Treta da semana (atrasada): Sexualização.
Silvana Lima é a melhor surfista do Brasil e foi duas vezes vice-campeã do mundo. Apesar disso, como não é “bonitinha”, não consegue patrocínios (1). A sexualização feminina é muito comum. Enfatiza-se atributos que estimulam a atracção sexual no sexo oposto e usa-se esses atributos para avaliar as mulheres. As mini-saias das jogadoras de ténis, as poses sugestivas das raparigas nos anúncios e a atenção dispensada à roupa da ministra ilustram esta prática que muitos dizem ser machista. Ironicamente, o machismo está no diagnóstico.
A atracção sexual é um impulso irracional que nos chega, como muitos impulsos, pela eliminação gradual das linhagens com menos descendentes. A selecção natural. E o factor mais importante no sucesso reprodutivo de um homem é o acesso sexual exclusivo a mulheres férteis. Todos os outros factores só serão relevantes se o homem ultrapassar este primeiro obstáculo. Por isso, a atracção sexual masculina orienta-se por critérios relativamente simples. Por um lado, o aspecto físico da mulher, que permitia, até à cosmética moderna, avaliar a sua idade e fertilidade. Por outro lado, atributos e circunstâncias que maximizem a sua fidelidade sexual. Este aspecto é menos óbvio mas crucial na diferença entre o mero estímulo sexual e a atracção sexual. É a diferença entre ver pornografia e ficar apaixonado. Até recentemente, o homem só podia confiar que os filhos eram seus se garantisse que a mulher não tinha relações sexuais com outros homens. E isso é mais fácil se a mulher for dependente do homem, se for sua subordinada, precisar da sua protecção e essas coisas que inspiram tantos romances baratos.
Antecipando os comentários indignados, devo frisar que estes impulsos não são boa receita para uma vida feliz. Mas a evolução rege-se por uma álgebra simples: os nossos antepassados foram tendencialmente os que mais sucesso reprodutivo tiveram e nenhum dos nossos antepassados falhou na tarefa de se reproduzir. A felicidade, a realização pessoal e o prazer de uma relação duradoura entre iguais nunca entraram nessa equação. Não recomendo que se guiem por estes critérios mas é importante perceber a origem destes impulsos para compreender a sexualização das mulheres e por que Lima, apesar de ser campeã (ou por causa disso), é sexualmente menos atraente do que uma rapariga “bonitinha” que não faça nada de jeito.
Mas esta parte é trivial. Toda a gente sabe o que os homens procuram quando pensam com a extremidade errada. O que falta é fazer o mesmo exercício da perspectiva das mulheres. Constituem metade dos nossos antepassados e os seus critérios de selecção sexual foram tão importantes como os dos homens. Mas são diferentes. O acesso sexual exclusivo a homens férteis e jovens não contribui para o sucesso reprodutivo da mulher. Espermatozóides há muitos. O que a mulher tem de optimizar é o retorno do investimento, e custos de oportunidade, de nove meses de gravidez e uns anos de amamentação. Para isso, tem de obter os recursos necessários para criar os filhos e maximizar as vantagens que os seus filhos terão para sobreviver e reproduzir-se. Começando pelos genes do pai, que convém serem jeitosos. Isto exige avaliar o seu aspecto, da largura dos ombros à firmeza dos glúteos e simetria facial, mas também outros atributos. Destreza, sentido de humor, personalidade, capacidade de expressão e imensas coisas. Procurar um parceiro com genes bons é uma tarefa mais complexa do que procurar uma parceira jovem e fértil.
Além disso, os filhos também herdam os recursos e o estatuto dos pais. É isto que motiva os homens a investir nos filhos que julgam serem seus mas, como o sucesso reprodutivo dos homens é dominado pela necessidade de garantir o acesso sexual exclusivo a uma mulher fértil, tudo o resto fica em segundo plano nos seus impulsos de atracção sexual. A mulher, tendo pouco a ganhar em aturar vários homens e mais vantagem em convencer um a investir nos filhos dela, está sob pressão para encontrar o melhor*. Ele pesca à rede; ela com o arpão.
Por isso é que se vende cerveja com jovens bonitas de biquíni mas não se vende cápsulas de café com homens de cuecas. Para o café é preciso um George Clooney. Não é novo mas tem bons genes, estatuto e recursos. Considerando os critérios de atracção sexual das mulheres, percebe-se como toda a carreira do George Clooney contribuiu para o sexualizar. Os papeis de galã ou herói, a fama, os prémios, o dinheiro que ganhou, tudo isso acresce à sexualidade considerável dos seus genes e torna-o, enfim, num George Clooney.
O azar da Silvana Lima não foi as mulheres serem sexualizadas no desporto. São, mas, no desporto, os homens são-no ainda mais. A competição desportiva é toda ela um exercício de sexualização masculina. Competem para ver quem é melhor, mais rápido ou mais forte. Os vencedores ganham fama, fortuna e, naturalmente, por muito feios que sejam, namoradas lindíssimas. Para grande inveja dos outros homens, tão obcecados pelo desporto como as mulheres pela moda e cosmética. E exactamente pelas mesmas razões: as preferências sexuais do sexo oposto. O azar de Lima foi ser excelente em algo que sexualiza os homens.
A sexualização é ubíqua. É motor da moda, da publicidade, do desporto, do cinema, e até do capitalismo. O que leva tantos homens a dedicar tanto da sua vida a lutar por mais dinheiro do que conseguem gastar é evidente quando se vê as mulheres que casaram com o Donald Trump. A treta é ver a atracção sexual apenas da perspectiva masculina e julgar que só as mulheres são sexualizadas. As preferências sexuais das mulheres também contam e, para bem ou para mal, determinam muito do comportamento dos homens e do valor que a sociedade lhes atribui.
* Pode ir buscar bons genes a um lado e recursos e estatuto a outro. É uma estratégia mais comum do que muitos homens julgam. Mas tem riscos, porque essa opção também criou uma pressão selectiva nos homens para reagirem violentamente a essas situações. Por isso, em geral, a melhor estratégia reprodutiva para as mulheres tende a ser ter todos os filhos do mesmo pai.
1- DN, Melhor surfista do Brasil não arranja patrocínio: "Não sou bonitinha"
Texto profundo. Quantas inanidades se escrevem diáriamente sobre aquilo que ninguém define : o amor,ou assim chamado !
ResponderEliminar"O azar de Lima foi ser excelente em algo que sexualiza os homens." Não é bem isso, porque ela fosse "excelente E bonita", já não havia azar, e recebia o tal dinheiro dos patrocínios. Portanto o azar dela foi "ser feia". E quando "ser feia" é um azar, está aí o problema (que é um problema 'claramente' machista).
ResponderEliminarNão me parece que alguém negue que a sexualização seja parte incontornável do comportamento humano (mesmo que se possam ter visões diferentes sobre o que é natureza vs agência de uma pessoa), o problema é quando essa sexualização tem impactos discriminatórios e se baseia em pressupostos altamente discutíveis - como o de que não vale a pena patrocinar uma surfista que não é "bonita".
É interessante essa visão 'Freudiana' do desporto, mas há dimensões muito grandes de identificação cultural, territorial, da ligação do humano ao lúdico, etc, na nossa relação com o desporto - não é só sobre sexo (embora também desempenhe o seu papel, como em tudo na vida). Quando uma criança de 8 anos passa 6 horas por dia a brincar com uma bola, e adormece a olhar para os posters de jogadores de futebol, não está certamente a ser motivada pela eventualidade de sucesso que terá quando "for à pesca".
"Quando uma criança de 8 anos passa 6 horas por dia a brincar com uma bola, e adormece a olhar para os posters de jogadores de futebol, não está certamente a ser motivada pela eventualidade de sucesso que terá quando "for à pesca"."
EliminarPois não. Ela está programada para se interessar por brincar com uma bola e olhar para os posters de jogadores de futebol para, no futuro, vir a ter mais sucesso na pesca.
Quando um homem se sente atraído por uma mulher com uma relação anca/cintura "perfeita", também não está a pensar no quão boa parideira a mulher deve ser. Ele está programado para se sentir atraído pela mulher de relação anca/cintura "perfeita" porque ela será uma boa parideira.
A relação anca cintura é um ponto de atração sexual no meio de dezenas de outros. O que não quer dizer que os homens só desejem mulher com rácios anca cintura de 0.8.
EliminarA mesma coisa sobre desporto - não é uma actividade movida exclusivamente por motivações sexuais.
Mas se tiver fontes que comprovem essa visão reducionista do papel do desporto na sociedade, partilhe.
Será que o André percebeu o erro da sua frase que transcrevi e comentei?
EliminarDou-lhe mais um exemplo: Eu não gosto de bife porque o bife tem proteínas de que preciso para melhor desempenhar o meu objectivo de prolongar os meus genes (ir à pesca!), nem penso nisso quando como um. Eu gosto de bife porque estou programado para gostar de bife.
Porque é que estou programado para gostar de bife? Para melhor desempenhar a minha actividade pesqueira.
E agora o André tem a oportunidade de fingir que não percebe e de me colar a uma visão reducionista do papel do bife na sociedade.....
Quanto à visão reducionista do papel do desporto na sociedade, tenho de facto uma, e não é a que o André espera, embora vá dar exactamente ao mesmo (sexo!): O desporto é um substituto da caça. Só!
Não, não é. Continuo à espera dessas fontes. Até lá, também podes ler o Homo Ludens e entenderes as outras dimensões que o desporto tem na sociedade, por exemplo.
EliminarConsidera que é possível eu ler o Homo Ludens, concordar com tudo o que lá vier escrito, e ainda assim manter que o desporto é uma emulação da caça...
EliminarTambém posso afirmar que a comida serve apenas para manter a nossa máquina biológica a funcionar, apesar de toda a cultura de cozinha (depois de ler o Mastering the Art of French Cooking da Julia Child), ou posso manter que uma casa é uma emulação de uma caverna, mesmo depois de ler um livro sobre a obra de Frank Gehry....
O ir à génese da coisa não é uma negação da sofisticação multidimensional que a coisa sofreu.
Só queria chamar-te a atenção para o disparate que está na génese da tua frase que transcrevi, o que me parece ter ficado claro.
Não, não está, mas pronto, ficamos uns na génese (que para mim é onde está o disaparate quando se aplica a tentar explicar o comportamento de crianças, pessoas, o que seja) e os outros nas multidimensões.
Eliminar"Não, não está" é demasiado sofisticado para mim... só me ocorre responder "está, sim!".
EliminarAinda poderia perguntar-te porque é que basear uma explicação de um problema na génese do que suporta o problema será um disparate, mas temo ouvir uma resposta que me deixaria novamente fora de pé, multidimensionalmente falando, na vertical, horizontal e na profundidade...
Nada temas, então, deixa-te ficar pela génese.
EliminarLudwig,
ResponderEliminartens a desculpa de te teres metido num assunto que te escapa completamente, mas não podes escusar-te disso.
Fazer um cocktail com seleção natural, seleção artificial, cultura, marketing, mercado, dinheiro e modas e símbolos sexuais e estereótipos... é para qualquer um, basta querer e fazer, mas há cocktails e cocktails.
Mas, por muito "vistoso" e "convincente" que fosse um cocktail destes, a questão que eu colocaria é: o que pretendes com isto?
Pretendes explicar tudo?
Não explicas nada.
Carlos Soares,
Eliminarespero que isto, isto e isto possam ajudar nas tuas dúvidas.
Talvez isto e isto também ajude.
Muita massa muscular, pilosidade na face, queixo proeminente e voz grave são qualidades consideradas "sexy" ou atraentes num homem. Mas são numa mulher. São características consideradas masculinas.
Peito e ancas voluptuosos, olhos grandes, voz aguda e feições suaves ou delicadas numa mulher são consideradas qualidades "sexy" ou atraentes numa mulher. Mas não num homem. São características consideradas femininas.
Um homem a comer uma banana ou uma salsicha não é sexualmente atractivo, pelo menos para heterossexuais. Se uma mulher fizer isso, o resultado será diferente. Não sei se sabes porquê, mas não vou dar muita explicação em relação a isso...
O que massa muscular, barba, queixo proeminente, voz grave e até certas poses têm a ver com "selecção natural"?
Os aves macho costumam ter penas muito mais vistosas do que as fêmeas.
As aves fêmeas gostam de ver os machos a gastar tempo a dançar (como vão gastar tempo para cuidarem delas e das crias...), a fazerem jardins e a oferecerem pedras e outros materiais para os ninhos.
Com os mamíferos (incluíndo os humanos), é essencialmente o mesmo: os machos têm jubas, ou hastes maiores, ou um rabo ou o saco gular maiores e mais vermelhos, etc. Os machos lutam pelo sexo oposto e mais por território, e perdem tempo com o chamado "ritual de acasalamento".
Para mostrarem que são saudáveis, fortes e que vão ser bons pais, os machos também morrem mais cedo do que as femeas.
Com os animais aquáticos, geralmente, a femea expulsa óvulos, pisga-se, o macho fecunda-o e fica a cuidar dos ovos. Ou, como nos cavalos marinhos, o macho fica "grávido". Nesses casos, também é muito mais difícil distinguir um macho de uma femea, mesmo se tentares procurar pelos genitais. Por isso, se fossemos como eles, não haveria os problemas de imagens que o Ludwig expõe no seu "post".
Pedro Amaral Couto,
ResponderEliminarfizeste muito bem em dar esses esclarecimentos, porque eu não sabia que era assim, ou por outra, não imaginava sequer que alguém pudesse dizer coisas dessas sem ser para se divertir.
Carlos,
EliminarPermita sugerir-lhe um excelente livro para este verão: A rainha de copas de Matt Ridley (https://www.gradiva.pt/index.php?q=N/SEARCHBOOKS/92). É muito bom a explicar a evolução da sexualidade humana e também faz uma boa comparação com outros seres com que partilhamos este berlinde azul no espaço, e é interessante ver como não somos assim tão diferentes, ou pelo menos somos mais parecidos do que muitas vezevezes gostaríamos de reconhecer...
Carlos,
Eliminaruma minha avó dizia: "A ignorância é atrevida".
Vocês é que parece que insistem em não perceber. Ninguém está a negar o papel importante, determinante, por vezes, que o sexo tem na evolução da espécie humana. Eu não estou, e lendo o comentário original do Carlos Soares, ele também não parece estar.
ResponderEliminarA questão é que este post não é sobre isso. O post resolve olhar para a questão específica da lógica dos patrocínios no circuito de surf feminino, que envolve dimensões sexuais, culturais, possivelmente raciais, lógicas de marketing, moda, etc, e decide que é tudo explicável à luz do que é "atraente" (em termos sexuais) pela lógica da evolução.
É certo que o sexo vende, mas não é certo que SÓ o sexo vende. Portanto quando alguém decide que não vale a pena patrocinar uma surfista porque "não é bonita", não estamos a falar SÓ de uma lógica primitiva que deriva de um mecanismo de reprodução que assegura a diversidade genética (também li o Red Queen, e também o recomendo).
André, acho que ninguém está a defender que SÓ o sexo vende ou que TUDO é explicado pela evolução... e o Carlos é sempre muito vago e indirecto.
EliminarNo entanto, a imagem é um factor muito importante no marketing, que faz parte o patrocínio. Não estamos a falar de, por exemplo, alguém que fez uma aplicação informática. Poderíamos usar esse produto sem sequer conhecer a cara da pessoa. Com muitos desportos (especialmente de praia) é diferente, tal como é em muitas profissões onde as ofertas de emprego colocam a aparência como um requisito. Pesquisa no Google Image por:
female surfer, volleyball player, tennis player, secretary, airplane host, actress, ...
Depois por:
computer programmer, female computer programmer, female mathematician, female novelist,
Não digo que as últimas sejam feias, ou que não sejam atraentes, mas se dá tanta importância à imagem delas porque não é importante nas suas áreas (mas se forem fotos de estoque ou para publicidade, o caso muda de figura). É a diferença entre um Steve Jobs (CEO afecto ao design e marketing) e um Wozniak (técnico que recusou ser CEO) que escapa a alguém como Richard Stallman, com cabelo desgrenhado e comendo coisas dos pés em público.
Também acho que o mais importante no artigo não é a explicação biológica nem o sexo (o Ludwig tem o hábito de dar explicações científicas, excepto em certos temas): o importante é a ideia de que também os homens têm problemas que as mulheres têm, mas com detalhes diferentes relacionados com a idealização de cada género. Parece ser uma resposta ao feminismo contemporâneo:
* "Toda a gente sabe o que os homens procuram quando pensam com a extremidade errada. O que falta é fazer o mesmo exercício da perspectiva das mulheres."
* "O azar da Silvana Lima não foi as mulheres serem sexualizadas no desporto. São, mas, no desporto, os homens são-no ainda mais."
* "A treta é ver a atracção sexual apenas da perspectiva masculina e julgar que só as mulheres são sexualizadas."
Pedro, estou de acordo na maior parte do "diagnóstico", mas não chego bem às mesmas conclusões.
EliminarConcedo que os homens e as mulheres sejam sexualizados em igual medida no desporto, mas parece-me haver aqui uma distinção relevante - tanto no caso apresentado, como a nível geral - a partir do momento em que uma mulher, que é nº1 do Brasil mas por ser considerada menos bonita deixa de ter acesso a patrocínios (o que pode prejudicar a sua carreira), começamos a poder falar de discriminação. É diferente sexualizar (todos nós o fazemos) e discriminar, e é compreensível que as feministas tenham um problema com isso (sobretudo se quem decide quem é "bonita" são diretores de marketing com base em critérios da cabeça deles).
Não estamos a falar do Steve Jobs ter um cuidado maior com a apresentação (embora tenha tido a tal fase em que não tomava banho) do que o Wozniack, estamos a falar de uma característica tão arbitária como alguém decidir "esta não é bonita, não vale a pena patrocinar" . Não consta que alguém tenha duvidado da capacidade do Bill Gates liderar uma das empresas mais agressivas e dominantes dos anos 90, ou que "campeões" homens, feios ou bonitos, tenham problemas em arranjar patrocínios - em termos tão marcantes, não estou a discutir se o Beckham tinha mais contratos com marcas de beleza que o que Ronaldinho. O facto dessa discriminação ter uma explicação na biologia evolucionária (por mais interessante que seja) não a torna menos passível de crítica.
Sei que o argumento que vem a seguir é: mas o desporto é isto, é 'vender' sexo, não é suposto ser uma meritocracia, nada é, etc... Aí também discordo. O desporto (como extensão do "jogo") desempenha uma série de papéis na sociedade, desde os relacionadas com a sublimação da sexualidade (não nego) mas também muitos outros relacionados com mecanismos de socialização, interiorização de regras e hierarquias nas crianças, sentimentos de pertença culturais, identificações territoriais, etc. Das corridas do Palio ao universo das soccer moms, vai alguma distância.
André, estás a confundir descrição com norma.
EliminarDescrever como as coisas são e explicá-las é um problema diferente de dizer o como deveria ser ou o que é justo.
Uma observação: quando se diz "sexualizado", não significa que há desejo de praticar sexo ou atracção sexual. Os desportistas também são sexualizados para os homens, como uma referência. Em vários desportos, especialmente de equipa, também há uma relação com a guerra e violência. Os envolvidos, sejam os desportistas como os apoiantes, comportam-se como estivessem numa guerra. E a história do desporto está intimamente associado à guerra e à sexualização masculina, por exemplo, com rituais de transição para a fase adulta.
Os homens, geralmente, detestam personagens efeminadas como o vampiro do Twilight. Também falavam mal do Leonardo DiCaprio, até ele passar a usar bigode e barba. Suspeito que o problema que muitos têm não é tanto a homossexualidade, mas sim os comportamentos efeminados. Isso faz parte sexualidade, faz parte do conceito de estética masculina.
Tudo isso tinha um propósito biológico e social. Agora não tanto e parece-me que as mulheres têm preferido aquilo que tradicionalmente está associado aos homens. O cor-de-rosa, emoção chorosa com poesia, as pinturas faciais e roupa elaborada, os saltos-altos eram associado aos homens. Agora muitas adolescentes lutam violentamente em competição pelos "seus homens" e fazem os avanços amorosos. Portanto, as coisas podem mudar de acordo com um novo ambiente.
Não quer dizer que isso tudo sejam bom ou mau. Simplesmente é e convém compreender como é para mudar. Talvez seja injusto o factor de beleza física, que não é necessário para a prática de desporto, mas os patrocinadores precisam de dinheiro, e ganham dinheiro com aquilo que as pessoas querem.
Não podemos obrigar as pessoas a gostarem, a participarem ou pagarem, nem podemos obrigar patrocinadores a investirem. Mas é possível que se compense a falta de atração visual sendo apelativa pela atitude, com outro tipo de charme, como os comediantes que brincam com a suas características peculiares, e fazendo a sua participação espectacular para chamar a atenção, tratando da sua imagem com adereços. Certamente é um caminho mais difícil.
Nos video-jogos também há essa injustiça. Existiram outros jogos com a mecânica do Angry Birds, mas não eram muito bonitos. O Angry Birds tem uma estória, tem muito melhor aparência, parece muito mais polido - por isso ganhou. Os outros do mesmo género nunca ficaram famosos. Podemos lamentar-nos da injustiça, ou compreender e usar os que aprendemos.
Não estou a confundir nada. Vocês é que estão a utilizar uma descrição, baseada em preceitos muito limitados, para justificar uma realidade que, por mais voltas tentem dar, é discriminatória. Toda a tese do post gira à volta da ideia de que "as feministas não têm razão para se chatearem com isto - é a natureza", que, para mim, é um raciocínio redutor e limitado. A analogia de comparar a discriminação de uma surfista mulata e "pouco atraente" que não consegue arranjar patrocínios, porque algum diretor de marketing decidiu que "as pessoas não vão gostar dela" (provavelmente baseado em dados empíricos da cabeça dele e dos amigos dele), com interfaces de videojogos - nem consigo comentar.
Eliminar*analogia de comparar é um óbvio pleonasmo bizarro. =)
EliminarPedro, para complementar, eu só estou a argumentar que entre o argumento evolucionário (válido) e o caso "Silvana Lima" há toda uma camada de outros factores (raciais, sociais, relacionados com género e canones de beleza, etc.) que não devem ser ignorados nesta questão. Alguns deles construídos sobre a questão evolucionária, outros em confronto com ela. E que a crítica, seja feminista ou o que lhe quisermos chamar, é válida. E, além disso, o ser humano tem uma dimensão moral que não deve, nem pode, ser ignorada quando discutimos estas questões, independentemente da sua gravidade. Não acho que vocês estejam a partir de uma posição "sexista", mas não percebo porque não devemos questionar a validade de uma série de proposições (i.e. "não patrocinaremos surfistas não loiras e esculturais") que não são assim tão "naturais" como isso.
André,
Eliminarsendo curto... quem está a questionar se "não patrocinaremos surfistas não loiras e esculturais" é válido ou não e a ignorar "uma camada de outros factores"?
A questão colocada não é normativa, é descritiva, por isso o que devia ser ou não ser não é relevante. É apenas descritiva.
O próprio Ludwig escreveu: "Antecipando os comentários indignados, devo frisar que estes impulsos não são boa receita para uma vida feliz. (...) Não recomendo que se guiem por estes critérios mas é importante perceber (...)".
Por um lado, um artigo pode focar-se num aspecto do problema da beleza, por outro algo como um cânone de beleza não é alheio à sexualidade. Os atributos que são sexualmente atractivos diferem de cada sociedade, com história, experiência e valores diferentes. Ainda existem alguns estereótipos sexuais sobre a raça e houve mais preferências vincadas na raça - mas se referes apenas a racismo para além da opinião estética, não foi sobre isso que a surfista se queixou.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarAndré,
ResponderEliminar« a partir do momento em que uma mulher, que é nº1 do Brasil mas por ser considerada menos bonita deixa de ter acesso a patrocínios (o que pode prejudicar a sua carreira), começamos a poder falar de discriminação.»
Começa a haver discriminação muito antes disso. Há discriminação quando dizemos que esta merece mais do que as outras porque tem mais jeito para fazer surf. Ou quando ser campeão de surf tem muito mais prestígio do que ser campeão de bisca dos sete ou da macaca. Discriminação há sempre, em todo o lado, porque há discriminação sempre que não consideramos que todas as pessoas são iguais.
Onde não deve haver discriminação é nas leis. Precisamente porque, aos olhos das leis e no que toca a direitos e deveres, todas as pessoas devem ser consideradas iguais. Mas naquilo que orienta os gostos e decisões pessoais de cada um há imensa discriminação e tem mesmo de ser. Nós não fazemos amizade com qualquer pessoa sem discriminar. Não namoramos ou casamos com qualquer pessoa sem discriminar. Todos temos preferências, todos achamos que este é melhor que aquele para isto ou aquilo.
Quando milhões de pessoas fazem isso seguindo certas tendências mais ou menos regulares, essas discriminações têm consequências. Mas continuam a ser legítimas.
A Gisele Bündchen, por ser mulher, ganha dez ou cem vezes mais do que os modelos masculinos mais bem pagos. E, por ser mulher bonita, ganha infinitas veze mais o que eu conseguiria ganhar se tentasse ser modelo. Isto é discriminação. Mas é legítima.
Um jogador de futebol famoso ganha milhões. Um campeão de ténis de mesa ganha uma medalha e umas palmadinhas nas costas, comparativamente.
Aquilo que uma pessoa ganha nestas coisas é função do interesse agregado que desperta a milhões de pessoas. Eu estou convencido que percebo mais de bioinformática do que a Gisele Bündchen. Mas as pessoas preferem ver a Gisele Bündchen nas capas da revista em vez de um gordo que percebe de informática. É discriminação? Sim. É justo? Nem sequer faz sentido perguntar isso. É o que as pessoas gostam, é isso que faz comprarem revistas e é isso que dá dinheiro à Gisele. Azar o meu, e bom para ela, e, sendo a Gisele como é, nem sequer consigo sentir qualquer rancor.
A Silvana Lima é boa surfista mas isso não faz pessoas quererem comprar pranchas de surf. Se fosse um homem, ser bom surfista talvez o tornasse atraente à generalidade dos compradores de pranchas de surf. Mas, sendo mulher, teria mais vantagem se fosse bonita mesmo não ficando em primeiro lugar. Isto é discriminação, claramente. Mas nem sequer faz sentido perguntar se é justo. São os gostos das pessoas.
O que pretendi com este post não foi dizer que isto passa a ser justo por causa das considerações evolucionárias. O que pretendi foi mostrar como a evolução nos permite compreender a origem desses gostos, perceber os padrões que observamos e, especialmente, compreender que esta discriminação não é uma coisa que só afecta a Silvana. É universal. Todos nós discriminamos, todo o desporto é discriminatório, todas as nossas relações pessoais são discriminatórias.
Se a Silvana fosse belíssima, fosse apenas a terceira melhor surfista do Brasil mas ganhasse milhões a aparecer em capas de revista isso seria discriminação, mas ninguém diria que era injusto. Simplesmente era assim porque era o que as pessoas queriam. O mesmo se a Silvana fosse um homem feio mas excelente futebolista e com isso ganhasse milhões e imensas raparigas quisessem namorar com ele.
O azar foi a Silvana ser muito boa desportista, o que torna os homens atraentes, mas não ser bonita, que é o que contribui mais para tornar as mulheres atraeentes. Isto é por causa da discriminação, sim, mas é por causa da mesma discriminação que dá milhões ao Cristiano e à Gisele.
Não discordo, substancialmente, de nada. Mas continuo a dizer que é uma versão reducionista, porque a discriminação da Silvana Lima, parece -me, tem dimensões raciais (ela ser mulata), sexuais (não é o 'mercado' que decide que ela não vende pranchas, são vinte ou trinta pessoas que trabalham em menos empresas (provavelmente todas brancas, e a maioria homens), daí ser um tipo de discriminação que merece alguma atenção e discussão (como está a acontecer aqui, e de forma diferente de outras discriminações). Agradeço a paciência da resposta, e gostava de ter mais dados empíricos do que sensações, sobretudo nas questões relativas as dinâmicas de mercado, o que vende ou não vende, mas não encontro nada muito convincente na net.
EliminarQue merece atenção concordo. Mas não acho que a discriminação ser sexual, racial ou qualquer outra coisa, por si só, mereça condenação ou sequer preocupação.
EliminarO que temos de considerar é a esfera na qual se discrimina. Discriminar na vida pessoal, quando se decide quem se vai namorar, quem serão os nossos amigos ou que revista vamos comprar, é uma liberdade que deve ser respeitada por todos os outros. Discriminar nas actividades sociais que surgem como extensão voluntária disto é igualmente legítimo. Discriminar no desporto (as mulheres não competem com os homens) ou nos Óscares (há um para o melhor actor, outro para a melhor actriz) ou nos salários e patrocínios em função da popularidade também me parece perfeitamente legítimo. Gostava que os salários dos bombeiros fossem trocados com os dos futebolistas. Mas se as pessoas preferem dar mais dinheiro aos futebolistas do que aos bombeiros, apesar de me parecer uma discriminação nada razoável, tenho de respeitar a liberdade de cada um. Talvez se devesse aumentar os impostos e pagar salários aos bombeiros, mas certamente que não se pode proibir as pessoas de comprar bilhetes para ir à bola.
Onde a discriminação é inadmissível é no outro extremo, das leis e regras que são impostas às pessoas pelo poder do Estado. Não deve haver leis específicas para ciganos nem os salários da função pública devem ser maiores para homens do que para mulheres, por exemplo. Mas fora disto parece-me que a generalidade dos actos de discriminação são mera expressão de liberdades legítimas, e só alguns é que são notados como discriminatórios por questões subjectivas e, em muitos casos, propaganda política. Por exemplo, haver poucas mulheres a dirigir empresas é considerado discriminatório mas haver poucas mulheres a minar carvão já não...
Ludwig, Não é questão de ser discriminatório, é questão de ser problematico (por momentos fiquei na duvida se estamos a discutir semântica), porque há um sistema e uma cultura que dificultam as mulheres de chegarem a CEO, e não se conhece nenhum problema de haver poucas mulheres mineiras. Como é problemático haver uma cultura homofóbica e uma relação dessa cultura com números elevadíssimos de suicídios LGBT, e por aí.
EliminarAndré,
EliminarConsideremos, então, o problemático. E um exemplo concreto.
Vamos supor que uma família está a escolher um infantário onde deixar o se bebé. Um infantário só tem homens a cuidar das crianças. O outro ao lado só tem mulheres. A família considera e decide que prefere que sejam mulheres a cuidar do seu bebé e, por isso, escolhe o infantário que só tem educadoras.
Mais famílias pensam o mesmo e o infantário com homens tem de fechar as portas. Como esta opinião é generalizada, mesmo que um homem queira ser educador de infância não consegue arranjar emprego porque toda a gente sabe que as famílias preferem deixar os seus bebés com mulheres em vez de homens.
Podemos dizer que isto é problemático para qualquer homem que queira trabalhar como educador de crianças.
Mas isso é apenas parte da história. Porque o que temos mesmo de perguntar é se esse problema justifica que se negue às famílias o direito de decidir se preferem ter homens ou mulheres a cuidar das suas crianças pequenas. E não parece ser esse o caso. Portanto, a minha solução para esta situação é que os homens que se amanhem porque não há nada que seja legítimo fazer aqui para contrariar as preferências das famílias.
Se aplicarmos o mesmo raciocínio a outros casos, muitas vezes obtemos resultados semelhantes. Vamos supor que a dona de uma fábrica prefere contratar um homem para dirigir os operários e que o dono de uma cadeia de lojas de roupa interior feminina prefere contratar mulheres para atender as clientes. Será o inconveniente que isso causa aos potenciais empregadores suficientemente grave para negar a estas pessoas a liberdade de decidir isto, mesmo tendo impacto no funcionamento e na rentabilidade do seu negócio? Em geral, acho que não. Na verdade, o único caso em que me parece indiscutível que o empregador tenha de ser cego ao sexo é na função pública. De resto, penso que é mais problemático negar o direito de escolha ao empregador do que permitir a discriminação.
* potenciais empregadores -> potenciais empregados
EliminarLudwig,
EliminarTalvez não tenha percebido bem com quem, ou o quê, estás a discutir. Há alguém que diga que TODA a discriminação é má? Ou que deve haver quotas para todos os empregos do mundo? Aí, completamente de acordo. Não é esse o feminismo que estou a defender. O que estou a dizer é que é legítima a crítica, ou a preocupação, de olhar para 80, 90% das posições de poder no mundo e verificar que são ocupadas por homens. A dona da fábrica tem toda a legitimidade (a fábrica é dela) para escolher um homem para director, isso já é assim, é o status quo, e não acho que ela deva ser presa ou multada. Só me parece importante querermos caminhar para um paradigma de sociedade em que essa decisão não assente em algum pensamento do género "direção é cargo de homem", como acontecerá ainda por aí fora. Não é um pensamento ilegal, mas é estúpido, e gostava de pensar que podemos ser melhores que isso. Sobre como se contraria isto, se é com leis, políticas culturais, campanhas de sensibilização, etc, acho que tem de ser discutido caso a caso, lei a lei, política a política. Não sou fã de grandes normatividades, mas também nunca senti que a sociedade estivesse inquinada contra mim, dada a minha cor de pele ou género. Estas questões normalmente dependem de uma serie de variantes culturais, sociais, normativas e económicas, daí creio ser importante confrontar os marketers que não patrocinam surfistas pouco atraentes ou criticar os estúdios de Hollywood que não gostam de colocar pessoas de cor ou mulheres em papéis de liderança (e cujo impacto cultural é tremendo). Não vejo ninguém a pedir leis novas para regular a produção de filmes, nem a tal surfista a pedir que essas empresas sejam multadas, mas acho importante que se faça barulho. Independentemente de serem assuntos interessantes, e são, não creio que grandes pronunciamentos sobre psicologia evolucionária, ou se, em abstrato, "discriminar" é mau, ajudem a este debate específico. Eu acho que entendo teu ponto de vista, e também considero importante que haja alguma vigilância relativa ao risco de criarmos um ambiente de policiamento higiénico do pensamento (ou qualquer tipo de thinkpol), mas é sempre necessário alguma perspectiva, sobretudo de quem o faz a partir da perspectiva dos privilegiados (que é a nossa).
André,
ResponderEliminarEu penso que a nossa divergência fundamental está aqui:
«Estas questões normalmente dependem de uma serie de variantes culturais, sociais, normativas e económicas, daí creio ser importante confrontar os marketers que não patrocinam surfistas pouco atraentes ou criticar os estúdios de Hollywood que não gostam de colocar pessoas de cor ou mulheres em papéis de liderança...»
Eu não acho que os factores culturais, sociais e normativos que surgem em todas as culturas tenham surgido por milagre e foi só por acaso que calhou assim. Não acho que seja por acaso que as modelos do sexo feminino ganham dezenas de vezes mais dinheiro do que os seus colegas do sexo masculino ou que no futebol seja o contrário. Não é um factor social aleatório.
É fácil perceber porque é que, em média, as mulheres irão preferir ser atendidas por uma mulher numa loja de roupa interior feminina do que por um homem. Durante milhões de anos, houve uma pressão selectiva significativa para que as fêmeas nossas ancestrais tivessem cuidado com situações de intimidade com machos estranhos e, hoje, mesmo que a mulher tenha um doutoramento em biologia e perceba de onde isso vem, e mesmo que reconheça que o homem que a está a atender na loja seja um cavalheiro e profissional, pode não conseguir deixar de sentir uma certa aversão a essa situação e uma preferência por ser atendida por uma mulher. Por isso, julgo que não irás chamar a isto estúpido nem dizer que temos de lutar contra estes preconceitos femininos que dificultam aos homens prosseguir uma carreira na roupa interior feminina. Quanto mais não seja porque, estúpido ou não, se é isto que a mulher sente e se por isso quer ir a outra loja, tem todo o direito de o fazer e nós não temos qualquer legitimidade para tentar limitar isso.
Mas quando se trata de respeitar o direito da mulher discriminar, raramente há problemas. A dificuldade surge em aceitar o mesmo do lado dos homens. Durante milhões de anos, o sucesso reprodutivo dos homens correlacionou-se muito com o seu poder e estatuto social. Com as mulheres não, até um pouco ao contrário, porque a idade reprodutiva ideal para as mulheres é demasiado cedo para terem tempo para atingir um estatuto alto sem perder oportunidades de reprodução. Por isso, um homem que estivesse numa posição subordinada a uma mulher estaria em maus lençóis e dificilmente conseguiria reproduzir-se. As mesmas pressões evolutivas que levaram a que uma mulher se sinta desconfortável a mostrar o sutiã ao empregado da loja levaram também o operário da fábrica a sentir desconforto se tem de trabalhar sob as ordens de uma mulher. Não são preconceitos arbitrários nem culpa de Hollywood. São o resultado de milhões de anos de pressão evolutiva que moldaram aquilo que nós sentimos mesmo sem pensar.
Por isso, não concordo quando tu dizes «acho importante que se faça barulho.» Mesmo que não se use a força coerciva da lei. Se tu propuseres iniciar uma campanha para envergonhar as mulheres que não queiram ser atendidas por homens nas lojas de roupa interior, chamando-as de sexistas, dizendo que estão a ser estúpidas e retrógradas e assim, eu sou contra isso porque acho injusto. É o que elas sentem, e têm o direito de sentir o que sentem e de gerir a sua vida assim. E se propuseres o equivalente para os operários que não querem ser chefiados por mulheres, a minha posição será a mesma. Concordo que, em ambos os casos, é benéfico que todos percebam de onde vêm estes sentimentos. Até para combater a posição incorrecta segundo a qual tudo isto é “social”, como se a sociedade surgisse por milagre. Mas não é eticamente aceitável “que se faça barulho” em oposição aos direitos das pessoas sentirem o que sentem e gerirem a sua vida em conformidade.
Continuas a comparar situações não problemáticas com questões problemáticas, não entendo bem porquê. Há uma dimensão moral na sociedade, tanto presente como aspiracional, ainda que subjectiva, que que tu pareces escolher ignorar. É importante percebermos de onde viemos, mas nao é determinante (ainda mais a partir de um campo tão pouco sólido como é a psicologia evolucionária...), e que até daria para escrever tratados de 1000 páginas a alegar que a escravatura é natural. Mas ok, acho que já andamos em círculos.
Eliminar«Continuas a comparar situações não problemáticas com questões problemáticas, não entendo bem porquê.»
EliminarPorque queria mostrar a diferença entre traçar a linha dividindo o aceitável do inaceitável com base no respeito pela liberdade de todos e traçar essa linha com base no que nos agrada ou não agrada.
Por exemplo, uma coisa é decidirmos que quem aluga uma casa pode escolher os inquilinos a quem a aluga porque é a sua casa. Ou não pode porque está a celebrar um contrato e portanto não pode discriminar. Nesse caso estamos a pensar em como gerir várias liberdades de forma equitativa e justa.
Outra abordagem bem diferente é decidirmos que não pode excluir homossexuais porque isso é discriminatório, que horror, mas se quiser alugar só a raparigas então está bem, compreende-se.
Se calhar tu achas que alugar só a raparigas não é problemático mas recusar o aluguer a homossexuais é problemático. Se for esse o caso, é precisamente isso que estou a criticar :)