domingo, dezembro 24, 2017

Há esperança sem Deus?

Este foi o tema do debate em que participei no programa Agora Nós (1). O formato do programa não permite uma discussão aprofundada. Para evitar que os telespectadores mudem de canal os apresentadores impõem um passo rápido, exigindo respostas curtas e dando pouco tempo para elaborar ideias mais complexas. Ainda assim, penso que deu para contrapor alguns equívocos.

À pergunta que lançou o debate respondi que tenho esperança que sim. Foi uma forma diplomática que encontrei para não dizer que a pergunta é um disparate. A esperança é uma disposição subjectiva e a sua resposta a factores externos depende de como os interpretamos e avaliamos. Deus existir ou não existir é irrelevante para a nossa capacidade de ter esperança. Tiago Veloso, o meu interlocutor, padre católico e membro da Congregação da Paixão de Jesus Cristo, concordou mas avisou que, quando se tem esperança sem Deus «normalmente [...] há tragédias logo a seguir também. Quando confiamos muito em nós, demasiado em nós, nos nossos poderes, mais cedo ou mais tarde algo irá acontecer que nos vai fazer cair por terra.» Esta tese parece-me errada. Não é a fé que impede que o campanário da igreja rebente na próxima trovoada. É o pára-raios. São os nossos poderes e a nossa compreensão da electricidade estática e da condutividade dos metais que previne essas tragédias. O mesmo se passa com os antibióticos e as vacinas, o capacete e o cinto de segurança, as saídas de emergência e as escadas dos bombeiros. Objectivamente, o que realmente nos vai safando é a confiança justificada nas nossas capacidades. Não é Deus quem apaga incêndios, previne doenças ou impede os raios de destruir o campanário da igreja.

Esta esperança em Deus é sintoma de uma maleita da religião moderna. Durante milénios, quando ninguém sabia porque trovejava, de onde vinham as doenças ou como se podia combater as pragas, a ineficácia dos deuses era menos evidente. Mas agora é óbvio que não se pode contar com eles. Se é preciso fazer algo temos de ser nós a fazê-lo. Daí a esperança em Deus. Porque esperança é o que resta – é a última a morrer – quando mais nada justifica ter confiança naquilo em gostaríamos de confiar. Por exemplo, eu tenho esperança que não deixem o Trump fazer asneira com a Coreia do Norte. É esperança porque estou muito aquém de conseguir confiar naquela gente. Quando ando de autocarro é diferente. Nesse caso, não tenho mera esperança de que o motorista não espatife a viatura. Tenho confiança nas suas capacidades, justificada por anos a usar transportes públicos sem acidentes. Como Aleixo apontou, é isso que falta ao crente.

A inutilidade de Deus salta à vista no sofrimento absurdo. Na morte de crianças, por exemplo. A resposta de muitos crentes é, como invoca Miguel Panão, «Onde está Deus diante de uma doença injusta ou catástrofe natural? Já escrevi algo sobre isso, mas o P. Tiago foi excelente na resposta. Está na vítima. Naquele que sofre e morre com essa pessoa. Queres ver o rosto de Deus, olha para a criança com cancro e ama-a.»(2) A fasquia para a excelência de Deus parece estar cada vez mais baixa. Ninguém diria ser um bom médico aquele que, podendo curar a criança, ficava em vez disso a sofrer com ela enquanto a deixava morrer. Mas Deus é infinitamente poderoso e infinitamente bondoso sem fazer nada de jeito. Nem mesmo quando teria a obrigação moral de intervir. Panão fala da «força de um sentido e significado de Deus e da forma como interage com o mundo» mas não é claro que sentido e força isso pode ter se Deus nunca interage com coisa nenhuma, nem sequer quando devia fazê-lo.

Mas Panão aponta um factor importante para compreendermos a crença religiosa moderna, agora que é tão evidente que os deuses não servem para nada. «O Ludwig responde honestamente que não sabe e perante o cenário de estar dentro de um avião a cair opta por gritar de pânico. [Mas] de que serve um grito de pânico se não tem o objectivo de se dirigir a Alguém de quem se sente tão longe que só com um grito “espera” fazer-se ouvir?» Realmente, pode parecer estranho tanta gente se dirigir a Deus quando o efeito é nulo. Mas não é tão estranho se considerarmos que pedir coisas é o que aprendemos primeiro. Antes de uma criança conseguir cuidar de si já sabe pedir para que cuidem dela. E cuidam. Nisto, a nossa espécie é bastante diferente do resto dos animais. Pedir para que nos ajudem funciona muitas vezes e passamos os primeiros anos da nossa vida praticamente sem fazer outra coisa. É por isso que é tão importante incutir a crença religiosa nessa fase da vida. Enquanto faz sentido. Se esperarem que o futuro crente cresça, comece a cuidar de outros, a trabalhar e a tratar da sua vida, e só depois lhe falarem de Deus, irá logo perguntar-lhes para que é que isso serve. E concluir que não serve para nada.

Ter esperança sem Deus é como ter prendas sem o Pai Natal. É o que acontece a todos, mesmo a quem acredita no contrário. E não há mal nenhum em acreditar. Desde que se lembrem que as rabanadas não se fritam sozinhas. Ao contrário do que afirmou Veloso, a desgraça não vem quando temos confiança nas nossas capacidades. Vem quando, em vez disso, confiamos nas nossas fantasias.

Boa jantarada a todos, e a ver se o Pai Natal me traz um pouco mais de tempo para o blog daqui em diante. Tenho esperança.

1- A gravação está disponível No site da RTP-1, Agora Nós (V) 13 Out, 2017. O segmento começa por volta do minuto 40.
2- Miguel Panão, Há esperança sem Deus?

32 comentários:

  1. Acho incrível que ateus encontrem interesse em questões que são não questões, como esta. Com ou sem Deus, exista ou não, a esperança não depende do problema da existência de Deus, podendo embora depender da crença em Deus, qualquer que seja, bíblico ou não.
    Mesmo assim, para o pecador, daqueles pecados de morte, a esperança não está em Deus, mas pode estar numa estratégia psicológica, por mais absurda que seja. Ter esperança não significa ter a solução de um problema.
    E, porque assim é, com ou sem Deus, o importante é ter esperança, mas a esperança, é o quê? O salvo conduto para o paraíso das maldivas?
    Ou o que nos livra do inferno? A esperança em Deus é a "certeza" de que a promessa de Deus, tal como os livros sagrados e a igreja asseveram, se vai cumprir. O reino de Deus é feito de promessas, mas de promessas garantidas. Não garantidas ao ponto de as termos por certas, apenas de as termos dependentes do cumprimento de um conjunto de obrigações.
    Tudo isto não tem nada a ver com Deus existir ou não, mas se retirarmos esta dinâmica do contexto religioso de Deus e das igrejas, a esperança fica reduzida a um conjunto de incertezas muito mais desconfortável e, para existir, fica dependente de um conjunto de variáveis que, em última análise, não se verificam. O mesmo é dizer que não há esperança sem Deus.

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  2. Ludwig,

    Gosto, e sei que muitos portugueses, tal como eu adoram provérbios.
    Deixo dois para o pessoal pensar:
    1) Deus ajuda a quem se ajuda a si mesmo.
    2) Fia-te na Virgem e não corras, e verás o tombo que dás.

    Continuação de boas festas e um ótimo 2018!
    Abraço.

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  3. Permita-me duas observações sinceras, de quem se interessa pelo tema, que tem poucas certezas e que gosta de aprender com o diálogo.
    1-Diz que “Deus é infinitamente poderoso e infinitamente bondoso sem fazer nada de jeito” porque permite, por exemplo, o sofrimento das crianças. Porquê cingir a área de ação de Deus a esse caso específico? Porque não ir mais além e dizer que a obrigação moral divina, para que faça algo de jeito, é que não permita nenhum e qualquer tipo de sofrimento? Bem vistas as coisas se ele pode, porque não o faz? Numa perspetiva de ação total de Deus, omnipresente em todas as vidas, quer uma pessoa queira, quer não, a existência humana ficaria reduzida a duas características: o imobilismo e a falta de liberdade. De resto, dizer que Deus não existe porque uma criança sofre infere que alguém possa dizer que Deus existe porque uma criança é feliz ou se salva de qualquer situação complicada.
    2-Fala da experiência no plural, como por exemplo quando diz que “São os nossos poderes e a nossa compreensão da electricidade estática e da condutividade dos metais que previne essas tragédias”. Não me parece que sejam os “nossos” poderes. Eu não os tenho. Sei pouco de eletricidade, tal como a minha companheira sabe pouco acerca de como funciona um motor de combustão interna. Se ela ficar parada sozinha numa estrada deserta porque o cachimbo de uma vela se soltou, a esperança de que existe alguém que saberá arranjar na cidade mais próxima a 500 quilómetros pouco lhe valerá. O “nós” não se aplica neste caso, tal como não se aplica, parece-me, à experiência religiosa e à maioria dos momentos mentais de cada um. E é isso que estranho no seu texto, esse desconhecimento absoluto da natureza desse tipo de fé em Deus.

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  4. fh imagine o contrário,um mundo em q os bons e as crianças estão sempre protegidos. Eles podiam saltar de um 10º andar q não lhes acontecia nada.Por alguma razão Deus nos deu livre arbítrio,senão serámos robots

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  6. DEUS E O MAL, A EVOLUÇÃO E A CONDENAÇÃO DO MAL

    A Bíblia é bem clara. Deus criou um Universo perfeito e dotou o homem e a mulher de liberdade de escolha moral.

    Adão e Eva escolheram a desobediência e Deus amaldiçoou a sua criação. Desde então, a corrupção, as mutações genéticas, as doenças, o sofrimento e a morte. O que nós vemos na natureza não é evidência de evolução, mas sim de corrupção.

    A Bíblia explica porque é que o cérebro humano, de um ser criado à imagem e semelhança de um Deus racional, é a máquina dotada da maior complexidade miniaturizada e sincronizada do Universo.

    Mas também explica porque é que o corpo humano está a acumular mutações deletérias de geração em geração, aumentando a possibilidade de toda a espécie de doenças e cancros.


    Só existe mal se existir um padrão objetivo, universal e intemporal de bem. E só existe um padrão objetivo, universal e intemporal de bem se existir um Deus real, omnipresente, eterno e bom.

    Se existir um Deus real, omnipresente, eterno e bom, então o afastamento de Deus por parte do ser humano é a origem do mal. Este define-se pelo distanciamento relativamente a Deus.

    O mal existe porque ao ser humano foi dada a possibilidade de livremente decidir ser amigo de Deus ou não ser. O mal na natureza existe porque Deus a sujeitou à maldição.

    Se Deus é bom, ele também é justo. Se Deus é justo, ele também é bom. Se Deus é justo e bom, ele vai punir a violação da lei moral.
    Se Deus é bom, ele vai dar ao ser humano hipóteses de arrependimento, contrição, perdão e reconciliação.

    Na morte e na ressurreição de Cristo, um Deus eterno, o pecado é eternamente castigado, ao passo que os seres humanos que nele creem são eternamente perdoados.

    Jesus Cristo não é uma figura mitológica. Ele nasceu e viveu em Israel e foi a figura mais influente na história universal. Através da sua ressurreição, historicamente validada por muitos testemunhos independentes e detalhados, podemos ter esperança na vida eterna com Deus.

    A Bíblia diz que Deus é justo e bom, fornecendo um padrão universal e eterno de moralidade. Ele pune o pecado mas quer salvar o pecador, assumindo Ele mesmo a punição pelo pecado.

    Curiosamente, aqueles que se revoltam com a suposta “maldade e violência” de Deus são em muitos casos os mesmos recusam uma criação racional, metódica e não violenta, como a descrita na Bíblia, e que dizem que o ser humano é o produto de milhões de anos de processos irracionais e aleatórios e de crueldade predatória, seleção natural, sobrevivência do mais apto, derramamento de sangue, doenças, sofrimento e morte, ao mesmo tempo que afirmam que toda a moral é subjetiva, não existindo um padrão objetivo de bem e de mal.

    Se a sua visão das coisas for correta, com que base ontológica e lógica é que podem dizer que a violência é moralmente errada e que Deus é imoral por alegadamente ser violento? Qual é o padrão? Quem o estabelece? Com que autoridade?

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  7. «A Bíblia é bem clara. Deus criou um Universo perfeito e dotou o homem e a mulher de liberdade de escolha moral.

    Adão e Eva escolheram a desobediência e Deus amaldiçoou a sua criação.»

    Um pai de duas crianças pequenas deu um chocolate a uma e disse-lhe “podes dar metade ao teu irmão ou podes ser egoísta e comer o chocolate todo; és inteiramente livre de decidir por ti”. A criança comeu o chocolate todo e, por isso, o pai espancou-a, abandonou-a na rua e nunca mais lhe falou.

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    1. "Há muito tempo Deus falou muitas vezes e de várias maneiras aos nossos antepassados por meio dos profetas,mas nestes últimos dias falou-nos por meio do Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas e por meio de quem fez o universo."

      Hebreus 1:1-2

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    2. Acho que o criacionismo não entendeu a analogia e interpretou demasiado à letra...

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  8. Ludwig: "Mas Deus é infinitamente poderoso e infinitamente bondoso sem fazer nada de jeito. Nem mesmo quando teria a obrigação moral de intervir."

    Bíblia: "Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigénito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna."

    João 3:16

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  9. Sem dúvida que a Bíblia está certa, porque a Bíblia diz que está certa!

    Ainda assim, as pérolas da idade do bronze, estão por todo o lado:

    «Se tomar outra mulher, não diminuirá nada à primeira, quanto à alimentação, aos vestidos e ao direito conjugal.
    Se lhe recusar uma destas três coisas, ela poderá partir livre, gratuitamente, sem pagar nada.»
    Êxodo 21:10,11

    «Se, apesar disso,não me ouvirdes, e me resistirdes ainda,
    marcharei contra vós em meu furor e vos castigarei sete vezes mais, por causa dos vossos pecados.
    Comereis a carne de vossos filhos e de vossas filhas.»
    Levítico 26:27-29

    «Se dois homens estiverem em disputa, e a mulher de um vier em socorro de seu marido para livrá-lo do seu assaltante e pegar este pelas partes vergonhosas,
    cortarás a mão dessa mulher, sem compaixão alguma
    Deuteronômio 25:11,12»

    «Filho do homem, falou-me, come o rolo que aqui está, e, em seguida, vai falar à casa de Israel.
    Abri a boca, e ele mo fez engolir.»
    Ezequiel 3:1,2

    Nada mal!

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    1. A lei de Moisés foi dada por Deus a um povo que, desafiando o poder absoluto do Faraó, ia deixar o Egipto à pressa.

      Os judeus teriam agora que viver como nómadas no deserto, sem ASAE, comissão de proteção de menores, segurança social, polícias ou juízes, sem cartórios notariais, conservatórias de registo civil ou comercial, etc.

      O direito teria que regular a vida de pessoas que tinham que viver todas as horas do dia umas com as outras no terreno ou em tendas, sem qualquer privacidade.

      Os méritos do direito medem-se pela sua habilidade de garantir a convivência pacífica dos seus membros da comunidade e a sua continuidade e prosperidade.

      Vistas assim as coisas, os judeus devem muito à lei de Moisés.

      Moisés ditou as normas de que o povo iria necessitar e que lançaram as bases da sua preservação ao longo dos milénios.

      Israel permaneceu, resistindo às maiores adversidades e sobrevivendo aos grandes impérios que caíram una atrás dos outros.

      3500 anos depois de Moisés Israel continua a existir, falando a mesma língua que Moisés falava e sendo uma potencia política, económica, social, cultural, científica e tecnológica e, acima de tudo, controlando Jerusalém, a sua capital.

      Moisés foi o simplesmente o legislador mais sólido de toda a história universal.

      Nada mal, para umas "pérolas da idade do bronze".

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    2. «A lei de Moisés foi dada por Deus a um povo que, desafiando o poder absoluto do Faraó, ia deixar o Egipto à pressa.»
      Não há evidência de tal ocorrência. Deve ser coisa de liberdade "poética".~~

      «Moisés foi o simplesmente o legislador mais sólido de toda a história universal.»
      A maior parte das leis de Moisés, incluindo a famosa lei do "olho por olho", foi baseada nas leis dos povos vizinhos mais avançados, como a Babilónia e o Egito. Aliás, mesmo os conceitos religiosos são importados: conceito de vida após a morte, julgamento final, anjos, demónios, até o conceito de monoteísmo e circuncisão! Nada há de novo na religião de Moisés que não existisse antes nos vizinhos.

      Por isso, muito bem copiado, para a idade do bronze.
      Pena é que ainda existam tantos que ficaram lá parados, enquanto o mundo evoluiu.

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  10. A evidência arqueológica do Êxodo tem vindo a avolumar-se nas últimas décadas e está hoje amplamente acessível. Os livros de Génesis mostram um conhecimento, da língua, da cultura, da fauna e da flora do Egipto e de costumes antigos que têm levado mesmo os mais céticos a mudar a sua opinião.

    As civilizações da Babilónia e do Egipto há muito que se esboroaram, diferentemente do que sucedeu com Israel, que subsiste até hoje.

    A diferença está no facto de que Moisés, ao contrário do que sucede com o código de Hamurabi ou com o Direito Romano, chama a atenção para um aspecto que os outros códigos ignoraram: a importância da relação com Deus, o Criador, que se manifesta na história de Israel, e da confiança nas suas promessas.

    A existência de conceitos morais, culturais e de justiça natural, mais perfeitos ou mais corrompidos, comuns a todas as culturas e nações é simples de explicar à luz da Bíblia: todos somos criados à imagem e semelhança de Deus e todos fomos contaminados pela Queda.

    Além disso, todos somos descendentes de Noé e sua família, os sobreviventes do dilúvio global.

    Daí que muitos dos conceitos recebidos pelos patriarcas antes do dilúvio tenham sido mais ou menos assimilados por todas as culturas depois da dispersão pós-diluviana, ainda que sujeitos à corrupção.

    Quanto à evolução posterior do mundo, ela mostra simplesmente como as promessas que Deus fez a Israel eram mesmo para cumprir.

    Não que isso fosse fácil e linear, como se viu recentemente com a reacção causada em todo o mundo pela decisão americana de reconhecer Jerusalém como capital de Israel.

    Mas a verdade é que também essa reacção só poderia surpreender que não estuda a Bíblia:

    "E acontecerá naquele dia que farei de Jerusalém uma pedra pesada para todos os povos; todos os que a carregarem certamente serão despedaçados; e ajuntar-se-á contra ela todo o povo da terra."
    Zacarias 12:3

    É exactamente isso que se passa hoje.

    Os "copistas" da idade do bronze parece que advinhavam...

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    1. «A evidência arqueológica do Êxodo tem vindo a avolumar-se nas últimas décadas e está hoje amplamente acessível.»

      Lamento, mas tal simplemente não é verdade. Por exempo a página do wikipédia diz mesmo "The exodus narrative is not history in the modern sense, (no archeological evidence has been found to support the historical accuracy of the biblical story) but rather a demonstration of God's acts in history through Israel's bondage, salvation and covenant."
      Outros dizem que é uma pergunta errada, ou "loaded question", porque implica um evento tal como é descrito, o que pode não ser correto.
      Assim, e até que as "provas" sejam tidas como tal, a resposta correta é: não sabemos se aconteceu, ou pelo menos não da forma que é descrita no Êxodo. Embora, mantenha que o mais certo é não ter ocorrido, de todo! Fico à espera da "arma do crime".

      «Daí que muitos dos conceitos recebidos pelos patriarcas antes do dilúvio tenham sido mais ou menos assimilados por todas as culturas depois da dispersão pós-diluviana, ainda que sujeitos à corrupção.»
      Novamente errado. Há motivos mais do que suficientes para considerar que a religião hebraica tenha sido baseada nas outras culturas, mais fortes em termos militares e culturais.
      E mais uma coisa: não existem evidências de dilúvio, logo o conceito de patriarcas antes do dilúvio é uma ilusão.

      «As civilizações da Babilónia e do Egipto há muito que se esboroaram, diferentemente do que sucedeu com Israel, que subsiste até hoje.»
      Sim e não. Israel só é estado desde o final da segunda guerra mundial. A respetiva cultura já nada tem a ver com a do tempo de Jesus. Na verdade, já nessa altura, nada tinha a ver com a cultura do tempo de Moisés ou de David. Basta ver que a evolução que a língua tomou ao longo dos tempos.
      Creio que precisa de se informar melhor sobre este assunto.

      «Quanto à evolução posterior do mundo, ela mostra simplesmente como as promessas que Deus fez a Israel eram mesmo para cumprir.»
      A sério?!? Ainda bem que eles não tiveram de comer as próprias crianças...

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    2. Já agora, a opinião no Quora sobre David Rohks (o homem que apresenta o vídeo que partilhou), não parece ser muito favorável...

      É claro que vale o que vale, mas uma vez que eu não sou nem quero pretender ser especialista no assunto, sigo-me por quem sabe mais.

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    3. Hoje começa a existir a ideia de que as cronologias egípcias tradicionais se baseavam numa análise errada da evidência. Pensava-se que o Êxodo teria ocorrido na 19ª dinastia de Faraós e, de facto, não se encontrava evidência nenhuma.

      No entanto, se corrigirmos o erro de cronologia e datarmos o Êxodo no fim da 13º dinastia, então encontramos padrões de evidência que encaixam perfeitamente (e espantosamente) no relato Bíblico.

      Quem quiser examinar a a evidência cronológica e arqueológica disponível pode fazê-lo e decidir por si próprio.

      Dizer que não existem evidências de um dilúvio global recente é um pouco estranho, se pensarmos que 2/3 da superfície da Terra estão cobertos de água e 1/3 da mesma está coberta de camadas de rochas sedimentares depositadas por água (muitas vezes de dimensão intercontinental) com triliões de fósseis de seres vivos abruptamente sepultados por sedimentos, incluindo fósseis muito bem preservados de dinossauros, já para não falar de outros exemplares surpreendentes e talvez bizarros, em fase de análise.

      Se um dilúgio global recente realmente aconteceu, que outras evidências deveríamos esperar encontrar?

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    4. No entanto, se corrigirmos o erro de cronologia e datarmos o Êxodo no fim da 13º dinastia, então encontramos padrões de evidência que encaixam perfeitamente (e espantosamente) no relato Bíblico.
      E porque a 13ª dinastia e não outra? Onde estão as provas para usar uma hipótese e descartar a outra? Parece-me um caso de "texas sharpshooter", ou se preferir ajuste de "factos" para justificar a hipótese...
      Apresentar vídeos que suportam a sua ideia é mais um caso de "cherry picking". Vale o que vale, e parece-me muito pouco.

      «Dizer que não existem evidências de um dilúvio global recente é um pouco estranho, se pensarmos que 2/3 da superfície da Terra estão cobertos de água e 1/3 da mesma está coberta de camadas de rochas sedimentares depositadas por água»
      E em que medida isso prova que existiu um dilúvio? Mesmo a ideia dos fósseis, em nada provam um dilúvio global! No máximo podem justificar uma inundação local, e isso sabemos que ocorreu várias vezes, em vários locais ao longo das várias eras geológicas. Mas não há evidências, de um único evento global dessa natureza.

      «Se um dilúgio global recente realmente aconteceu, que outras evidências deveríamos esperar encontrar?»
      Esta é fácil: bastava encontrar sedimentos, nas mesmas camadas, a corresponder à mesma era, em todo o mundo! É o que por exemplo acontece com a chamada fronteira K-T, que separa o Cretáceo do Paleogeno.

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  11. Quanto ao Hebraico, lingua extremamente rica e surpreendente que vale a pena aprender, também aqui a evidência mais recente confirma os livros de Génesis e Êxodo, reforçando claramente os padrões de evidência existentes e que mostram que a historiografia tradicional tem que ser totalmente revista.

    Felizmente que a internet permite um rápido acesso à evidência por aqueles que querem realmente aprender.

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    1. As línguas, a menos que deixem de ter pessoas que as utilizem, não são entidades estáticas. Evoluem. Em nada do que indica contraria a ideia de que um israelita moderno, seria essencialmente um estranho para um israelita do tempo de Moisés, ou do tempo da Babiblónia ou do tempo de Jesus.

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  12. António Carvalho: "A sério?!? Ainda bem que eles não tiveram de comer as próprias crianças..."

    Infelimente não foi bem assim. Na realidade, essa profecia cumprir-se várias vezes.

    A primeira foi no cerco de Samaria pelos Sírios, tal como descrito em II Reis 6:28-29.

    A segunda ocorreu no cerco de Jerusalém pelos Babilónios, tal como referindo em Lamentações 4:10 e Jeremias

    O mesmo aconteceu, numa outra vez, no cerco de Jerusalém por Tito, tendo chegado até nós o relato de uma mulher chamada Maria que matou seu filho e ferveu durante o auge da fome.

    Depois de ter comido parte dele, os soldados romanos encontraram o resto na sua casa.

    Infelizmente foi uma situação que Israel experimentou várias vezes, já que o cerco prolongado (até à privação de alimentos) era uma estratégia militar muito usada na antiguidade.

    Na verdade, D. Afonso Henriques e os cruzados europeus usaram a mesma táctica no cerco de Lisboa em 1147, na altura da II Cruzada.

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    1. Absolutamente irrelevante para o caso.
      Os textos religosos só têm "profecias" que foram escritas depois dos eventos acontecerem. Isso é reconhecido por todos os estudiosos, em especial, dos escritos judaicos e cristãos.

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    2. E já agora, se o tal deus deixou que acontecesse desgraças ao seu povo favorito, se tinha o poder de o impedir e nada fez, é mau! Se decidiu não o fazer podendo, é imoral. De qualquer forma, não merece crédito, tal como diz o paradoxo de Epícuro.

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    3. As profecias Bíblicas foram escritas antes dos eventos acontecerem. Por exemplo, a vida do Messias, o seu nascimento em Belém, a sua morte e ressurreição foram claramente preditas, como qualquer pessoa que lê a Bíblia com atenção imediatamente compreende.

      Basta ler

      Isaías 53 com atenção, escrito no século VIII antes de Cristo, para se ver que o texto assenta ao detalhe na vida, morte e ressurreição de Jesus. Não é por acaso que ele continua a ser desconhecido por muitos judeus até aos nossos dias

      Quanto à segunda questão, Deus tinha efectivamente o poder de impedir que o mal se abatesse sobre Israel. Ele podia não criar o mundo, criar o mundo sem o homem ou criar o homem sem liberdade moral.

      Deus criou-nos livres e responsáveis. Quando agimos mal e sofremos as consequências, a responsabilidade é nossa. O povo de Israel teria evitado muitos problemas se tivesse sido fiel a Deus, o mesmo acontecendo com a humanidade.

      Se fazemos mal, não podemos queixar-nos a Deus das consequências dos nossos atos.

      Um condutor alcoólico não se pode queixar se tem um acidente de viação. Um homicida não se pode queixar se o Estado o condena a uma pena de prisão.

      Quanto a isso, a Bíblia é bem clara:

      "De que se queixa, pois, o homem vivente? Queixe-se cada um dos seus pecados."

      Lamentações, 3:9.

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  13. «Isaías 53 com atenção, escrito no século VIII antes de Cristo, para se ver que o texto assenta ao detalhe na vida, morte e ressurreição de Jesus. Não é por acaso que ele continua a ser desconhecido por muitos judeus até aos nossos dias »

    Muito boa escolha!
    Aliás, a página do wikipédia, não deixa dúvidas, parte é do séc. VIII AEC, parte do séc. VI AEC e outra parte, depois do regresso da Babilónia. No mínimo, dizer que é todo anterior às profecias que lá aparecem, é enganador!

    Depois, há o problema das profecias relacionadas com o messias. Um erro foi introduzido aquando da produção da chamada Bíblia dos setenta, e que muito mais tarde foi corrigido, mas apenas na versão judaica. As versões cristãs mantêm o erro. A coisa é de tal maneira, que até o evanglista Mateus copiou o erro para o seu próprio evangelho. Caso não saiba do que falo, estou a referir-me a Isaias 7,14 e Mateus 1,23.

    É um bom exemplo de várias coisas: erros mantidos porque dão jeito (e assim não temos de corrigir a teologia), má fé, e finalmente, pura mentira!

    Assim, Isaías, é sem dúvida um bom mau exemplo!


    «Deus criou-nos livres e responsáveis.»
    A sério que perante o problema do mal, é essa a argumentação?
    Então e que dizer do mal natural, por exemplo, porque deixou que tanta gente morresse do dia 26 de dezembro de 2004 - 230 mil pessoas em 14 países. Porquê? Se tem poder e não o usa é porque é perverso; se não tem poder, para que serve?
    Muito mau!

    Depois há ainda a própria maldade que está descrita na Bíblia. Porque tantos mortos?

    Tudo leva a crer que adora um deus mau e perverso. Se existisse, teria de responder perante a justiça!

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  14. Nada como a capacidade de nos rirmos de coisas importantes...

    Bible Interpretation: Upside Down

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    2. DEUS, AS NORMAS MORAIS E AS CONSEQUÊNCIAS DA SUA VIOLAÇÃO

      A Bíblia é clara. Deus criou o Universo de forma ordenada, sistemática e racional, sem morte e sofrimento. E criou o homem livre e responsável, tendo-lhe dito que no dia em que pecasse começaria a morrer.

      O ser humano pecou e a morte e a maldição entraram no mundo, afetando toda a natureza criada, tal como Deus havia determinado.

      A Bíblia, sendo um livro de verdade e realidade, limita-se a narrar a maldade que o homem causou desde então e o modo como Deus reage ao pecado humano.

      É interessante notar que, logo que pecou, imediatamente Adão culpou Eva e Deus pelas suas próprias escolhas, coisa que desde então o ser humano nunca se cansou de fazer.

      Ele gosta de ter liberdade para recusar Deus e as suas normas morais, embora quando as consequências dos seus atos são más, ele então opta por culpar Deus.

      Todos os dias vemos os seres humanos a tentarem passar para outros as suas próprias responsabilidades.

      Neste ponto, a posição dos ateus é particularmente interessante porque triplamente contraditória.

      Por um lado, os ateus dizem que não acreditam em Deus, embora isso não encerre a de modo algum a questão.

      É que, por outro lado, eles passam a sua vida a responsabilizar Deus por todas as condutas e consequências da maldade humana.

      Ao mesmo tempo, ao negarem a existência de Deus reconhecem que o ser humano é afinal o causador de toda a maldade e das suas consequências.

      No entanto, na medida em que os ateus acreditam que o ser humano foi o resultado de um processo aleatório, irracional e amoral de milhões de anos de predação, crueldade, sofrimento e morte, eles não dispõem de um padrão objetivo de moralidade para fundamentar a maldade e imoralidade da conduta humana.

      Meteram-se num labirinto do qual não conseguem sair.

      Importa sublinhar que o que o simples facto de alguém dizer que Deus é imoral e injusto é um exercício inútil porque auto-refutante.

      Só pode dizer isso quem acredita na existência de um padrão eterno e universal de moralidade e justiça, aplicável a Deus.

      Ora, Deus é o único cuja natureza pode ser esse padrão eterno e universal de moralidade e justiça e o único com autoridade para sancionar ou perdoar a violação desse padrão.

      É isso mesmo que a Bíblia, um conjunto de 66 livros escritos ao longo de cerca de 2000 anos, consistentemente ensina.

      Mas ela ensina ainda que Deus é amor, no sentido de que, tendo criado os seres humanos livres e responsáveis, ainda assim levou sobre si o castigo devido pelos nossos pecados e venceu a morte e a maldição através da vida, morte e ressurreição de Jesus Cristo, por sinal o evento mais marcante e influente da história universal.

      Através de Jesus, podemos ter vida e eterna com Deus mesmo sem realmente o merecermos.

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    3. «A Bíblia é clara. Deus criou o Universo de forma ordenada, sistemática e racional, sem morte e sofrimento.»

      Além da Bíblia, que outras fontes temos que possam sugerir tal facto?

      «A Bíblia, sendo um livro de verdade e realidade, limita-se a narrar a maldade que o homem causou desde então e o modo como Deus reage ao pecado humano.»

      Eu não concordo. Contém muitas situações de pura maldade divina. Já dei antes exemplos, mas há muitos mais!

      «É que, por outro lado, eles [os ateus] passam a sua vida a responsabilizar Deus por todas as condutas e consequências da maldade humana.»

      É muito estranha esta afirmação e revela uma ignorância exemplar. Se um ateu não acredita, como é que vai culpar algo na qual não acredita?!? Isso é ridículo.

      «Ao mesmo tempo, ao negarem a existência de Deus reconhecem que o ser humano é afinal o causador de toda a maldade e das suas consequências.»

      Claro que sim. Quem mais haveria de ser? Não é de certeza qualquer um dos seres imaginários das várias religiões... Assim, e por exclusão de partes, só sobra o que existe, isto é, os seres humanos.

      «[...]os ateus acreditam que o ser humano foi o resultado de um processo aleatório[...]»

      Falácia de homem de palha! Os ateus, por definição, não acreditam no que quer que seja. No entanto, aceitam a melhor explicação que a ciência tem para oferecer, que ainda assim, não diz tal coisa. Lá porque no processo existam ocorrências aleatórias, o processo evolutivo é tudo menos aleatório. Tem de rever os seus conhecimentos sobre o assunto.

      «Importa sublinhar que o que o simples facto de alguém dizer que Deus é imoral e injusto é um exercício inútil porque auto-refutante.»

      Porquê? Só porque sim? Devo acreditar na sua palavra?

      «Ora, Deus é o único cuja natureza pode ser esse padrão eterno e universal de moralidade e justiça e o único com autoridade para sancionar ou perdoar a violação desse padrão.»

      Quem diz que esse padrão existe? A moralidade tem evoluído ao longo dos tempos. Há muitas coisas, que actualmente não são morais, mas eram-no na antiguidade. Onde está a prova do que diz? Desafio-o a apresentar provas fora da Bíblia.

      «É isso mesmo que a Bíblia, um conjunto de 66 livros escritos ao longo de cerca de 2000 anos, consistentemente ensina.»

      Tal como se pode ver no wikipédia (por exemplo), a Bíblia na melhor das hipóteses foi escrita ao longo de cerca de 1000 anos, e na pior ao longo de cerca 300 anos (incluindo o novo testamento). Muito longe dos 2000 anos em qualquer caso. De qualquer forma, velha e caduca, sem utilidade para o mundo moderno (mas essa, é só a minha opinião).

      «Através de Jesus, podemos ter vida e eterna com Deus mesmo sem realmente o merecermos.»

      Isto leva aquela velha questão: se um fulano, que é do piorio, um crápula execrável, mas que se arrepende mesmo antes de morrer, este artista, então vai ter direito à vida eterna, porque se arrependeu. Os crimes ficam impunes.

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  15. A fasquia de Deus é baixa ou será a tua visão que se tornou demasiado curta?

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    1. Miguel,

      A questão é dirigida a alguém em particular ou apenas um desabafo?

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  16. Eu era budista-ateista, isso me deu estabilidade física e mental, mas entrei num marasmo e numa depressão que só consigo sair quando sinto a presença de Deus através da oração, hoje sou deísta ou teísta (creio em Deus) amo oração, mas não desprezo a meditação, Buda significa iluminado, e é o que acontece quando se medita, e Cristo significa ungido ou abençoado, e é o que acontece quando se ora, ambos são importantes, mas não consigo ficar sem acreditar em Deus, nem meditando, nem orando, que Deus seja minha meditação e oração, Deus abençoe vocês!

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