Estou convencido.
Há anos que eu defendo que há um conflito fundamental entre ciência e religião. Sempre me pareceram actividades incompatíveis. Mas, hoje, o Miguel Panão convenceu-me de que, afinal, ele é que tem razão. Não há conflito nenhum.
O meu primeiro erro tem sido pensar que “religião” referia o conjunto de ideias que os religiosos do mundo inteiro têm como religião, conjunto no qual abundam crenças contrárias àquilo que a ciência moderna afirma. No entanto, parece que o significado verdadeiro do termo “religião”, afinal, restringe-se à variante do catolicismo que o Miguel Panão defende, especialmente concebida para não afirmar nada que se possa averiguar se é ou não é verdade.
Eu também julgava que a religião seria incompatível com a ciência por se fundamentar em argumentos de autoridade, algo que a ciência rejeita liminarmente. A crença numa proposição por ser afirmada num livro sagrado, ou por um profeta ou sacerdote, é o contrário do espírito de crítica e verificação independente que a ciência exige. Mas, neste seu último post, o Miguel Panão apresenta um argumento muito persuasivo. Acerca da tese do conflito, o Miguel afirma que «não vale a pena insistir num modelo que não só não tem futuro, como nunca teve passado», e justifica cabalmente esta afirmação citando «o seguinte comentário de um historiador de ciência: “The common belief that … the actual relations between religion and science over the last few centuries have been marked by deep and enduring hostility ….is not only historically inaccurate, but actually a caricature...”». A ciência tem mérito em muitas coisas mas é impotente perante o poder persuasivo de justificar uma afirmação citando um comentador anónimo que afirma o mesmo.
Também me apercebi que, até agora, não tinha conseguido apreciar o progresso que a tal “religião” nos deu. Em 1586, Domenico Fontana, sob direcção do Papa Sisto V, colocou no centro da praça de São Pedro o obelisco egípcio que ainda hoje lá se encontra. Nessa altura, o obelisco estava a umas centenas de metros dali e o transporte e colocação daquela pedra com 25m de altura e trezentas toneladas de peso foi um feito notável para a época. Foi uma cuidadosa operação de cinco meses envolvendo novecentos trabalhadores e 72 cavalos, um grande triunfo da engenharia inspirada e fomentada pela religião do Miguel. Até recentemente, sempre me parecera que o obelisco ter sido erguido originalmente pelos egípcios dois milénios antes de Cristo e ter sido trazido do Egipto pelos engenheiros romanos mil e quinhentos anos antes da grande façanha de Fontana seria evidência de que aqueles séculos de cristianismo não tinham feito grande coisa pelo progresso científico e tecnológico. Mas isto é ver mal as coisas. Se bem que o domínio do cristianismo se caracterize pela estagnação ao nível material, houve grandes progressos em temas importantes. Tais como Deus ser um só mas três ao mesmo tempo, ou como conciliar a hipótese de um ser invisível saber tudo o que vai acontecer com a hipótese de termos vontade livre. Foi um trabalho importante sem o qual, hoje, a teologia e a filosofia da religião não seriam profissões viáveis. Graças à escolástica medieval, temos agora um respeitável corpus bibliográfico de especulações vazias que permite ao teólogo distinguir-se de um perito em mafaguinhos.
Hoje posso concordar com o Miguel e aceitar que o método da ciência é compatível com a atitude de ter fé em hipóteses que não se testou ou que nem se pode testar. Ou que adoptar dogmas pela autoridade de fontes alegadamente infalíveis é compatível com a atitude céptica de quem procura as melhores explicações. Afinal, hoje os investigadores no CERN descobriram que a Força existe mesmo (3) e há indícios sólidos de que os dragões podem voltar (4). Por isso hoje a ciência pode ser compatível com a religião do Miguel. E com a astrologia, o tarot da Maya e as vidências do Professor Karamba. Mas amanhã... bem, amanhã logo se vê.
1- Miguel Panão, O Mito do Conflito entre Fé e Ciência
2- Pruned, Moving the vatican obelisk
3- CERN, CERN researchers confirm existence of the Force
4- Nature News, Zoology: Here be dragons
Hum ... Fizeste-me lembrar uma frase que há muito ouvi sobre o facto de Deus ter criado o homem "why did He take so long to produce so little...", com uma diferença ... Levaste menos tempo :):)
ResponderEliminarBom, mas a sério. Acreditas mesmo em toda a interpretação que fazes sobre o que penso?
Já agora a referência da citação: C. A. Russell, “The Conflict Metaphor and its Social Origins,” Science and Christian Belief
1 (1989), 3–26.
O texto foi escrito no dia 1 de Abril!...Isto não diz tudo?
ResponderEliminar"Bom, mas a sério. Acreditas mesmo em toda a interpretação que fazes sobre o que penso?"
Estou convencido que sou bonito, apesar de ser um monstro!...
Miguel,
ResponderEliminarNão faço uma interpretação do que tu pensas mas sim do que tu escreves. Ao que tu pensas não tenho acesso.
E no que tu escreves não há nada que resolva a incompatibilidade fundamental entre a abordagem científica de procura pelas melhores explicações e a abordagem religiosa de adesão a dogmas pela fé e autoridade. São completamente antagónicas.
Por exemplo, um católico fiel à sua religião deposita mais confiança na tese de que Maria foi levada corporalmente para o céu pela intervenção directa de Deus do que na tese de que fumar aumenta o risco de cancro. Isto porque esta última é um resultado falível da análise humana dos dados enquanto que a primeira é a verdade revelada e transmitida ex-cathedra por um papa que nessas coisas é infalível. Isto é claramente incompatível com uma comparação científica destas teses, que obviamente recomenda termos muito mais confiança nos malefícios do tabaco do que na assunção de Maria.
A ideia de que Deus intervém diretamente e se revela na história em nada é contrária à ciência, porque não existe nenhuma experiência ou observação laboratórial que diga que Deus não pode intervir diretamente.
EliminarPelo contrário, não existe nenhuma experiência ou obserrvação científica que prove que o Universo surgiu do nada sem causa, que a vida surgiu da não vida ou que um ser menos complexo evoluiu para outro diferente e mais complexo. Nada disso pode ser diretamente comprovado em laboratório ou no terreno.
Trata-se aqui simplesmente de afirmações de fé naturalista, por sinal contrárias às leis científicas da causalidade, da conservação da energia e da biogénese, e às observações de que as mutações e a seleção natural degradam e eliminam informação genética, causando doenças, morte e extinções.
Creio que o Miguel Panão deveria ter incluído nos links que apresenta no final do post, mais um:
ResponderEliminaruma conferência do filósofo Dan Dennett, "Let's teach religion — all religion — in schools" (liink aqui para Ted Talks) - é uma sugestão minha, que me parece adequada.
Concordo muito com o que Dan Dannett diz no video. Faz falta conhecimento religioso para melhorar a nossa compreensão das pessoas que estão ao nosso lado, dos que acreditam em A em relação a aos que acreditam em B, C, D, etc. Isto embora Danett me pareça que tenham outros objectivos em mente.
Muitas questões filosóficas e culturais podem ser aprendidas e apreendidas pelo conhecimento de outras culturas, de outras formas de ver o mundo, o Homem, e das esperanças e receios que as várias comunidades têm um pouco por todo o globo. Recentemente fiquei bastante surpreendido por saber que existe um povo no extremo oriente da Sibéria (creio que li num artigo da NG portuguesa do ano passado), que se refere ao futuro como se fosse passado - é algo que me faz pensar bastante nas diferenças culturais e no que damos por adquirido.
Também acho que as nossas escolas deviam dedicar mais tempo ao ensino sobre como a ciência funciona. Mais do que dar os resultados, daquilo que a ciência tem hoje como estabelecido, é preciso compreender e estudar como se lá chegou, e porque é que as questões foram sendo feitas e como é que as respostas foram sendo umas aproveitadas e outras descartadas. E finalmente, de como a ciência é dinâmica e nunca um dado adquirido e finalizado - há sempre algo de novo a acrescentar e a aprender.
Em suma: precisamos de melhor história da ciência, mais do que apresentar a ciência como algo "que é assim", mas em vez disso, perceber "porque é que é assim".
No Tribunal de Nuremberga, o maior número de condenados foi constituído por cientistas alemães que, tal como o Ludwig Krippahl, achavam que as afirmações religiosas e morais não têm qualquer valor cognitivo e que o único conhecimento é experimental e empiricamente verificável.
EliminarEra essa a filosofia da época, que o Ludwig aceita e repete ingénua e acriticamente, apesar dos resultados a que conduziu...
Como a afirmação da dignidade humana tem base moral e religiosa, não resultando de qualquer experiência científica, esses cientistas achavam que não estavam vinculados por ela, tendo resolvido fazer as suas experiências nos seres humanos, talvez por considerarem que daí viria o verdadeiro conhecimento científico.
Muitos foram condenados a penas de prisão e alguns a penas de morte. Alguns escaparam ao julgamento de Nuremberga, mas não ao julgamento da História.
O mais célebre pela sua malvadez demoníaca era Joseph Mengele, conhecido por Anjo da Morte.
Ludwig,
ResponderEliminarPor que não te libertas de um erro de princípio, que vicia toda a tua abordagem crítica e não crítica de qualquer problema e toda a tua reflexão sobre verdade, conhecimento, ciência, competências ou perícias, qual seja, confundires Realidade com Ciência ou, pior ainda, Verdade com Ciência?
Pensar a Realidade e pensar Ciência são dois fenómenos diferentes. Pensar Verdade e pensar Realidade, também. Pensar Verdade e pensar Ciência, também.
Pensar Deus, até um certo ponto é equiparável a pensar como é digerida a batata frita.
Pensar Deus pode até não ser nada de especial para pessoas como tu, do mesmo modo que pensar como é digerida a batata frita pode não fazer sequer sentido para a maioria das pessoas, ainda que cientistas. Podia até acontecer que o Homem nunca tivesse pensado em Deus e tivesse sempre pensado na batata frita. Algo existir ou deixar de existir, Deus existir ou não existir são questões de segunda ordem relativamente ao facto de o Homem ter uma incrível necessidade/vocação para a Verdade. Esta necessidade de verdade sobreleva tudo o que possa ser dito, pelo método científico, ou pelas artes, ou pelas magias, venham donde vierem as tentativas de a "dizer", quaisquer que sejam as autoridades, ou instituições. E não há forma, nem palavras, nem drogas de mascarar a verdade, porque ela tem um rosto demasiado grande e ardente e invulnerável para que isso possa acontecer. A ciência, na sua nobre humildade, cede-lhe em tudo, como serva fiel e incorruptível, reconhecendo-lhe um carácter racional. Mas não é só a verdade que tem um carácter racional. Tudo tem um carácter racional.
E a ciência sabe-o como sabe que a Verdade envolve e supõe e exige uma racionalidade valorativa que tem de ser de uma ordem não material.
É a ciência que nos diz tudo o que sabemos e tudo o que precisamos de saber acerca de um específico domínio.
É a ciência que nos diz sobre a Divina Trindade e a Ascensão de Maria.
O Ludwig sabe que pode tornar-se famoso, se quiser e se souber, entrar na exegese bíblica, ou no Código Civil, ou na Constituição da República, ou na mecânica quântica… e “impuser” uma teoria.
Alguns pseudocientistas, não compreendendo a diferença entre os atributos e o âmbito da verdade e da ciência, dão-se por satisfeitos com esta e tomam-na simplesmente por aquela. São o parasita que não conhece o hospedeiro.
A Verdade não é uma questão de raciocínio, de ser ou não ser, de existir ou não existir. 2+2=4 não é nenhuma verdade e pode não ser um raciocínio e, quanto a ser alguma coisa, é um discurso.
A Verdade vai sendo necessária à medida que pensamos com ciência, amor, justiça, probidade, enfim, valores, virtudes.
Mas pensar com ciência, amor, justiça, probidade, enfim, valores, virtudes, é Verdade mas não é a Verdade.
Por agora, vou ficar a pensar em Deus e a Verdade.
Bem a quantidade de vezes que o Carlos Soares escreveu a palavra "verdade" sem definir o que é para ele essa "verdade"... Épico.
ResponderEliminar(Convém definir os termos neste tipo de contexto. Ou parecerão apenas palavras ocas.)
E quanto mais vago, pior...
EliminarO mito da incompatibilidade entre o Cristianismo e a ciência já mais do que foi refutado.
ResponderEliminarMats/Lucas,
EliminarPara alguém que se diz religioso e defensor da religião, parece que tens muitas certezas - eu diria demasiadas certezas - eu pergunto que diz isso de ti? Se tens a certeza, já não precisas de acreditar e se não acreditas já não precisas de ser religioso...
Ainda mais: para alguém que coloca um texto traduzido e com 6 pontos que facilmente são atacados e provados contrários ao que diz defender, bem, lá se vai a refutação.
Mas o António Carvalho parece ter certeza de que não se pode ter certezas...
EliminarE de que devo ter certeza? Aparentemente, só parece haver a certeza de que não existem certezas. :)
EliminarLucas:
EliminarEm vez de traduzires textos de criacionistas para considerares como refutações de outras ideias, sugiro que leias obras de especialidade, como "The Beginnings of Western Science", de David C. Linberg.
Os gregos, muito antes do cristianismo, fundaram e desenvolveram a maioria das áreas científicas, como a Matemática (ex: Euclides, ...), a Lógica (ex: Aristóteles, ...), a Física e Engenharia (ex: Arquimedes, ...), Química (ex: Demócrito, ...), Botânica (ex: Teofrasto, ...), Zoologia (ex: Galeno, ...), Geologia (ex: Erastótenes, ...), Anatomia (ex: Herófilo, ...), Medicina (ex: Hipócrates, ...), etc. Essa herança do helenismo faz parte do chamado berço da Humanidade. Não é por acaso que os livros da História da Ciência, mesmo em cada área referida, geralmente referem a Grécia Antiga.
Apesar de terem incentivado o valor do conhecimento por si mesmo (e isso não não é mau!), a verdade é que usaram esse conhecimento para construírem, por exemplo, as primeiras redes de esgotos, os aquedutos, a primeira máquina a vapor (para abrir um portão), máquinas de guerra (como os canhões), inventaram os moinhos, o odómetro, o despertador (de água), centrais de aquecimentos, o termómetro, a grua, alavancas, carrinhos de mão, etc.
Os muçulmanos soldados e mercadores preservaram as obras desses gregos, desenvolveram os seus conhecimentos (por exemplo, na Óptica e Astronomia), fizeram as suas próprias invenções com eles (a guitarra, o mercúrio clorídico, o moinho de vento, desenhos de torpedos, os canos de água, as universidades, as câmaras de Ibn al-Haytham, etc,) e o conhecimento foi espalhado por muçulmanos, como Avicena, na Europa.
Os cristãos durante bastante tempo desconfiavam das ideias de filósofos gregos, especialmente dos atomistas materialistas como Demócrito e Epicuro. Foram misturando o cristianismo com o Platonismo e depois aceitaram o Aristotelismo, graças a Tomás de Aquino e Roger Bacon. Aquino é representado, em pinturas, com Platão, Aristóteles e Avicena), e Bacon convenceu o Papa clemente que a ciência seria útil para o dia-a-dia, influenciar conversões e fazer cálculos astrológicos para fins religiosos.
As maiores revoluções científicas entre cristãos deveram-se a hereges ou conflictos com a autoridade religiosa: Copérnico (inspirado em textos gregos antigos, por exemplo de Aristarco de Samos), Galileu (influenciado pelas obras de Arquimedes), Isaac Newton (um Unitário alquimista).
O termo "lei", em relação a seres inanimados e seres irracionais, foi problemático para vários cristãos. Tomás de Aquinas e Francisco de Suárez respondiam que era apenas metafórico, Lorenzo Valla e Robert Boyle consideravam-no ridículo. Os poetas da Antiga Toma, como Lucrécio e Virgílio, é que começaram a usar a ideia de "lei natural", associando a Física comparando as leis romanas. Depois, a partir do século XVIII é que cientistas aceitaram, na generalidade, o uso desse termo.
Tendo isso em conta, as tais seis evidências não fazem sentido. Cristãos apoiaram o desenvolvimento da ciência, mas também pagãos, muçulmanos e descrentes fizeram-no muito antes. E cristão apoiaram o desenvolvimento da Ciência depois de várias influências de muito trabalho anterior. Note-se que cristãos não são o cristianismo, como ideia.
Mats, dizer que os cristãos de há séculos atrás contribuíram para a ciência (ok, o Mats diz que é por serem cristãos, mas não cristãos teriam igualmente bases de pensamento para o fazer), em nada refuta o que diz o Ludwig sobre as incompatibilidades (plural) que existem entre ciência e religião. Essa ciência evoluiu para encontrar montes de incompatibilidades factuais com as crenças religiosas, incluindo cristãs (quer tu queiras/aceites, quer não). E, tal como disse o Ludwig, na ciência investiga-se, na religião normalmente acredita-se pela autoridade da fonte, por "revelação", porque sim - isso é uma observação incontestável.
ResponderEliminarMiss,
EliminarSó por acaso, a respeito da questão da autoridade. Eu não conheço o panorama português ou outro, e vou apenas me reportar ao que Lee Smolin escreve em "O romper das cordas" (2006, versão portuguesa da Gradiva). O que lá é descrito é um tanto assustador, e parece-se mais com uma religião (no caso é a "religião" das cordas), em que os físicos que pensam diferente dos teóricos das cordas, tendem a ser excluídos, quem não seguir os pensadores e teóricos principais tendem a não ter emprego ou não serem sequer considerados no meio.
Pode ser só no meio da física e só nos EUA: Smolin diz que na Europa e em especial no RU é bastante diferente, e eu espero bem que sim e gostaria de saber como é cá no nosso rectângulo.
De qualquer forma, é uma ideia que me tem intrigado: saber até que ponto um jovem formado que pretende fazer e seguir ciência, não faz investigação no que acha que deve, mas no que os "mais velhos" - a tal autoridade, o obriga a fazer e a seguir as mesmas linhas de investigação mais na moda.
É uma espécie de tribalismo moderno: "Tu és da minha tribo ou de que tribo és?" - parece ser uma pergunta mais frequente no meio académico do que eu julgava possível.
Bem a física não é o melhor exemplo para eu abordar, mas em outras áreas não é uma questão de "seguir os pensadores teóricos principais" (autoridade), mas sim de qual hipótese tem mais evidências, já foi mais posta à prova e se aguentou, etc. É claro que quem, por teimosia, ideias religiosas, ou qualquer outra ideologia continua a crer em alternativas sem mérito não é visto com muito bons olhos.
Eliminar* Isto para Portugal e EUA, dos quais eu ainda sei alguma coisa.
EliminarAlém disso, Mats, colocares um link para o teu blog criacionista, que por sua vez tem como fonte um site cristão evangélico dá bastante azo a que se desconfie de algum viés por parte dessa mesma fonte. Vá lá, Mats, podes fazer melhor. Ou será que não?
ResponderEliminarA CIÊNCIA VISTA À LUZ DA BÍBLIA
ResponderEliminarPor vezes diz-se neste bloque a ciência tem um método neutro de obtenção de conhecimento que lhe permite estabelecer a verdade infalível e definitiva sobre o Universo, a vida e o homem. Mas hoje sabemos que nem a ciência é neutra e objetiva, nem infalível nem definitiva.
A seleção de dados e a sua interpretação está sujeita a pré-compreensões, ideologias, paradigmas, modelos e hipóteses. A sua recolha e análise está sujeita a falhas intelectuais e técnicas. Como as observações são limitadas, os resultados são provisórios e não definitivos.
Ainda assim, quando todas as observações apontam no mesmo sentido é possível induzir algumas leis científicas (v.g. conservação da energia, entropia, biogénese). Por sinal, todas elas corroboram o que a Bíblia ensina acerca da Criação e da corrupção.
A Bíblia fornece algumas indicações importantes acerca da ciência.
Em primeiro lugar, ela começa por estabelecer e justificar as pressuposições de que a ciência depende para ser viável.
Antes mesmo de começar as suas investigações, o cientista tem que postular a inteligibilidade racional do Universo e a sua própria capacidade racional para o compreender. Ele tem que postular a validade universal das leis da lógica e da matemática.
A Bíblia, ao afirmar que o Universo foi criado de forma racional por um Deus racional, eterno e omnipresente que se revela como LOGOS, e que o Homem foi criado à imagem e semelhança de Deus, com criatividade e capacidade racional de pensamento abstrato e lógico, estabelece as pressuposições de que a ciência depende.
Mesmo quem não acredita na Bíblia tem que ir pedir emprestadas essas pressuposições à visão bíblica do mundo para poder fazer ciência, porque elas não se deduzem da premissa de que o Universo, a vida e o homem, incluindo o cérebro humano, são o resultado de processos cegos, aleatórios e irracionais.
Como Deus é um ser moral e racional e o homem foi criado à Sua imagem e semelhança, o cientista está sujeito a deveres de racionalidade e moralidade ao fazer ciência.
Estes deveres também não se deduzem da ideia de que o Universo e a vida surgiram por acaso e o homem é o resultado de milhões de anos de crueldade predatória, violência, doenças e morte.
Como Deus é verdadeiro, a ciência está sujeita a um dever de verdade acima de tudo. Essa verdade deve ser, logicamente, construída a partir da Verdade da revelação divina.
Como Deus criou o Homem à sua imagem e a natureza com a sua imagem, cheia de evidência de design e propósito, a ciência tem certamente que respeitar a dignidade humana e a integridade da natureza.
Como o Homem está corrompido e pecaminoso a ciência necessita de mecanismos de discussão, debate e correção que permitam refutar afirmações falsas e impedir a utilização do conhecimento para fazer o mal.
O astrofísico Johannes Kepler dizia que a ciência consiste em “pensar os pensamentos de Deus depois de Deus”- A biomimética mostra que muita da ciência hoje consiste em fazer engenharia reversa daquilo que Deus criou.
Se a Bíblia é realmente a Palavra de Deus, segue-se logicamente que ela é o padrão pelo qual a ciência humana e o método científico desenvolvido pelo homem devem ser avaliados e não o contrário.
Não existe qualquer incompatibilidade entre a ciência e a Bíblia. Esta afirma que “o temor de Deus é o princípio de toda a sabedoria”.
A visão bíblica da ciência é, na realidade, a mais científica, na medida em que, edificando o Universo, a vida e o homem sobre o LOGOS, ela é a mais lógica e racional.
Quem quiser pode ver um vídeo sobre o que os criacionistas pensam sobre a relação entre fé e ciencia, para compreender melhor o assunto em discussão.
ResponderEliminarCriacionista,
ResponderEliminarDiz «[..]a ciência tem um método neutro de obtenção de conhecimento que lhe permite estabelecer a verdade infalível e definitiva[..]»
Muito pelo contrário. Em ciência, as explicações são sempre as melhores disponíveis na altura da sua formulação. Ao contrário das "verdades" religiosas, as "verdades" científicas são sempre provisórias. A ideia é que que surjam novas, adequadas e mais completas descrições da natureza. Nunca se deve falar em verdade, mas em descrição.
Porque está sempre em constante alteração, isso não é um lado mau, mas ao contrário a força motriz para a melhoria e o aperfeiçoamento.
«[...]A sua recolha e análise está sujeita a falhas intelectuais e técnicas. [...]»
É por isso que a revisão de pares é tão importante. Se existirem erros, é pouco provável que estes persistam. A competição entre ideias vai fazer com que as falhas e as limitações de uma ideia sejam tão postas à prova, que ou fica mais forte ou desaparece de vez. A história da ciência não é só feita de ideias que deram bom resultado, mas tem muitas outras que foram descartadas. Isso é bom.
«A Bíblia fornece algumas indicações importantes acerca da ciência»
A Bíblia sendo um livro religioso não tem como objectivo a ciência. Esta por sua vez, tem o objectivo primordial de explicar o mundo sem necessidade de recorrer ao sobrenatural. A Bíblia nunca poderá dar uma explicação científica, porque a carga sobrenatural está sempre presente.
«Como Deus é um ser moral e racional[...]»
É uma descrição um tanto estranha. Como pode provar tal afirmação sem ser pela fé? É o tipo de afirmação que nunca pode ter lugar em ciência, dizer algo que não se pode afirmar ou infirmar.
«Estes deveres também não se deduzem da ideia de que o Universo e a vida surgiram por acaso [..]»
Afirma isto porque consegue demonstrar o contrário, ou é apenas uma profissão de fé? É que se é só fé, não está no âmbito da ciência, logo não faz sequer sentido falar dela num debata deste tipo.
«Como Deus é verdadeiro, a ciência está sujeita a um dever de verdade acima de tudo[...]»
ResponderEliminarHá duas coisas que não concordo nesta frase. Uma é que Deus é verdadeiro: bem, para alguém que acredita numa outra fé, este Deus é tão falso como os outros são para os cristãos. A outra parte, é que que a ciência esteja sujeita a algum tipo de verdade doutrinal, e tal não é. A ciência deve sobretudo ser lógica e ser ateia, ou seja, fiel às suas origens e aos seus propósitos. Se daqui sai alguma verdade, isso é outro tema bem diferente.
«Como o Homem está corrompido e pecaminoso[...]»
Essa ideia (o Homem como parte da criação caída em desgraça) é essencialmente uma deturpação das escrituras, como os judeus parecem afirmar: nunca um rabi concordou com essa ideia, e olhe que ao que diz a História, foram eles que escreveram essa parte da Bíblia.
É essencialmente uma ideia que veio de fora do cristianismo, em particular das ideias neoplatónicas e gnósticas dos primeiros séculos após a morte de Cristo.
«Se a Bíblia é realmente a Palavra de Deus, segue-se logicamente que ela é o padrão pelo qual a ciência humana e o método científico desenvolvido pelo homem devem ser avaliados e não o contrário.»
Eu não posso concordar com tal descrição. Se ciência é o método para descrever a natureza sem necessidade de recorrer ao sobrenatural, é claro, pelo menos para mim, que a ciência deve existir sem necessidade de religião. Que fique claro: a religião não é a única fonte de moral e de ética. Estas duas noções podem perfeitamente existir sem necessidade de uma crença sobrenatural. Existem vários pensadores que têm mostrado exactamente isso ao logo dos séculos, desde o tempo clássico, anterior ao cristianismo.
«A visão bíblica da ciência é, na realidade, a mais científica, na medida em que, edificando o Universo, a vida e o homem sobre o LOGOS, ela é a mais lógica e racional»
O conceito de logo nem sequer é cristão. É uma ideia grega e que foi sobretudo aproveitada pelo pensamento gnóstico dos primeiro tempos cristãos. Um pouco de história de religião também fazia bem a quem só lê a Bíblia.