domingo, abril 29, 2012

Treta da semana: a Igreja social.

Nos comentários da treta da semana passada, o meu primo Luís Miguel Sequeira afirmou que «Se a ICAR fosse abolida em Portugal, o orçamento da Segurança Social teria de duplicar.»(1) Isto veio a propósito da possibilidade de Portugal denunciar a Concordata, o que não implicaria abolir religião nenhuma. Apenas deixaria a Igreja Católica ao nível de qualquer outra religião reconhecida pela Lei da Liberdade Religiosa. Mas a questão é interessante, e já ouvi muitas pessoas a dizer isto. No entanto, nunca com dados concretos que confirmassem tal estimativa. Por isso, pedi ao Miguel que apresentasse alguns números que fundamentassem. Segundo o Miguel, «O orçamento da ICAR tinha, em 2009, na parte das receitas cerca de 90 milhões de Euros; como todas as entidades sem fins lucrativos, isto significa que as despesas são sensivelmente as mesmas», e «59% [vem do Orçamento do Estado] (tal como acontece na maior parte das IPSS), o que significa que na realidade parte do orçamento da ICAR para acção social já vem do OE. Mas há 41% que não vêm.» O Miguel acrescenta que os custos da Igreja Católica são mais baixos do que os da Segurança Social porque «tem voluntários e membros que não são pagos de todo; e porque tem uma estrutura menos burocrática para administrar tudo», mas nota que há muitas instituições de solidariedade social que seguem o mesmo modelo.

Se estes valores estiverem correctos, o dinheiro envolvido na acção social da Igreja Católica equivale a menos de três milésimas dos 35 mil milhões de euros orçamentados para prestações sociais em 2012 (2). Mesmo assumindo que a Igreja Católica aplica o dinheiro de forma mais eficiente do que o Estado, dificilmente estas três milésimas irão equivaler a todo o resto, de tal forma que se tivesse de duplicar o orçamento da Segurança Social, de cerca de 21 mil milhões de euros, se a Igreja Católica fechasse as portas.

No entanto, é possível que estas contas subestimem os valores envolvidos. Em 2012, o Estado irá transferir 1.200 milhões de euros para as Instituições Privadas de Solidariedade Social, e é provável que uma fatia substancial desta verba vá parar a IPSS associadas à Igreja Católica. Ainda assim, o valor será uma pequena fracção das prestações sociais orçamentadas pelo Estado e, além disso, é dinheiro que o Estado dá à Igreja Católica, e não o contrário.

Outro problema é a questão da eficiência. Admito que, recorrendo a voluntários, se pode distribuir mais sopa aos pobres por menos dinheiro do que se tivermos de contratar profissionais para o fazer. No entanto, esse tipo de acção social é uma fatia muito pequena do bolo. Muito mais importante do que isto são as transferências directas para os beneficiários na forma de pensões, subsídios, abonos e outros apoios monetários. Para isto o voluntariado é irrelevante. Tal como é para outros serviços que o Estado garante e que são fundamentais para a sociedade. O voluntariado não serve para organizar a educação pública, serviços de saúde, justiça e infraestruturas de transportes, comunicações, energia e saneamento básico à escala nacional, e o impacto destes serviços é muito maior do que o da caridade. Caridade, aliás, que não é monopólio da Igreja Católica. É provável que, mesmo sem a Igreja Católica, houvesse outros dispostos a usar o dinheiro do Estado para financiar obras de caridade. Nem é claro que a Igreja Católica seja a melhor escolha, a julgar pela opinião de Jardim Moreira, padre e presidente da Rede Europeia Anti-Pobreza em Portugal (3).

Portanto, pela diferença de duas ou três ordens de grandeza entre o investimento público e a caridade co-financiada pelo Estado, parece-me obviamente falsa a alegação do Miguel. A Igreja Católica tem um peso insignificante na acção social em Portugal e está longe de ser insubstituível.

Além disso, há um problema ético de fundo nesta transferência de dinheiro público para as instituições de caridade, por muito pouco peso que tenha no orçamento do Estado. Quando o Estado paga o nosso tratamento hospitalar, a nossa educação, a nossa pensão de reforma ou invalidez, o subsídio de desemprego ou o abono de família, está a dar-nos o que é nosso de direito. Quando contribuímos com os nossos impostos para redistribuir a riqueza que a sociedade produz em conjunto, estamos a cumprir o nosso dever. Isto é justiça. Mas quando o Estado dá dinheiro dos contribuintes a instituições de caridade transforma a justiça em esmola. Isto é injusto para o beneficiário, que recebe o que é seu de direito, ou até menos do que isso, mas como se lhe fizessem um favor. E é injusto para o contribuinte, que deu esse dinheiro por dever para agora ser distribuído como caridade em nome de um deus, dos santos ou do padre que os representa.

1- Comentário em Treta da semana: a Concordata.
2- Relatório do Orçamento do Estado para 2012 (pdf).
3- Visão, "A igreja não é uma sucursal do Estado".

48 comentários:

  1. isto sem contar com as verbas que os municípios, todos os anos, transferem para as ipss, à laia de 'donativos'...sobretudo se são da igreja...e que mais não é que impostos do povo para fazer caridade...

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  2. Ludwig,
    Se com 3 milesimas faz o que esta a vista imagina se gerisse o orcamento na totalidade.

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  3. Oh pá, isto é um desafio grande demais para mim :) Como referi no outro comentário, os dados estão quase todos disponíveis, mas não estão tabelados e sumarizados em totais fáceis de ler e de comparar. Portanto a trabalheira de os coligir todos leva semanas (eu estimava aí uma semana de trabalho, mas é mais; muito mais).

    Seja como for, a questão não é apenas olhar para os montantes globais, mas sim para a eficiência com que os montantes são aplicados, e no número de pessoas que é abrangido pela acção social. A «minha» alegação (pois nem sequer é minha; ainda por cima vem de uma citação de uma católica praticante, que o fez há dez anos atrás, e que eu nem sequer lhe liguei muito na altura) era que o Estado português, se «nacionalizasse» a ICAR — no sentido de absorver todas as suas estruturas de acção social e as replicar na dependência do Ministério da Solidariedade Social e da Segurança Social (MSSSS)— teria de duplicar o actual orçamento que gasta em acção social nas mesmas áreas de intervenção. E isto se calhar era só válido lá pela viragem do século.

    Seja como for, explica-me lá de onde vêm esses 35 mil milhões de Euros. Isso parece-me que é o somatório de toda a despesa pública. Seja como for, o OE não é nada fácil de seguir, desde que o actual Governo o dividiu em «programas» que depois são distribuídos pelos ministérios, mas apresentam-se os valores para os «programas» separados dos dos ministérios. Isto complica um pouco a questão (tem a ver com o facto de se terem reduzido o número de ministérios... mas mantiveram-se os programas que estes executavam).

    A título de exemplo, na pág. 205 do OE para o MSSSS são referidos 6,7 mil milhões (incluindo despesas de funcionamento; pág. 205) (ver tb. Quadro III.3.16, pág. 78). Mas no Quadro III.3.23, pelo contrário, soma-se toda a Segurança Social (do qual pelos vistos o MSSSS recebe uma pequena parcela) para um total de 23,4 mil milhões, dos quais quase tudo são reformas, pensões, subsídios e quejandos (o 2º quadro A2, na página 225, refere 19,281 mil milhões para prestações sociais); para a Acção Social ficam 1,8 mil milhões de Euros. Mas isto inclui também as entidades «absorvidas» pelo Estado no seu OE: Casa Pia de Lisboa e Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (esta última com vastíssima receita própria, como se sabe).

    Nos tais 1,8 mil milhões para a acção social que não são pensões e reformas, onde calculo que estejam os custos com lares, creches, alimentação, abrigos, etc. é que podemos comparar com a actividade prestada pelas IPSS e pela ICAR. Já não são 3 milésimas mas 5% :) O desafio, pois, é agora pegar em todos os dados divulgados pela ICAR, somá-los todos, e ver quantas pessoas são apoiadas em acção social feita pela ICAR com um vigésimo do OE.

    Para isto já não basta consultar o OE. É preciso pegar na listagem de todas as pessoas actualmente em lares, creches e abrigos do MSSSS, mais as que são alimentadas (vulgo «sopa dos pobres») directamente pelo MSSSS; e depois fazer o mesmo cálculo para a ICAR. Do lado do MSSSS essa informação está pública... algures. Do lado da ICAR, temos quadros isolados, sem totais, no site da Agência Ecclesia. Dá um trabalho de morte somar aquilo tudo, e, ainda por cima, não se sabe se os quadros estão completos. Podem não estar. Podem ser estimativas. Ou estarem desactualizados...

    Na alegação que cito não faço ideia se também estão incluídas coisas como escolas, apoio médico e cuidados de saúde; se sim, já não basta olhar para o MSSSS, mas também para os outros ministérios que lidam com a educação e a saúde. Ainda complica mais as contas!

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  4. Não digo que não seja interessante de fazer o estudo completo, mas isso é areia de mais para a minha camioneta. Não sou economista, e não tenho tempo para um trabalho dantesco desses! Mas a alegação que cito partia do seguinte princípio: para dar apoio social a X pessoas (de um total desconhecido), o MSSSS precisa de Y pessoas e de gastar Z. A ICAR, para dar apoio social a essas mesmas X pessoas, precisa de M pessoas, e gasta N, onde N << Z. Se as X pessoas fossem transferidas da ICAR para o MSSSS, este precisaria de contratar mais Y pessoas e gastar, no total, 2*Z. A ICAR consegue fazer isto porque todas as Y pessoas no MSSSS são pagas com um salário, enquanto que as M pessoas são, na sua esmagadora maioria, voluntários sem salário. Também presumo que entre alguma engenharia financeira nas contas: por exemplo, muitas das instalações do MSSSS onde é prestado o apoio social pode ser arrendado e tem custos fixos de manutenção mais elevados, enquanto que a ICAR pode ter instalações próprias que lhe foram doadas, assim como parte dos custos fixos de manutenção podem vir de donativos de comida, roupa, medicamentos, equipamentos, etc. Logo — argumentava a minha amiga — é da maior conveniência do Estado manter o maior número de pessoas a serem assistidas pela ICAR (e restantes IPSS) para diminuir o peso na receita pública. Logo, mesmo as transferências de dinheiro do OE para a ICAR e as IPSS compensa ao Estado, porque investe apenas N (assumindo que comparticipasse em 100% o orçamento da ICAR) em vez de Z.

    Mas infelizmente sem fazer as contas todas — tanto aos montantes como às pessoas! — é impossível de validar ou de rejeitar esta alegação. Não basta olhar para o OE e dizer: «o Estado português gasta vinte vezes mais em acção social do que a ICAR, logo, a alegação é falsa». Mas se o Estado for vinte vezes menos eficiente a prestar esse serviço, a alegação é verdadeira (ou pelo menos seria no início do século XXI).

    Vinte vezes parece ser um balúrdio, mas não é tanto como parece — justamente porque o peso dos salários é brutal. Se um profissional do MSSSS custar €1000/mês, e com esses €1000/mês se conseguir manter vinte voluntários, então é óbvio que com os mesmos custos, uma IPSS consegue ser vinte vezes mais eficiente. Da minha curta experiência em voluntariado social, isto é mais que plausível.

    Nem de propósito, parece que se apresentou um estudo elaborado pelo CNIS sobre o assunto, mas não encontrei nenhuma referência online sobre o que é que o estudo apresentou em termos de números comparativos. Chama-se «As Instituições Particulares de Solidariedade Social num contexto de crise económica», e foi apresentado em Lisboa no dia 27 e vai ser apresentado no Porto no dia 30, com presença do ministro da tutela, e tem a Fundação Millenium BCP como sponsor, e montes de doutorados listados como orientadores do estudo. As notícias sobre o assunto variam entre o «muito positivo» (no sentido de que as IPSS criam 185 a 250 mil empregos, dependendo da notícias e contribuem para 2% do PIB nacional) e o «muito negativo» (referindo que quase 10% das IPSS estão em falência técnica). O ministro da SSSS aponta o modelo das parcerias MSSSS entre as IPSS como devendo seguir os mesmos modelos das parcerias público-privadas noutros ministérios, e a transição do «estado social» (onde o Estado assume todo o apoio social) para o «estado solidário» (onde as IPSS assumem todo o apoio social, em parceria com o Governo, que as dota de um orçamento). Não querendo fazer mais alegações sem quaisquer números, parece-me que se há ministros a considerarem que o papel das IPSS deve ser reforçado a todos os níveis (incluindo o orçamental) é porque reconhecem que são mais eficientes (ou pelo menos mais baratas...) do que o próprio Estado a prestarem essa acção social, sem peso para os contribuintes. Aliás, este é o modelo em vigor nos Estados Unidos (e, em certa medida, no Reino Unido e até na Alemanha).

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  5. Isto não «prova» nada porque sem números pode tratar-se apenas de demagogia :) No entanto, contraria em absoluto o teu último parágrafo. Na realpolitik o modelo «desejável» — em termos de equilíbrio financeiro e de aligeirar o peso sobre os contribuintes — são as parcerias com as IPSS (incluindo a ICAR) que fazem sentido. Se o rácio de eficiência destas em relação ao Estado é de 20:1, não faço a menor a ideia. Mas tenho a certeza que haverão boas razões para um ministro anunciar que este é o modelo para continuar, reforçar e expandir — porque assim se presta mais acção social a um maior número de pessoas com um peso muito inferior nos bolsos dos contribuintes. Isso é pouco ético...?

    É claro que se não «gostas» de acção social patrocinada por religiões (descansa que um sem-abrigo ou toxicodependente está-se nas tintas para quem lhe mete o prato de sopa à frente... até desconfiam do Estado quando os quer «ajudar»), tens um bom remédio: cria a tua própria IPSS! E depois concorre com elas para as «destronar» da sua posição. Saímos todos a ganhar.

    E sim, tb. faço parte de um grupo que está a «criar» um projecto de apoio social, constituído por voluntários, mas que não tem qualquer intenção de pedir um tostão que seja ao Estado. Mas obviamente que é a uma escala microscópica (talvez mesmo nanoscópica...). E descansa que não vai haver caridade distribuída em nome de nada ou de ninguém, excepto, claro, em nome daqueles que estão com fome e frio nas ruas. Justamente se se quer ver apoio social que seja «alternativo» ao da ICAR, é preciso arregaçar as mangas e trabalhar para isso — e não reclamar da «falta de ética» daqueles que já estão activamente a fazer algo em benefício dos destituídos e desempossados.

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  6. "Justamente se se quer ver apoio social que seja «alternativo» ao da ICAR, é preciso arregaçar as mangas e trabalhar para isso — e não reclamar da «falta de ética» daqueles que já estão activamente a fazer algo em benefício dos destituídos e desempossados."

    Muito bem, Luis. Mais acção e menos palavreado.

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  7. Miguel,

    « a questão não é apenas olhar para os montantes globais, mas sim para a eficiência com que os montantes são aplicados».

    Sim, mas quando a diferença nos montantes é de duas ou três ordens de grandeza, a eficiência torna-se um factor menor. Além disso, a forma mais eficiente de combater a pobreza é dar dinheiro às pessoas. Precisamente com: «quase tudo são reformas, pensões, subsídios e quejandos». Não é possível substituir isto por 21 mil milhões em sopa para os pobres, por muito eficiente que seja a cozinheira.

    «explica-me lá de onde vêm esses 35 mil milhões de Euros»

    Página 25 do documento (33 do pdf), na rúbrica “transferências sociais”. Este valor inclui tudo o que é dado às pessoas e exclui os custos administrativos, tanto quanto sei.

    «Nos tais 1,8 mil milhões para a acção social que não são pensões e reformas, onde calculo que estejam os custos com lares, creches, alimentação, abrigos, etc. é que podemos comparar com a actividade prestada pelas IPSS e pela ICAR.»

    Não. Isso é aldrabice. No limite, seria como dizer que o Estado gasta 0€ em sopa para os pobres, a ICAR gasta X€, com X>0, e, por isso, o Estado teria de aumentar infinitas vezes os seus gastos na segurança social se a ICAR desaparecesse. Não faz sentido.

    O que tens de considerar é tudo o que o Estado faz que contribui para a qualidade de vida das pessoas fora do mercado capitalista, e isto inclui pensões, saúde, justiça e afins, e comparar isso com o que a Igreja faz, e ver quanto o Estado teria de pagar mais se não fosse a ICAR. Pelos números e pelo efeito que cada tipo de acção faz, eu até suspeito que se o Estado em vez de dar aqueles milhões à ICAR os dedicasse ao ensino ou à saúde seria melhor para todos.

    «O desafio, pois, é agora pegar em todos os dados divulgados pela ICAR, somá-los todos, e ver quantas pessoas são apoiadas em acção social feita pela ICAR»

    Não. Se a ICAR dá uma sopa no natal a 2,000 pessoas gastando um euro com cada uma o Estado dá um RSI a 500,000 dando 1,200€ por ano a cada uma, tu não podes dizer que a ICAR é 1200 vezes mais eficiente a menos que assumas, incorrectamente a meu ver, que uma sopa no natal equivale a 100€ por mês durante todo o ano.

    A alegação é acerca do impacto que a falta da ICAR teria no orçamento. O que tens de perguntar é, se a ICAR desaparecesse, quanto teríamos de aumentar o orçamento para manter a mesma qualidade de vida, em média, para as pessoas. Dados os valores irrisórios em relação ao orçamento total e a margem de erro associada a todas estas estimativas, nem é claro que se possa afirmar que o orçamento iria aumentar em vez de diminuir.

    «Não digo que não seja interessante de fazer o estudo completo, mas isso é areia de mais para a minha camioneta.»

    OK. Também não disse que a alegação era tua, nem acho que sejas tu que tens de fazer isso :)

    A alegação é comum. Muitas pessoas acham que sim, que a ICAR tem um enorme papel social e que o Estado precisa da ICAR senão estávamos tramados. Pelos montantes envolvidos e pelo impacto dos tipos diferentes de acção social (por exemplo, pensões e educação gratuita fazem muito mais para combater a pobreza do que o lar das irmãs do sagrado coração ou o jantar de natal da paróquia), parece-me claramente que isso é treta.

    «para dar apoio social a X pessoas (de um total desconhecido), o MSSSS precisa de Y pessoas e de gastar Z.»

    Ou seja, além de apoiar X pessoas ainda dá emprego a Y, o que também é importante para combater a pobreza. O principal no combate à pobreza é a redistribuição. É cobrar dinheiro a quem tem mais e arranjar maneira de o dar a quem tem menos. Seja empregando as pessoas, dando subsídios e pensões, pagando saúde e educação, etc. Desde que o Estado cobre a quem tem mais e dê a quem tem menos, combate-se a pobreza (i.e. reduz-se o coeficiente de Gini :)

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    1. Ok, mas agora estás a discutir as coisas de forma diferente, e não a cingir-te à tal alegação :)

      Posso concordar contigo de que é melhor dar dinheiro às pessoas do que lhes dar sopa. Não está isso em questão. É a velha teoria de que dar uma cana de pesca é melhor do que dar um peixe. Melhor ainda: dar formação gratuita com um subsídio de reintegração social e habitação a baixo custo (ou mesmo nulo) é muito melhor do que distribuir sopa. Obviamente que concordo em absoluto com isso!

      A única coisa que está em questão nesta discussão é se o Estado é vinte (ou cem vezes) menos eficiente a distribuir sopa do que a ICAR e as restantes IPSS, que já o fazem contribuindo com cerca de 200.000 postos de trabalho (dependendo do artigo que se ler, este número varia...) e 2% do PIB. Ou seja: distribuir sopa também cria riqueza e postos de trabalho. Para além disso utiliza uma vasta rede de voluntários que fazem o trabalho todo de borla, o que significa que podem ser mais eficientes a distribuir sopa porque fazem batota :)

      Repito: eu nunca disse, de forma alguma, que distribuir sopa é melhor e mais eficiente do que dar pensões, subsídios, formação, reintegração social, e habitação. E isso é o que o MSSSS também faz, e é onde aplica a maior parte do seu orçamento. Não quer dizer que a ICAR e outras IPSS não façam o mesmo, mas fazem-no a uma escala que pode ser considerada negligível para os efeitos da discussão. Tudo o que disse é que isto já não é válido na acção social abrangida pela palavra genérica «caridade», onde questiono a capacidade do Estado poder fazer o mesmo aos mesmos custos. Mesmo que a tal alegação de 2001/2 estivesse errada, os recentes comentários ao estudo da Fundação Millenium BCP dão a entender que o actual Governo vê com bons olhos a substituição progressiva da acção social do MSSSS (excepto, justamente, a entrega de subsídios, reformas, pensões, etc.) pela acção social das IPSS (a ICAR na realidade não é "uma" IPSS, mas sim uma colectânea de IPSS independentes, sob a mesma alçada).

      Agora podemos discutir do ponto de vista do modelo social se é melhor baseá-lo em «caridade» (modelo americano) ou em «subsídios» (modelo do Estado social europeu). A meu ver, ambos têm o seu mérito, e pessoalmente inclino-me mais para o modelo do Estado social europeu, complementado pela «caridade» quando este modelo não consegue chegar a todas as pessoas. Também gostaria de ver um estudo em que se colocassem números lado-a-lado para tornar a acção social, tanto do Estado como das IPSS, desnecessário: isto seria a criação de um subsídio universal para toda a gente. Há problemas legais complicados (ex. como se legalizam as dezenas de milhares de imigrantes ilegais que actualmente dependem da caridade, porque se forem pedir ajuda ao Estado, vão ser encaminhados para o SEF?), mas se assumirmos que se podem ultrapassar, seria interessante de ver o custo real da substituição da acção social integralmente por subsídios.

      Se calhar não é tanto dinheiro como isso.

      E nesse caso, nesse novo contexto, a «comparação» entre Estado e IPSS deixaria de fazer qualquer sentido, pois a acção destas seria desnecessária.

      Não podes é afirmar que a acção social actual é desnecessária porque, AFAIK, não há ninguém que tenha feito um estudo destes — seria imediatamente apelidado de «comunista» e desacreditado publicamente. Portanto o desafio é para o PCP e BE patrocinarem um estudo destes :)

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  8. O Ludwig ignora que o próprio desenvolvimento do Estado social ocidental, longe de ser religiosa ou ideologicamente neutro, é o resultado de 2000 anos de reflexão sobre os princípios cristãos de igual dignidade dos seres humanos e a sua subsequente aplicação ao Estado.


    Não é partindo do princípio de que o ser humano é um acidente cósmico sem qualquer dignidade intrínseca que se chega, logicamente, à consagração de princípios constitucionais de dignidade da pessoa humana e de justiça e solidariedade social.

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    1. Bem, isso é discutível; a noção de igual dignidade dos seres humanos não é copyright do modelo cristão — nem sequer original. Além disso, durante uns bons 1500 anos pelo menos, o «princípio cristão» era aplicado de forma não igualitária («ou te convertes e recebes comida, ou morres na fogueira»).

      O que se pode dizer é que foram os princípios humanistas que foram implementados a partir de 1789 — mesmo que com pouco sucesso inicial — que conduziram ao Estado social europeu (não gosto de dizer «ocidental» porque os EUA discordam deste modelo, e o que não falta mais nos EUA é fundamentalismo cristão :) ). Esses princípios humanistas eram defendidos — mas não aplicados — pela ICAR na altura de forma igualitária. E é certo que não «surgiram do nada» mas que têm as suas raízes nos filósofos clássicos gregos (pelo menos no ocidente), que por sua vez «contaminaram» (e muito bem!) a teologia embrionária cristã quando esta surgiu.

      O que também não se pode ignorar é que nunca existiu, à face da Terra, uma instituição tão gigantesca e tão rica como a ICAR que, pelo menos a partir do século XIX (ou até do início da Revolução Industrial), investiu uma enorme parte do seu património (financeiro, humano, e arquitectónico...) em implementar estes mesmos princípios em todo o mundo, independentemente do papel dos estados que administravam os territórios onde a ICAR (e mais tarde outras entidades de caridade, cristãs ou não) se estabeleceu. Isto não se pode menosprezar. Sócrates (ou Platão) e Aristóteles apenas formularam uma ideologia baseada nesses valores mas não construiram nem uma organização, nem sequer um estado duradouro, que implementasse esses princípios :) A ICAR fê-lo, mas para se ser honesto, isso só aconteceu «a sério» depois de 1789. Não é por acaso que as Misericórdias em Portugal nascem por essa altura, depois do anti-clericalismo do Marquês de Pombal ter procurado relegar o papel da ICAR ao apoio espiritual e não material...

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    2. "o «princípio cristão» era aplicado de forma não igualitária («ou te convertes e recebes comida, ou morres na fogueira»)."

      Curiosamente, os argumentos sempre mobilizados para condenar essa prática iam no sentido de que isso era contrário aos princípios cristãos...

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  9. Miguel,

    «Não basta olhar para o OE e dizer: «o Estado português gasta vinte vezes mais em acção social do que a ICAR, logo, a alegação é falsa». Mas se o Estado for vinte vezes menos eficiente a prestar esse serviço, a alegação é verdadeira»

    Concordo. No entanto, os números indicam que isso é impossível. Primeiro, não é vinte vezes, mas entre sessenta e trezentas. E, em segundo lugar, o Estado gasta 21 mil milhões em despesas com o pessoal e 37 mil milhões em transferências sociais. Mesmo que sejas da opinião de que todos os funcionários públicos são ricos e que poderiam trabalhar como voluntários sem impacto na pobreza do país, o aumento de eficiência nem chegaria a duas vezes, muito aquém do intervalo de 60-300 necessário para que a alegação fosse verdadeira. E dificilmente encontrarás uma forma mais eficiente de combater a pobreza do que dar dinheiro aos pobres...

    «Se um profissional do MSSSS custar €1000/mês, e com esses €1000/mês se conseguir manter vinte voluntários»

    Mas esses voluntários vivem de quê? Com a economia que temos, se o Estado despedir todos os funcionários públicos o resultado será uma enorme vaga de desemprego e pobreza e não um enorme aumento no voluntariado por ser tudo malta rica que agora fica com tempo livre para servir sopas e mudar fraldas.

    «Não querendo fazer mais alegações sem quaisquer números, parece-me que se há ministros a considerarem que o papel das IPSS deve ser reforçado a todos os níveis»

    Claro que sim. É a malta de direita. É a malta da caridadezinha, a malta que não reconhece que todos os cidadãos têm direito a uma fatia da riqueza que a sociedade produz e que acha que a acção social só serve para dar esmola aos pobres. A malta dos vouchers para a educação e saúde. Se pudessem até privatizavam a justiça (ainda mais do que efectivamente já está). Mas isto é uma ideologia. Não tem nada que ver com os números.

    «Justamente se se quer ver apoio social que seja «alternativo» ao da ICAR, é preciso arregaçar as mangas e trabalhar para isso — e não reclamar da «falta de ética» daqueles que já estão activamente a fazer algo em benefício dos destituídos e desempossados.»

    Mas para isso tens de pensar primeiro nos objectivos. Por exemplo, se o que queres é dar refeições gratuitas aos desempregados ou formação, saúde e segurança económica. Se queres dar esmolas ou redistribuir efectivamente a riqueza que a sociedade produz. Se queres aliviar o sofrimento dos pobres ou reduzir a injustiça económica. Etc. Por isso é um erro quando estás a pensar só em substituir a ICAR fazendo apenas o que a ICAR faz, porque há muitas coisas muito mais importantes para combater a pobreza e as injustiças sociais. Vê, por exemplo, o que acontece no país com a menor assimetria entre ricos e pobres: Sweden 'uninterested' in volunteers: charity head.

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    1. Estás de novo a comparar a globalidade do MSSSS com a limitada acção social da ICAR e das IPSS. Vidé comentário acima. Pelo menos do meu ponto de vista, que sou apologista do modelo do Estado social europeu, e não necessariamente do modelo americano, não estou a propor que se substitua toda a Segurança Social pela acção das IPSS. Não é que teoricamente seja impossível — como estou farto de repetir, funciona nos EUA — mas ideologicamente é uma solução com que discordo.

      Stick to the point: não estamos a comparar alhos com bugalhos :) Senão o teu argumento vai ser sempre válido, excepto para um grupo de extrema-direita que acha que o Estado não tem nada que dar apoios aos que precisam (mesmo a direita supostamente moderada que se identifica com o CDS é a favor de pensões, subsídios e reformas).

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  10. Miguel,

    Já agora, «é preciso arregaçar as mangas e trabalhar para isso». É o que estou a fazer. Como funcionário público faço parte da maior organização de apoio social do país. Podem dizer que é pouco eficiente, mas é difícil organizar as coisas ao nível de um país inteiro sem problemas. Dedico-me ao ensino, que é uma parte importante do combate à pobreza e à miséria. Não trabalho como voluntário mas, como não sou rico, se trabalhasse como voluntário teria de dedicar a maior parte do tempo a ganhar dinheiro no sector privado. Ou seja, a grelhar hamburgers, enlatar salsichas ou pentear senhoras para lucro de um patrão que via ali uma oportunidade de negócio, tudo coisas que, à parte dos impostos que pagam, pouco fazem pela sociedade.

    É verdade que o pequeno contributo que dou para a educação de cada um dos 200+ alunos por semestre fica tão diluído em tantos outros factores que não posso sequer dizer quem é que ajudei em particular. Se em vez de dar aulas desse sopa aos pobres, podia orgulhar-me de “arregaçar as mangas” e ajudar este ou aquele. Mas a melhor forma de combater a pobreza é tentar prevení-la a tempo inteiro em vez de tentar mitigá-la em part-time.

    É por isso que me preocupa esta noção de que o Estado é ineficiente no combate à pobreza porque emprega profissionais para tratar da segurança, educação, saúde e distribuir pensões e subsídios em vez de “arregaçar as mangas” e dar esmola em regime de voluntariado. É cada vez mais prevalente a terrível ideologia de confundir justiça com caridade, querer levar tudo para o sector privado, alegadamente mais eficiente, e que eventualmente nos poderá dar as belíssimas condições que havia no início da revolução industrial, quando os empresários se concentravam a ganhar dinheiro, os padres tratavam da caridade, e as crianças trabalhavam dezasseis horas por dia nas minas de carvão. Era um fartote de oportunidades para os mais abastados tirarem uma horita aqui e ali para “arregaçar as mangas” e ajudar os pobrezinhos.

    A caridade não é a solução. É um sintoma de que algo ainda vai mal.

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    1. Nesse caso, podemos poupar 1,8 mil milhões de Euros ao Estado e cortar com a sua acção social e, em vez disso, distribuir €1000/mês a mais 150.000 famílias :) Pensando bem, não é tão má ideia como isso...

      Mas mais uma vez não estou a discutir isso hehe. Não estou a dizer sequer que «a caridade seja a solução». Não estou sequer a contestar que com uma melhor distribuição de riqueza não se conseguia eliminar a necessidade de caridade; claro que isso é verdade! Por exemplo, um ouvinte da TSF recentemente participou num forum e fez as contas aos lucros apresentados pelos 4 maiores bancos nacionais. Se apenas metade desses lucros fosse usado para pagar hipotecas de pessoas que neste momento estão em risco de ficar sem casa, «salvavam-se» anualmente 350.000 famílias (e os bancos continuavam a apresentar lucros!). Também não verifiquei estas contas, mas os lucros apresentados são públicos, e presumo que o valor médio de uma hipoteca também conste dos dados do INE. Ora num regime um pouco mais à esquerda do actual, considerando o momento de crise, uma taxação mais eficiente permitia ajudar directamente — com dinheiro, não com sopa! — centenas de milhares de famílias. Pelo menos em teoria (substanciada matematicamente!) isto de facto é possível de conseguir.

      Mas se o actual Governo «não quer» fazer isso, que resta? A caridade :-P

      Portanto, se o teu argumento era de que a caridade é uma forma ineficiente de suprir as dificuldades da população, e que é possível — matematicamente — resolver o problema dando subsídios (e formação, e habitação...) a toda a gente, força nisso. Concordo em absoluto com essa estratégia.

      Mas a forma como redigiste o artigo aparenta apenas ser um ataque pessoal à ICAR por razões emocionais, usando depois justificações racionais para comprovares as tuas alegações :)

      Por outras palavras: a proposta de um Estado de inspiração socialista (não confundir com o PS, que é tão socialista como eu sou desportista de alta competição :) ) permite, em teoria, que não seja necessário caridade. E de facto, que eu saiba, na URSS não foram precisas instituições de caridade (religiosas ou outras) durante muitas décadas. A China, à medida que é menos socialista, tem tido mais e mais instituições de caridade a apoiar as centenas de milhões de desempossados chineses. Há, pois, um bom fundamento na tua argumentação de que esse tipo de ideologia permite abolir progressivamente com a caridade e substitui-la por modelos mais justos de valorização daqueles que actualmente nada têm. E isso não está, de todo, em discussão. Pelo menos não por mim!

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  11. Uma coisa importante aqui, em relação ao «arregaçar as mangas», é que quando uma pessoa se voluntaria para algo está a fazer uma dádiva, neste caso em serviços. Seja uma hora de explicação gratuita a quem precisa, seja estar à porta do supermercado a colaborar com as campanhas do Banco Alimentar, etc..

    Mas quem tem uma vida torne mais difícil fazer dádivas desta forma, tem outras formas de materializar a sua preocupação pelos outros. Contribuindo com dinheiro para instituições que fazem um trabalho importante e dele necessitam, como a Amnistia Internacional, ou mesmo a wikipedia.

    O trabalho profissional, seja em favelas ou na sala de aula da universidade, ou onde for, também pode ele próprio ser uma dádiva se a pessoa estiver convencida que poderia encontrar outro emprego que, fora a satisfação de ajudar os outros, lhe traria melhores condições.

    E isto sem falar na preocupação cívica nas questões políticas do país, naquilo que afectam terceiros: em dedicar tempo a informar-se, reflectir e estimular a participação política nos outros.

    Há várias formas de dedicar o nosso tempo a ajudar os outros, todas com o seu mérito.
    De resto, não me parece que falte a um grupo legitimidade moral para discutir a questão da ajuda aos outros. De todo.

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    1. Com certeza! Isso é o espírito de um modelo de Estado social: todo o trabalho produzido, seja que de forma for, vai directa ou indirectamente beneficiar aqueles que não podem trabalhar para se auto-sustentarem.

      No entanto, nos meus comentários apenas referia que não existe, de facto, esse modelo de Estado social em Portugal. Infelizmente significa que não se chega a todas as pessoas que estejam a morrer de fome ou de frio.

      Agora pode-se é ter várias atitudes:

      - que se lixem os que estão a morrer de fome e de frio nas ruas. As instituições de caridade que tratem deles (modelo americano). Eu tenho a minha vida e a minha própria sustentação com que me preocupar!
      - vamos dar comida e casa gratuita a todos (modelo URSS) através de uma distribuição de riqueza mais justa
      - não posso fazer nada pelos que nada têm, mas posso ajudar a construir um mundo melhor de forma indirecta: dando aulas, gerando riqueza, pagando impostos (penso que é aquilo a que tu e o Ludi aludem), e, dessa forma, contribuir progressivamente que mais gente possa beneficiar de comida e casa gratuitas
      - enquanto o Estado social não chegar a toda a gente, vou para a rua distribuir sopa (caridade no actual modelo misto)

      Todas estas soluções têm o seu mérito; todas têm a sua dose de vantagens e desvantagens.

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    2. Luís,

      Eu não defendi a terceira opção. Eu defendi que há várias formas de ajudar. Mencionei 4, e alertei para que a primeira não é a única. Mas acredito que a primeira tem mérito, e acrescento que cá em Portugal não é exclusiva da Igreja.
      Para dar um exemplo, no IST o GASIST tem pessoas que são católicas, mas também tem vários ateus.
      Cada um deve contribuir naquilo que for mais eficaz para que o sacrifício que possa eventualmente fazer resulte no máximo de consequências positivas para os outros, mesmo que isso implique dedicar-se a apenas uma destas formas de ajudar. Mas muitas vezes pode ser mais do que uma. O Ludwig, por exemplo, já algumas vezes mencionou dar donativos, que também é uma forma importante de ajudar.

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    3. Quando disse que se podia ter várias atitudes não estava a dizer que haviam, de entre a lista, algumas que fossem «melhores» ou «mais válidas» que outras :)

      Por exemplo, eu até acho que a «melhor» forma de melhorar a vida das pessoas é mudar-lhes a mentalidade :) Mas é a mais difícil de todas e a que leva mais tempo! Por isso, entretanto, é preciso ir fazendo alguma coisa de mais concreto para providenciar algum auxílio...

      Donativos são também uma forma de caridade, mas dirigida a instituições e não a indivíduos.

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    4. Então parece que estamos de acordo :)

      (Não estava a usar essa distinção na palavra donativo - estava a usar no sentido de «dádiva», mas é uma distinção útil)

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  12. Miguel,

    «Ok, mas agora estás a discutir as coisas de forma diferente, e não a cingir-te à tal alegação :)»

    Pelo contrário. A alegação foi «Se a ICAR fosse abolida em Portugal, o orçamento da Segurança Social teria de duplicar.» Dependendo de como contamos este orçamento, isto significa a duplicação de um orçamento entre os 20 mil milhões de euros e os 40 mil milhões de euros. O que quer dizer que para o Estado ter o mesmo impacto na luta contra a pobreza que tem a ICAR, se a ICAR desaparecesse, seria preciso acrescentar entre 20 e 40 mil milhões de euros ao OE. Penso que podemos rejeitar essa afirmação como falsa com grande segurança. Não concordas?

    Agora, se a tua alegação for “se o Estado distribuisse sopa aos pobres com apenas 90 milhões de euros daria menos sopas do que a ICAR consegue distribuir”, talvez tenhas razão. Mas isso é que é uma alegação diferente :)


    «Não podes é afirmar que a acção social actual é desnecessária porque, AFAIK, não há ninguém que tenha feito um estudo destes »

    Não é isso que afirmo. Pelo contrário, a acção social é fundamental. Mas é preciso contar tudo o que contribui para a sociedade e para combater a pobreza, e isto vai desde justiça, transportes e educação até aos subsídios, reformas e afins.

    O que afirmo é que sempre que precisarmos de caridade para tapar buracos é porque há buracos que deviam ter sido tapados com justiça social. A caridade não é a solução mas uma consequência do problema.

    «Estás de novo a comparar a globalidade do MSSSS com a limitada acção social da ICAR e das IPSS.»

    Mas a alegação inicial, que critico (e que não é tua, é de muita gente), é «Se a ICAR fosse abolida em Portugal, o orçamento da Segurança Social teria de duplicar.» Não é o orçamento consignado sopa dos pobres. É o orçamento, ponto.

    «Nesse caso, podemos poupar 1,8 mil milhões de Euros ao Estado e cortar com a sua acção social e, em vez disso, distribuir €1000/mês a mais 150.000 famílias :) Pensando bem, não é tão má ideia como isso...»

    Precisamente. Tinha a vantagem de ser mais eficiente e de já não ser caridade ou esmola. No entanto, tem as desvantagens de não passar pelas mãos de pessoas e organizações muito influentes na nossa política e de não dar a oportunidade a quem está bem na vida votar contra aumentos nos impostos de consciência limpa porque serviu umas sopinhas no jantar de natal da paróquia e os pobrezinhos ficaram todos contentes.

    «Mas se o actual Governo «não quer» fazer isso, que resta? A caridade»

    Eu diria o voto. Mas é preciso que o pessoal arregace as mangas para fazer o que é preciso em vez de o que tem melhor aparência e não muda nada :)

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    1. I stand corrected. Afinal estamos apenas a discutir os pormenores de qual é a alegação. E a culpa é minha, devia ter sido mais preciso. Aliás, até já ouvi a alegação ainda mais abrangente: «se a ICAR não existisse, o Orçamento de Estado tinha de suplicar». Todo o orçamento, o que é uma estupidez. Quando interpelei a pessoa que disse isso, ela tornou-se mais precisa: «bem, pelo menos o orçamento da Segurança Social». E quando fiz notar que a maior parte desse orçamento são reformas, pensões e subsídios, ainda foi mais precisa: «o orçamento reservado à acção social». Cometi esse mesmo erro no outro comentário; não fui suficientemente específico.

      Sim, podes encerrar então esta conversa — a alegação está claramente refutada :)

      Quanto à discussão de «caridade» vs. «subsídios» penso que vale a pena abrires uma nova discussão. É que esta andou demasiado confusa em torno do que estava a ser alegado e perdeu-se a essência do ponto que querias fazer: de que a caridade não é uma solução. Pelo menos não é uma solução igualitária.

      Aqui obviamente que concordo como princípio geral (porque, bolas, ainda acredito em Estados sociais e democráticos! Posso ser totó, mas acredito nisso :) ), embora haja um aspecto da caridade que vale a pena referir como útil, embora seja uma questão filosófica e não política, e, como tal, é de importância menor. Fica para comentar se voltares a este tópico, talvez com um título bombástico como é teu costume tipo "Crise: a caridade não é solução, é parte do problema".

      E quanto a votar em Governos que reforcem o modelo de Estado social, I'm all for it. :)

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    2. «Duplicar» e não «Suplicar». LOL! Estes lapsus linguae são divertidos!!

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  13. E o Ludwig sugere que votemos em que, já agora?

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  14. "quem" em vez de "que", no comentário anterior.

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  15. RESPOSTA AO LUÍS MIGUEL SEQUEIRA

    O Luís Miguel Sequeira deu como exemplo a inquisição e a fogueira para por em dúvida a existência de princípios cristãos de dignidade humana.

    No entanto, eles encontram-se em Génesis 1, quando se diz que o homem e a mulher foram criados à imagem de Deus.

    Por isso é interessante ver a troca de palavras entre Jesus e os discípulos, depois de os samaritanos terem rejeitado Jesus.

    A este propósito, A Bíblia diz: (Lucas 9).

    “Vendo isto os discípulos Tiago e João, disseram: Senhor, queres que mandemos descer fogo do céu que os destrua? Ele porém, voltando-se, repreendeu-os, e disse: Vós não sabeis de que espírito sois.Pois o Filho do Homem não veio para destruir as vidas dos homens, mas para salvá-las."


    É precisamente porque existe uma padrão objectivo e transcendente que podemos dizer que os católicos estavam errados quando queimavam aqueles (cristãos incluídos) que deles discordavam.

    Se a moral for subjectiva e aleatória não temos fundamento nenhum para os criticar.

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    1. Alguma coisa não bate certo. Em João 4 diz que os Samaritanos não rejeitaram Jesus. E não só não o rejeitaram como o acolheram e aos seus discípulos durante dois dias. Seria outro Jesus? Ou seriam outros Samaritanos?
      Não é o mesmo Lucas que no capítulo 12 diz que Jesus disse que não tinha vindo para trazer a paz mas a discórdia e virar o pai contra o filho e a mãe contra a filha?

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    2. O texto de Lucas fala de alguns samaritanos que rejeitaram Jesus porque perceberam que ele ia para Jerusalém.

      Jesus semeou a discórdia logo na sua família, quando alguns dos seus irmãos não se recusaram a aceitar a sua singularidade. A divisão surgiu igualmente entre os discípulos.

      Também a Igreja cristã tem conhecido divisões ao longo dos séculos, corroborando as palavras de Jesus.

      Quando proferida num contexto de pecado e corrupção, a verdade é muitas vezes incómoda e não consensual.

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    3. Então em que ficamos? Tiago e João de acordo com Lucas perguntaram a Jesus se ele queria que Tiago e João fizessem chover fogo dos céus.
      Já João decide ignorar por completo este pequeno episódio por vergonha será?

      Mateus tem alguma coisa a dizer sobre o episódio ou não estava presente na altura?

      Já agora seria possível por todos os seus off-topics de uma só vez e numa só resposta ao assunto para o qual não irão contribuir de forma alguma?

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    4. Cá estou a sofrer do mesmo problema: se generalizo demais, dão-me cabo da cabeça.

      @perspectiva, o que queria dizer, e que deveria ter sido óbvio para todos, é que uma coisa são os princípios expostos por Jesus Cristo nos Evangelhos, a outra coisa foi como eles foram colocados em prática pelas organizações cristãs durante séculos e séculos, ok?

      Jesus Cristo tem uma mensagem não-ambígua e clara: a salvação é para todos. É universal. Não discrimina entre ninguém. Não é preciso ser-se crente para se ser salvo; basta ser-se humano e querer ser-se salvo. «Querer a salvação», no entanto, é algo que tem de ser aprendido; por isso Cristo veio ensinar algumas boas razões para se aprender a desejar algo que Ele via como sendo altamente desejável. No entanto, a decisão final de se querer ser salvo era deixada a cada um.

      A ICAR manteve a posição de que só a ICAR é que sabe quais são os métodos correctos para se querer a salvação — todos os outros são incorrectos (i.e. Extra Ecclesiam nulla salus. Como tinha o mandato (auto-assumido) de levar esses métodos a toda a gente — «espalhar a Boa nova» — isto significou, durante a maior parte da existência da ICAR, a excluir todos aqueles que recusavam a salvação. Durante um período desta existência, a melhor forma de os excluir era simplesmente matá-los — seja em autos-da-fé, seja em guerras religiosas. Ainda hoje o IRA pensa assim.

      A tua citação é perfeitamente ilustrativa do que eu pretendia dizer. Cristo veio para salvar todos. Mas a ICAR reinterpretou isso como lhe dando «autorização» para salvar apenas os que se queriam juntar à ICAR. Quase toda a totalidade de grupos de inspiração cristã não alinhados com a ICAR professam o mesmo sistema: salvação para nós, condenação para todos. No fundo é curioso, porque a mensagem de Cristo vinha justamente estender o conceito limitado da doutrina judaica do Povo Eleito, limitado no espaço e na população, para abranger toda a Humanidade. Mas os seguidores de Cristo, séculos depois, acharam o velho modelo judaico muito mais interessante, porque dava-lhes autorização para eliminarem e excluírem aqueles de quem não gostavam.

      Era isso que queria dizer, e por isso é que coloquei «princípios cristãos» entre aspas. Deveria ter colocado «princípios defendidos por entidades que alegam ser de inspiração cristã mas que não o são» para ser mais preciso.

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  16. Off topic interessante:

    Um estudo recente sugere que o facto de se ser religioso, e até muito religioso, só por si não garante sentimentos de compaixão pelas pessoas...

    É interessante que Jesus chamou exactamente a atenção para esse ponto, na sua Parábola do Bom Samaritano

    Desde Génesis ao Apocalipse a Bíblia ensina que Deus não quer mais religião, mas mais compaixão.

    Como Deus diz: " “Pois misericórdia quero, e não sacrifício, e o conhecimento de Deus, mais do que holocaustos”. (Oséias, 6:6)


    E Jesus, falando aos religiosos do seu tempo, reitera:

    "Ide, pois, e aprendei o que significa: Misericórdia quero, e não sacrifícios. Porque eu não vim chamar justos, mas pecadores.” (Mateus 9:11-13)

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    1. Não me admira nada esse estudo. Simplesmente comprova que nesta época o que há mais é materialismo espiritual: usar a pretensão de se ter um «ar espiritual» para cultivar o ego e atrair as atenções e os elogios de terceiros. Este tipo de pessoas nem saberia reconhecer um acto compassivo mesmo que batesse com um de frente :)

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  17. Duas palavras:

    Uma para lamentar a cegueira e o sectarismo do Ludwig: não reconhecer o papel da Igreja e da religião na acção social é de um autismo que não permite muito diálogo.

    A outra para o perspectiva que está a ter intervenções cada vez mais interessantes.

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    1. Depende, claro, da interpretação da palavra «interessante». O Ricardo Araújo Pereira é «interessante» porque me faz rir.

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  18. Off topic interessante: como evolucionistas e criacionistas bíblicos interpretam os mesmos dados de forma diferente:


    Um estudo recente mostra que as galáxias supostamente mais antigas são muito mais maduras e têm muito mais massa e estrelas do que os modelos dominantes previam


    1) Os evolucionistas procurarão rever os seus modelos de evolução cósmica até eles conseguirem "prever", ex post facto, aquilo que realmente se pode observar no cosmos.

    2) Os criacionistas bíblicos, que acreditam na desadequação dos modelos de evolução cósmica de base naturalista, apenas se limitam a salientar que os factos observados desmentem esses modelos.

    Duas visões do mundo, duas maneiras diferentes de interpretar a mesma evidênciaq.

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    1. Rever os modelos de evolução cósmica até eles estarem de acordo com as observações novas é o que se chama de ciência. Quando um modelo não está de acordo com as observações, é rejeitado. É assim que a ciência progride: rejeitando conhecimentos adquiridos que se verificam não estarem de acordo com o observado.

      Os criacionistas bíblicos não adquirem conhecimentos: partem de dogmas revelados, e como dogmas que são, não é possível de adaptá-los ao observado. Se as observações estão em contradição com os dogmas, rejeitam-se as observações.

      Sem dúvidas que são duas visões do mundo. O positivista adapta o seu conhecimento de acordo com o observado, o criacionista bíblico rejeita a observação quando não se ajusta ao conhecimento. O primeiro caso pelo menos deu-nos a tecnologia que dispomos hoje em dia. O segundo caso, se tivesse trazido uma mente calma e um mundo livre de problemas de ódio, agressão, guerras, etc. pelo menos teria algum mérito, mas infelizmente não é isso que se verifica...

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  19. Off topic interessante: como evolucionistas e criacionistas bíblicos interpretam os mesmos dados de forma diferente:

    Um estudo recente mostra que a evidência de uma rápida formação do sistema solar...


    1) Os evolucionistas, além de terem que rever os seus modelos de evolução cósmica de todo o Universo, têm que rever os seus modelos de formação do sistema solar.

    2) Os criacionistas bíblicos apenas notam que toda a evidência é consistente com a criação rápida, precisa, madura e sobrenatural do Universo e do sistema solar, tal como a Bíblia ensina.


    Duas visões do mundo, duas maneiras diferentes de interpretar a mesma evidência.

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  20. Off topic interessante: como evolucionistas e criacionistas bíblicos interpretam os mesmos dados de forma diferente:

    Um estudo recente mostra que insectos gigantes coexistiam com dinossauros


    1) Os evolucionistas têm que explicar a origem evolutiva desses insectos gigantes e a razão pela qual eles "evoluíram" para insectos mais pequenos com o tempo.


    2) Os criacionistas notam a elevadíssima preservação dos fósseis desses insectos, e a existência de tecidos moles não fossilizados de dinossauro, sugerindo o seu sepultamento recente, abrupto e catastrófico, com o dilúvio global, e a existência de um mundo pré-diluviano com vegetação luxuriante e melhores condições de vida e alimentação.


    Duas visões do mundo, duas maneiras diferentes de interpretar a mesma evidência.

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  21. Off topic interessante: como evolucionistas e criacionistas bíblicos interpretam os mesmos dados de forma diferente:

    Um estudo recente mostra que a selecção natural e a selecção natural continuam a verificar-se nos seres humanos.


    1) Os evolucionistas alegam que se trata de mais uma evidência da teoria da evolução por mutações aleatórias e selecção natural.

    2) Os criacionistas sustentam que a selecção natural e sexual são fenómenos que actuam sobre informação genética pré-existente de cada género, cuja origem não explicam, e que vão eliminando gradualmente, nada tendo a ver com a suposta evolução de partículas para pessoas. Também neste caso seres humanos "evoluem" para... seres humanos.

    Duas visões do mundo, duas maneiras diferentes de interpretar a mesma evidência.

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  22. António Parente,

    Infelizmente, o problema é mais profundo. Durante décadas, fomos habituando a classe política ao voto no clube. Uma grande parte do eleitorado faz essencialmente de lastro votando sempre nos mesmos, independentemente do seu desempenho. O resultado é que os dois partidos maiores têm sempre um número grande de deputados assegurado e simplesmente vão alternando no governo. Isto não só reduz o incentivo para dar ouvidos aos eleitores (acabam por votar nos mesmos, em grande parte, protestem ou não) como permite manter as redes de contactos pessoais que os políticos depois rentabilizam em negócios proveitosos para si e para os amigos.

    A solução está em votar, não, a curto prazo, num quem que recomende agora (isso cada um saberá por si) mas em usar o voto como um contrato. Cada partido é uma organização que se candidata à administração do país, e cada eleitor um avaliador que dá o seu parecer acerca de qual é o melhor candidato. É importante que se deixe de ver os partidos como “o meu partido” e “os dos outros” e se passe a avaliá-los imparcialmente como candidatos ao governo.

    Se assim for, qualquer partido que ponha aldrabões, mentirosos, irresponsáveis ou ladrões no governo ficará, nas eleições seguintes, sem deputados ou perto disso. E isso sim fará com que o voto passe a servir como mecanismo de controlo dos governantes por parte dos governados.

    Até lá, não adianta em quem eu ou o António votarmos, porque a maioria vai simplesmente votar nos que sempre votou, dê lá para onde der.

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    1. Subscrevo em absoluto.

      Sou gozado pelos meus amigos porque já votei em todos os grandes partidos (e alguns menores), aparentemente sem qualquer lógica :) «Estás sempre a mudar de opinião!» dizem eles. Sim, pois claro que estou; porque é que a minha opinião deveria ser fixa, imutável e impermanente? Da mesma forma, os partidos também vão mudando os seus discursos; e não acredito de que exista uma Verdade Política Absoluta no partido X ou Y e que por isso tenha sempre de «votar nos mesmos».

      Claro que muitas vezes me senti compelido a votar em partidos e candidatos obnóxios e isso custou-me bastante a engolir... mas foi porque tinha admitido a mim mesmo que, apesar de não gostar nem da ideologia, nem da pessoa que o representa, o facto de eu «gostar» ou não de uma pessoa/partido/ideologia, é perfeitamente irrelevante. O que importa é decidir o que é melhor para a globalidade da população portuguesa. Que interessa se eu fico «mal-disposto» por votar em X, se, graças a esse voto, posso garantir que 10,5 milhões de portugueses tenham uma vida melhor e mais feliz? Quem me dera ser eu o único português infeliz mas ter a capacidade de votar em quem consiga fazer todos os restantes portugueses felizes!

      Sou 100% a favor da «votação como contrato» tal como expuseste.

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  23. Sofrologista,

    O meu post não é propriamente acerca da ICAR ter ou não ter um papel social. Obviamente que algum efeito social tem (se, no global, é mais positivo do que negativo é uma questão de valores, e nisso penso ser legítimo haver dissensão).

    O post foi especificamente acerca da alegação de que se a ICAR deixar de ajudar os pobres o orçamento da segurança social tem de duplicar para compensar. É essa alegação que rejeito, e explico porquê.

    Talvez, se discordas, seja mais útil apontar factos do que dar sermões...

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    1. oh home atão nã têm pingo doce em Odivelas?
      Lidl sey que têm que já lá fui...o qué normal aquilo tá tudo cheio de Tudescos pidescos...

      Uma grande parte do eleitorado faz essencialmente de lastro (não votando porque não faz parte das clientelas das obras púbicas 400 mil que viviam disso nem do emprego púbico 600 mil e fornecedores do estado 300 mil) sempre nos mesmos, independentemente do seu desempenho (os 3 milhões de subsidiados continuarão a sê-lo ). O resultado é que os dois partidos maiores têm sempre um número grande de deputados assegurado e simplesmente vão alternando no governo...e os restantes partidos são demagógicos e sem alternativas para fotmar um governo

      que tire eficazmente a 2 milhões para dar aos restantes 8

      Napoleão expropriou uns milhares de nobres e reprimiu com impostos os servos da gleba mantendo os preços do trigo baixos para controlar les citoyens

      não se pode dar a uma classe sem tirar a outra...n'est pas pá...

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    2. «não se pode dar a uma classe sem tirar a outra»

      Pode-se sim, mas não é fácil e não faz parte do programa de governo de nenhum dos dois principais partidos :)

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  24. E é injusto para o contribuinte, que deu esse dinheiro por dever para agora ser distribuído como caridade em nome de um departamento, dos santos desse departamento ou faculdade ou do padre vosso que os representa.
    E há 40 mil a mais...
    ou a menos
    depende do con tribui inté

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  25. Ludwig,

    O papel da ICAR não é apenas fundamental na Segurança Social. É também crucial no sistema de saúde. Pelo menos, esta é a opinião de João César das Neves...

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    1. E também se estende à educação. Embora talvez seja legítimo dizer que aí o impacto é bem menor do que era há 50 anos atrás e pouco significativo perante o ensino público que temos actualmente.

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