só seria errado mesmo que Portugal estivesse sob um regime fascista, como estava a Jugoslávia antes de Tito se tornar ditador, como nem sequer é uma caracterização correcta da ditadura Portuguesa.
Não é possível definir “fascismo” de forma consistente olhando para a ideologia. As falanges católicas de Espanha eram ideologicamente muito diferentes dos fasci di combattimento italianos ou dos sturmabteilung alemães. O Império do Japão em 1940 era um regime autoritário, nacionalista, militarista e racista mas não era um fascismo. Era uma monarquia. Ideologicamente, Hitler e Mussolini eram muito diferentes. O primeiro vivia obcecado com o extermínio dos judeus e o segundo considerava essa obsessão uma barbaridade repugnante. Mas os regimes de Mussolini, Hitler e Franco surgiram graças a grupos civis violentos. Isso é o fascismo. É mais o processo do que a ideologia. É isso que Bolsonaro e Trump tentaram imitar, felizmente com muito menos competência. Isto não tem nada que ver com a nomeação de Salazar para Ministro das Finanças pela junta militar em 1926 ou a constituição do Estado Novo em 1933. Muito menos com o que Portugal era em 1974. É por isso incorrecto dizer que o 25 de Abril foi uma vitória contra o fascismo. Foi uma vitória da liberdade. Foi uma vitória contra a ditadura e a opressão. Mas o papão do fascismo foi invocado pela esquerda por razões de propaganda política pelo seu objectivo de substituir uma ditadura por outra.
Este ardil continua a ser usado hoje. Em grande parte, a esquerda continua a definir-se em oposição a perigos empolados e mal definidos como o racismo, o colonialismo, os estereótipos e, ainda, o fascismo, para tentar desviar a atenção de medidas contrárias àqueles princípios de liberdade e democracia que triunfaram após o 25 de Abril. E que triunfaram apesar do esforço de muita da esquerda de então, que idealizava um futuro bem diferente para Portugal. Por isso, sim, 25 de Abril sempre. Temos de defender a democracia e a liberdade, protegendo-as de todos que as queiram substituir pela repressão. Mas “25 de Abril sempre!” com cuidado ao que põem a seguir, porque traz água no bico.
«É conveniente para a esquerda rotular de “fascismo” qualquer coisa de direita que queiram condenar»
ResponderEliminarLapidar. Resume a estratégia comunicacional, sempre desonesta, de simplificar um tema e causar nas audiências uma reacção epidérmica de reprovação.
Chamou-me a atenção também o caso do politólogo José Adelino Maltez que, convocado por deputados para sustentar o direito dos maçons a manterem secretas as suas lealdades no exercício da representação democrática, entendeu que as objecções à opacidade têm certamente origem no "fascismo". Só que não, Adelino.
Nos outros dias do ano também a direita se serve dessa conveniência, quando se põe a lavrar na opinião pública. A alegação não será então de "fascismo" mas, por exemplo, de "radicalismo". E as audiências reagem epidermicamente. Como o "radicalismo" de acabar com as touradas. Na minha opinião isto é tão "radical" como um cavalo é "fascista", mas são as audiências que temos.
tinha alguns tiques fascistas culto do chefe mocidade portuguesa, legião portuguesa saudação fascista até 47 plo menos
ResponderEliminarquanto à bitcoin e ao tether são simples reflexo da impressão e da produção de dinheiro nos últimos 13 anos ou seja há mais bolhas a estourar nas próximas décadas além da bitcoin
ResponderEliminarFascismo é uma ideologia política ultranacionalista e autoritária caracterizada por poder ditatorial, repressão da oposição por via da força e forte arregimentação da sociedade e da economia. Embora os partidos e movimentos fascistas apresentem divergências significativas entre si, é possível apontar várias características em comum, entre as quais nacionalismo extremo, desprezo pela democracia eleitoral e pela liberdade política e económica, crença numa hierarquia social natural e no domínio das elites e o desejo de criar uma comunidade do povo em que os interesses individuais sejam subordinados aos interesses da nação.
ResponderEliminarFonte: wikipedia.org
Se não era isto que tínhamos em Portugal em 1974, andava lá muito perto.
Fascismo é uma ideologia política ultranacionalista e autoritária caracterizada por poder ditatorial, repressão da oposição por via da força e forte arregimentação da sociedade e da economia. Embora os partidos e movimentos fascistas apresentem divergências significativas entre si, é possível apontar várias características em comum, entre as quais nacionalismo extremo, desprezo pela democracia eleitoral e pela liberdade política e económica, crença numa hierarquia social natural e no domínio das elites e o desejo de criar uma comunidade do povo em que os interesses individuais sejam subordinados aos interesses da nação.
ResponderEliminarFonte: wikipedia.org
Se não era isto que tínhamos em Portugal em 1974, andava lá muito perto.
o homem é quem dá sentido a tudo e nada senão o homem dá e toma sentido ao humano.
EliminarQualquer ideologia que coloque o homem ao serviço de algo que não tenha o homem como princípio, meio e fim, só pode estar errada e, se tiver força, arrastará a humanidade para o abismo. Nenhuma liberdade ou poder individual, por conseguinte, nem poder de grupo, de partido, igreja, nacional, ou estadual, poderá legitimamente sobrepor-se e sacrificar a liberdade, direitos de exercício e de gozo, de qualquer indivíduo. Nem o dinheiro, nem o lucro, nem o interesse colectivo, nem o interesse de um indivíduo, por mais idolatrado que seja, poderá justificar o sacrifício ou as restrições aos direitos de ninguém.
Só o homem tem dignidade, capacidade e legitimidade para reivindicar e realizar o estatuto de sujeito, activo e passivo, dos significados e dos sentidos.
O discurso da subordinação dos interesses individuais, seja a uma divindade, seja à nação, ou outra coisa qualquer, mesmo quando tem subjacente que isso é no interesse do indivíduo, ou que os interesses do indivíduo são assim mais bem salvaguardados, é um discurso legitimador, na prática, do domínio de uns sobre os outros, dos que se arrogam representar as divindades ou a nação... sobre os outros.