Treta da semana (atrasada): criptomoeda, parte 2.
Na primeira parte, propus que as “criptomoedas”, mesmo não sendo moedas por falta de estatuto legal, são fundamentalmente equivalentes às moedas fiduciárias. Todas valem em função daquilo que especulamos irão valer para os outros no futuro. Se estimamos que ninguém vai querer bolívares, o Bolívar deixa de ter valor. De pouco adianta o governo da Venezuela insistir que é muito bom para pagar impostos. Se as “criptomoedas” funcionam como o dinheiro mas não estão sujeitas a autoridades centrais que as possam controlar, pode parecer que só têm vantagens. Não é bem assim.
Não haver autoridades centrais que controlam o nosso dinheiro protege-nos de ficar sem nada quando o banco vai à falência ou do Estado facilmente restringir o que podemos fazer com o dinheiro. Mas se eu perder o cartão multibanco posso pedir um novo e se me enganar numa transferência ou falsificarem a minha assinatura tenho a quem recorrer. Em contraste, se perder a chave criptográfica de uma “criptomoeda” é impossível recuperá-la e qualquer transacção é irreversível. Posso mitigar o risco distribuindo-o por várias “criptomoedas”, ter cuidados com a segurança e especial atenção a fraudes, mas qualquer distracção pode sair cara.
Outra apregoada vantagem das “criptomoedas” é a segurança criptográfica. Em teoria, a criptografia é a tecnologia mais segura que temos. Mais segura do que qualquer fechadura ou cofre. Mas a teoria e a prática não são a mesma coisa. Na prática, basta um erro de implementação para estragar tudo e o software que usamos faz parte de um ecossistema complexo, com muito que pode correr mal. Pode haver um problema na geração de números aleatórios (1) ou selecção de números primos (2), o computador pode estar infectado com malware ou até haver falhas na arquitectura do CPU (3). Este risco também pode ser mitigado, com algum esforço, mas será sempre significativo. Isto é especialmente importante para quem queira investir a suas poupanças em “criptomoeda”. Basta um bug para perder tudo.
Finalmente, como as “criptomoedas” funcionam sobre sistemas distribuídos, sem controlo central, muita gente julga que são à prova de interferência do Estado. Não é verdade. São sistemas robustos porque estão concebidos para contrariar incentivos económicos à aldrabice. Por exemplo, para controlar a rede Bitcoin e poder reverter transacções e gastar as mesmas bitcoins várias vezes é preciso ter mais de metade do poder de computação da rede. Além de exigir um investimento enorme, isto seria imediatamente visível no registo dos blocos, levando toda a gente a abandonar essa “criptomoeda”. O investidor nesta aldrabice passaria a controlar algo que mais ninguém quereria e que, por isso, não teria qualquer valor. O incentivo económico é apenas para colaborar e ajudar a proteger a rede.
Mas nem todo o incentivo é económico. Se o governo da China decidir que a Bitcoin é um empecilho, facilmente obtém o poder de computação necessário para controlar a rede e destruir a Bitcoin. Ou qualquer outra “criptomoeda”. E, na prática, nem precisa desse investimento. A mera capacidade de o fazer torna suficiente declarar essa intenção para colapsar o preço de qualquer “criptomoeda”. Esta é outra consideração importante para quem quer ganhar dinheiro investindo nestas coisas. Quanto mais peso as “criptomoedas” tiverem na economia, mais provável é serem eliminadas ou sujeitas a regulação do Estado.
É por estas razões, e não pelo valor ser especulativo, que eu não recomendo investir muito nestas “moedas” com o intuito de enriquecer. Na prática, há muita coisa que pode correr mal. Mas faz sentido investir um pouco nesta tecnologia porque é muito mais do que uma aposta para ganhar euros. Estes sistemas distribuídos de registo de transacções podem servir como dinheiro, para registar contratos, para alugar poder de computação ou espaço de armazenamento ou, em teoria, qualquer coisa que se possa fazer com a Internet e serviços digitais. Nós estamos habituados a obter estes serviços de entidades nas quais temos de confiar, seja o banco seja a Google ou a Microsoft. Mas, por um preço um pouco mais alto – um sistema distribuído fiável tem custos – poderemos optar por alternativas que não dependem de confiar em ninguém. Não é claro que fracção do mercado corresponderá a essas alternativas mas é muito provável que seja significativa. As “criptomoedas” são apenas o primeiro exemplo desse potencial.
1- Arstechnica, 2013, Google confirms critical Android crypto flaw used in $5,700 Bitcoin heist
2- Arstechnica, 2017, Flaw crippling millions of crypto keys is worse than first disclosed
3- Meltdownattack.com
Ludwig,
ResponderEliminarDizes: «[...] Basta um bug para perder tudo.»
Na verdade, tal não é sequer necessário. As cifras informáticas baseiam-se no princípio de que um ataque demora anos a ser correctamente efectuado, isto se tudo estiver ok, sem bugs! A história da tecnologia mostra que podem, e ocorrem, desenvolvimentos que tornam práticas até aí seguras, obsoletas, e por isso inseguras.
Uma das ameaças, é a evolução da computação quântica. Outra, bem mais iminente, é o aparecimento de ferramentas específicas para esse fim. Um exemplo disso é uma notícia recente sobre processadores da Samsung.
"Todas valem em função daquilo que especulamos irão valer para os outros no futuro"
ResponderEliminarLeandro Narloch:
"Nos primeiros anos da Rússia Soviética, com a economia degradada pela Primeira Guerra Mundial e uma guerra civil se espalhando pelo país, o governo de Lênin decidiu imprimir dinheiro para pagar as despesas.
Como quase sempre acontece, o aumento desenfreado de notas em circulação causou hiperinflação. Se em 1918 bastavam 45 rublos para comprar 1 libra inglesa, em 1923 o valor da libra passava de 5 bilhões de rublos.
Os russos não podiam mais confiar na moeda soviética como reserva de valor. Mas ainda confiavam dos rublos czaristas, que antes da Revolução Russa tinham a conversão para ouro assegurada pelo governo imperial.
Os rublos dos tempos do czar não tinham reconhecimento do governo soviético, não tinham lastro ou utilidade prática. Eram só pedaços de papel impressos por um governo do passado. Mas possuíam duas características essenciais para uma reserva de valor: escassez e confiança.
Não eram mais impressos, então sua oferta era limitada. E seu valor ainda estava na memória dos russos – uma lembrança suficiente para estabelecer uma aceitação mútua da moeda.
Foi assim que rublo czarista se tornou uma preciosa reserva de valor na Rússia Soviética.
“Como havia uma pequena chance do czar voltar e honrar a promessa impressa nos rublos czaristas (de converter as notas por ouro), é notável que eles ainda eram aceitos como uma moeda substituta e retiveram o poder de compra”, conta Milton Friedman no livro Money Mischief: Episodes in Monetary History.
“Eles retiveram o valor precisamente porque não era possível produzir novos rublos czaristas, e assim a quantidade disponível em circulação era fixa.”
O bitcoin é o rublo czarista do século 21. Não é reconhecido por governos, não tem lastro ou utilidade maior que outras criptomoedas.
A fonte de seu valor se fundamenta numa convenção, na crença das pessoas de que ele tem valor. Investidores trocam reais por bitcoins por acreditar que no futuro poderão trocar bitcoins por reais. A dificuldade em minerar a moeda evita que essa crença se desfaça.
O bitcoin pode ser a primeira moeda digital da história – mas as características que o tornam valioso têm séculos de tradição."
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