Tolerância Religiosa
O debate de segunda feira com o Alfredo Dinis, na Escola Secundária de Oliveira do Bairro, foi um pouco curto. Tivemos que respeitar os horários da escola e houve primeiro uma apresentação preparada por alguns alunos, pelo que o tempo não deu para tudo. Mas valeu a pena. O auditório estava cheio e a encenação dos alunos mostrou que tiveram cuidado em pesquisar várias religiões e ilustrou a importância desse conhecimento para a tolerância religiosa. Quanto mais cedo se aprende que a religião dos pais é apenas uma entre muitas mais fácil é ser tolerante para com os crentes das outras.
No debate em si, o Alfredo criticou como intolerância aquilo a que chamou de “fundamentalismo ateu”, referindo-se a escrever livros que dizem mal da religião. Não sendo tendencioso, repudiou também o extremismo religioso como atentados à bomba e a tortura de pessoas durante a Inquisição. Eu salientei a diferença qualitativa entre exprimir opiniões e fazer mal às pessoas e defendi que a tolerância é a defesa das liberdades individuais e não o direito de exigir que não se diga mal das coisas que gostamos.
Este é um problema recorrente aqui no blog, onde de vez em quando me chamam intolerante por dizer o que penso. Sempre me pareceu estranho. Exprimir uma opinião, seja em tom neutro ou ofensivo, com ironia, humor ou condescendência, é no máximo um teste à tolerância. Mas nunca pode ser intolerante por si. Intolerante é aquele que se refugia num beiço de ofendido por não ter resposta, reclamando que certas coisas não se dizem. Decidir o que os outros podem ou não podem dizer é que é intolerância.
Mas concordo com o que o Alfredo apontou, que os ateus muitas vezes ridicularizam e caricaturam as religiões, fazendo-as parecer superstições irracionais. Os religiosos raramente tentam fazer isto do ateísmo, pelo menos intencionalmente. Mas há uma razão. É que a maioria das crenças de qualquer religião é mesmo um monte de superstições irracionais. E ridículas. Quando um padre afirma convicto que Maria era virgem está a defender uma hipótese ginecológica que é tão infundada quanto implausível. E baseando-se apenas no testemunho imputado aos amigos do filho que, em nome da decência, se espera não terem estado em posição para averiguar tal coisa. O critério do coração não justifica afirmar que a hóstia virou deus nem o espirito santo consegue mostrar que alguém tem alma. O apego a tais superstições fazem da religião um alvo ideal para a zombaria. Assumindo, é claro, que não se vai para a prisão por isso, que é o que acontece quando se deixa aos religiosos a definição de tolerância.
Obrigado ao Vítor Oliveira pelo convite e pela iniciativa, ao Alfredo Dinis por mais esta oportunidade para conversarmos, à directora e vice-directora da ESOB pela simpatia com que nos receberam e aos alunos do curso profissional de empregado de mesa pelo requinte com que nos serviram o almoço.
Ah!, seu intolerante! Sabes bem que essas coisas não se dizem! :-)
ResponderEliminarJaime
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Man!!! Tu foste falar daquela coisa do ginecologico aos miudos? Grande cena... Isso preocupa-me uma beca. Olha, eles riram-se como se não houvesse amanha?
ResponderEliminar"E baseando-se apenas no testemunho imputado aos amigos do filho que, em nome da decência, se espera não terem estado em posição para averiguar tal coisa"
ResponderEliminarPara tua informação, podia ter sido a andar a cavalo, isso não prova nada.
Antonio Parente:
ResponderEliminarAgradecia uma primeira fase de humor logico, consequente, capaz de fazer contrair o sobrolho e sorrie simulaneamente, seguido por uma segunda fase de algum sarcasmo mascarado de nonsense americano mas hilariante e por fim um final comico-filosofico monty-pythiano.
Ou então um pedido de desculpas por teres ofendido os participantes de uma discussão em que eu me incluia. Ainda acho que esta é a tua melhor opção.
João,
ResponderEliminarNão, não falei disso no debate. Mas falei de coisas bem mais obscenas, como o artigo 252 do código penal que pune com um ano de cadeia quem escarnecer de uma religião. Ou a lei da liberdade religiosa que dá tempo de antena a todas as religiões mas não dá tempo de antena a quem não tem religião.
Caro Ludwig,
ResponderEliminarninguém mais do que eu lamenta o facto do debate não se ter prolongado, mas para além da apresentação inicial ter demorado mais do que aquilo que eu previa, as escolas secundárias têm um ritmo próprio, isto para além do ritmo dos adolescentes, certo?!
Seja como for, valeu bem a pena. Os alunos têm manifestado exactamente isso.
Mais uma vez obrigado e um abraço.
Vítor João Oliveira
«Só espero é que não amuem»
ResponderEliminarLOL! Fala um especialista?
Vitor,
ResponderEliminar«ninguém mais do que eu lamenta o facto do debate não se ter prolongado»
Sim, tinha sido melhor se tivessemos mais tempo, mas concordo que o debate era para os alunos e era importante respeitar os horários deles.
Já agora, se algum aluno que lá esteve quiser comentar ou pôr alguma questão aqui que esteja à vontade (e que não se assuste se aparecerem comentários enormes a falar de gaivotas; é normal por aqui ;)
A propósito de "tolerância religiosa"...
ResponderEliminarhttp://lishbuna.blogspot.com/
é o último post de 19 de Nov.
"e que não se assuste se aparecerem comentários enormes a falar de gaivotas; é normal por aqui ;)"
ResponderEliminarhahahah
"Eu não tolero os intorelantes."
ResponderEliminarQue tipo de recicionio será este?
Ou "não se deve tolerar os que não toleram a tolerância", ou ainda.
ResponderEliminar"Cuidado com a intolernacia à tolerância."
Ludwig:
ResponderEliminarUm movimento ateista organisado não tem tempo de antena? Pois, estou a ver porque é que alguns cientistas americanos decidiram fazer da ciencia uma religião com templos e tudo...
Por falar em religião.
ResponderEliminarVer isto.
"Ou então um pedido de desculpas por teres ofendido os participantes de uma discussão em que eu me incluia".
ResponderEliminarJoão,
vá esperando sentado. O fundamentalismo exclui por natureza a possibilidade de admissão de erro. A falta de inteligência também.
Cristy
Primo Parente,
ResponderEliminarCom atenção, julgo que é possível ver a Cristy.
Antonio Parente:
ResponderEliminarSo por respeito ao Ludwig não levas uma "melhor" resposta. Mas digo-te que tens perdido boas oportunidades de te mostrares coerente.
Primo Parente,
ResponderEliminarRepare também que ao segundo 13 aparece por via aérea um tipo vestido de vermelho com fortes indícios de ter acabado de conversar com a Palmira, que infelizmente não se vê na imagem.
Caro Ludwig,
ResponderEliminarO sentido que dás a tolerância é bastante simplista. Claro que, se tolerância significa aceitar tudo o que os outros digam ou possam dizer, nesse caso, todo e qualquer disparate será sempre um teste à tolerância.
No entanto, quando se acusa ateus, como Dawkins e Harris, de intolerância e fundamentalismo, o que se está a querer dizer? Apenas isto: consideram inaceitável que uma pessoa sã e intelectualmente desenvolvida possa crer em Deus. Julgam que a razão só aponta para um lado: o deles.
No fundo, a intolerância é apenas um reducionismo simplista, como tu fizeste na tua apresentação na Faculdade Católica de Braga.
É claro que há uma diferença qualitativa entre dizer mal e fazer mal, mas não é isso que está em causa. Mesmo se fosse essa a questão, não poderíamos esquecer os exemplos do fundamentalismo ateu bem presentes no século XX, que levou ao extermínio de inúmeros religiosos.
Já agora, podias responder à pergunta que o Alfredo faz no seu blog (http://companhiadosfilosofos.blogspot.com/):
«O fundamentalismo científico e intolerante de Harris e Dawkins para com a religião, contrasta com a tolerância construtiva e inteligente de Wilson. Tenho a sensação de que o Ludwig se aproxima mais de Harris e Dawkins que de Wilson. Estarei enganado?»
Obrigado
«Mesmo se fosse essa a questão, não poderíamos esquecer os exemplos do fundamentalismo ateu bem presentes no século XX, que levou ao extermínio de inúmeros religiosos.»
ResponderEliminarFilipe,
Tal como sugeri ao nosso primo Parente (que teve a bondade de não me levar a mal), perante essa observação o que se oferece imediatamente é a desproporção enorme entre intolerância ateus/religiosos e entre religiosos/religiosos. Em pleno século XXI continuam a esbofetear-se nos locais supostamente fundadores e inspiradores da fé. O ateísmo é dos facciosismos o mais inofensivo, além de que pessoalmente me irrita o protagonismo "representativo" do Harris e Dawkins que os crentes tanto gostam de lhes atribuir.
Desculpem-me o parêntesis.
"Quando um padre afirma convicto que Maria era virgem está a defender uma hipótese ginecológica que é tão infundada quanto implausível."
ResponderEliminarPdia ter um hímen complacente, e tecnicamente ter-se mantido virgem mesmo depois de ter ido pra trás dos arbustos com Ele.
Agora imaculada é que acho que não terá ficado...
Caro Bruce,
ResponderEliminarque religiosos? Que ateus? Poes todos os religiosos no mesmo saco? Por ventura não estás a fazer a falácia da generalização precipitada.
obrigado.
filipe
Caro Filipe,
ResponderEliminarO ateísmo fundamenta-se na simples premissa de que Deus não existe. Nesse sentido é só um ateísmo. Mas para evitar falácias ou precipitações, de que religiosos estamos a falar quando falamos de "tolerância religiosa"?
O problema não é a tolerância, nem a intolerância, mas quem é que define o que ser "intolerante" e o que é ser "tolerante".
ResponderEliminarPor exemplo, é "intolerância" ser-se contra o casamento homosexual?
Quem é que assim o define? O cristão ou o ateu?
Sem uma âncora moral tudo o que podemos fazer é gritar uns contra os outros.
Bruce Lose
ResponderEliminarLOL
Cristy
« Eu salientei a diferença qualitativa entre exprimir opiniões e fazer mal às pessoas e defendi que a tolerância é a defesa das liberdades individuais e não o direito de exigir que não se diga mal das coisas que gostamos.»
ResponderEliminarOra aqui está um excelente tema. Baseado nesta falácia, há muito discurso sofismático que ronda o absurdo.
É evidente que achincalhar os sentimentos das pessoas é uma forma de violência. Algumas dessas formas ultrajantes de ridicularizar os sentimentos das pessoas são, até, crime.
No caso das religiões, por enquanto, tal não acontece.
As religiões funcionam como famílias, de cujos membros sentem a dignidade injuriada quando alguém, abusiva, voluntária e indecentemente, resolve agredir (mesmo que verbalmente) os seus princípios.
E, isso é “fazer mal ás pessoas”?
Claro está que tudo o que provoca sofrimento nas pessoas é, em primeira instância, “fazer-lhe mal”.
Daí que, discursos como este comecem a ser alvo de preocupação, incluindo na ONU. Felizmente, alguns países, mesmo os mais progressistas (como é o caso da Holanda), preparam-se para criminalizar o “insulto á religião”…
Um bom tema que tratarei brevemente no meu Blog.
Exemplo: se eu falar dos cigarros, do acto de fumar e dos fumadores, passo a ser intolerante, mesmo que permita que fumem, desde que eu não apanhe com o fumo? Há fumadores que criticam a si mesmos por serem fumadores e não gostariam que os seus filhos sigam as suas pisadas nesse aspecto. São intolerantes em relação a si mesmos?
ResponderEliminarSe eu criticar a astrologia, os astrólogos e os que acreditam na astrologia, passo a ser intolerante.
Se alguém estiver a peidar o tempo todo numa sala fechada onde estou e se eu criticar a situação ou a pessoa, mesmo permitindo que o faça, estou a tolerá-lo. Se proibir que o faça, não o tolero. O significado da palavra não é muito difícil de ser compreendida.
http://www.priberam.pt
Tolerar:
«consentir tacitamente;
ser indulgente;
deixar passar;
permitir;
desculpar;
suportar.»
Tolerante: «que tolera ou suporta;
indulgente.»
Intolerante:
«que não é tolerante;
intransigente;
ríspido;
inflexível;
pessoa que não admite opiniões nem crenças contrárias às suas;
que se opõe aos princípios da liberdade.»
É isso que Alfredo Dinis está a atribuir ao que chama de “fundamentalismo ateu”?
Ludwig:
ResponderEliminar«Mas concordo com o que o Alfredo apontou, que os ateus muitas vezes ridicularizam e caricaturam as religiões, fazendo-as parecer superstições irracionais. Os religiosos raramente tentam fazer isto do ateísmo, pelo menos intencionalmente.»
Já vi muito cristão a ridicularizar ateus, mas ao ponto de desumanizá-los. Este aqui leva a isso a outro nível.
Mas também já vi muitos ateus a ridicularizarem-se e caricaturarem-se, em forma de estereótipos, exageros, com personagens ateias religiosas que vão de porta-em-porta ou numa Igreja dos ateus, a usarem os argumentos de religiosos hardcore, etc. Mas é verdade que nunca é a mesma coisa, porque sabemos que em geral são sátiras.
Há também a facilidade de associar as religiões a excessos, imoralidades e crimes. Por exemplo, a piada do padre pedófilo é comum. Exemplos: 1, 2, 3. Os exemplos dados de ateus têm sempre algo em comum: comunistas totalitários. É a isso que os associamos. E é fácil mostrar a maioria dos ateus a oporem-se aos ateus intolerantes.
Além disso a intolerância é mais associada às religiões. Os ateus são acusados do oposto: de excessiva liberalidade, como (exemplos mais recentes) a aceitação de casamentos homossexuais e a legalização do aborto. Isso é ser tolerante. É claro que existem muitos cristãos que também podem ser acusados do mesmo, mas nos países mais religiosos, como os EUA, esses seriam falsos cristãos e na verdade ateus (até recebi uma mensagem de alguém a dizer que os católicos são ateus disfarçados...).