Treta da semana: ensino profissional.
Há uns tempos criticaram alguns cursos superiores por falta de empregabilidade, sugerindo que o Estado regulasse a educação pelo mercado de trabalho em vez de por valores culturais ou pelos interesses dos alunos. Agora estão a aplicar o mesmo princípio ao ensino secundário. O ministro da educação quer «chegar aos 50 por cento na parte da escolaridade obrigatória [do 10º ao 12º ano] no ensino profissional»(1). Isto é uma asneira.
Primeiro, há o problema prático de implementar esta oferta no ensino público. A formação profissional é muito específica, exigindo muitos cursos diferentes como apoio à infância, apoio à gestão desportiva, animador sociocultural, gestão equina, turismo ambiental e rural, apoio psicossocial, vitrinismo e assim por diante (2). Além disso, as escolas têm de adaptar a oferta à procura na sua região. No entanto, os cursos são de três anos, do 10º ao 12º ano de escolaridade, e precisam de ser preparados com antecedência, o que implica um período mínimo de quatro anos entre a identificação das necessidades e a formação dos primeiros candidatos. É duvidoso que se consiga prever a procura por técnicos de vitrinismo ou de gestão equina com quatro anos de antecedência. Quem cair na larga margem de erro entre a estimativa e a realidade vai acabar com uma formação profissional especializada em algo que ninguém quer.
Há também o problema prático de organizar professores e alunos. Conheço um caso em que, após consulta do comércio local, um agrupamento de escolas reservou algumas turmas para formação de técnicos de vitrinismo. Não havendo docentes com experiência a preparar montras, desenrascaram-se com professores de áreas como educação visual. E acabou por não haver alunos, mas já não se podia alterar o número de turmas depois das inscrições. Esta caldeirada ad hoc de cursos, além de desperdiçar recursos, não garante um ensino de qualidade porque os mais habilitados para ensinar estas coisas são profissionais do sector privado e não os docentes do ensino público.
Deviam ser as associações de empresas a identificar e dar a formação que julgassem valer a pena. O contributo da escola pública seria, no máximo, o de dar aos alunos interessados algum tempo para terem estágios de formação nas empresas. Desta forma, garantia-se que só era dada formação profissional que valesse mesmo a pena (suspeito que muitos destes cursos só lá estão por estar), o sistema podia adaptar-se rapidamente às mudanças no mercado de trabalho e o ensino teria a qualidade que as empresas exigissem.
Pior do que estas questões práticas é o objectivo expresso de que «os jovens escolham as suas carreiras»(1) quando ainda estão na escola. Nem é uma altura boa para isso nem é realista esperar que vão fazer sempre o mesmo durante décadas de actividade profissional. O maior problema da nossa força laboral não está nos jovens acabarem o 12º ano sem experiência em gestão equina ou apoio psicossocial. O pior é o grande número de profissionais com pouca formação académica que passou décadas a fazer sempre o mesmo numa empresa que agora faliu. São excelentes profissionais mas demasiado especializados e sem capacidade para mudar de profissão. Em vez de prevenir esta situação com uma educação mais ampla vão agravar o problema afunilando a formação com o propósito declarado de formar trabalhadores menos adaptáveis. A par disto, cortam também «564 milhões de euros ao eixo da "adaptabilidade e aprendizagem ao longo da vida"».
Com a rapidez com que a tecnologia e o mercado mudam hoje em dia, o mais importante em qualquer profissão é a capacidade de aprender. Para que os profissionais sejam bons a longo prazo é preciso ensinar-lhes a ler, a resolver problemas, a estudar e a escrever. Em suma, a aprender. Desta forma facilmente aprenderão a gerir equídeos ou apoiar o turismo rural, conforme precisem. O contrário, escolher aos 16 anos uma carreira para a vida, é disparate.
Mas o mais importante é que o dever do Estado não é formar profissionais à conveniência das empresas. O dever do Estado é formar pessoas pelo direito que cada pessoa tem a uma educação, que é muito mais do que o mero treino profissional. Cada pessoa tem o direito de votar, de educar os seus filhos, de usufruir da sua herança cultural e de participar na criação artística e científica da sua sociedade. A educação pública deve garantir a formação necessária para exercer estes direitos, o que exige aprender coisas como ciência, filosofia e literatura em vez de aprender a servir cafés ou coser sapatos.
Enquanto a formação académica visa o desenvolvimento da pessoa, o que é um direito e transversal a todos os aspectos da sua vida, a formação profissional foca apenas a relação comercial entre o empregado e o patrão, e os seus benefícios económicos repartem-se por ambos. Por isso, a formação profissional devia ser um complemento à formação académica e nunca uma alternativa. E devia ficar a cargo das empresas porque estas, além de mais habilitadas do que o Estado, também beneficiam directamente de trabalhadores com formação profissional especializada. Ao Estado compete formar cidadãos capazes de exercer os seus direitos e de usufruir da sua cultura independentemente da profissão que escolham. Formar empregados é uma tarefa para as empresas.
1-SIC, Governo quer que 50% do ensino obrigatório seja profissional
2- DRELVT, Min.Edu.,Cursos profissionais de nível secundário (pdf)
Faça-se isso e estaremos pelo menos mais meio século a corrigir a asneira.
ResponderEliminarSempre que Portugal se desenvolveu foi graças a boas reformas na Instrução.
ó coiso diz-me lá duas desde que o Agostinho de Campos tentou reformar o primário em 1905?
Eliminardeixa cá ver foi o livro azul e verde em 79-81
ou a reforma de 92?
ou os cursos de jardinagem e fotografia dos CEF's
passaram a EFAS e CNo's
mas percebes alguma coisa de ensino?
além de te teres arrastado nele 17 ou 18 anos
Bolonha é pós 2005 né...até 2005 inda coexistiram os de V aninhes
A formação profissional é muito específica, exigindo muitos cursos diferentes como apoio à infância,professores de psicologia no desemprego e educadoras de infância sem putos novinhos pra cuidar
apoio à gestão desportiva,professores de educação física com horário zero geralmente do quadrio
animador sociocultural, pois aqui geralmente são os dos cursos de teatro e dos politecos e do garcia de resende de évora
gestão equina, engenheiros zootécnicos que nunca tenham trabalhado fora dos talhos dos hipermercados
e das rações espanholas vendidas a crédito...
há uns 2000 a 3000 do politécnico de castelo branco ao de santarem e de beja
desde os 400 por ano de 1982 até 1988 absorvidos pelo ministério da agricultura e pelos alteres do chão...sobram 200 por ano desde 1988 a 1998 ...uns 2000 e mais uns 140 de 98 a 2011
é devem sobrar uns 3000 no desemprego
principalmente com as escolas de equitação a fechar
turismo ambiental e rural, engenharia biofísica arquitecto paisagista engenheiro agrícola do quadro das escolas
engenheiro agrónomo a dar aulas no ensino especial...agora há tantos que têm de se arranjar mais alunos especiaes
apoio psicossocial, psicólogos desempregados só do ISPA são....
vitrinismo pra esta é os de educação visual e tecnológica e assim por diante (2).
cursos de fotografia eram os fotógrafos falidos
os de nutricionismo e saúde...enfermeiras e vet's
os de HACCP
ou os HST nível...etc
os que tiraram os ditos cursos no IEFP e estão desempregados
passar 50 mil para o profissional
ora se em três meses krippahl forma pensadores críticos
tão argutos como o mestre
em 12 meses consegue-se muito m,aes...
As universidades formam empregados: contabilistas, economistas, engenheiros, médicos, advogados, etc. O que acontece é que há jovens que não têm apetência para cursos universitários (sempre os houve)e eram "atirados" para as universidades para obterem uma formação profissional e acabavam em cursos que não lhes despertavam interesse. Agora terão oportunidade de optar por um curso profissional mais cedo, sem passar pela universidade.
ResponderEliminarAs consequências disto são muito simples: vão sobrar cursos e professores universitários. Alguns politécnicos vão tornar-se inviáveis. O desemprego vai aumentar nesse segmento laboral.
Bolas home que grande fé...
Eliminaros poltécnicos invi+áveis?
santíssimo e os instiputos tamém dão o berro?
este mostra damus é de chorar a rire
e a covilhã évora e faro vão às urtigas é...
abrir engenharia têxtil numa terra com 80 fábricas fechadas foi uma solução de futuro
e engenharia do papel num sítio a 130 kilómetros da pasta de celulose mais perto
vão sobrar cursos e professores universitários já sobram há anos
cursos de 100 alunos que passaram para 20 e o nºde profes duplicou
admirável...
e engenheiro silvicultor no meio de Lisboa....
António,
EliminarAs universidades sofrem, em parte, da mesma pressão para formar empregados. Mas penso que ainda formam, acima de tudo, pessoas. Espero que continuem assim e não descambem também na ideia de que um curso superior é uma formação profissional.
António as universidades não formam, deformam.
EliminarAntónio os professores não conhecem ciência aplicada, conhecem sim aplicações da ciência.
excepto os da Ria de Aveiro, um sítio óptimo para meter os netos e mesmo as crias de krippahl, pelo menos na área das ciências ditas puras.
como dizia um professor da Fundação da Facul de cienças
Prefiro que os arrumadores de carros tenham licenciaturas
a formar soldadores, electricistas e bate-chapas na escola salazarista
tinha montes de razão
temos 5 arrumadores com curso aqui no burgo
No tempo do Soaristão em que metiam cavalo na veia os drogados aqui da zona desértica morriam quase todos com o 9º ou o 10º ano
agora quando morrem de overdose, já vão com frequência universitária
até com curso completo da nova...é baril morrer com canudo
dá status
ser caixa do modelo com curso de biofísica também é nice
só aqui há 7 engenheiras e duas dum curso de estudos africanos ou similar
e na fruta há um historiador e um engenheiro zootécnico
na carne está um gajo só com o 12º
há dificuldade ó manguelas?
ResponderEliminarEntão não subiram em 74-78 o nº de alunos do 3ºciclo para o dobro e o dos lyceus para mais 50%?
ou os do propedêutico de umas escassas meias-dúzias de milhar para
70.000 no primeiro ano de 12º?
http://www.netemprego.pt/IEFP/pesquisas/detalheOfertas.do?idOferta=587847025&name=ofertas&posAbs=1&numTotRows=1
ResponderEliminarMelhor ser uma Vera Pereira :P
Eu trabalho parcialmente no ensino profissional, e a minha experiência é mesmo que os alunos vão para os cursos profissionais porque recebem mais apoios que no ensino regular (o que cria grandes problemas) e escolhem o curso em que estão não com base no que gostam ou pretendem fazer, mas sim para obter o 12º ano e com base nos cursos que estão abertos. Ainda após a conclusão dos cursos, as turmas tem menos de 50% (e até casos com 7 alunos de um total inicial de 25) uma percentagem muito reduzido é que continua na área. A minha opinião é que o ensino profissional tem mais efeitos positivos pela empregabilidade de docentes e não docentes do que pela formação em si.
ResponderEliminarBizarro, a cópia bizarra de Supermão, trabalhava parcialmente no tal ensino e a sua experiência era portanto bastante parcial, pois ainda em 2007, havia dúzias de cursos de fotografia e de jardinagem, em terreolas que nem jardins tinham, nem vivendas com horto-floricultura a necessitar de arranjos rápidos.
EliminarMas o gaijo tem carradas de razão:A minha opinião é que o ensino profissional tem mais efeitos positivos pela criação de empregos para Krippahls de 2ª e 3ª ordem, vulgo empregabilidade de docentes e não docentes do que pela formação em si, que diga-se de passagem 300 gajinhos a aprenderem fotographia com a data de prodígios desempregados que aí há...
E não é só para obter o 12º, porque havia cursos que só davam a equivalência ao 9º, com muitos sani's com 17 anos e três repetições no 7º e mais umas antes disso.
Agora o que isso diz de professores e escolas que repetidamente reprovam 25% dos alunos, é que diz muito sobre a empregabilidade...
Se não me engano isto já foi assim no tempo de Salazar. Não pretendo cair no ad hitlerum, neste caso ad salazarum, mas acho que podemos ver que esse tipo de ensino foi o que nos trouxe onde estamos.
ResponderEliminarPosso estar enganado, não me debrucei muito sobre o assunto, mas sei o suficiente de pormenores nesse sentido para arriscar este comentário.
João,
ResponderEliminarCom o 25 de abril, o PC decidiu acabar com os cursos profissionais para garantir a "igualdade de todos" e assim nos tornar-mos num pais de Drs. e Engenheiros.
Ao passo que, no tempo do Salazar, as pessoas saíam da escolaridade obrigatória (hoje é no 12º antes era mais cedo) a saberem, pelo menos, um oficio, hoje as pessoas acabam o ensino obrigatório e não sabem fazer nada. E nem vale a pena estar com grande ilusões. Para a maioria, aquilo que aprendeu na escola, ficou esquecido no dia a seguir ao ultimo teste/exame.
Claro que muitos dos que acabam o 12ç seguem para a faculdade, mas uma parte significativa (maioria?) fica-se pelo 12º e não faz ideia do que há de fazer da sua vida. Felizmente o McDonalds está sempre a contratar.
A escassez de profissionais qualificados nas profissões "menores" é tanta, que o canalizador ao fim de meia duzia de anos anda de Mercedes, e o Exmo Sr Dr Arquitecto/Advogado/Engenheiro, depois de mais 5/6 anos de faculdade, mais estágios obrigatórios, mais acesso às ordens, etc fica a viver em casa dos papás até aos 35, porque ou trabalha de borla ou nem trabalha de todo.
O ensino superior não é para todos. seja por falta de capacidade, seja por falta de vontade, as pessoas deviam ter outros caminhos, outras escolhas. E isto é facil de ver. Quando numa faculdade como a FCT/UNL, metade dos caloiros ao fim do primeiro ano, faz uma ou nenhuma cadeira, algo vai mal em todo o nosso sistema de ensino.
Os cursos profissionais são a solução milagrosa? Não. Mas são uma ajuda. Embora ache que só venham recolher frutos daqui a uns anos.
Mas será que é preciso por as pessoas a decidir tão cedo se vão por uma via ou outra?
EliminarNao me parece.
O que me parece é que há muito mais que devia ser ensinado até ao 12º ano, e depois então quem quisesse seguia ensino médio, superior ou o que lhe quiserem chamar.
O QI dos povos correlaciona-se com uma série de outros bons indicadores. E a inteligencia não é absolutamente determinada pelos genes. É preciso um ensino abrangente e formador de mentes pensantes antes de lhes ensinar uma profissão.
Penso que a causa de insucesso como a relatada deva ser multifatorial. Eles não são capazes de acabar os cursos? É que se são, e depois acabam por os fazer, como podemos dizer que não são material de ensino superior?
Ou passam-nos só para se verem livres deles?
Quando é que uma pessoa está, efectivamente, preparada para decidir o que é quer fazer para o resto da vida? Eu diria que, para a maioria das pessoas, essa altura deve estar perto dos 82 anos, quando se espera morrer aos 83. E mesmo assim, alguns ainda terão duvidas.
EliminarSalvo raras excepções eu diria que quem aos 15 anos não sabe se quer ir para a faculdade ou não, não é aos 18 que vai saber. Entretanto foi obrigado a escolher um agrupamento que vai ditar a que cursos superiores poderá, um dia, ter acesso. E mesmo dentro desse agrupamento, terá de escolher as disciplinas certas, para, no 12º, fazer as provas especificas.
Porque não ensinar um oficio, e depois, caso se mude de ideias, ter um mecanismo que permita as pessoas mudarem de ideias. O acesso > 23 anos, é um exemplo disso.
Quando eu disse capcidade não me estava a referir apenas à inteligencia. Concordo que esta não é puramente genética (tem o seu peso, mas não é tudo). Como no resto das coisas, se a inteligencia não for estimulada nunca se vai desenvolver. As capacidades podem ser de Organização, de concentração, disciplina, aprendizagem, etc. Ao contrário do ensino obrigatório, na faculdade ninguem manda chamar os pais caso o aluno de«ê muitas faltas, ou se está a ter más notas.
Eu concordo com a teoria do ensino abrangente e formador de mentes pensantes, no entanto, na pratica não é isso que acontece. Nem vai acontecer tão cedo. Não com os professores e com a mentalidade que temos. E primeiro que se mudem os professores e as mentalidades... vão mais decadas do que aquelas que é expectável um ser humano saudável viver.
Dos que não fazem nenhuma cadeira no primeiro ano, não tenho dados especificos. Imagino que alguns "acordem para a vida" e consigam terminar o curso num tempo razoavel, outros desistem, eventualmente, do ensino superior, e outros acabam passados 10/15 anos a sua licenciatura de 3 anos.
Em termos gerais o insucesso é muito grande. Acabar o curso "a tempo e horas" então, é rarissimo.
Eu conheci um rapaz que para mim é o paradigma ideal de que o ensino superior não é para todos. Quando o conheci, já estava na faculdade ha 10 anos. estava no 3º (e ultimo ano do curso) com algumas cadeiras atrasadas. Ia a todas as aulas, tinha um dossier do tamanho do mundo com toda a matéria alguma vez leccionada. Passados 4 anos, continuava no 3º ano, com meia duzia de cadeiras para terminar. Das cadeiras que tinha feito e que eu tinha muitas delas passou com 10. Algumas dessas cadeiras já as estava a fazer há 7 anos. Portanto, das três uma: 1) ao fim de 7 anos aprendeu, finalmente, os conteudos minimos da cadeira. 2) depois de fazer 2 ou 3 exames por ano para essa cadeira, finalmente, decorou respostas suficientes para passar com 10. ou 3) os 10 eram, na realidade, 8,5 + IVA. Tanto quanto sei, eventualmente saiu daquela faculdade para ir acabar o curso noutra. Independentemente de ter consigo acabar o curso, ou não, para mim, ele, claramente não tinha capacidades suficientes para o ensino superior. Perdeu 15 ou mais anos da vida dele, cheios de frustação, porque sempre lhe disseram que ele podia ser o que quisesse. Não lhe teriam feito um muito melhor serviço, se aos 15 anos lhe perguntassem "o que é que te parece, lenhador ou serralheiro?"
tenho um curso profissional. escolhi o curso em que tive porque me pareceu (e foi) o melhor para mim tendo em conta a minha personalidade, não como carreira futura, porque não é aos 16 anos que se escolhe uma carreira, mas também não e aos 18 ou 19 quando se vai para uma faculdade, aliás a nossa carreira é algo que se descobre ao longo da vida, não de uma hora para a outra só porque sim...
ResponderEliminarestudei numa escola em que o ano lectivo começava em setembro e só acabava no fim de julho, em que os docentes eram escolhidos a dedo e os cursos eram devidamente apropriados às necessidades do meio envolvente, em que todos os anos tive um estágio curricular, onde aprendi a prática e teoria, as relações com superiores, colegas de trabalho e clientes, onde tive e continuo a ter o melhor acompanhamento, onde tive de fazer um trabalho de final de curso e outros trabalhos normais das disciplinas com exigência igual ou superior a trabalhos de universitários.
O ensino profissional é, ao contrário que muito julgam, muito positivo e dos melhor caminhos que se pode seguir, principalmente se for numa escola que se dedica a 100% à boa formação profissional e pessoal dos seus alunos.
Mas o ensino profissional não é para quem quer, é para quem pode, para quem tem garra e coragem de enfrentar todas exigências que um ensino deste género exige, e não sou poucas. Um aluno de ensino profissional tem matemática, tem português, tem inglês... tem as disciplinas técnicas, tem estágios, tem actividades e projetos paralelos, tem trabalhos e mais trabalhos, tem um projeto de final de curso enquanto tem tudo isto, tem uma carga horária enorme e um ano lectivo maior que o ensino regular, não tem semanas de férias nem apoios especiais antes dos exames nacionais e fá-los como qualquer outro aluno do regular sem problemas e com muito mais valor, o valor que é o esforço de se desdobrar e fazer tudo o que lhe é imposto com todo o brio.
O ensino profissional é mais que um curso secundário, é mais que uma brincadeira, quem vai para um curso profissional não vai por apoios, porque tirando o ter menos livros que o regular, os custos são bastante elevados, principalmente em cursos mais práticos.
O ensino profissional é mais que uma escola onde se aprende teorias que pouco valem na vida profissional, é uma escola da vida e para vida, que não tem limites de vertentes filosóficas e se estende à tão necessária prática e experiência.
O ensino profissional não é uma linha reta que só tem como fim um curso universitário como o ensino regular, é um caminho cheio de curvas e saídas opcionais para se adaptar e satisfazer as necessidades dos alunos, dos docentes, e do meio envolvente.
Muita gente critica o ensino profissional, mas não passaram por ele, não sabem o que é ter e fazer um curso profissional. Não se deve falar do que não se sabe.
O ensino profissional é muito mais motivador do que o regular, porque quem vai para o ensino profissional vai para o que gosta, aprender o que gosta e não está 9 meses sentado numa cadeira a ouvir professores a falar, está 10 meses dividido entre aulas teóricas, aulas práticas e estágio curricular.
No ensino profissional aprende-se a viver!
Marisa,
ResponderEliminarComo escrevi no post, concordo que a formação profissional pode ser benéfica se for complementar ao que se ensina na escola. Por exemplo, se aos 16 anos alguém quer aprender mecânica e passa umas horas por semana como aprendiz numa oficina acho isso excelente. Dá mais trabalho, não é para todos, mas se o faz por gosto é certamente bom.
Mas se for para aprender mecânica em troca de menos aulas de filosofia, história ou matemática, acho mal. Isto precisamente porque «a nossa carreira é algo que se descobre ao longo da vida, não de uma hora para a outra só porque sim», e as capacidades que se adquire a estudar teoria (ler, compreender, formalizar, etc), e o conhecimento associado, têm um potencial muito mais amplo para a vida toda do que a especialização profissional.
«Não se deve falar do que não se sabe» aplica-se a toda a gente, porque cada um vive apenas a sua vida e não as dos outros. Mas podemos pensar nas alternativas. Por exemplo, eu gosto imenso de carpintaria, já desde as aulas de trabalhos oficinais no 7º ano. Até fiz alguma mobília que uso cá em casa. Se tivesse seguido um curso profissional de carpintaria provavelmente estaria satisfeito com a minha profissão e talvez até ganhasse mais do que a dar aulas numa universidade pública. Mas a minha formação deu-me muito mais do que uma profissão e não me arrependo de ter passado mais tempo «sentado numa cadeira a ouvir professores». Por isso é que acho que a formação profissional não deve ser dada à custa da outra.
Além disso, enquanto que um jovem aprender mecânica numa oficina, com profissionais experientes e como complemento à sua formação académica é boa ideia, uma escola secundária criar uma turma de mecânica onde jovens substituem alguma formação essencial em ciência ou línguas para aprender mecânica com um professor de trabalhos manuais que nunca trabalhou numa oficina é uma palhaçada. E é esse o caminho que este plano nacional quer seguir.
Não é no ensino profissional que se aprende a viver. É na vida. Parece-me que criticar a formação académica por ser «onde se aprende teorias que pouco valem na vida profissional» ignora o facto, muito importante, de que a vida é muito mais do que uma profissão. Por exemplo, há uns anos passei uns semestres num mestrado de filosofia ética. Acabei por não concluir quase nada do curso e nunca foi coisa que me parecesse ter utilidade profissional, no meu caso. Foram, literalmente, apenas «meses sentado numa cadeira a ouvir professores a falar». Mas foi interessante e não me arrependo do tempo que investi nisso. Porque aprender vale por si, e quanto mais coisas diferentes aprendemos mais capacidade temos para as encaixar umas nas outras e perceber o seu valor. Essa é uma lição de vida importante que eu talvez nunca tivesse aprendido se me tivesse especializado na carpintaria. Hoje estaria contente a fazer algo de que gosto mas nem saberia o que teria perdido de outras coisas das quais também gosto.
LL,
ResponderEliminar«Não lhe teriam feito um muito melhor serviço, se aos 15 anos lhe perguntassem "o que é que te parece, lenhador ou serralheiro?"»
Penso que isso deve ser ele a responder, e mais ninguém. Muito pior serviço é o ministério da educação estipular como meta que 50% das crianças sejam canalizadas para as profissões que der mais jeito aos empresários da sua localidade em detrimento da sua formação académica.
Há quatro anos ingressei numa nova fase da minha vida, numa nova etapa, o 10ºano, o ano das decisões. A primeira debatia –se, se queria ingressar no Ensino Regular ou Ensino Profissional. Questão essa, com rápida resposta, decidi ingressar no Ensino Profissional. E porque!? Não por ter poucas capacidades e não conseguir integrar-me no ensino regular, não por querer decidir aos 16 anos a minha “para sempre profissão”, não por não querer ir para a Universidade, não porque é mais fácil aos olhos de muitos… Escolhi o Ensino Profissional porque tinha capacidades de organizar minha agenda, que a partir do primeiro dia de escola iria preencher-se com trabalhos, testes, actividades… Escolhi o Ensino Profissional porque decidi uma profissão para aprofundar as suas técnicas teóricas e praticas durante três anos, não durante a minha vida, porque escolhi o que quis naquela altura trabalhando durante os anos do secundário com gosto, com dedicação, não por obrigação, como muitos os que estudam no Ensino Regular…Escolhi Ensino Profissional porque se for para a Universidade irei muito melhor preparada de que se fosse para o Ensino Regular, onde não me especializava em nada, onde a experiencia profissional é nula, onde os trabalhos não são tão exigentes, onde cada aluno anda perdido numa área de ciências ou artes sem saber quais as saídas profissionais, sem saberem o que poderão exercer, sem saberem como trabalhar, são alunos que se não forem para a universidade não tem futuro, não tem profissão, não tem experiencia… Eu escolhi Ensino profissional de consciência com a vida do país, estando o país na crise em que está, muitos pais, não conseguem sustentar um filho na universidade, logo, se esse filho frequentar o Ensino Regular acabará o 12ºano sem bases para entrar no mundo do trabalho, por sua vez se o filho frequentar o Ensino Profissional, este estará apto a exercer uma profissão na sua vida … Eu escolhi Ensino Profissional porque escolhi ser feliz a estudar…
ResponderEliminarApós a decisão, do Ensino profissional, seguiu-se o curso que iria frequentar… Se disse-se que foi uma escolha fácil de tomar, iria estar a mentir, ninguém acha fácil as decisões que poderão colocar o seu futuro em jogo… é nesta decisões em que precisamos de fazer uma reflexão de quem somos, de sabermos quais as nossas qualidades, as nossas potências, os nossos fracassos e os nossos defeitos, é nesta altura que olhamos para dentro, escutando o coração aquele que se o ouvirmos com atenção guia-nos no caminho da razão! E foi o que fiz, refleti sobre mim, pensei e ponderei qual seria o curso que eu viveria com todo o gosto durante três anos de estudante.
Os cursos abertos para os docentes são vários, desde Animador Sociocultural, Marketing, Gestão, Apoio à Infância, entre outros, sendo todas estas profissões minuciosamente aprofundadas na região, que a escola abrange, de forma a ter saídas profissionais, quando os alunos terminarem seus cursos. Há preocupação de empregabilidade … Há preocupação no futuro….
Cursos esses, que possuem uma carga horária elevada, onde cada aluno sai de casa às 7h regressando às 19 horas, onde a escola começa em Setembro, terminando em Julho, onde existe um enorme grau de exigente por parte dos professores técnicos de cada curso, pelos professores qualificados a serem formadores dos docentes, onde existe trabalho, ao contrario de que muito pensam, onde existe dedicação pelos alunos, pois não foram por obrigação mas sim por opção, porque escolheram estudar com motivação…
... continua...
Em todos os cursos existem as disciplinas gerais (Português, Inglês e Matemática), depois cada curso tem as suas próprias disciplinas teóricas e práticas, dada por professores qualificados para tal. No Ensino Profissional os alunos possuem poucos manuais, estuda-se à base de sebentas e fotocopias, mas não é por não se gastar dinheiro nos manuais, que o Ensino fica mais barato, gasta-se grande parte do dinheiro na prática do curso. No Ensino Profissional, para além dos trabalhos que temos ao longo do ano, para todas as disciplinas (que não são poucos), temos ainda um projeto de ano, no primeiro e segundo ano de curso, sendo que no terceiro, temos que realizar uma Prova de Aptidão Profissinal, um projecto, onde que inclui todos os conteúdos teóricos e práticos leccionados nos três anos de curso. Para além, do que acabei de referir, os alunos participam em congressos, palestras, (na escola ou noutras escolas), visitas de estudo, para as quais se faz relatório, incluído a nossa reflexão do que foi a vista de estudo ou o congresso, dependendo do caso. Ainda existindo um mês em cada ano de curso dedicado ao estágio, onde cada aluno integrado numa empresa ou instituição (dependendo da área), afim de, colocar em pratica o que no período escolar aprendeu…
ResponderEliminarE é todo isto, trabalhos, testes, actividades, relatórios de visita, projectos, estágios e Prova de Aptidão Profissional, que é realizado por um aluno que escolheu o caminho da experiência profissional, o caminho da motivação lutando por o que quer, não o que querem que ele seja, ou siga, porque quem segue o que não quere terá um futuro que não deseja…
O ensino profissional é para quem tem coragem de remar com seus remos, levando seu barco, nas correntes fortes do mar agitado, com as ondas temerosas, as que dão luta, mas que quem é lutador as destrói fazendo do que era temeroso, vitorioso…
Hoje tenho um curso, e digo que voltaria a escolher o que escolhi, a viver o que vivi na escola profissional que muito aprendi…
No ensino profissional aprende-se o fundamental para a vida, a experiência!
Ensino profissional não é para todos quanto acham que conseguem estudar o essencial…
Ensino Profissional é para todos quanto conseguem trabalhar, estudar e amar o fazer…