Sempre que saem os rankings das escolas ressurge a ideia de privatizar todo o sistema de ensino subsidiando as despesas com a educação. Por exemplo, «A solução passa [...] por dar "poder ao povo": se o Estado deixasse de financiar directamente as suas escolas (que, como as privadas, teriam de cobrar uma propina), e em alternativa desse a todo e cada pai sem rendimentos suficientes os meios para os seus filhos acederem à escola que preferissem (privada ou detida pelo Estado), nenhuma escola que não fosse reconhecida como boa por um número suficiente de pais poderia continuar a operar» (1)
Em geral, sou a favor deste tipo de medidas. É por isso que defendo um rendimento básico incondicional. O dinheiro e um mercado são a melhor forma de transmitir informação acerca do que cada um quer e, por isso, em vez de se andar a distribuir comida ad hoc, a organizar campanhas para ajudar os pobrezinhos e a dar subsídios de pobreza, devia-se simplesmente dar um rendimento garantido a cada pessoa, fosse quem fosse, para ajudar a comprar o que precisassem.
Mas isto depende de uma premissa crucial. O mercado tem de estar limitado pela procura. Só assim poderá responder adequadamente. Se dermos dinheiro a toda a gente, quem não tinha dinheiro para comprar pão passa a poder comprar pão porque o aumento na procura faz aumentar a oferta. Problema resolvido. Mas só nestas condições. Se houvesse uma guerra e não fosse possível fazer pão suficiente para satisfazer toda a procura, dar dinheiro não ajudaria os pobres porque o mercado iria responder subindo o preço. Os ricos continuariam a açambarcar o pão e os pobres teriam de comer relva. Nesse caso, é preciso racionar para que todos recebam uma parte justa. Isto é ineficiente e traz imensos problemas com aldrabices e mercado negro mas é a solução menos má quando o mercado está limitado na oferta.
É precisamente isto que se passa em serviços como os da saúde e educação. Fazer boas escolas não é como fazer um papo-seco. Exige anos, ou décadas, de investimento sustentado em formação e na criação das comunidades de professores que trabalham em cada escola. Este é um aspecto importante que tem sido muito descurado. A qualidade do ensino não depende apenas da qualidade individual dos professores mas também, e bastante, da forma como os professores de uma escola trabalham em conjunto. Para que a equipa funcione bem, é preciso tempo e estabilidade. Reorganizações constantes, incertezas nas colocações e a trapalhada que tem havido degradam muito a qualidade do ensino.
Por isso, num mercado de ensino, a oferta demora muito tempo a responder à procura. Mas os pais com o “cheque ensino” vão querer a melhor escola que isso lhes pagar naquele momento e não ao fim de dez anos de investimento. O resultado é que o mercado vai ajustar apenas o que pode ajustar rapidamente, que é o preço, enquanto que a instabilidade no investimento vai degradando a maioria das escolas, exceptuando apenas as escolas dos mais ricos. Que continuarão a ser apenas para os mais ricos.
Outro problema é o dos incentivos. Com as padarias basta alguma fiscalização das condições de higiene e da qualidade dos ingredientes para alinhar o interesse do produtor, que é ganhar dinheiro, com o do consumidor, que é comer bom pão. Nas escolas isto é muito mais difícil. Práticas como a inflação de notas (2) ou a selecção de alunos são praticamente impossíveis de regular e permitem às escolas aparentar maior qualidade do que realmente têm. Quando é trivial vender gato por lebre o mercado do coelho à caçador funciona mal. Nestas condições, o dinheiro deixa de cumprir o papel importante de guiar o produtor de acordo com as necessidades do consumidor.
Finalmente, há um problema fundamental na identificação do valor da educação. A ideia do mercado livre da educação presume que a educação tenha valor como bem privado. Algo que eu compro para mim ou para os meus filhos porque tem valor para mim ou para os meus filhos. Esta premissa, ainda que implícita, é necessária para justificar a liberalização deste mercado para que cada um compre de acordo com o valor que atribui à mercadoria. Mas o benefício que cada um tira da educação não vem apenas da sua educação ou da educação dos seus filhos. Vem também da educação de todos os outros. Socialmente, a educação tem um impacto enorme na criminalidade, na inovação, na produtividade, no ambiente, na qualidade de vida e até no funcionamento da democracia e das instituições públicas. Muito mais importante do que poder escolher para que escola vão os meus filhos é ter um sistema que vá melhorando o mais possível a formação de toda a gente com quem temos de conviver.
Infelizmente, as ideologias dominantes são muito influenciadas por quem tem dinheiro suficiente para não ter de ir ao supermercado, andar em transportes públicos ou, em geral, contactar com o zé povinho. Para esses, a educação dos outros tem muito menos benefícios. Pode até ser indesejável. Suspeito que seja daí que se vai propagando a ideia da educação como uma mercadoria em vez de um bem público.
Editado às 14:00 para substituir ratings por rankings.
1- Económico, Bruno Alves, Poder ao povo.
2- Público, Notas inflacionadas das privadas permitem ultrapassar até 450 colegas
Mas eu preenchi o comentário?! a ver se me recordo ainda...Excelente, mas não se esperem aplausos muitos, porque esses, apenas os canhotos os dispensam profusamente, aplaudindo, patéticamente, as suas causas perdidas, tipo 'socráticas' e outras!!!!
ResponderEliminarNESTA ESTAÇÃO, CELEBRAMOS A RAZÃO QUE INCARNOU E HABITOU ENTRE NÓS
ResponderEliminarÀ medida que se aproxima o Natal, os cristãos devem pensar nos fundamentos racionais da sua fé.
A Bíblia ensina que um Deus, que se revela como Logos (Palavra, Razão), é não apenas o Criador de todas as coisas, como criou o Universo, a vida e o homem através de processos racionais, com uma estrutura racional e com marcas claras de racionalidade (leis naturais, estrutura matemática e computacional, complexidade irredutível, códigos e informação codificada).
Ela diz que Deus criou o homem à Sua imagem, homem e mulher, com capacidade racional e moral, pensamento abstrato, linguagem e criatividade, distinto nesses aspetos de todos os animais.
A Bíblia afirma que, por causa do pecado, Deus determinou que o decaimento, a catástrofe, as doenças e a morte iriam entrar na natureza, lembrando ao ser humano que o pecado tem consequências morais e físicas e que ninguém pode subsistir eternamente pecando diante do um Deus santo e justo.
Ela ensina que a Razão se fez carne e habitou entre nós, de forma a levar sobre si o castigo devido pelos nossos pecados, para nos perdoar e salvar do castigo eterno, vencendo a morte e ressuscitando com um corpo incorruptível.
Esse facto tornou-se o evento mais importante e marcante da história da humanidade.
Curiosamente, foram os ateus que se lembraram de tentar desacreditar o Natal, aconselhando as pessoas a celebrar a Razão em vez do nascimento de Jesus de Cristo.
Mas essa recomendação é irracional vindo de quem vem. Os ateus defendem que o Universo, a vida e o homem foram surgiram sem causa, por processos irracionais, tendo por isso uma estrutura irracional e sendo destituídos de qualquer propósito racional.
Qual o fundamento racional para a razão, se tudo é o resultado de processos irracionais?
Atualmente, na confusão instalada, uns pensam que viemos de um antepassado comum aos chimpanzés ou aos orangotangos e outros vão ao ponto de dizer que somos híbridos de chimpanzés e porcos!
É claro que tudo isso se baseia em supostas semelhanças genéticas, anatómicas e fisiológicas que, coexistindo com diferenças significativas, são inteiramente compatíveis com um Criador comum que, criando racionalmente, usou princípios e técnicas comuns, como uns engenheiros fazem, por exemplo, quando criam motas, carros e camiões.
Para eles, os próprios pensamentos humanos, incluindo os deles, são, em última análise, o resultado de processos irracionais.
Isso mesmo reconhecia expressamente Charles Darwin quando pensava nas implicações epistemológicas de o homem ser o produto da evolução a partir de um qualquer hipotético macaco.
Quem tem toda a razão do mundo para celebrar a Razão são os Cristãos, porque sabem que foram criados e salvos por ela.
Criacionista,
Eliminar"Atualmente, na confusão instalada, uns pensam que viemos de um antepassado comum aos chimpanzés ou aos orangotangos e outros vão ao ponto de dizer que somos híbridos de chimpanzés e porcos!"
Eu não concordo. Sou mais a favor do texto do tema Fitter Happier:
«
A pig in a cage on antibiotics
»
http://www.rtp.pt/play/p1439/e148672/grande-entrevista-2014 - Como disse aqui Maria Filomena Mónica, as escolas privadas são piores que as públicas.
ResponderEliminarSinceramente, eu não vejo porque discordar.
EliminarSe pago impostos que financiam uma escola (pública) porque deveria pagar para ter outra escola (privada)? Parece-me um desperdício de dinheiro, se não houver uma escola pública por perto ainda dou de barato, de resto, é simplesmente dar "pérolas a porcos" (sem sentido de ofensa).
Por outro lado, se a escola pública serviu para os meus pais, se serviu para mim, porque não há-de servir para os meus filhos? Eu sou contra essa treta de andar sempre com os putos na palma da mão. Para mim sucesso enquanto pai é a minha filha dizer "Pai estou contigo porque quero e não porque precise de ti!" O sucesso dos pais é tornar os filhos independentes e não dar-lhes mimos.
É a minha opinião, vale o que vale...