quarta-feira, dezembro 31, 2014

Treta da semana (atrasada): Umbiguismo.

Algumas pessoas, raras, são tão geniais e têm um pensamento tão avançado para a sua época que muitos dos seus contemporâneos, não conseguindo alcançar tal visão, as julgam palhaços. Pessoas como Copérnico, Galileu, Darwin e Batatinha, por exemplo. Gustavo Santos é mais um nome a acrescentar a esta lista. É difícil perceber isto à primeira porque Gustavo Santos é um homem modesto. Logo no seu perfil, pede aos leitores «Não me chamem "famoso" ou "vedeta da televisão"»(1) e apresenta-se simplesmente como «um homem que sabe quem é e o que anda aqui a fazer». Parece pouco, mas as aparências enganam. O pensamento de Santos não só é revelador, avassalador e revolucionário como toca várias áreas distintas daquilo que preocupa a humanidade.

Durante milénios, pessoas relativamente inteligentes como Platão, Kant e Mill procuraram soluções para o problema de avaliar actos, guiar decisões e encontrar a melhor forma de viver. Pelo caminho inventaram conceitos confusos como virtudes, deveres, imperativos, utilidades, contratos sociais e noções de justiça. Uma enorme baralhada que não ajuda ninguém. Num rasgo de genialidade, Gustavo Santos revela-nos que a resposta esteve sempre ali, mesmo à nossa frente. No umbigo. «O amor da minha vida sou eu, ponto final parágrafo […] O amor da tua vida és tu.»(2) «Ser feliz é saber quem somos e respeitar o que desejamos, materializando. É sermos a pessoa mais importante da nossa vida»(3).

Também na etimologia o trabalho de Gustavo Santos sobressai. A palavra “presente”, que muita gente julgava vir do Latim praesum, do “é perante”, afinal separa-se em “pré” e “sente”. Portanto o presente, afinal, é o que ocorre antes de sentirmos, que Gustavo Santos separa do agora que é o que ocorre depois de sentirmos (2). Por exemplo, o período de aproximação rápida entre o martelo e o polegar é o presente, enquanto o agora é o período durante o qual o incauto martelador grita “F***-se! M**** para isto! Quem me mandou a andar a pregar coisas à p*** da mobília! C******!” É supreendente como a análise etimológica cuidada e bem fundamentada dá novos sentidos à nossa vida.

Mas o génio de Gustavo Santos não se limita à ética ou a questões linguísticas. Mostra-nos também como terminar, de uma só vez, com todo o sofrimento da humanidade. A doença, a fome, a miséria, as guerras, o ódio e a sede de poder assolam muitos milhões de pessoas tornando a sua vida num inferno. Não é preciso que assim seja e, graças a Gustavo Santos, já sabemos como resolver este problema. «Descobri que era um homem feliz quando percebi que a minha felicidade apenas dependia de mim»(4). É esta mensagem importante que temos de transmitir a toda a gente. A quem tiver perdido a casa e a família num bombardeamento e esteja agora a fugir de uma guerra. A quem tenha os filhos a morrer de sede. Aos órfãos esfomeados e abandonados e a quem a vida se esvai em pus e sangue numa cubata. A todos esses, que se julgam infelizes vítimas das circunstâncias, temos de dizer que a felicidade só depende deles. Que a fome não é uma tragédia. É uma oportunidade. Que a guerra não é um mal. É um desafio. Que se a morte dos filhos os entristece é porque, incautos, não decidiram amar-se a si próprios acima de tudo.

Gustavo Santos diz-se um “life coach”, alguém que treina os outros para viver. Na sua modéstia, aponta que apesar de ter «formação segundo as normas da ICF, International Coaching Federation», o que lhe dá «verdadeiras habilitações para trabalhá-lo com as mais variadas pessoas [...] é o facto de ser um homem verdadeiramente feliz.»(4) E qual é o segredo dessa felicidade? Que ideia invulgar permite a Gustavo Santos dizer tanta coisa genial sem corar de vergonha? É talvez a mais importante de todas, e aquela que dá a Gustavo Santos o lugar merecido no fecho de mais um ano de tretas:

«Tudo o que vale a pena nesta vida é aquilo que sentimos; o que pensamos [...] é mau entretenimento.»

Sigam o conselho de Gustavo Santos. Não pensem. Sintam apenas. Senão, se se metem nesse mau entretenimento que é pensar, não sentirão a genialidade de Gustavo Santos e ainda podem acabar confundindo-o com um palhaço. Até par ao ano, e bom 2015.

1- Gustavo Santos, Arrisca-te a viver, perfil.
2- Gustavo Santos, Quanto tempo esperarias pelo amor da tua vida?
3- Revista Progredir, Entrevista a Gustavo Santos
4- Gustavo Santos, Arrisca-te a Viver.
5- Gustavo Santos, Arrisca-te a Viver, Coaching.

quarta-feira, dezembro 24, 2014

Treta da semana (atrasada): a priori, de novo.

Pelas minhas contas, este é o 400º post desta rubrica. Era para ser sobre o Gustavo Santos, mas vou deixá-lo para o 401º e ressuscitar a discussão sobre o conhecimento a priori. Não só para evitar estragar a efeméride com o Gustavo Santos mas também porque descobri que 71% dos filósofos julgam que o conhecimento a priori não é um disparate (1) e, por coincidência, comecei também a discutir isto nos comentários a um dos meus posts (2).

A distinção entre conhecimento a priori e a posteriori é ilusoriamente clara. O conhecimento é a priori se puder ser obtido sem dados empíricos adicionais e a posteriori se for necessário obter mais dados. Um exemplo clássico de conhecimento a priori é “nenhum solteiro é casado”. Para um dado conceito de solteiro e casado, esta afirmação é evidentemente verdadeira mesmo sem ser preciso perguntar aos solteiros se são casados. Um exemplo de conhecimento a posteriori será “nenhum corvo é branco”. Para um certo conceito de corvo, não é evidente se isto é verdade ou não e precisamos de ir observar corvos para tentar testar a hipótese.

Mas esta distinção é ilusória porque a compreensão de todos os conceitos depende de dados empíricos e o que caracteriza uma proposição como verdadeira a priori é simplesmente a decisão arbitrária de considerar que a informação necessária para concluir que é verdadeira faz parte dos conceitos. Vou dar alguns exemplos deste problema. Primeiro, “nenhum solteiro é casado”. A experiência da Ana levou-a a formar um conceito de solteiro com sendo o de uma pessoa que não é casada. Assim, a Ana não precisa de mais informação para concluir que a afirmação é verdadeira. Mas o Pedro é advogado e trata de muitos casos de emigrantes e imigrantes. Na experiência dele, uma pessoa pode ser casada num país mas esse casamento não ser legalmente reconhecido noutro, onde é considerada solteira. Portanto, para o Pedro, essa afirmação não é verdadeira. É possível alguém ser solteiro e casado ao mesmo tempo.

O Pedro não percebe nada de biologia. Não sabe distinguir um corvo de uma gralha preta, não faz ideia da definição biológica de espécie e, para ele, um corvo é simplesmente um pássaro preto e grande. Por isso, com este conceito de corvo, “nenhum corvo é branco” é verdade a priori para o Pedro. Mas a Ana é bióloga. Sabe que corvo, em Português, refere normalmente a espécie Corvus corax e que alguns indivíduos dessa espécie são brancos. Portanto, para a Ana “nenhum corvo é branco” nem sequer é verdade. É possível ser corvo e branco ao mesmo tempo.

É claro que, se os conceitos são diferentes, então as proposições também são diferentes, mesmo quando expressas nas mesmas palavras. Para o Pedro, as frases “nenhum solteiro é casado” e “nenhum corvo é branco” afirmam proposições diferentes daquelas que afirmam quando a Ana as interpreta. Mas para aprendermos alguma coisa daqui temos de ser capazes de fazer esta distinção. Temos de compreender que “nenhum solteiro é casado” é verdadeira para aquele conceito de solteiro mas é falsa para o outro e, como os conceitos são formados pela experiência, essa compreensão também é empírica. O a priori surge apenas como consequência trivial, e irrelevante, de num caso incluirmos no conceito a informação necessária para determinar a verdade da proposição.

É isto que acontece com proposições como “o Super-Homem usa cuecas vermelhas por cima das calças” ou “o hélio foi descoberto no Sol antes de ser encontrado na Terra”. Se considerarmos que o conceito de Super-Homem inclui o seu visual característico e que o conceito de hélio inclui saber que o elemento tem este nome por ter sido primeiro encontrado no Sol então estas afirmações são verdadeiras a priori. Caso contrário são verdadeiras a posteriori. Mas a diferença está unicamente na decisão arbitrária de incluir, ou não, as cuecas do Super-Homem e a descoberta do hélio nos respectivos conceitos. Em qualquer dos casos, os dados empíricos necessários para avaliar a verdade destas proposições são os mesmos, pelo que se trata de uma distinção sem diferença alguma.

O problema epistemológico de distinguir entre verdade a priori e a posteriori é como o de decidir se eu sou pesado demais para a minha altura ou baixo demais para o meu peso. Sim. Sou. E depois da festança ainda vou ficar pior. Boas festas para todos.

Adenda: no Facebook, o Pedro Galvão deu-me um exemplo muito melhor do que estes que usei aqui. Se bem que a intenção dele não tenha sido esta, não resisto aproveitá-lo. O exemplo é “tudo o que é verde tem cor”. Para sabermos que esta afirmação é verdade precisamos de saber, empiricamente, três coisas: que certos estímulos nos fazem sentir ver cor; que coisas verdes reflectem luz numa certa gama de frequências; e que essa gama de frequências de luz é uma que nos faz sentir ver cor. Vamos assumir que o conceito “ter cor” é o de ser capaz de produzir em nós essa sensação. Se o conceito de “ser verde” incluir tanto a propriedade de reflectir luz de certas frequências e a propriedade dessa luz causar a sensação de cor, então a frase “tudo o que é verde tem cor” é verdade a priori porque toda a informação empírica necessária para a avaliar já está nos conceitos. No entanto, se “ser verde” apenas indicar a frequência da luz reflectida sem implicar nada acerca da nossa percepção da cor, então a verdade da afirmação terá de ser determinada a posteriori porque é preciso saber adicionalmente que essa frequência de luz nos causa uma sensação de ver cor. O ponto importante aqui é que aquilo que precisamos de saber empiricamente é sempre o mesmo. Esta distinção apenas separa a decisão arbitrária de definir o conceito de “verde” só em função da frequência da luz e a decisão igualmente arbitrária de incluir nesse conceito a nossa percepção subjectiva da cor.

1- Sean Carroll, What Do Philosophers Believe?, via Facebook
2- No Facebook, O melhor método.

sábado, dezembro 20, 2014

O melhor método.

Quando afirmo que a ciência é o melhor método para obter explicações e apurar factos, por vezes contrapõem que não porque a ciência não explica tudo. É uma objecção estranha. Ser o melhor método não implica que faça tudo; quer dizer apenas que as alternativas são piores. A física e a engenharia civil também não permitem construir uma ponte de Lisboa ao Funchal com apenas três palitos e meio quilo de farinha. No entanto, a melhor forma de construir pontes continua a ser usando estes conhecimentos. Não há alternativa que funcione tão bem.

A ciência é o melhor método para compreender a realidade porque aproveita o que os seus predecessores faziam bem e acrescenta o que lhes faltava. O primeiro passo para compreender a realidade, que se perde na pré-história, foi tentar criar narrativas inteligíveis. A maior parte dos modelos modernos são construídos em matemática em vez de língua natural, para quantificar com rigor, mas a ideia fundamental é a mesma. Queremos uma representação simbólica do que se passa “lá fora” que possamos, dentro do possível, entender “cá dentro” na nossa mente. Daqui vem, ainda hoje, a ideia confusa de que o que é inteligível é a realidade que está “lá fora”. Mas, em rigor, nós não compreendemos pedras, nem estrelas nem gravidade. O que pode ser mais ou menos inteligível, conforme outras restrições permitam, são os modelos que inventamos para descrever essas coisas. É somente através destes que compreendemos a realidade.

Mas esta confusão faz com que até narrativas como o Génesis ou os poemas de Homero criem facilmente a impressão de nos dar a compreender algo real apenas pela compreensão da narrativa. É uma sensação ilusória, porque nem sequer se tenta determinar se a narrativa corresponde à realidade que pretende narrar. Mas é uma ilusão tão forte que até acabou formalizada no “acreditar para compreender” de Agostinho e Anselmo, e sempre foi a base do pensamento religioso. Assim, a crença tornou-se o primeiro critério para apurar a verdade. Este problema foi o último a ser resolvido, não só pelo poder da ilusão de compreender quando se acredita mas porque, em geral, testar a correspondência entre modelos e realidade exige tecnologias de medição e técnicas de inferência que só surgiram nos últimos séculos. Aristóteles é muito criticado por julgar que as mulheres tinham menos dentes que os homens, mas não é nada fácil determinar essas coisas quando o número de dentes varia de pessoa para pessoa e se está ainda a séculos das primeiras noções de estatística.

Mas outro problema nas narrativas mitológicas tornou-se evidente mais cedo. É a tendência para acumular alegações ad hoc, o que não só dá origem a inconsistências mas exige que se acredite em tudo porque sim. Que as folhas caem porque Perséfone vai ter com Hades. Que o Sol nasce e se põe porque Hélio o transporta numa carroça ou que o Pai, o Filho e o Espírito Santo são três e um só ao mesmo tempo. Para evitar estas coisas, alguns gregos inventaram a argumentação. É uma narrativa mais estruturada, na qual se pode alegar o que se quiser como ponto de partida mas, daí em diante, as coisas têm de encaixar. Não vale ir inventando conforme dá jeito. Daqui surgiram imensas ideias acerca do que é feita a matéria, de como as coisas funcionam e de porque é que as mulheres são inferiores aos homens. Mas surgiram também coisas impressionantes, como a lógica de Aristóteles ou a geometria de Euclides. Tão impressionantes que até o cristianismo aproveitou esta abordagem, mas talvez também pelas conclusões acerca das mulheres.

Durante séculos, teólogos dedicaram-se a detalhar argumentos rigorosos onde assentavam conclusões inabaláveis acerca do momento exacto em que Deus criou a Terra ou se o Espírito Santo provém apenas do Pai ou também do Filho. O problema era o raio das premissas. Assumindo uma coisa, concluía-se isto mas, assumindo outra, já se concluía aquilo e aquilo podia não dar jeito nenhum. Enquanto os filósofos gregos aceitavam o convívio de argumentos contraditórios como parte do jogo, uma religião precisa de organizar as coisas. A solução foi declarar heresia qualquer premissa inconveniente e complementar a argumentação com o extermínio sistemático de quem não concordasse. O resultado foi a fragmentação do cristianismo nas muitas variantes que hoje temos, trazendo-o de volta aonde estavam os gregos mas com o caminho lavado em sangue.

O problema das premissas só se resolveu, já nos últimos séculos, com a solução para o problema de aferir a correspondência entre as narrativas e a realidade. Com as técnicas e tecnologias necessárias para medir, registar e interpretar os dados, passou a ser viável testar a generalidade das alegações. Foi a revolução que faltava para a ciência. Manteve-se a ideia original de procurar narrativas inteligíveis, se bem que a inteligibilidade tenha, por vezes, de ser sacrificada em favor da correspondência à realidade. Nem sempre a explicação mais fácil de entender é a mais correcta. Preservou-se também lógica rigorosa da argumentação, mas levando-a mais longe. Em vez do argumento isolado, uma linha de inferências a unir uma verdade presumida à sua conclusão inevitável, os argumentos passaram a fazer parte de árvores de possibilidades. Cada argumento é um ramo que une uma hipótese a consequências observáveis e cada hipótese é apenas uma entre várias alternativas. Assim, cobre-se as várias possibilidades sem ter de assumir nenhuma como verdadeira à partida. É o que se infere de cada hipótese que, confrontado com a experiência, determina que ramos descartar e que ramos aceitar como parte das melhores explicações. Estas, por sua vez, abrem novas árvores de possibilidades, continuando a expansão do conhecimento. É por isso que a ciência é a melhor forma de compreender a realidade. Porque junta as abordagens anteriores num processo optimizado para se corrigir e para progredir como nenhuma das outras consegue.

domingo, dezembro 14, 2014

Treta da semana (passada): ”Poder ao povo”

Sempre que saem os rankings das escolas ressurge a ideia de privatizar todo o sistema de ensino subsidiando as despesas com a educação. Por exemplo, «A solução passa [...] por dar "poder ao povo": se o Estado deixasse de financiar directamente as suas escolas (que, como as privadas, teriam de cobrar uma propina), e em alternativa desse a todo e cada pai sem rendimentos suficientes os meios para os seus filhos acederem à escola que preferissem (privada ou detida pelo Estado), nenhuma escola que não fosse reconhecida como boa por um número suficiente de pais poderia continuar a operar» (1)

Em geral, sou a favor deste tipo de medidas. É por isso que defendo um rendimento básico incondicional. O dinheiro e um mercado são a melhor forma de transmitir informação acerca do que cada um quer e, por isso, em vez de se andar a distribuir comida ad hoc, a organizar campanhas para ajudar os pobrezinhos e a dar subsídios de pobreza, devia-se simplesmente dar um rendimento garantido a cada pessoa, fosse quem fosse, para ajudar a comprar o que precisassem.

Mas isto depende de uma premissa crucial. O mercado tem de estar limitado pela procura. Só assim poderá responder adequadamente. Se dermos dinheiro a toda a gente, quem não tinha dinheiro para comprar pão passa a poder comprar pão porque o aumento na procura faz aumentar a oferta. Problema resolvido. Mas só nestas condições. Se houvesse uma guerra e não fosse possível fazer pão suficiente para satisfazer toda a procura, dar dinheiro não ajudaria os pobres porque o mercado iria responder subindo o preço. Os ricos continuariam a açambarcar o pão e os pobres teriam de comer relva. Nesse caso, é preciso racionar para que todos recebam uma parte justa. Isto é ineficiente e traz imensos problemas com aldrabices e mercado negro mas é a solução menos má quando o mercado está limitado na oferta.

É precisamente isto que se passa em serviços como os da saúde e educação. Fazer boas escolas não é como fazer um papo-seco. Exige anos, ou décadas, de investimento sustentado em formação e na criação das comunidades de professores que trabalham em cada escola. Este é um aspecto importante que tem sido muito descurado. A qualidade do ensino não depende apenas da qualidade individual dos professores mas também, e bastante, da forma como os professores de uma escola trabalham em conjunto. Para que a equipa funcione bem, é preciso tempo e estabilidade. Reorganizações constantes, incertezas nas colocações e a trapalhada que tem havido degradam muito a qualidade do ensino.

Por isso, num mercado de ensino, a oferta demora muito tempo a responder à procura. Mas os pais com o “cheque ensino” vão querer a melhor escola que isso lhes pagar naquele momento e não ao fim de dez anos de investimento. O resultado é que o mercado vai ajustar apenas o que pode ajustar rapidamente, que é o preço, enquanto que a instabilidade no investimento vai degradando a maioria das escolas, exceptuando apenas as escolas dos mais ricos. Que continuarão a ser apenas para os mais ricos.

Outro problema é o dos incentivos. Com as padarias basta alguma fiscalização das condições de higiene e da qualidade dos ingredientes para alinhar o interesse do produtor, que é ganhar dinheiro, com o do consumidor, que é comer bom pão. Nas escolas isto é muito mais difícil. Práticas como a inflação de notas (2) ou a selecção de alunos são praticamente impossíveis de regular e permitem às escolas aparentar maior qualidade do que realmente têm. Quando é trivial vender gato por lebre o mercado do coelho à caçador funciona mal. Nestas condições, o dinheiro deixa de cumprir o papel importante de guiar o produtor de acordo com as necessidades do consumidor.

Finalmente, há um problema fundamental na identificação do valor da educação. A ideia do mercado livre da educação presume que a educação tenha valor como bem privado. Algo que eu compro para mim ou para os meus filhos porque tem valor para mim ou para os meus filhos. Esta premissa, ainda que implícita, é necessária para justificar a liberalização deste mercado para que cada um compre de acordo com o valor que atribui à mercadoria. Mas o benefício que cada um tira da educação não vem apenas da sua educação ou da educação dos seus filhos. Vem também da educação de todos os outros. Socialmente, a educação tem um impacto enorme na criminalidade, na inovação, na produtividade, no ambiente, na qualidade de vida e até no funcionamento da democracia e das instituições públicas. Muito mais importante do que poder escolher para que escola vão os meus filhos é ter um sistema que vá melhorando o mais possível a formação de toda a gente com quem temos de conviver.

Infelizmente, as ideologias dominantes são muito influenciadas por quem tem dinheiro suficiente para não ter de ir ao supermercado, andar em transportes públicos ou, em geral, contactar com o zé povinho. Para esses, a educação dos outros tem muito menos benefícios. Pode até ser indesejável. Suspeito que seja daí que se vai propagando a ideia da educação como uma mercadoria em vez de um bem público.

Editado às 14:00 para substituir ratings por rankings.

1- Económico, Bruno Alves, Poder ao povo.
2- Público, Notas inflacionadas das privadas permitem ultrapassar até 450 colegas

sábado, dezembro 13, 2014

Questões

O programa “Prós e Contras” desta semana pretendeu debater a pergunta “Deus tem futuro?” (1). No entanto, dos seis elementos do painel, quatro pertenciam ao clero, um era ateu mas defendia que os ateus não se devem preocupar com a questão de Deus existir ou não, e o cientista, Carlos Fiolhais, defendeu apenas a posição de que a ciência não tem nada a dizer sobre o assunto. Assim, o painel dedicou-se a discutir quem teria a melhor variante do monoteísmo bíblico, concordando todos no futuro de Deus e discordando apenas acerca de que Deus teria tal futuro. Haveria muito a apontar mas, neste post, vou focar apenas a posição de Carlos Fiolhais porque abordou um problema fundamental. Fiolhais alegou que a ciência foca um tipo de perguntas e não todo o tipo de perguntas. Nisto estamos de acordo. Mas depois, sem esclarecer como divide as perguntas em vários tipos nem como se avalia as respostas, simplesmente afirmou que há perguntas que são respondidas pela arte, outras pela ciência e outras pela religião, e que «a ciência não pode responder à pergunta se Deus existe ou não existe». Disto já discordo e até posso explicar porquê.

Vou categorizar as questões em três tipos em função das respostas que admitem. O tipo menos interessante é o de perguntas como “Existe blrrt?”. Estas não admitem resposta porque só são perguntas na sintaxe. Semanticamente não são nada. É o que acontece com “Existe Deus?” quando não se especifica nada desse “Deus”. Na prática, isto é raro. A menos que alguém esteja rodeado de clérigos de religiões diferentes e queira evitar o confronto a todo o custo, raramente se coloca esta questão sem afirmar algo concreto acerca desse “Deus”.

Outras questões admitem várias respostas correctas. As respostas a perguntas como “Queres jantar?”, “Tens fé em Jesus?” ou “Acreditas que há vida noutros planetas?” dependem da pessoa ou até do momento em que são colocadas. No debate, Anselmo Borges declarou que Deus é objecto de fé e não de ciência. Esta afirmação é vaga mas pode querer dizer que Deus é apenas uma ideia, na mente do crente, onde este foca a sua fé. Se assim for, então a pergunta “Existe Deus?” pode ser correctamente respondida pela afirmativa ou pela negativa conforme a pessoa a quem perguntamos foca a sua fé nessa ideia ou não.

Finalmente, há aquelas perguntas que admitem uma resposta correcta e para as quais as restantes respostas estão erradas, em maior ou menor grau. Perguntas como “Qual é a forma da Terra?”, “Existem electrões?”, “Alguém levou o corpo de Maria para o Céu?”, “O universo foi criado por um ser inteligente?” e assim por diante. São perguntas que fazem sentido e que visam obter uma resposta única que não é função de crenças, escolhas ou opiniões do inquirido. A resposta, presume-se, é algo que “já lá está” e que temos de descobrir. Este é o tipo de perguntas que a ciência aborda.

Aqui costuma surgir outra confusão. É correcto dizer que as religiões dão respostas. É esse um dos seus objectivos principais. Pergunte-se a um religioso algo acerca dos deuses, da origem do universo, do maior mistério e ele, mesmo admitindo que é um mistério, dá normalmente uma resposta. A diferença entre religiões e ciência não está nos tipos de pergunta, porque ambas dão primazia às perguntas que exigem uma, e só uma, resposta certa. A diferença é que o ponto forte da ciência não é dar uma resposta mas sim fazer a parte difícil, que é avaliar, comparativamente, as respostas possíveis. É fácil esquecer isto porque, se se perguntar a um cientista qual o número atómico do carbono ou a idade do sistema solar, ele dá uma resposta. Mas apenas porque a ciência já foi feita. Já se passou séculos a considerar alternativas, a compará-las, a descartar muita coisa até chegar a algo que, provisoriamente, parece ser a melhor resposta.

Num aspecto, Fiolhais tem razão. Se perguntarmos sobre Deus a um católico, muçulmano ou judeu, cada um dará a sua resposta acerca do que Deus é, quer, fez e exige de nós. A ciência, concordo, não faz isto. A ciência não dá respostas tiradas do chapéu, seja por fé ou fezada. Mas se a questão admite apenas uma resposta objectivamente correcta a ciência é a melhor forma de tentar respondê-la porque a ciência procura entre todas as respostas possíveis aquela que encaixa na melhor explicação para todos os dados relevantes. Muitas vezes os dados são insuficientes para que uma resposta seja claramente melhor do que as demais e, mesmo que seja, sê-lo-à apenas provisoriamente. Mas isto é o melhor que se pode fazer e qualquer afirmação ou certeza que vá além disto é mera ilusão.

Outra confusão está em julgar que a ciência decide “provando” o que é verdade. Por isso, Anselmo Borges apontou que não se pode provar que Deus não existe. Mas consideremos a hipótese evangélica de Deus ter criado o mundo em seis dias há seis mil anos atrás. Se Deus é omnipotente, não se pode provar que isto é falso. Um deus assim até poderia ter criado tudo há cinco minutos sem ter deixado qualquer indício disso. Com um deus que tudo pode fazer, até as nossas memórias de infância podem ter sido criadas já nos nossos cérebros adultos. A ciência rejeita esta hipótese simplesmente porque há uma explicação melhor para a origem da Terra que não inclui deus nenhum. E isto aplica-se igualmente ao deus que terá ditado o Corão, ao deus que levou o corpo de Maria para o céu ou ao deus que terá feito o universo num big-bang. Tudo isso a ciência rejeita. Não por “provar” o que quer que seja mas porque a ciência é um processo contínuo de inferência à melhor explicação e, neste momento, essas coisas não fazem parte das melhores explicações que temos.

1- RTP, Prós e Contras.

domingo, dezembro 07, 2014

Treta da semana (passada): o cérebro e a verdade.

Num post sobre dez questões aos “evolucionistas”, o Mats pergunta «Se, segundo o neo-Darwinismo, nós mais não somos que uma combinação arbitrária de matéria, energia e processos aleatórios [...] então como é que alguém pode confiar no que eles chamam de “pensamentos racionais” de modo a que estes correctamente lhes indiquem a veracidade do que quer que seja?»(1). A afirmação de que somos uma combinação arbitrária de processos aleatórios é falsa. Os processos que decorrem em nós não são aleatórios; o efeito de uma proteína, membrana ou ácido nucleico está bem determinado pela natureza física de cada molécula. E a teoria da evolução não propõe que estes sistemas sejam uma criação arbitrária. Um problema dos criacionismos, do mais assumido ao mais disfarçado, é ter de presumir que a vontade de um criador omnipotente, omnisciente e inimaginavelmente maior do que nós o levou a criar-nos tal como somos sem qualquer necessidade que o forçasse a isso. É demasiada presunção para a evidência disponível. Mas a evolução não é arbitrária. É como uma avalanche. Nos detalhes, é caótica e imprevisível mas, a uma escala maior, tal como a gravidade e a geometria do terreno determinam por onde a neve escorrega, a selecção natural e o ambiente também forçam o caminho de cada linhagem. Por isso, soluções úteis para problemas comuns, como raízes, olhos, mandíbulas, pernas ou asas, evoluíram independentemente várias vezes.

O nosso corpo e o nosso cérebro não surgiram por mecanismos arbitrários ou aleatórios. Surgiram por quatro mil milhões de anos de aperfeiçoamento da arte de ter mais sucesso reprodutivo do que o vizinho. Isto levou a uma enorme diversificação de soluções, da bactéria ao eucalipto e ao mosquito, entre as quais está a nossa de usar um cérebro grande para se adaptar a situações diferentes. Isto traz-nos, essencialmente, ao argumento de Plantinga contra o naturalismo. Segundo Plantinga, o que podemos esperar da evolução será apenas um cérebro que nos dá crenças úteis para o nosso sucesso reprodutivo mas não necessariamente crenças verdadeiras. No entanto, a evolução dos nossas capacidades cognitivas não decorreu apenas sob pressão para um cérebro poderoso. Outra pressão importante foi a de ter um cérebro barato.

Se bem que um cérebro já pronto à nascença seja uma opção viável em organismos intelectualmente mais simples, para mamíferos, e especialmente para os primatas, isso seria demasiado dispendioso. Por isso, o cérebro de um humano recém-nascido é quase uma massa amorfa de neurónios. Há uma organização grosseira, ditada pelos genes e pelo desenvolvimento embrionário, mas os detalhes estão omissos. Nos primeiros meses nem sequer conseguimos controlar os membros. Mas todos os neurónios são capazes de formar ou eliminar ligações conforme os estímulos que recebem e, assim, adaptar o cérebro às regularidades nos padrões sensoriais. Isto não garante crenças rigorosamente verdadeiras mas a adaptação às correlações na interacção com o ambiente força alguma correspondência entre os modelos neuronais e o ambiente que os moldou. Se aprendemos a atirar pedras atirando pedras, a ideia que formamos da relação entre a trajectória e a força não pode ficar muito longe da realidade que imprimiu no nosso cérebro essa noção durante o treino.

No entanto, Mats e Plantinga estão correctos num ponto importante. A evolução de um cérebro geneticamente barato – que, por isso, se tem de adaptar ao ambiente para aprender – força os modelos mentais a corresponderem aproximadamente à verdade mas não os obriga a corresponder exactamente à verdade. E é precisamente isto que observamos. Sentimos a pedra como sólida e maciça mas, na realidade, trata-se da repulsão eléctrica entre nuvens de electrões na nossa mão e na pedra, ambas feitas de vazio salpicado de pequenas partículas. Parece-nos que a pedra está imóvel mas todos os seus átomos se agitam continuamente. Temos ideia de que a velocidade e posição da pedra, como as de qualquer objecto, são atributos independentes e bem definidos. Não é verdade. São apenas distribuições de valores possíveis e estão interligados de tal forma que estreitar a distribuição de um alarga a distribuição do outro. Durante quase toda a nossa história o cérebro enganou-nos acerca da realidade, dando-nos ideias aproximadamente correctas mas fundamentalmente erradas.

Só nos últimos séculos é que começamos a contornar os defeitos do nosso intelecto delegando em ferramentas boa parte do processamento dos dados. Medindo com relógios, réguas e espectrómetros em vez de “a olho”. Quantificando com álgebra, de forma algorítmica e mecanizada, em vez de nos guiarmos pela intuição. Construindo penosamente modelos simbólicos, parcialmente ininteligíveis, mas que podem ser testados e adaptados à realidade com rigor. Foi assim que chegámos onde estamos agora. Não é de admirar que haja criacionistas como o Mats. O Génesis foi escrito com o conhecimento intuitivo de uma tribo antiga e mesmo à medida das limitações do nosso cérebro. Milhares de anos, criação inteligente, homem feito do barro e essas coisas. Isso é fácil de digerir. A realidade que a ciência nos revela não é algo para o qual o nosso cérebro esteja preparado. Um universo com treze mil milhões de anos. Quatro mil milhões de anos de evolução biológica. A relatividade do tempo. A mecânica quântica. Qualquer criança percebe facilmente que a pedra é sólida mas vai precisar de décadas de treino para perceber o que a pedra realmente é e, no fim, terá apenas uma ideia abstracta daquilo que as equações lhe dizem enquanto o cérebro continua a insistir no erro inicial. Como diria Jack Nicholson, nós não conseguimos lidar com a verdade.

1- Mats, 10 questões que todo evolucionista tem que saber responder.

terça-feira, dezembro 02, 2014

Treta da semana (atrasada): a física de Rodrigues dos Santos

José Rodrigues dos Santos inspirou um dos seus livros em «estudos sobre o pós-morte e livros de física»(1). Desta combinação retirou que «A consciência sobrevive à morte porque está na origem de tudo», uma inferência duvidosa mesmo que a premissa fosse verdadeira. E não é. O que Santos quer dizer com “na origem de tudo” vem de uma interpretação errada da física quântica. « há dois anos estava a ler um livro de física que me explicou uma das coisas mais misteriosas que a ciência produziu, que é a experiência da dupla fenda. [...] quando uma partícula é observada comporta-se como tal, quando não é observada é uma onda fantasmagórica. É uma onda que não tem existência real: não tem energia, não tem forma, é uma onda abstracta de potencialidades [...]. As coisas não existem quando não são observadas e quando deixam de ser observadas voltam a não ter realidade física, regressam ao seu campo fantasmagórico. E portanto o papel da consciência é muito mais importante.» Santos afirma que falou com cientistas para confirmar esta intepretação, mas quando «estavam em desacordo comigo eu insistia, "está aqui uma passagem que confirma o que eu digo", e mantive o texto.» Devia ter sido menos teimoso.

A primeira coisa a ter em mente acerca da física quântica é que não é intrinsecamente estranha nem misteriosa. O problema está do nosso lado. Temos um cérebro que evoluiu sob pressão selectiva para ser bom a atirar lanças, encontrar as bagas maduras e convencer potenciais parceiros a colaborar na reprodução e criação da prole. Isso deu-nos uma visão muito enviesada e errada da realidade. Facilmente encontramos propósito e consciência em tudo, temos ideia de que a matéria é sólida e de que as coisas só mexem se algo as empurrar e assim por diante. A descrição mais correcta que temos da realidade só nos parece estranha porque a nossa intuição é completamente errada.

A experiência “misteriosa” que Santos refere consiste numa caixa que tem um emissor de electrões num lado, detectores no lado oposto, no meio, uma barreira com duas fendas por onde os electrões podem passar. Quando se emite um electrão, ele é detectado num detector do outro lado da caixa. Repetindo isto muitas vezes é possível contar quantos electrões caem em cada detector. O resultado que parece estranho é que os impactos formam um padrão de difracção como o da interferência de ondas (painel de baixo da figura, [2]).

fenda simples e dupla

Daqui vem a tal ideia de que o electrão se comporta como onda enquanto viaja pela caixa, e por isso interfere consigo próprio na passagem pelas duas frestas, mas depois se comporta como partícula quando é observado a bater no final da caixa. Esta ideia é errada. A noção intuitiva de onda e partícula vem da nossa experiência à escala em que vivemos e do nosso enviesamento cognitivo. Na realidade, as propriedades do electrão são uma sobreposição de todos os estados possíveis com uma certa densidade para cada um. Por exemplo, a posição do electrão reparte-se pela caixa com mais ou menos densidade em regiões diferentes. Isto faz com que a descrição mais correcta do electrão seja a de uma função que é matematicamente idêntica às funções que usamos para descrever ondas.

E quando o electrão interage com os detectores não se transforma em partícula. O que acontece é que os estados possíveis do electrão passam a fazer parte de um conjunto de sobreposições com os estados possíveis de todos os átomos, electrões e fotões do detector, dos circuitos do amplificador e do monitor onde vemos os resultados. Se pudéssemos observar todo este sistema como um só conjunto de partículas, teríamos de o descrever com as mesmas equações de onda com a sobreposição de todos os estados possíveis, se bem que agora com um número enorme de variáveis e coeficientes. Só que, como só olhamos para a emissão de alguns fotões do monitor no final desta cadeia, podemos simplificar a descrição e dizer que o electrão se comportou como uma partícula e bateu no detector naquele sítio. Não é verdade. Na realidade, lá bem no fundo, é tudo sobreposições de estados possíveis que só podem ser descritas por equações análogas às de ondas. O efeito de misturar os estados do electrão com os de muitos milhões de milhões de partículas e depois olhar só para algumas é que, na prática, faz parecer que o electrão se comportou de acordo com a nossa intuição de partícula.

A decoerência quântica não é um tema simples (3) e, no que toca aos detalhes, possivelmente não sei mais do que sabe o José Rodrigues dos Santos. Mas há um ponto fundamental que não é difícil de compreender e de cuja confusão muitos vendedores de tretas se aproveitam. A realidade é fundamentalmente como a mecânica quântica descreve. Os estados possíveis estão em sobreposição e não existe uma posição ou velocidade bem determinada para nenhuma partícula. O comportamento clássico que intuitivamente compreendemos à nossa escala, dos objectos com propriedades bem delimitadas, da pedra que está aqui e do pássaro que voa por ali, emerge da realidade quântica pela interacção de grandes números dessas partículas e a perda de informação resultante de se usar apenas uma pequena parte dos atributos do sistema. Dizemos que a pedra está parada mas todos os seus átomos se movem. É a esta redução de informação e interação de um sistema pequeno com um maior que se chama “observação” em física, e não tem absolutamente nada que ver com consciência.

1- I online, José Rodrigues dos Santos. "A consciência sobrevive à morte porque está na origem de tudo".
2- Wikipedia, Double slit experiment
3- Wikipedia, Quantum decoherence.