Conceitos de Deus.
Acerca de como podemos conceber os deuses, António Afonso escreve no seu blog que o argumento do mal pode ser facilmente refutado se «alegar que na minha concepção (particular), Deus são as leis fundamentais da física. Por exemplo, na minha concepção particular, Deus é a gravidade. E claro, eu posso demonstrar que a gravidade existe e faz coisas extraordinárias, logo, na minha concepção particular de Deus, Deus existe.»(1) Realmente, o problema de determinar se existe algo chamado “Deus” pode ser trivialmente resolvido pela afirmativa chamando “Deus” a algo que exista. A minha máquina de lavar roupa, por exemplo. Mas isto não ajuda muito e Afonso também o reconhece, notando que «Partir de concepções particulares para justificar uma crença sobre Deus [pode ser um erro] porque podem ser ignoradas princípios fundamentais». Eu diria que o problema é mais fundamental ainda porque, na verdade, não estamos a mudar qualquer concepção de Deus. Cada concepção de Deus continua a ser o que sempre foi. O que fazemos com este truque é simplesmente apontar a palavra “Deus” para um conceito ou objecto diferente. É um truque recorrente entre apologistas, quando dizem que Deus é amor ou Deus é a verdade, mas isto é só brincar com as palavras porque as questões importantes são se o universo foi criado de propósito por um ser inteligente e se esse criador se rala alguma coisa connosco.
Os argumentos do mal incomodam os crentes porque mostram formas de concluir que não é plausível existir um deus competente que se importe com o bem. A ideia é simples. Há actos tão maldosos que qualquer ser capaz de os impedir teria o dever moral de o fazer. Se o Super-Homem existisse, teria a obrigação de usar os seus poderes para impedir a malta do ISIS de cometer as atrocidades que têm cometido. Um deus infinitamente mais poderoso teria uma obrigação ainda maior. Se não o fez ou é ruim ou não existe. Para quem defende a existência desse super super homem este argumento é inconveniente. Mas Afonso comete o mesmo erro que cometem os apologistas desta crença ao julgar que o mais relevante é a refutação de um argumento específico destes. Como aquele que Afonso considera:
«1) Se Deus existe, deve intervir no mundo para prevenir o mal.
2) Deus não intervém no mundo para prevenir o mal.
3) Logo, Deus não existe.»
O problema desta abordagem da refutação de cada argumento isolado é que perde de vista o mais importante. Cada argumento é apenas a expressão de uma linha de inferência. Para refutar o argumento basta invocar premissas que contrariem algum elemento do argumento ou indiquem condições nas quais alguma inferência é inválida. Por exemplo, no caso do argumento que Afonso formulou, podemos negar a primeira premissa alegando que nem todo o mal deve ser prevenido. Há actos maldosos que cabem nas liberdades legítimas do indivíduo. Podemos negar a segunda alegando que há milagres em que Deus intervém e corrige algum mal. E isto pode ser repetido para todos os argumentos exprimindo todas as linhas de inferência que levam à conclusão de que não existe um ser poderosíssimo ralado com a nossa existência. Isto tem de ser feito caso a caso com diferentes desculpas para cada argumento e para cada observação.
Mas o mais importante não é cada linha de inferência individual. É o padrão de inferências consistentes que se reforçam em contraste com as desculpas ad hoc inventadas para tentar atacar cada uma delas. O argumento do mal é relevante apenas como peça desse puzzle, pela forma como encaixa no resto. Sempre que desvendámos algum processo natural descobrimos que não tinha nada que ver com deuses. A justificação que cada crente dá para acreditar no seu deus, pela sua fé, é a mesma que dão outros para acreditar em deuses diferentes. Os milagres que alegadamente demonstram a preocupação dos deuses para connosco só aparecem nos buracos do nosso conhecimento e são cada vez mais pequenos para lá conseguirem caber. E assim por diante. Há muitas formas de chegar à conclusão de que o universo não foi criado de propósito por um ser que se rala connosco e são todas consistentes entre si.
Apesar de ser sempre possível propor premissas que enfraqueçam qualquer argumento isolado, quando olhamos para as refutações teístas encontramos o padrão oposto ao que suporta o ateísmo. Não há consistência. Não se reforçam mutuamente. Alteram o significado da palavra “Deus” conforme dá mais jeito. As premissas invocadas para justificar a fé de uns são contrárias às que invocam para rejeitar as religiões dos outros. O milagre pelo qual Deus salva os sobreviventes do desastre contradiz a justificação dada para não ter salvo os que não sobreviveram. E quando falta desculpa melhor refugiam-se no mistério. É como tentar completar o puzzle fingindo que os buracos fazem parte do desenho. E com mais buracos que desenho.
Este é o problema mais importante das hipóteses teístas, mas não acontece só no teísmo. É um problema comum quando se tenta defender uma tese havendo alternativas com melhor suporte nas evidências. É preciso fragmentar, isolar pedaços, descartar dados inconvenientes e fazer de conta que não há problema em invocar aqui justificações que contradizem as que se invocou ali. Isto é o que faz o criacionismo e a astrologia, as teorias da conspiração, as ideologias políticas extremistas, os que negam o aquecimento global e a generalidade das tretas pseudo-científicas que nos querem impingir. Focam na refutação deste ou daquele argumento invocando as premissas necessárias mas, se dermos um passo atrás e olharmos para o boneco, vemos que não faz sentido nenhum.
1- António Afonso, Uma concepção particular do sujeito
DEUS E O MAL, A EVOLUÇÃO E A CONDENAÇÃO DO MAL
ResponderEliminarA Bíblia é bem clara. Deus criou um Universo perfeito e dotou o homem e a mulher de liberdade de escolha moral. Adão e Eva escolheram a desobediência e Deus amaldiçoou a sua criação.
Desde então, observamos a corrupção, as mutações genéticas, as doenças, o sofrimento e a morte. O que nós vemos na natureza não é evidência de evolução, mas sim de corrupção.
A Bíblia explica porque é que o cérebro humano, de um ser criado à imagem e semelhança de um Deus racional, é a máquina dotada da maior complexidade miniaturizada e sincronizada do Universo.
Mas também explica porque é que o corpo humano está a acumular mutações deletérias de geração em geração, aumentando a possibilidade de toda a espécie de doenças e cancros.
Só existe mal se existir um padrão objetivo, universal e intemporal de bem. E só existe um padrão objetivo, universal e intemporal de bem se existir um Deus real, omnipresente, eterno e bom.
Se existir um Deus real, omnipresente, eterno e bom, então o afastamento de Deus por parte do ser humano é a origem do mal. Este define-se pelo distanciamento relativamente a Deus.
O mal existe porque ao ser humano foi dada a possibilidade de livremente decidir ser amigo de Deus ou não ser. O mal na natureza existe porque Deus a sujeitou à maldição.
Se Deus é bom, ele também é justo. Se Deus é justo, ele também é bom. Se Deus é justo e bom, ele vai punir a violação da lei moral.
Se Deus é bom, ele vai dar ao ser humano hipóteses de arrependimento, contrição, perdão e reconciliação.
Na morte e na ressurreição de Cristo, um Deus eterno, o pecado é eternamente castigado, ao passo que os seres humanos que nele creem são eternamente perdoados.
A Bíblia diz que Deus é justo e bom, fornecendo um padrão universal e eterno de moralidade. Ele pune o pecado mas quer salvar o pecador, assumindo Ele mesmo a punição pelo pecado.
Jesus Cristo não é uma figura mitológica. Ele nasceu, viveu e morreu em Israel, há 2000 anos atrás, e foi a figura mais marcante e influente na história universal, numa posição de destaque para evitar qualquer confusão.
Através da sua ressurreição, historicamente validada por muitos testemunhos independentes e detalhados, podemos ter esperança na vida eterna com Deus.
A morte não tem a última palavra. Deus tem!
Aqueles que se revoltam com a suposta “maldade e violência” de Deus são os mesmos que recusam a criação racional, ordenada, metódica e não violenta, descrita na Bíblia, e que dizem que o ser humano é o produto de milhões de anos de processos irracionais e aleatórios e de crueldade predatória, seleção natural, sobrevivência do mais apto, derramamento de sangue, doenças, sofrimento e morte, ao mesmo tempo que afirmam que toda a moral é subjetiva, não existindo um padrão objetivo de bem e de mal.
Se a sua visão irracional das coisas for correta, com que base ontológica e lógica é que podem dizer que a violência é moralmente errada e que Deus é imoral por alegadamente ser violento? Qual é o padrão? Quem o estabelece? Com que autoridade?
Não se percebe…
Precisas de Deus para contar 2 e 2? Não se percebe... Topas?
ResponderEliminarComo tratar da questão de Deus sem nos envolvermos numa questão da própria questão?
ResponderEliminarO significado da palavra chega a ser profundamente contraditório. Desde significar um objeto inerte uma imagem, um desenho... até significar um animal, um fenómeno natural ou simplesmente fantasiado... ou um conjunto de atributos políticos, morais, estéticos, espirituais...tudo deste nosso reino que muitos acreditam poder descrever outros, completamente diferentes, que possam existir...indo do simbólico até ao conceitual, do objeto de adoração, ou simplesmente de indagação, indiferença ou rejeição, a princípio legitimador de prescrição e de ação e, até, de critério de sanção, Deus é um problema do homem que este resolve do modo que pode, lhe parece melhor, ou dá mais jeito.
Interrogar "o que é Deus?" é diferente de interrogar "que significa a palavra Deus?" e de interrogar "quem é Deus?" e de interrogar "Deus existe?".
Debalde se encontrará uma resposta objetivamente definida para qualquer dessas interrogações.
O próprio significado da palavra Deus, que pareceria mais suscetível de ser conseguido objetivamente, depara com subjetividades intransponíveis, talvez por se tratar de algo que, apesar de ninguém saber o que é, tem tantas definições quantas as pessoas que o definem, ou mais.
Neste aspeto, eu designaria Deus como um significante sem significado, ou, à procura de significado, ou como uma personagem à procura de um actor.
Deus é uma realidade cultural e, como tal, tão histórico como a bíblia, ou os faraós. Enquanto que a bíblia e os faraós são objetos reais e culturais, Deus deixou de ser objeto real (animal, etc....), deixou de ser ídolo e é uma espécie de abstração sobre si mesma, à procura de concretização de que essa mesma abstração está fecundada.
Para o filósofo, ou para o cientista, Deus é um conceito muito restrito, reduzido a hipótese teórica de Inteligência criadora do universo.
No entanto, essa hipótese dá azo ao desenvolvimento de teorias que a discussão tradicional entre ateus e crentes, fiéis ou não, tem impedido de acontecer.
É neste plano que me parece que os ateus também laboram em crenças e, tentar combater crenças com outras crenças é tão impróprio e ineficaz como combater uma religião com outra, embora isto seja uma fatalidade das crenças e das religiões.
TRÊS ATEUS SEPULTARAM O ATEÍSMO!
ResponderEliminar1) Ludwig Krippahl diz que um código tem sempre origem inteligente.
2) Richard Dawkins afirma que no DNA existe um código quaternário, com os símbolos ATGC, que codifica grandes quantidades de informação como um computador.
3) Por concordar com o Ludwig em 1) e Dawkins em 2), o ex-ateu Anthony Flew, ao fim de 60 anos a dizer o contrário, concluiu que então o código do DNA só pode ter tido origem inteligente, abandonando assim o seu ateísmo.
Teve assim lugar o funeral do ateísmo.
Os ateus Ludwig Krippahl e Richard Dawkins carregaram a urna e abriram a cova.
Anthony Flew enterrou-o.
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ResponderEliminarNo debate acerca da existência de Deus é sempre mais fácil dizer que não existe, ou pelo menos que não há provas de que exista. É mais fácil porque a lógica e coerência dos argumentos é naturalmente mais fácil de manter (para quem se preocupa com isso).
ResponderEliminarPara além disso, quem afirma a existência de alguma coisa é que tem o ónus de provar que existe. Depois quando se tenta provar que existe vemos uma quantidade de argumentos inaceitáveis do ponto de vista racional. A partir daí vêm as versões de "a fé não se explica", ou "o meu Deus é diferente do teu".
Acho, sinceramente, que este debate não vai a lado nenhum. De um lado tenta-se raciocinar e argumentar de forma lógica. Do outro faz-se o inverso. Dava o mesmo resultado se estivéssemos a debater em línguas diferentes.
O que talvez faça sentido debater é a fé naquilo que os homens alegam ser a vontade de Deus. Quem não acredita em Deus não acredita obviamente no que está escrito na Bíblia ou no Corão.
Quem acredita em Deus também não deveria precisar de acreditar nestes livros e nestas igrejas e nestas pessoas.
Não faz sentido que alguém tenha legitimidade moral para me impor um estilo de vida só porque é o representante da vontade de Deus. Porque hei-de acreditar que Deus nomeou este conjunto de pessoas e não outras para seus representantes?
Este debate é mais útil e pelo menos estamos a falar de coisas mais tangíveis. De pessoas que todos concordamos que existem (ou existiram). E dos efeitos que a crença nessas ideologias tem na sociedade.