Treta da semana: A nossa TDT.
A Televisão Digital Terrestre traz vantagens sobre a transmissão analógica de sinais de TV. A transmissão digital é mais robusta, os algoritmos de compressão reduzem a largura de banda necessária para transmitir vídeo com a mesma qualidade e é mais fácil transmitir em vários formatos. Mais importante, para os espectadores, pode-se facilmente ter dezenas de canais de TV gratuitamente, sem satélites nem subscrições de serviços por cabo.
Foi o que aconteceu aqui, ao pé de Valença. Tínhamos quatro canais e agora temos uns cinquenta. Graças à TDT. À TDT espanhola, claro. Porque portugueses continua a haver apenas quatro. O que é uma aldrabice.
A ANACOM concedeu a exploração de um quinto da banda disponível à Portugal Telecom (PT). Apesar de haver outras empresas interessadas na TDT, a ANACOM decidiu que o resto era para guardar, não se fosse estragar. Excepto a parte que vendeu para serviços de rede móvel 4G. Também à PT. Entretanto, ficamos apenas os quatro canais que já tínhamos mais, eventualmente, o do Parlamento. A PT tinha ficado também com uma concessão para canais de TDT pagos mas, em 2010, pediu para revogar o contracto, alegando que o negócio já não era viável, e que lhe dessem o dinheiro de volta. A Entidade Reguladora para a Comunicação Social disse que isso era uma desculpa da treta e que não mereciam reembolso nenhum, mas a ANACOM teve pena e devolveu o dinheiro. Entretanto não houve mais concursos para essas frequências (1).
A gama de frequências é de todos, mas tem de ser gerida senão ninguém se entende. A justificação para concessionar a agentes privados um bem que é público é que, supostamente, uma empresa privada pode usar esse recurso para gerar algo cujo valor compense estar a cobrar-nos dinheiro para usufruirmos do que é nosso. Mas estas parcerias público-privadas só funcionam se não for a parte privada a decidir tudo e se o regulador regular como deve ser. Neste caso, estamos mal. A ANACOM tem favorecido a PT (2) e a PT apenas quer ficar com estes canais para vender os seus serviços de rede móvel e evitar que haja concorrência aos seus serviços de TV por cabo, que têm ganho muitos subscritores com a perda do sinal analógico (3). Entretanto, até a televisão pública, que já pagamos através da taxa audiovisual e dos impostos, tem canais transmitidos por cabo apenas a quem pagar novamente para os ver (4).
Penso que a única coisa boa na TDT em Portugal é haver tanto Portugal mesmo ao pé de Espanha. De resto, é mais um exemplo de como este país funciona.
1- Sérgio Denicoli, Os paradoxos da TDT portuguesa. Leiam também o blog do Sérgio: TV Digital
2- O que não é de admirar, com coisas como esta: Novo vogal da Anacom era membro do Conselho Consultivo da PT
3- MEO foi o grande beneficiado após a chegada da TDT e ampliou em 185,7% o total de clientes e Telecom: PT com 1,111 milhões clientes Meo no 1.º trimestre, aumento de 27%
4- Deputada utiliza argumento equivocado ao justificar ser contra à inclusão dos canais da RTP na TDT e Resposta da deputada Francisca Almeida, do PSD, a respeito do pedido para que os canais da RTP sejam disponibilizados na TDT
Caro Ludwig, obrigado por referir a minha investigação sobre a TDT no seu blog.
ResponderEliminarUm cordial abraço,
Sergio
Esta protecção da PT tem outras vertentes. Por exemplo na televisão paga, não se abre a rede de fibra aos vários operadores, quando um pais pequeno não tem naturalmente viabilidade para ter mais que uma rede de fibra (excepto naturalmente no pouquíssimos grandes centros populacionais). Com isto a concorrência é baixa no sector da tv porque só a PT e a Zon têm condições para operar. Juntando a isto esta questão ridícula da TDT o panorama é miserável e muito pouco plural.
ResponderEliminarSérgio,
ResponderEliminarQuem agradece sou eu. Quando decidi escrever sobre isto pensei que tinha de andar por aí à procurar de material e, afinal, estava o trabalho todo já feito. Obrigado :)
Zurk,
ResponderEliminarParece-me um problema inevitável quando é uma empresa privada que detém não só o monopólio sobre esta infraestrutura e recursos como também, em grande parte, detém também a agência que a devia regular...
Num país como portugal , com um mercado minúsculo, não sei qual a vantagem que se tirou da privatização dos canais de televisão.
ResponderEliminareis o que vejo
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primeiro não tivemos melhor informação, pelo contrário, a informação é hoje em dia em sinal aberto e em todos os canais 30 minutos de banalidades nacionais, algumas banalidades europeias e quase nada internacional.
notícias do pacifico, notícias de africa sub-sariana , americas são quase nulas.
pior ainda , o resto fica distribuído por futebol, vulgaridades de interesse humano ( duvidoso) e fica assim resumido o rescaldo da privatização no telejornal e serviços noticiosos. Uma porcaria que me leva a ter de ler na net o que se passa no mundo. Não obrigado , para isso o serviço anterior podia ter vícios mas era melhor. sempre me lembro que havia mais informação.
seguinte
as novelas e os programas estilo goucha e estilo o daquele gordo são o resultado das famosas audiências e da necessidade de financiamento a qualquer preço
resulta isto numa ditadura de uma mole humana ignorante, sem nenhum tipo de estímulo cultural sem ser a maria e afins e que come toda e qualquer porcaria
não há espaços para qualidade, não há espaços para bons filmes, os selvagens puxam a qualidade do serviço para níveis pré-históricos.
este deserto de qualidade auto alimenta-se impedindo `nascença qualquer tema mais sério, qualquer debate mais profundo.
a estupidez gera mais estupidez e até o formato dos debates políticos cada vez mais reflete a esta aridez mental preocupante.
Mas o sinal fechado não é melhor.
os canais temáticos de ciência andam a passar investigadores de fantasmas, há programas sobre ovnis e temos de levar com a vida dos macacos na índia.
existe todo o tipo de lixo repetido vezes sem conta porque produzir lixo é muito mais barato que coisas feitas por pessoas que têm conhecimento sério.
mas na sic notícias e na tvi 24 o cenário é também uma bela porcaria.
jornais sempre repetidos sem mudar uma linha hora após hora
uma escolha de reportagens pela rama, quase nenhum jornalismo de investigação, convidados que sabem de tudo, falam sobre tudo e só dizem asneiras.
não se entende porque se chamam canais de informação quando espremendo aquilo sai muito pouco sumo, é palha a maior parte das coisas que passam.
e depois existe uma panóplia de canais que nem sequer se conseguem ver,
resumindo, o mercado aumentou uma suposta oferta de qualidade que se concretizou numa espécie de canais frankenstein, feitos pelo retalho de programas , de ideia, de reportagens, numa sequência que visa apenas as audiências sem o mínimo respeito pela inteligência das pessoas. estes canais tornaram-se um horror que impede a criação de qualquer coisa com pés e cabeça uma vez que terá de concorrer contra estas aberrações , e a qualidade não se compadece com tempos , com pessoas ignatas etc
big brothers, novelas, informação manca, jornalistas de quinta linha, reportagens sobre porcaria sem interesse nenhum, aus~encia de investigação, comprometimento político gritante, etc
foi este o resultado da privatização , a seguir ? a falência desta macacada toda quando se privatizar ainda mais canais, numa lógica que deve ser : se aumentarmos a oferta geramos mais procura. : ))
a sério , esta gente é um horror, parece-me pouco inteligente e já deu cabo do mercado todo.
enfim, é deprimente demais