terça-feira, maio 09, 2023

A Parada.

Tenho seguido com alguma atenção comentadores que se esforçam por justificar e apoiar a invasão russa. O esforço é cada vez maior, por força das circunstâncias. Um desses comentadores, Miguel Castelo Branco, escreveu há um ano sobre «a grandiosa parada militar celebrativa da Vitória que hoje teve lugar na Praça Vermelha, aos pés das muralhas do Kremlin [...] mostrando que a Rússia está segura do seu poderio, agora confirmado nos últimos desenvolvimentos nos campos de batalha.»(1)

Realmente, em 2022 a parada do 9 de Maio foi impressionante. A deste ano, nem tanto. Em vez de dezenas de carros de combate modernos veio só um T-34, veterano da segunda guerra, em representação dos seus congéneres. A exibição da força aérea foi cancelada e, à parte dos tradicionais misseis nucleares, no resto do armamento a demonstração também foi mais modesta do que é costume (2). Obviamente, isto chamou a atenção da comunicação social. Que, segundo escreve hoje Castelo Branco, é uma «conspiração dos asnos» porque «A Rússia tem 8000 carros de combate e o seu lugar em tempo de batalha decisiva não são os aquartelamentos, mas na frente a caçar Leopardos, pois é na frente e não em desfiles militares que se decide a guerra»(3). Apesar de esfarrapada, a desculpa não surpreende. Há constrangimentos ideológicos que impedem estes comentadores de admitir que a situação militar russa não permite grandes celebrações. Mas fica por explicar como é que, com uns alegados 8000 carros de combate, não encontram sequer uma dúzia para o desfile.

Aponta também Castelo Branco que «O único carro de combate presente foi o T-34, por sinal o melhor blindado da II Guerra Mundial e vencedor de todas as batalhas, de Moscovo, de Estalinegrado, de Kursk e Berlim». Vencedor de todas as batalhas é exagero. O T-34 já estava em serviço quando Hitler traiu o seu aliado Estaline e invadiu a URSS. Apesar do exército vermelho já ter, em 1941, dois anos de prática a invadir a Polónia, a conquistar o Báltico e a espatifar-se contra os finlandeses, nesse primeiro ano de invasão nem tudo correu de feição aos soviéticos. Pode-se dizer que a operação militar especial de Hitler começou bem melhor do que a de Putin. Felizmente, fez-se justiça e acabou mal. Uma valiosa lição histórica que temo não ter sido bem aprendida pela liderança russa. Caso contrário não teriam ficado surpreendidos por os países ocidentais ajudarem o país invadido (4).

Mas desviei-me do tema. O T-34 foi, realmente, um dos melhores carros de combate do seu tempo. E talvez seja aqui que a Rússia procura recuperar o seu poderio militar. Afinal, estão cada vez mais perto, pois agora até enviam para a frente de batalha carros de combate T-55, um modelo de 1948 (4). Os T-55 já defrontaram carros de combate ocidentais como os que a Ucrânia recebeu recentemente. Foi na guerra do Iraque. Está aqui uma imagem (6) mostrando um Challenger 2 (à esquerda) e um T-55 (à direita). Vale por mil palavras.



1- Facebook, 9 de Maio 2022
2- Sky News, How does Russia's scaled-back 2023 Victory Day parade compare to previous years?
3- Facebook, 9 de Maio 2023
4- Os EUA enviaram 75 mil milhões de dólares de ajuda à Ucrânia. O total enviado para a URSS na segunda guerra equivaleria hoje a 180 mil milhões.
5- Forbes, Russia Sent 70-Year-old T-55 Tanks To Ukraine Without Even Upgrading Them
6-Imagem daqui:John (Twitter)

34 comentários:

  1. Olá Ludwig! Confesso que surpreende ver um auto-proclamado céptico deixar-se levar nas palermices que encontram nos media ocidentais, sobre a Rússia ser um desastre, e estar a caminho da ruína, e claro, de estar a perder a guerra -- facto do qual a modesta parada de hoje seria prova inequívoca. É asneira da grossa. (Já agora, só por curiosidade, também acreditas que o Nord Stream foi destruído por meia dúzia de tipos numa embarcação de recreio? :-P) Deixo apenas a sugestão de, quando o tempo o permitir, ir espreitando isto: https://www.youtube.com/@judgenapolitano-judgingfre7226/streams. É um podcast dirigido por um antigo juiz federal americano, que regularmente entrevista analistas, vários deles militares -- e alguns bem conservadores. Mas a maioria deles acha que a Rússia está a ganhar a guerra, e que os soldados ucranianos estão a tornar-se numa espécie em vias de extinção. E também explicam muitas asneiras. Por exemplo um deles, Scott Ritter, num outro podcast, explicou porque é que a doação de F-16 à Ucrânia, se algum dia suceder, não vai servir para nada, a não ser para os russos praticaram a sua airmanship. Aqui: https://www.youtube.com/watch?v=nZiPGCyLACE

    Dúvido que mude a tua opinião, se fizer algum leitor destas linhas pensar, já terá valido a pena :-)

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  2. Óscar,

    «Confesso que surpreende ver um auto-proclamado céptico deixar-se levar nas palermices que encontram nos media ocidentais, sobre a Rússia ser um desastre»

    A minha estimativa de que as forças armadas russas estão um desastre não se baseia nos media ocidentais. Baseia-se na travagem da ofensiva inicial, apesar de ter beneficiado de alguma surpresa por ter sido um ataque não declarado; nos meses de recuos, alguns bem dramáticos; e no falhanço total desta ofensiva de inverno. Baseia-se também nos relatos que vejo de russos ou dos separatistas seus aliados. Seguindo o princípio céptico de concluir pela preponderância da evidência e por inferência à melhor explicação, formo a opinião de que as coisas não estão a correr nada como Putin desejava.

    «Já agora, só por curiosidade, também acreditas que o Nord Stream foi destruído por meia dúzia de tipos numa embarcação de recreio?»

    Não. A única pessoa que tinha a ganhar com a destruição deste pipeline desactivado e que tinha os meios para o destruir é Putin. Desta forma acabou com um incentivo forte para os oligarcas russos quererem a paz para voltar a ganhar milhares de milhões a vender gás à Europa.

    «É um podcast dirigido por um antigo juiz federal americano, que regularmente entrevista analistas, vários deles militares -- e alguns bem conservadores.»

    Conheço bem. É onde costuma falar o Scott Ritter, por exemplo, que defendeu isto pouco antes da libertação de Kherson:

    «Well, the short answer is Ukraine’s going to have to accept reality. It has permanently lost Kherson, Zaporizhzhia, the Donbas, and Crimea. You will never get it back, Ukraine. Never, ever, ever in a million years.»

    https://therealnews.com/scott-ritter-dont-believe-the-hype-ukraine-cant-win-this-war

    Ou o McGregor, que há mais de um ano que anda a dizer que a guerra acabou com a derrota total da Ucrânia:

    https://www.quora.com/Former-Colonel-Douglas-MacGregor-has-been-predicting-Ukraines-defeat-for-months-now-Is-his-forecast-accurate-Have-we-been-supporting-a-lost-cause

    Se é nesta gente que te fias em vez de olhares para o que se passa no terreno e procurares relatos de várias perspectivas, então não acho estranho que estejas tão surpreendido. Vejo muitas vezes essa reacção quando o meu cepticismo me põe em oposição às crenças dos outros :)

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    1. vamos ser apagados por falta de actividade ó grande Krip Sobre o Gerenciador de contas inativas

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    2. imagine-se 40 contas com milhares de comentários de luxo ou de lixo vão ser apagados porque nem eu me lembro das passwords nem o google me autoriza tanta conta esta já teve direito a uma bicicleta e uma motorizada para identificar não dá né

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    3. resumindo a IA é une merde apagará milhões de contas gmail em 31 de dezembro de 2023 e eu que tive tanto tempo a criá-las umas 2 horas a 5 minutos por conta e a gerenciar isto acho que vou manter 10

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    4. até manter 10 contas dá um trabalhão identifique escadas prove que não é um robot

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    5. A sua mensagem não foi entregue a asdamosani@gmail.com porque não foi possível encontrar o endereço, algumas já foram apagadas

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    6. outras bem por isso mas até 2024 não deve sobrar nenhuma

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    7. o que vai reduzir os comentários de que treta e se são apagadas as contas o que acontece aos comentários e blogs? desaparecem para sempre na voragem do tempo? questão existencial

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    8. A sua mensagem não foi entregue a jagganatha666@gmail.pt, porque não foi possível encontrar o domínio gmail.pt

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    9. iste do património imaterial dos blogues dá muito trabalho jaga nata escreveu no dia terça, 20/07/2010 à(s) 18:52:
      werat

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    10. wombatbatbate@gmail e mais 30 serão apagados no fim do ano o que acontecerá aos blogs associados?

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    11. meses após a parada o exército russo continua funcional e a aguentar o terreno ocupado

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  3. quando Hitler invadiu a URSS a maioria dos blindados eram T-27 o T-34 só existia em pequenos números e as fábricas que foram transferidas da ucrânia e alhures para os urais atrasaram a sua produção em massa. também as dúzias de carros ocidentais que a ucrânia recebeu não vão alterar significativamente o curso de uma guerra que parece ter paralisado numa guerra de posições, apesar de a rússia não ter conseguido avanços significativos ainda domina uma grande área e tem mais carne para canhão que a ucrânia para uma guerra longa

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    1. o KV-1 também jogou contra os tanques de hitler era um tanque pesado hoje esquecido mas que teve um bom desempenho na frente norte Development started at the end of 1938. A prototype was produced in August 1939. The vehicle first saw combat in December 1939 at the Mannerheim Line. The tank was mass-produced from March 1940 through August 1942, with a total of 2,769 vehicles manufactured.

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    2. o T-34 só foi o tanque mais produzido e relativamente rápido mas com blindagem insuficiente só ganhou porque foram para a batalha mais de 33 mil

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    3. quanto ao challenger 2 ao custo de 4 milhões de libras por tanque decerto que nunca chegará para as necessidades dos ucranianos que precisariam de uns centos de tanques modernos mais peças de substituição e munições para virar a maré

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    4. built about 447 se dispensarem 1/10 do total dará 44 tanques challenger 2 na ucrânia

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    5. isso do fez-se justiça é um juízo parcial se hitler tivesse derrotado a imensa mole de gentes soviética também muitos teriam dito que se fez justiça e deus prevaleceu sobre os infiéis mesmo que o deus em causa fosse odin

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  4. os russos como potência mundial estão a ter um desempenho tão mau como em 1905 ou em 1939/40 contra adversários nitidamente mais fracos em números se ganha ou não a guerra é cousa para se ver mais adiante

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    1. curioso também os blogs não serem usados como propaganda para esta guerra quando o foram para as anteriores o que mostra que os blogs estão mesmo acabados

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    2. felizmente fez-se justiça, mas Hirohito foi imperador até morrer de velho

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    3. felizmente os blogs estão mortinhos estagnado De sempre
      90939

      Hoje
      79

      Ontem
      2

      Este mês
      1033

      Mês Anterior
      9874

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  5. Ludwig,

    Se fossem necessárias mais provas sobre a falta de cepticismo que pauta a tua análise, basta este excerto:

    «Não. A única pessoa que tinha a ganhar com a destruição deste pipeline desactivado e que tinha os meios para o destruir é Putin. Desta forma acabou com um incentivo forte para os oligarcas russos quererem a paz para voltar a ganhar milhares de milhões a vender gás à Europa.»

    Primeiro, assume que Putin não quer a paz, quando a invasão -- que no ocidente é vista como "não provocada" -- na realidade andou a ser provocada durante a última década (e isto sem contar com a expansão da NATO), apesar dos protestos e avisos de Putin e companhia. Entre outras coisas, conta-se a recusa da NATO de dar garantias à Rússia de que a Ucrânia não entraria na NATO -- e é preciso ter em conta que os EUA estavam a dar apoio militar à Ucrânia desde 2014. Não é preciso ser-se um génio para adivinhar a que conclusão iam chegar as elites russas do poder. Pode-se legitimamente achar que a Ucrânia tem soberano direito de ir para a NATO, se esta última aceitar (é a minha opinião). Não se pode é achar que isso, quer como facto consumado, quer como possibilidade no futuro próximo, não levaria a uma resposta armada da Rússia, quando eles estão fartos de afirmar o contrário... Putin é tudo menos santo, mas também não é louco: achar que ele faria uma operação desta envergadura, apenas para restaurar a grandeza da "Mãe Rússia" (ou treta semelhante) -- isso é que ser maluco. Ver mais detalhes aqui: https://jmss.org/article/view/76584/56335

    Segundo, assume que Putin, segundo o ocidente um vilão-mor que tem que ser parado custe o que custar, de tão perigoso que é, não controla nem os oligarcas do seu próprio país, que governa como um autocrata... (Reciprocamente, se ele de facto não controla os oligarcas, como a guerra já vai com mais de ano, isso se calhar quer dizer que os oligarcas não querem assim tanto a paz...)

    Terceiro, se Putin realmente quisesse dar cabo da sua própria infra-estrutura, porque não fazê-lo ou em terra, ou em águas territoriais russas? O efeito era o mesmo, dava menos trabalho, custava menos, e como bónus, ainda podia acusar os ucranianos de serem os responsáveis...

    Para finalizar, que a «única pessoa que tinha a ganhar com a destruição deste pipeline» é Putin, é ignorar -- heroicamente! -- isto: https://www.reuters.com/world/biden-germanys-scholz-stress-unified-front-against-any-russian-aggression-toward-2022-02-07/:

    «"If Russia invades, that means tanks or troops crossing the ... border of Ukraine again, then there will be ... no longer a Nord Stream 2. We, we will bring an end to it," Biden said. Asked how, given the project is in German control, Biden said: "I promise you, we'll be able to do it."»

    Sobre o resto, segue mais tarde.

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  6. Não precisamos de elaborações complexas para justificar o injustificável. Provovado ou não, quem invadiu foi a Rússia. Quem foi invadido foi a Ucrânia. Simples! E num mundo civilizado não se resolvem diferendos com guerras e invasões. Simples!

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    1. e estamos num mundo civilizado? o iraque e a líbia foram apenas há uns anos e a invasão de granada ou a intervenção nos balcãs um pouco mais que isso

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  7. Esclareço desde já que anseio que os russos levem na boca. No entanto parece-me que no meio do caos apregoado para o lado russo, os factos não são totalmente desfavoráveis face às evidências : vasto território conquistado e aparentemente bem defendido perante as recentes incursões ucranianas.

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