Muitos consideram umas crenças más, outras boas e outras tanto faz. Que as mulheres têm que andar tapadas para não afectar os homens com as emanações dos seus cabelos. Que só os seres humanos têm alma. Que Deus não quer que se trabalhe ao Sábado. Que é justo cortar a mão de quem rouba. Cada crente distingue facilmente as crenças más, as boas e as inofensivas. Mas nunca concordam porque não há fundamento para a distinção. A crença pela crença não tem razões.
Tem causas, como a educação e a sociedade. Mas razões são coisas diferentes. Ter sido mordido por um cão em pequeno causa o medo de cães em adulto, mas não é uma razão. Explica porquê mas não justifica ter medo de um cão inofensivo. Em contraste, o cão ser grande e violento é uma razão para ter medo. A diferença é que as razões podem ser partilhadas e gerar consenso.
Muitas crenças têm razões. São conhecimento. Temos razões para crer que o carro não anda sem gasolina e que a Terra orbita o Sol, e podemos partilhar estas crenças partilhando as razões que as fundamentam. Outras não têm razões, mas reconhecemo-lo. Nem lhes chamamos crenças. São gostos, preferências, afectos. O gelado favorito ou o clube de futebol. São irracionais, no sentido de prescindir de razões, mas admitimos que o são e por isso dão poucas chatices.
O problema são as crenças sem razões que os crentes defendem ser fruto da razão. Aquelas que são tão legítimas como gostar de chocolate mas que os crentes exigem que se respeite, como se isso fosse de respeitar. Aquelas que não se fundamentam em nada partilhado mas que os crentes insistem corresponder à realidade que partilhamos. Essas são uma chatice.
Não são o pior problema. Os conflitos de interesses e a ignorância são piores. Cada um quer para si e para os seus mais do que é possível dar a todos, e há muitos problemas que não sabemos como resolver. Guerras, doenças e miséria devem-se principalmente a estes factores. Mas enquanto que conflitos e ignorância são problemas que temos que enfrentar, as crenças infundadas são um problema que podíamos simplesmente evitar. Bastava admitir que uma crença infundada é uma mania como qualquer outra. Cristianismo, benfiquismo ou chocolatismo, são consequências de causas pessoais e não inferências de razões partilháveis.
Nisto a fé* é especialmente culpável. Não pelo que a caracteriza como fé mas por exigir um tratamento especial. Na disciplina de pensamento crítico nunca vi um aluno benfiquista a defender o seu clube quando falo da necessidade de testar hipóteses. Alguns defendem a astrologia, as medicinas alternativas ou os OVNIs, mas sempre alegando razões. Apontam estudos e evidências e acabamos por ter discussões interessantes acerca de como avaliar esses indícios.
Mas quando falo das aparições em Fátima, dos milagres ou dos feriados religiosos os protestos são diferentes. Temos que ser humildes perante o mistério da fé. Não se deve pedir a alguém que critique as suas crenças (como se o pensamento crítico fosse só para as crenças dos outros). Até houve quem ficasse indignado por eu ter dito que a Páscoa é um feriado de excepção porque a data muda de ano para ano de acordo com o calendário da Igreja Católica. Não bastou levantar uma questão ou contrapor a afirmação. Deu imediatamente direito à indignação.
Este apego e exigência de consideração especial por certas crenças sem fundamento criam problemas que nem sempre são graves mas que são sempre impossíveis de resolver. Não se justifica o respeito pelo que não tem justificação nem se pode conciliar crenças suportadas por razões com o crer só por ter fé. O texto de Alfredo Dinis no De Rerum Natura ilustra o problema (1). Conta como o cristianismo mudou por causa da ciência, a impossibilidade de provar Deus e a experiência religiosa como algo que «aumenta o sentido». Mas não explica porque havemos de tentar conciliar a ciência com a sua crença religiosa ou porque havemos sequer de a considerar uma hipótese séria. Afinal também não tentamos conciliar a ciência com o gosto por pintura ou por uma futebolada na praia. Acreditar em Deus por sentir o Espirito Santo é como gostar de chocolate por sentir um sabor agradável. Enquanto não tiverem um Espirito Santo para mostrar aos outros não têm justificação para a crença.
* No sentido estrito de crença religiosa, de valor para o crente e que não se fundamenta em razões.
1- Alfredo Dinis, 17-12-07, Porquê Deus se tenho Ciência, Parte1, Parte 2
Ludwig,
ResponderEliminarUm bom texto. Parabéns!
Talvez só precise clarear o que quer dizer com:
"[fé] No sentido estrito de crença religiosa, de valor para o crente e que não se fundamenta em razões."
Digo isso por que, no meu dicionário, "razão" pode ser entendida como:
modo de pensar próprio ao Homem;
faculdade de raciocinar ou de estabelecer conceitos e proposições de modo discursivo (não intuitivo), segundo as regras lógicas do raciocínio;
faculdade dos princípios;
faculdade de distinguir o verdadeiro do falso, o bem do mal;
bom senso;
justiça;
dever;
rectidão de espírito;
prova por argumento;
causa;
motivo;
ideia justificativa;
Nesta linha eu diria que o que chamas de "fé religiosa" talvez só não passasse com muita facilidade pelo "prova por argumento" (embora existam argumentos - provar a fé não é tão simples). Em todos os demais conceitos, qualquer fé religiosa pode se encaixar (e até as não-religiosas).
Da forma que coloca é possível interpretar que ou a fé não se baseia em nenhuma dessas interpretacões da razão ou, em última instância, que não enxergas razão tu mesmo. Se ela existe ou não vira um problema secundário.
Quando coloca a preferência por um determinado gelado no mesmo saco que uma "preferência irracional" para determinada fé religiosa falha ao não considerar os fatores humanos.
O primeiro deles é que: a crenca religiosa é irracional (porque assim a percebe pessoalmente) e para o crente ela não o é (porque assim a percebe pessoalmente).
Você também mistura a fé com o sentido de valor. Infelizmente tem fundamento fazer assim pelo péssimo exemplo que a maioria dos crentes dão. De qualquer forma isso não faz parte do cristianismo por definicão por exemplo.
O sentido de valor que as pessoas dão está mais para um mecanismo de protecão psicológica do que realmente ligado a fé. Claro que a prática de um acaba afetando o outro principalmente em determinadas pessoas com certas carências.
Tenho a impressão que, por ter experiência pessoal com um grupo extremamente limitado de crentes de uma determinada região (Portugal) e de uma determinada religião (catolicismo), acabas por generalizar.
O único mau ao fazer isso é que aí resume a "fé" dentro dos seus preconceitos e não a coloca de forma imparcial.
"A estrutura básica do meu argumento é esta: os cientistas, historiadores e detectives observam dados e avançam a partir deles em direcção a uma certa teoria acerca do que melhor explica a sua ocorrência. Podemos analisar os critérios que usam ao chegar à conclusão de que uma certa teoria acomoda melhor os dados do que outra — isto é, que tem mais probabilidades, com base nesses dados, de ser verdadeira. Usando esses mesmos critérios, descobrimos que a perspectiva de que Deus existe explica tudo aquilo que observamos e não apenas um conjunto limitado de dados. Explica o próprio facto de haver universo, de as leis científicas actuarem nele, de ele conter animais conscientes e seres humanos com corpos intricadamente organizados e muito complexos, de termos oportunidades em abundância para promover o desenvolvimento, nosso e do mundo, bem como factos mais específicos, como o de os seres humanos relatarem a ocorrência de milagres e terem experiências religiosas. Na medida em que as causas e as leis científicas explicam algumas destas coisas (e, em parte, explicam), estas mesmas causas e leis carecem de explicação; a acção de Deus explica-as. Os mesmíssimos critérios que os cientistas usam para chegar às suas próprias teorias levam-nos a avançar para além dessas teorias, em direcção a um Deus criador, que garante a existência de tudo."
ResponderEliminarRichard Swinburne
Texto retirado de Será Que Deus Existe?, de Richard Swinburne (Lisboa: Gradiva, 1998).
Aconselho aos interessados a leitura deste pequeno livro de divulgação da filosofia da religião (160 páginas). Este pequeno livro é um resumo de outro muito mais extenso e sofisticado. Pode-se discordar das teses do autor mas apresenta argumentos filosóficos sérios. Infelizmente é pouco conhecido em Portugal.
O debate entre teístas e ateístas nas caixas de comentários de blogues começa a tornar-se repetitivo. Ler bons livros sobre filosofia da religião talvez possibilite dar um salto qualitativo no nível da discussão, deixando-se o nível clubista de "católico", "evangélico" ou "ateu". Por acaso sou católico e Swinburne protestante. Mas isso não impede que se aprecie a beleza de uma argumentação filosófica.
Anónimo,
ResponderEliminarO problema é que deus não é uma explicação. Uma explicação tem que ser uma hipótese da qual se deduza o explicado, e da hipótese que há um deus todo poderoso não se deduz nada em particular. Sem esta possibilidade serve de tanto como sim porque sim.
Veja este post, por exemplo:
http://ktreta.blogspot.com/2007/11/inferncias.html
Tiago,
Acho que o seu comentário merece um post... preciso é de tempo :)
Em relação ao argumento apresentado pelo anónimo:
ResponderEliminarEu acho que foi uma colónia de cães da pradaria que, em assembleia, criar tudo o que vemos. Era uma assembleia de marmotas muito inteligentes que após esta criação desitiram dessa mesma inteligencia ficando apenas como marmotas que conhecemos hoje.
Acho que isto explica tudo.
Logo, "bora" acreditar.
Pensar talvez não seja mau de todo de vez em quando...
Por vezes confundem-se más razões com ausência de razões.
ResponderEliminarConviremos que não é a mesma coisa.
Históricamente, tem havido sociedades que elaboram códigos de conduta anteriores ao direito remetendo o seu imcumprimento para penalizações tão graves que só estarão ao alcance da divindade. A intensão dissuasora é evidente. Pode ser uma má razão, mas é uma razão.
Diz E Lourenço que "um facto" que persite pode ser uma boa definição de mito. E os factos são interpretações, naturalmente condicionadas pela informação disponivel e pelo contexto em que são conceptualizados.
Muitas das crenças devem ter essa raiz que depois a cultura se encarrega de perpectuar e transformar na dinâmica que lhe é inerente.
Lévi-Staruss deixou nessas matérias de construcção de crenças abundantes exemplos de como subjacentes a elas há sempre razões, mesmo quando más razões.
Alberto Mendes
ResponderEliminarConcordo consigo quando afirma "Pensar talvez não seja mau de todo de vez em quando...".
Se tivesse sido o seu próprio conselho teria evitado perder tempo com um comentário irrelante.
Passo a explicar:
1) O argumento não é de um "anónimo" mas de um filósofo reputado que escreveu um pequeno livro de divulgação filosófica (citado por mim, o anónimo) com base noutro livro mais extenso e com argumentos consistentes sobre a existência de Deus.
2) A tentativa de argumentação que tentou expôr, uma pretensa cópia do estilo de Richard Dawkins, não passa de uma pequena patetice sem consequências de maior. Não vou perder o meu tempo a tentar explicar-lhe coisas que terá alguma dificuldade em perceber. Há muitos livros sobre filosofia da religião, quer de filósofos ateístas ou teístas, em que se poderá apoiar. Considerar um zoólogo com pretensões a filósofo como seu guru só lhe trará dissabores intelectuais.
Bom solstício de Dezembro.
Ludwig
ResponderEliminar"houve quem ficasse indignado por eu ter dito que a Páscoa é um feriado de excepção porque a data muda de ano para ano de acordo com o calendário da Igreja Católica"
O que é um feriado de excepção? É mesmo só por andar de um lado para o outro? Seja como for, não sei porque se há-de ficar chateado. Mesmo porque se é só por andar de um lado para o outro... é verdade! Mas o Carnaval também!
Só uma coisa: não é por causa do calendário da Igreja Católica mas pelo dos judeus. A igreja católica teve durante séculos uns monges dedicados a fazer contas para ver em que dia do calendário juliano (acho eu) calhava a Páscoa judaica.
O resto do post vai exigir que eu leia os do De Rerum Natura... e são uns lençois do carago!
Anónimo,
ResponderEliminar«Não vou perder o meu tempo a tentar explicar-lhe coisas que terá alguma dificuldade em perceber»
Se calhar era melhor não ser tão pessimista e tentar dar uma explicaçãozinha.
Nomeadamente, porque é que um deus omnipotente é explicação mas um comité de marmotas omnipotentes não é explicação?
Abobrinha,
ResponderEliminarO carnaval e o corpo de deus são calculados em função da Páscoa, e o carnaval não é um feriado obrigatório.
É por isso que a páscoa é excepção. A maioria dos feriados nacionais (obrigatórios) é determinada pelo calendário civil, com datas fixas. Mas a Igreja Católica celebra a Páscoa de acordo com um calendário pseudo-lunar diferente e por isso alguns feriados relacionados com a Páscoa mudam de data todos os anos. Excepcionalmente. Por norma não se anda a mudar datas de feriados de acordo com o calendário litúrgico de uma religião.
Mas o importante aqui é a indignação. Um objectivo da disciplina é precisamente que os alunos questionem, coloquem objecções, critiquem. Mas o que eu noto é que a indignação e afins só aparece em questões religiosas.
Abobrinha,
ResponderEliminarJá agora, isto é falso:
«Só uma coisa: não é por causa do calendário da Igreja Católica mas pelo dos judeus.»
A páscoa dos judeus calha a dias diferentes, normalmente. Tal como a da Igreja Ortodoxa. Esta última até tem uma regra que obriga a mudar a data se coincidir com a data dos judeus.
Por exemplo, em 2008 os Judeus celebram a 19 de Abril, os Católicos a 23 de Março e os Ortodoxos a 27 de Abril.
Caro anónimo,
ResponderEliminar1º O argumento de o comentário ser seu ou de um filosofo em nada ajuda para a sua validade. Ter livros publicados idem idem aspas aspas. O argumento vale por si. A verdade é que há tantas evidências a favor da sua argumentação como da minha. (O número de pessoas que acreditam também não é argumento pois a realidade não se define por votos.)
2º Como disse o LK num comentário seguinte, talvez valha a pena o esforço. Gostaria de saber como desmonta a minha crença sem por a sua(ou do filosofo) em causa.
Aguardo a sua argumentação para provar que deus existe sem que o mesmo argumento se aplique às marmotas divinas...
Desde já agradecido.
Ludwig
ResponderEliminarChamas calendário civil aos feriados religiosos? Porque são feriado, e não é só aqui mas em grande parte da Europa (e creio que do resto do mundo). O que não faz sentido, sobretudo porque não se aproveita esses dias para ir à missinha mas para ir laurear o queijo.
Não é que não ache bem, mas tira um pouco o sentido à coisa. Se um tipo é verdadeiramente religioso, tira esse dia de férias e vai à missinha. Dito isto, eu usaria uma argumentação idêntica para feriados não religiosos, incluindo o meu adorado 25 de Abril (sobretudo por ter o 1 de Maio 6 dias depois!): a quem eles dizem assim tanto e querem festejar, que tirem o dia de férias!
Bem, se a Páscoa cristã e a dos judeus não coincide (e eu ia jurar que coincidia), então é porque alguém se enganou nas contas a dada altura. É plausível, porque esses erros de contas e imprecisões históricas são mato nas tentativas de acertar o calendário. Por exemplo, o nascimento de Cristo devia ter sido o ano zero e não um... e depois há o pequeno pormenor de saber em que dia e em que ano exactamente a criança nasceu (num intervalo que li ser algures entre 7 A.C. e 4 D.C.). Por essas e por outras me mete impressão que se fale de 25 de Dezembro como o dia de aniversário de Jesus e não como a celebração do nascimento dele (por coincidência perto do solestício de Inverno, para se sobrepor a festividades pagãs). Há uma diferença.
Se pensares bem, não faz sentido a Páscoa cristã se basear num qualquer calendário pseudo-lunar. Não é qualquer mas o dos judeus: Israel usa esse (ou um parecido) como calendário civil e é uma confusão de todo o tamanho. De memória, tanto judeus como muçulmanos (que também têm Páscoa) como sikhs como indus usam calendários lunares (mas todos eles só com fins religiosos).
Alguns destes factos sei-os por experiência, mas outros estão num livro que possivelmente já leste e que se chama "Zero" (não sei se tem um sub-título) de um Charles (?) Seife, publicado pela Gradiva. O livro, além de educativo, é uma moca e ilustra já problemas da religião e conhecimento a propósito de um facto que hoje tomamos por garantido: a "existência" do número zero!
Outra coisa: se o calendário católico fosse o tal pseudo-lunar, os restantes feriados religiosos também rodariam. Ora isso não acontece. A única razão para a Páscoa não ser fixa é mesmo coincidir com a Páscoa dos judeus (com um maior ou menor erro de cálculo, pelos vistos).
Em todo o caso, o facto de ser um feriado móvel não está em causa: contra factos não há argumentos. Se for para me indignar, ao menos que seja por qualquer coisa que valha a pena e contra a qual tenha contra-argumentos.
Caro anónimo
ResponderEliminarNa passagem
"Usando esses mesmos critérios, descobrimos que a perspectiva de que Deus existe explica tudo aquilo que observamos e não apenas um conjunto limitado de dados."
a expressão "esses mesmos critérios" é que estraga tudo! Não são os mesmos critérios, são critérios diferentes! Se fossem, Ciência e Religião sobrepro-se-iam. E eu já escrevi muitas vezes que não se sobrepõem e tocam-se só às vezes.
As observações podem ser as mesmas, mas os critérios não podem coincidir.
Abobrinha,
ResponderEliminar«Chamas calendário civil aos feriados religiosos?»
Não...
«Se pensares bem, não faz sentido a Páscoa cristã se basear num qualquer calendário pseudo-lunar.»
Olha que novidade :)
Mas fazer sentido não é coisa que se exija nesta matéria.
http://en.wikipedia.org/wiki/Easter
Vê também:
http://en.wikipedia.org/wiki/Computus
«The canonical rule is that Easter Day is the first Sunday after the 14th day of the lunar month (the nominal full moon) that falls on or after 21 March (nominally the day of the vernal equinox). For determining the feast, Christian churches settled on a method to define a reckoned "ecclesiastical" full moon, rather than observations of the true Moon as the Jews did. Eastern Orthodox Christians calculate the fixed date of 21 March according to the Julian Calendar rather than the modern Gregorian Calendar, and observe the additional rule that Easter may not precede or coincide with the first day of the Jewish Passover.»
Ludwig
ResponderEliminarTiraste o meu "disparate" do contexto original: se fosse só por ser o calendário lunar, não fazia sentido. E, mais pormenor ou menos, deste-me razão: cada qual interpreta à sua maneira o que é a Páscoa judaica. Judeus incluídos!
Foste ao ponto de acrescentar a parte do calendário juliano e gregoriano. Ou seja, tanta volta e deste-me razão! ;-)
Mesmo assim, melhor que a catequista da minha sobrinha, que contou uma história aos pequenitos com o Pai Natal e o menino Jesus. Mas os estragos foram poucos: a minha sobrinha não prestou atenção à história. Se fosse o meu sobrinho já teria uma coisas a acrescentar. Possivelmente um dragão ou um dinossauro (ele não está convencido que eles estejam extintos).
Ainda não li os vários lençois de texto a que se refere este post... e não sei se estou com paciência!
Abobrinha,
ResponderEliminarÉ claro que religiões diferentes interpretam de forma diferente estas ocasiões, como festas da primavera, solstícios de inverno e coisas assim.
Mas o facto é que calculam a data de maneiras diferentes, e no caso das igrejas católica e ortodoxa nem faz muito sentido. Ao menos os Judeus olham para a lua a ver quando é lua nova. Os cristãos estão-se a marimbar para a lua e para o equinócio e decidem tudo com base nos calendários. Os ortodoxos até têm uma regra para não calhar ao mesmo tempo que os judeus...
Por isso discordo da tua afirmação que
«não é por causa do calendário da Igreja Católica mas pelo dos judeus. A igreja católica teve durante séculos uns monges dedicados a fazer contas para ver em que dia do calendário juliano (acho eu) calhava a Páscoa judaica.»
Ludwig
ResponderEliminarAgora estás a discordar só por discordar. Confias na Wikipédia só porque sim, mas a Wikipédia não diz tudo e tem a validade que tem. E o que eu disse dos monges pode não ser verdade, mas vinha no livro que te falei (só por ser um livro e não ser a wikipédia não o torna verdade, mas parece-me ter mais validade qualquer coisinha).
Não te esqueças que judaísmo e cristianismo partilham 2000 anos (mais coisa menos coisa) e muitos equívocos. Assim, é natural que os cristãos a dada altura se tenham armado aos cágados e pensado que sabiam calcular melhor a Páscoa que os judeus.
Dada a cultura dos judeus (e o simples facto de terem sido eles a festejar a Páscoa primeiro) faz sentido que o cálculo deles seja mais exacto... mas não faz sentido por si mesmo, quando se sabe que um ano não é nada daquilo e o calendário (civil!!!) deles é uma confusão.
Com todas estas considerações, estás a ser implicante numa coisa que não vale a pena e mesmo onde objectivamente não tens razão: a Páscoa dos católicos (e dos Ortodoxos) é a Páscoa dos judeus. Simplesmente porque a morte de Cristo coincidiu com a celebração dos judeus.
Se o critério de cálculo é diferente (uma volta ao sol é um critério, uma maneira de contar o tempo), isso já é outra história e não é relevante para o caso. Mas o facto de a Páscoa dos judeus ser a Páscoa dos cristãos justifica que ande aos saltos de ano para ano. A religião pode não fazer sentido numas coisas, mas não é completamente desprovida de razão ou racionalidade. Até tu tens que reconhecer isso.
És mesmo mau feitio às vezes! ;-)
Entre o ruído dos debates que campeiam por estes agrestes temas, sobressaem dois caminhos possíveis.
ResponderEliminarNum, muito utilizado, as questões são abordadas segundo uma lógica próxima da matemática. A análise decompõe os factos, submete-os a regras de bem pensar pré-estabelecidas e o resultado tem sempre uma aparência facilmente reconhecível. Aqui a representação dicotómica é imprescindível, o que faz com que reflexões aparentemente complexas redundem em conclusões de um simplismo assustador.
O outro, mais raro, é sistémico. Tenta uma aproximação mais ampla, pressupondo que há todos que não são meros somatórios de partes. Diz-nos que a razão não é algo da mesma natureza do metro-padrão, que o infinitamente complexo não pode ser lido com os mesmos instrumentos do infinitamente pequeno, receia os conceitos “universalistas”, as evidências inequívocas, as verdades institucionais.
O primeiro traz consigo muitas vezes a arrogância típica dos poderes inseguros que precisam das suas certezas para manter a flutuabilidade.
O segundo é apanágio de humildes curiosos que se limitam a ter dúvidas e a rir sem complexos de si mesmos sempre que se enganam.
Abobrinha,
ResponderEliminarNisso estou de acordo. O que eu estava a dizer é que quando temos que calcular em que dia se vai pôr a páscoa, católicos, ortodoxos e judeus dizem dias diferentes. Aqui em Portugal segue-se os dias que os católicos calculam.
Manuel,
ResponderEliminarPenso que omitiu o terceiro, mais importante, que é o de fundamentar a comunicação em algo que possa ser partilhado.
Isso é a base da ciência, da filosofia (de alguma filosofia), da lógica e da matemática. Define-se bem os termos, testa-se as hipóteses (mesmo que em experiências puramente conceptuais), fundamenta-se a metodologia de forma a que haja consenso, e assim por diante.
As religiões estão à parte. Cada uma considera-se uma excepção digna de usar de certa maneira certas regras que não se podem aplicar da mesma forma a mais nada. Os termos são vagos, o mistério está na ordem do dia, a subjectividade impera e, por isso, não se entendem nem acerca da forma como se poderiam a vir entender.
Eu julgo que uma explicação possível para o que o Ludwig bem refere acerca das religiões, possa estar de algum modo relacionado com o que sugeri no primeiro comentário, ou seja, que isso decorra de elas ( religiões ) terem derivado do que foram inicialmente e no seu contexto para um outro tipo de existência em que os poderes que as enquadram necessitam eles próprios de se justificarem para desse modo sobreviverem.
ResponderEliminarMas nisso não são nem melhores nem piores que por exemplo as ideologias politicas ou económicas.
A economia, em concreto, está repleta de crenças e no entanto mantém-se "inatacável".
E se quer que lhe diga muito honestamente até acho que as tretas económicas têm muito mais impacto na qualidade de vida de todos nós que as religiosas, mas isso é o meu ponto de vista.
O próprio mundo da ciência olhe que também não é avaro a produzir crenças. Repare no que se passa com o IPCC e o seu messias o Sr A. Gore.
Inda não pressebi onde tá o purblema da Pázqua. A fletuassão do friado tãe a ver cua lua! A Asturlujia eisplica iço tudo. Aquitá um cázo ãe que a siência tãe a mesmópnião ca fé!
ResponderEliminar"Nomeadamente, porque é que um deus omnipotente é explicação mas um comité de marmotas omnipotentes não é explicação?"
ResponderEliminarPorque o conceito filosófico de Deus implica que seja um ente exterior ao próprio Universo. A "marmota" é um ente interno ao próprio Universo, assim como a noção de "comité", etc. Não pode explicar o Universo em termos do próprio Universo. Parece-me óbvio que não faz sentido.
Por outro lado, o Alberto, tal como o Ludwig, "adjectivou" a marmota como omnipotente. Quando se fala de omnipotente em termos religiosos usa-se a palavra omnipotente como substantivo, isto é, o Omnipotente é o próprio Deus.
Se não perceberem que as analogias do Richard Dawkins são autênticas tontices então vão por mau caminho. Mas penso que essa seja uma característica do ateísmo: a preguiça intelectual.
Caro anónimo,
ResponderEliminarPode provar que não há marmotas exteriores ao unverso?
Tem evidências que fora do universo há precisamente um, e um só, deus e exactamente zero marmotas?
Parte do problema é precisamente que quando nos pomos a falar do que há fora do universo vale tudo... Isso pode não ser preguiça intelectual, mas o desleixo também não é bom :)
Pode provar que não há marmotas exteriores ao unverso?
ResponderEliminarSe o Ludwig é que afirma o Ludwig é que tem que provar. É o que todos os ateístas me dizem quanto à prova da existência de Deus.
"Tem evidências que fora do universo há precisamente um, e um só, deus e exactamente zero marmotas?"
A questão das zero marmotas é consigo. A questão de Deus é comigo mas o espaço exíguo desta caixa de comentários não me permite aflorar o tema com seriedade. Talvez num blog perto de si surjam algumas evidências... ;-)
Relembro aos menos atentos que Fermat afirmou o mesmo quando à exiguidade do espaço e veio-se a provar, séculos depois, que tinha razão... Por isso não façam comentários apressados, por favor... ;-)
ResponderEliminarÉ muito difícil dizer coisas originais sobre questões de religião. Quem acredita realmente em alguma coisa não está à espera de provas. Porque a fé, seja o que for, é imune à razão. Não é por acaso que todos os sistemas religiosos procuram recrutar fiéis - e a palavra fiel é extremamente significativa - nos meios mais desesperados. As dúvidas de fé não acontecem entre essas pessoas simples, mas entre os mais cultos que, perante a falta de fé e o espicaçar da razão, procuram elementos minimamente racionais a que se agarrar. Estas pessoas simples, bem como estas pessoas com dúvidas, merecem-me respeito porque lhes reconheço honestidade. São emoções incontroláveis como muitas outras e, para todos os efeitos, o humano é feito delas. Não me surpreenderia que um destes dias a neurologia descobrisse que a 'fé' e a 'adição' têm na sua origem a mesma zona do cérebro e as mesmas moléculas activas.
ResponderEliminarMais difícil é aceitar aqueles que tiram partido das crenças para fazer crescer as suas 'empresas'.
Do ponto de vista racional Deus pode ser visto como um instrumento bastante útil em muitas circunstâncias e é isso que justifica a sua mítica longevidade na cultura humana. Tudo isto já foi pisado e repisado tantas vezes que é preciso uma paciência de Job para continuar. Assim sendo, para estruturar o poder há homens que, racionalmente, usam Deus - o mito - como alavanca. E ninguém nega que este Deus existe e funciona.
Do ponto de vista científico - e gosto de usar o termo científico em vez de técnico-científico porque a técnica também tem objectivos de poder - seria completamente absurdo perder tempo a provar a inexistência de Deus, uma entidade nunca observada e sem qualquer manifestação material. A ciência usa a racionalidade global onde nada é verdade até que seja reprodutível. Só fora da ciência é que a fusão fria poderia ter continuado um caminho de glória (admito que exista uma seita com esse propósito).
Para a ciência existem muitos problemas por resolver. Há 'n' assuntos que ainda estão por esclarecer, sendo alguns deles verdadeiros quebra-cabeças cuja solução parece impossível. O crente resolve-os todos de uma penada com um ser superior. Um cientista que aceite a existência de Deus e queira manter o espírito científico, fica 'n+1' problemas...
Embora possa não parecer é muito mais difícil o caminho da ciência do que o da fé. E o que surpreende é que, apesar de tantas 'idades médias' que têm acontecido na História, tenha havido uma linhagem de racionalidade capaz de esclarecer por aproximações sucessivas a natureza da realidade.
Sir Francis Bacon
ResponderEliminar"Science is only the image of the truth."
A ciência, por vezes, não se trata de uma crença também!
errata
ResponderEliminarno lugar ! é um ?
Aconselho-vos a leitura da "Ilha dos Pinguins" de Anatole France.
ResponderEliminarCara Rita,
ResponderEliminarA ciência é também o método pelo qual construimos a imagem (independentemente da imagem que fica no fim). Mas claro que sim, o conhecimento que a ciência produz é um conjunto de crenças. Seria até contraditório dizer que sei uma coisa mas não acredito que seja verdade... Se não acredito, então não sei.
Mas acreditar não quer dizer que saiba. O conhecimento, como o que a ciência nos dá, é crença devidamente justificada. E essa é a diferença importante. Não é o sim porque sim ou o sim porque tenho fé, mas o sim porque fiz milhentas observações astronómicas e as previsões do meu modelo deram certas a menos de uma margem de erro de 0.00001%. Não é bem a mesma coisa :)
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminaranónimo:
ResponderEliminar«Pode provar que não há marmotas exteriores ao unverso?
Se o Ludwig é que afirma o Ludwig é que tem que provar. É o que todos os ateístas me dizem quanto à prova da existência de Deus.
"Tem evidências que fora do universo há precisamente um, e um só, deus e exactamente zero marmotas?"
A questão das zero marmotas é consigo.»
Isto contradiz directamente isto:
«"Nomeadamente, porque é que um deus omnipotente é explicação mas um comité de marmotas omnipotentes não é explicação?"
Porque o conceito filosófico de Deus implica que seja um ente exterior ao próprio Universo. A "marmota" é um ente interno ao próprio Universo, assim como a noção de "comité", etc. Não pode explicar o Universo em termos do próprio Universo. Parece-me óbvio que não faz sentido. »
Se não entende a contradição, eu explico: se o anónimo não pretende provar a inexistência de marmotas fora do universo, então não pode usar a inexistência que assumiu no seu argumento para desqualificar as "marmotas criadoras" como explicação alternativa para a criação do universo.
Assim sendo, a refutação do Alberto Mendes ao argumento que aqui colocou do Richard Swinburne (e é perfeitamente irrelevante se ele é o maior ou o zé ninguém: os argumentos valem por si) continua válida. E arrogância com que a desqualificou, mais do que desapropriada, torna-se patética.
Pois pois, exterminar uma pletora de comentários
ResponderEliminaré interessante...reduz-se estes triliões ou mais de caracteres
esta foi gira
Mas não me parece que ler as grandes obras dos pioneiros da climatologia seja relevante para resolver este problema específico. Aliás, por causa da minha experiência, quer profissional quer nestas coisas de discussões na net, sempre que alguém me manda ler as “grandes obras” sem me explicar nada fico desconfiado que também não percebe patavina :)
insightful...tive um professor assim e chegou a reitor, não é um caso português
que quer ser etéreo y internético bocês são divertidos
e a Portugal Telecom, ofereceu-me uma extensão de 12 meses em troca de uma caixa meo e mais uns 100 euros ano
agora vejo repetições dos anos 80 e 90 e pior
melhor que a TV actual que tinha
e desenhos animados ou como lhe queiram chamar
sempre fui um imbecil de vícios multimedia
geralmente passam-me este já dura uns mesitos
há que ter esperanças, vou chatear worden verzonden naar conhecidos bye