domingo, outubro 28, 2007

Treta da Semana: Watson e o racismo.

James Watson afirmou-se pessimista em relação ao futuro de África porque as políticas de auxílio assumem que os africanos são tão inteligentes como os europeus. Segundo Watson as observações revelam o contrário, e não podemos esperar que povos evoluindo em regiões diferentes sejam dotados da mesma inteligência. Neste episódio há várias tretas a apontar. E a mais grave é chamar-lhe racismo.

O racismo é imoral porque atenta contra os direitos das pessoas. O apartheid, a escravatura, a discriminação, avaliar as pessoas de acordo com a cor da pele ou ascendência. Mas afirmar que os pigmeus são mais altos que os suecos não é racismo. É apenas um disparate. Não atenta contra os direitos de ninguém, e chamar racismo a um disparate como o que Watson proferiu é irresponsável e perigoso.

É irresponsável porque passa a responsabilidade para a natureza. Se o racismo é propor diferenças entre raças então devemos ser racistas se houver diferenças entre as raças. E é perigoso porque parece legitimar o racismo. É que salta à vista que há diferenças entre vários grupos de pessoas.

Outro disparate é dizer que Watson insultou alguém ao afirmar esta diferença na inteligência. Não é de espantar que crianças subnutridas a crescer em zonas de guerra sem acesso a educação sejam menos inteligentes que outras mais afortunadas. As condições de vida influenciam a inteligência e as pessoas de pele escura em África vivem bem pior que as pessoas de pele clara na Europa. Também na Europa e nos Estados Unidos há correlação entre a cor da pele e a educação e nível de vida. O tom médio do professor universitário português é bastante mais claro que o do servente de pedreiro. Parece-me mais racista ignorar o problema ou fingir que não afecta a inteligência. Mesmo que alguns digam disparates vale a pena discutir o assunto abertamente em vez de ficar tudo calado com medo de ofender.

O verdadeiro disparate de Watson foi atribuir esta diferença de inteligência à evolução. Não há evidências que seja preciso mais inteligência para se reproduzir com sucesso fora de África e a maior parte da diversidade genética da nossa espécie está em África. Esta generalização para um continente tão diverso em ambiente e genes é uma grande argolada, principalmente para um perito em genética. Mas é como disparate que isto merece ser criticado. O que Watson propõe não é racista, imoral, nem insultuoso. É simplesmente falso.

E nem é necessariamente falso em todos os casos. É absurdo separar a nossa espécie pelo tom da pele, mas é teoricamente possível distinguir milhares de populações pelos seus genes. Há diferenças pequenas mas estatisticamente significativas entre muitos grupos étnicos. E é inevitável que haja diferenças médias na aptidão para o basquetebol, a matemática, a poesia, ou a inteligência, seja lá o que isso for. Era uma grande coincidência as médias serem todas iguais.

É um erro chamar racismo ao que Watson disse. Em parte porque eventualmente hão de surgir evidências de uma diferença real e vai parecer que afinal o racismo tem razão. Mas principalmente porque o racismo é um erro moral e não um erro de facto. Não importa se somos iguais ou diferentes. O que importa é que temos os mesmos direitos fundamentais seja como for.

47 comentários:

  1. O quê? Incluindo os metralhas? ;-)
    Cristy

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  2. publicidade à parte, o pinker "escreveu" sobre questões semelhantes no esquerda-republicana a semana passada. mas acho-te mais to the point que o pinker! ahaha!

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  3. Ludwig

    COncordo com partes do que dizes, mas não com tudo.

    A parte de o Watson ter feito declarações sem fundamento científico não merece sequer discussão. Isso é perfeitamente objectivo e deverá ser julgado como cientista reputado por isso (ele é "só" um prémio Nobel, tem responsabilidades que outros não têm). Mais subjectiva é a parte de ele ser um anormal, como já escrevi algures no meu blogue. Dito isto, uma vez que não meteu Ciência no meio na maioria das declarações que fez anteriormente, não é grave: é só um indivíduo com má formação humana, como há tantos por aí. O Nobel não vem com um curso de boas maneiras, nem é suposto.

    Na parte em que dizes que não é racismo não concordo. É racismo porque foi uma afirmação gratuita em relação não só a africanos como povo (parecendo que não, há africanos brancos e de outras cores e feitios) como à raça (o que quer que isso queira dizer cientificamente) negra (concretamente com aquela dos criados negros). Se ele tivesse dito em privado que na sua opinião os pretos eram assim ou assado, era só racismo; ter dito isso numa entrevista vestido de cientista dá-lhe uma legitimidade enganosa.

    O que é racismo? É assumir que aquilo a que chamamos uma raça humana (repito quer não sei o que isso é - e se é alguma coisa - em termos científicos) é superior a outra. Ora a cor de pele, forma e cor de cabelos e olhos estar relacionada seja com o que for parece-me extremamente rebuscado!

    Pode gastar-se dinheiros públicos a investigar todas estas coisas em termos genéticos, mas além de ser um desperdício de dinheiro (a própria hipótese parece-me um disparate completo, e já ouvi o mesmo de quem sabe mais do assunto que eu) seria melhor canalizado para a investigação em termos de ciências exactas e sociais do que é a inteligência, de como é afectada pelo meio e de... o que é que é preciso para ser feliz! A tal misteriosa inteligência emocional!

    Voltando ao racismo, Watson é racista e tentou dar ao seu horrível preconceito (que já foi responsável por coisas horríveis como escravatura, holocausto judeu entre outros) a legitimidade científica que não tem! Dito isto, não admito racismo de brancos nem de negros nem de outra cor nenhuma. E uma nigeriana que me falha o nome e que foi prémio Nobel da paz há 2 ou 3 anos disse coisas piores que ele (como acusar os brancos de fabricar o HIV para matar os africanos). Não tiveram o mesmo eco porquê? Porque ela é negra e sofreu com o colonialismo. A isto eu chamo racismo: devia ter-se dado eco ao que ela disse (por ser negra tem desculpa? Ou será a falta de inteligência de que falava o Watson, que se desculpa por ela ter mais melanina que os europeus?). No limite, tirado o prémio Nobel (da Paz!!!) por ser tão parva!

    Voltando ainda a Ciência, na questão de racismo pode levar-nos a pensar em humanos como africanos que sairam de casa ou em tipos que evoluiram e saíram de África enquanto outros ficaram na miséria por serem mais atrasados. Mas aí a Ciência é neutra: tem que ser a consciência humana a filtrar a informação e a tornar-nos humanos.

    Não entendi porque é que disseste aquilo de os pigmeus serem mais altos que os suecos. mesmo sendo gralha, não quer dizer nada.

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  4. «Concordo com partes do que dizes, mas não com tudo»

    Abobrinha,

    lendo «Voltando ao racismo, Watson é racista e tentou dar ao seu horrível preconceito (que já foi responsável por coisas horríveis como escravatura, holocausto judeu entre outros) a legitimidade científica que não tem»

    eu diria que não concordou com nada :)

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  5. Pedro

    Não é por mal, mas às vezes sou mesmo do contra! Não me coibo muito de dizer o que penso, o que nem sempre me garante muitos amigos!! Aqui acredito que, discordando, se respeitam opiniões e pessoas diferentes (mas já me enganei antes).

    Não sei se estou assim tão contra: a parte onde se usou mal a (não santa, mas objectiva até prova em contrário) palavra da Ciência está de acordo com o que disse o Ludwig. O resto é opinião e é só aí que temos uma interpretação diferente. O que é saudável.

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  6. Cá vou eu meter o bedelho...
    Não conheço as afirmações originais do senhor em causa, nem duvido que ele seja racista, mas, do que aqui foi dito, algumas coisas são verdade.
    A cor da pele não é factor diferenciador da inteligência. Os individuos negros na Europa e nos Estados Unidos são tão inteligentes quanto os brancos, e outras raças que lá vivem. A maior parte são é racistas, pois ao primeiro obstaculo gritam "racismo" e ostracizam-se, e juntam-se em grupo a lamentarem-se da sociedade, mas, isso é defeito social e não da raça, pois todos fazem o mesmo. Portugueses, Irlandeses, Italianos, etc.
    A questão que o Ludwig colocou está correcta. A inteligencia depende do meio ambiente em que se desenvolve a população. Se em determinado continente as condições levam a determinado resultado isso não é racismo, pois afecta a generalidade da população. Seria quanto muito continentalismo :-), mas, este acho que não é considerado defeito. É como eu dizer que ser português é melhor que ser espanhol. Se isso é racismo, estou à espera das desculpas formais pelas tentativas de anexação constante que ocorreram ao longo da história, tal como africa espera pelas desculpas do colonialismo europeu, e há de exigir pela manipulação económica americana e europeia no futuro.
    O senhor Watson é uma b#$!@ do c@£@/#@, isso parece-me que é universal, mas, o que parece também ter aconteceido é terem-se aproveitado disso para desviar o assunto do que foi realmente dito, que a ser como o Ludwig descreveu, é algo que deveria ser dito por um sociologo, e não por um geneticista.

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  7. Abobrinha,

    O teu comentário é mais um exemplo do que me preocupa nisto.

    O racismo não pode ser uma opinião acerca do que a realidade é. Se for, então ou está certo ou está errado conforme o que a realidade for. Podes gostar de assumir que todas as combinações de genes dão a mesma inteligência, mas as evidências que temos demonstram o contrário. E basta, por exemplo, que num certo grupo étnico a trissomia do cromossoma 21 seja mais prevalente que a inteligência média desse grupo já é menor. E se isso acontecer, teremos que ser todos racistas?

    A questão fundamental é que o racismo é uma posição acerca do que a realidade deve ser. Não é descritivo, é normativo. E é isso que devemos opor.

    O que tu estás a dizer, no fundo, é que não devemos discriminar certas raças porque em média são igualmente inteligentes. O que eu estou a dizer é que esse tipo de discriminação é errado quer sejam ou não igualmente inteligentes, e não devemos confundir essa questão com o problema ético de discriminar.

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  8. Concordo plenamente, sem mais nada a acrescentar.

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  9. Para o peditório do racismo já dei, já nem tenho pachorra para falar disso. Aliás, há já muito anos que elaborei umas teorias sobre como foram criadas e se desenvolveram as ideias racistas, mas seria longo estar a falar disso porqeu tb tem a ver com a nossa arquitectura cerebral.

    Mas há uma coisa que é importante: as diferentes sociedades têm culturas e organizações diferentes, motivações diferentes, objectivos sociais diferentes.

    As sociedades africanas são muito diferentes das europeias, até porque o clima é muito diferente e isso muda logo muita coisa pois impõe soluções diferentes para o desenvolvimento.

    Procurar "ajudar" países africanos sem entender um mínimo da sua cultura e problemática é um disparate, um absurdo completo. Embora não conheça muito de África já vi coisas completamente ridiculas, como programas escolares importados e completamente desajustados às realidades locais, escolas com espaço para os alunos deixarem os patins de neve e coisas assim. Mas isso até são detalhes, há outros problemas muito mais profundos, como importar modelos europeus de sociedade, concebidos para uma sociedade onde o homem trabalha e a mulher fica em casa, para sociedades onde é a mulher que trabalha e o homem não tem qualquer sentido profissional, o seu estatuto é outro. Imaginem que há 100 anos atrás se decidia que as mulheres deixavam a casa e iam ocupar os postos de trabalho e os homens é que ficavam em casa! Seria bonito não é? Depois diriam que as mulheres seriam menos "inteligentes" que os homens... de qualquer maneira sempre o disseram...

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  10. Ludwig:

    Sem discordar do essencial daquilo que escreves, há um ponto no qual a fronteira não é tão clara.

    Uma coisa é dizer que uma determinada etnia é mais veloz, ou mais inteligente, ou mais agressiva, etc... Tudo isso são características que dependem do meio e da genética, e até aí todas as avaliações são descritivas.

    Outra coisa é defender que uma etnia é inferior. Aqui não se defende necessariamente uma descriminação, mas já existe um juízo de valor. E aqui não é claro que exista racismo, mas já é defensável que seja o caso.

    O que acontece é que algumas pessoas sentem que se valoriza de tal forma a inteligência que consideram que considerar que uma etnia é menos inteligente que outra é o mesmo que afirmar que é inferior. Aqui não é claro quem é que faz o juízo de valor: pode ser quem ouve a afirmação, mas o contexto em que esta é feita pode conduzir a essa interpretação.

    É óbvio que isto tudo tem de ser repensado. E neste ponto tens toda a razão: não convém que crenças descritivas sejam consideradas racismo. Se essas crenças não fazem sentido, há que mostrar o quão absurdas elas são (e a fundamentação que o Watson apresentou foi verdadeiramente patética: "quem já contratou sabe"). Se elas fazem sentido é importante reafirmar que elas não deverão implicar qualquer valorização positiva ou negativa. E ainda menos justificar qualquer forma de descriminação negativa.

    Posto isto, é bastante claro que a existirem diferenças genéticas entre diferentes etnias no que se refere à inteligência, elas são insignificantes. Em grande medida porque não existiu nenhuma pressão selectiva diferencial significativa no que se refere à inteligência. Realmente não se encontraram correlações significativas entre os vários genes relacionados com a intelgiência e os poucos relacionados com a melanina ou outras características associadas a uma "raça".

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  11. Abobrinha

    penso que te estás a referir à activista queniana Wangari Maathai (Prémio Nobel da Paz 2004). Eis o que ela disse no Time Magazine de 10.10.2007:

    "I have no idea who created aids and whether it is a biological agent or not. But I do know things like that don't come from the moon. I have always thought that it is important to tell people the truth, but I guess there is some truth that must not be too exposed."

    Como vês, não houve acusações nenhumas contra brancos ou amarelos. E tendo em conta a História colonial e as actividades de governos ocidentais e/ou multinacionais farmacêuticas e químicas em África, não posso deixar de pensar que ela tem uma certa razão. Houve e há casos destes. No passado foram lançadas prepositadamente epidemias em África para decimar populações rebeldes. E no presente continuam a acumular-se os escândalos de "experiências" científicas feitas com pacientes africanos que desconhecem por completo os seus direitos e nem são esclarecidos sobre o que está a acontecer. Para não falar do dumping de medicamentos banidos no ocidente, na recusa de investimentos sérios em doenças que afectam principalmente pessoas sem poder de compra (malária)etc pp.

    Quanto ao Watson: ser cientista não confere a ninguém uma auréola, como a História também demonstra amplamente. Este Watson é famoso na sua freguesia há décadas pelos disparates que debita. Uma outra pérola: na opinião do douto senhor, devia ser «permitido à mulher abortar quando o feto apresenta tendências para a homosexualidade».
    Palavras para quê?
    Cristy

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  12. Correcção: o Time Magazine é de 2004, claro, não vá alguém acusar-me de não colocar devidamente as fontes ;-)
    Cristy

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  13. Cristy

    Se foi só isso que a Wangari Maathai disse, é ambíguo e depende da pergunta (não quero ser chata, mas não me arranjas a pergunta?). Assim a seco dá a sensação que se não vem da lua (então de onde vêm as doenças?) vêm de algum lado. De que lado?

    Dito isto, eu baseei-me no que li acerca do que ela disse (e não no que li directamente, confesso). Seja como for, fica a ideia que SE ela tiver dito isso, é racista. Se não, alguém não sabe interpretar um texto.

    Lembro-me de uma experiência que foi feita (creio que) no Uganda. Porquê nesse país? POrque não era obrigatório notificar o companheiro que o outro era HIV positivo. A experiência foi ver o espalhar da doença. Isso não é ético! Se é Ciência ou não já nem é assim muito relevante!

    Outra coisa que não é ética é super-proteger as patentes dos anti-retrovirais (surpresa: são dinheiro!!) só pela lógica da protecção da patente. Sabendo que as empresas farmacêuticas não são instituições de caridade, não vejo o interesse em não relaxar um pouco as regras de modo a salvar milhões de vidas! Aqui deveriam ser governos e empresas farmacêuticas a entrar em compromisso para se poder salvar um continente da desgraça que está a acontecer.

    Em que é que isto tem que ver com racismo? Não tenho a certeza: será só a lógica do dinheiro? Suponho que seja, dado que o mesmo acontece na Índia, na América do Sul (onde o Brasil mandou os direitos das patentes às malvas e começou a produzir genéricos e fizeram eles muito bem!) e... em norte-americanos e europeus pobres... acho eu! Ou será mesmo racismo???

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  14. Ludwig

    Reli o que escreveste porque fiquei confusa "O racismo não pode ser uma opinião acerca do que a realidade é".

    Apercebi-me que é aqui que bate o ponto da nossa discórdia (leia-se: li mal uma parte do que escreveste porque estou meia loura e meia febril e reajo um bocado a quente com coisas de racismo). Dito isto, tu também não entendeste que... o racismo é uma questão de opinião! Mais nada! E foi isso que o Watson disse, logo, o que ele disse foi racismo puro + patacoada científica.

    Assim, primeiro vêm as conclusões: eu sou branca, logo, superior ao negros. Depois as observacações: há um gene da superioridade branca... que tenho a certeza que se encontrará um dia, porque só assim se justifica que os meus empregados negros sejam todos totós!

    Mas no essencial estamos de acordo: descriminar com base em meia dúzia de características físicas ou origem social ou outros que tais é errado e ponto final! Porque é contra a humanidade pura e simplesmente. Ou como tu dizes: é uma treta!

    Pegando no resto dos comentários, é muito mais importante apercebemo-nos das nossas especificidades culturais (há quem lhes chame diferenças, o que também é válido), dentro e fora do mesmo continente e país e fazer o melhor para que todos tenham bem-estar, realização pessoal e felicidade.

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  15. Abobrinha,

    eis a pergunta:
    "YOU'VE SAID AIDS IS A BIOLOGICAL WEAPON MANUFACTURED BY THE DEVELOPING WORLD TO WIPE OUT THE BLACK RACE. do you still believe that?"

    Expliquei-me mal: eu não queria dizer que aquilo que as multinacionais farmacêuticas e químicas fazem em África é racismo. Creio que a actuação é mais motivada pela pura ganância. Se houver maneira de fazer o mesmo noutro lado, não vão hesitar. No entanto, não tenho a menor dúvida que os responsáveis apaziguam a consciência (quando a têm) racionalizando no estilo: «para eles é melhor enviarmos estes medicamentos do que nenhuns», e «os negros não sentem tanto quando lhes morre um filho como nós», e por aí diante. Como é que sei? Porque não são só as multinacionais que fazem isso, é a prática corrente de todos nós. Senão, quem é que conseguia jantar tranquilamente quando passam imagens de criancinhas africanas a morrer de fome na televisão, mas fica muitíssimo aflito e incomodado quando sabe que a vizinha «quase que caía das escadas abaixo»? "Eles" são sempre diferentes, o que explica e desculpa tudo. Sejam eles os negros, os homosexuais, as mulheres, ou outros que nos dê jeito no momento. E é evidente que não é uma atitude que se limita aos ocidentais, é universal.

    Cristy

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  16. Abobrinha,

    A questão dos Anti-retrovirais é um pouco mais complexa que isso. Se alguém investe no desenvolvimento desses farmacos, não é ético sonegar o rendimento desses investimentos, pois não estou a vêr os consumidores e os governos a pagar pelos fracassos de investigação. Isso é o género de afirmação gratuita e demagógica que é perigosa.
    Se alguma companhia investe 100 milhões de euros em investigação, e desses 100 milhões só 10 milhões foram investidos num anti-retroviral, que funcionou, ou outros 90 investidos deram em nada, quem é que decide que a empresa vai deitar fora os 100 milhões, ou que só tem direito a 10 milhões? A empresa investiga com base no pressuposto de protecção. Abrir um precedente é meio caminho para acabar com investigações futuras noutras doenças, que iriam fazer falta, por isso essa afirmação é uma tanga! É mero populismo.
    Se em algum sitio a patente faz falta é na farmaceutica. O exemplo do Brazil é outra que tal. Em vez de negociar a produção de medicamentos em grandes quantidades previamente acordadas, decide copiar e subverter o modelo. Tudo muito engraçado, mas, se no futuro perderem investimentos de grandes empresas por conta dessa brincadeira, ainda vão queixar-se que é racismo... Eu chamar-lhe-ia vingança. E se o modelo se generalizasse, no futuro nem eles nem ninguém iam precisar do copyright, pois não haveria nada para copiar, e certamente ficariam mais felizes a morrer aos magotes por causa de uma qualquer doença nova que apareça.

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  17. Abobrinha,

    Supõe que alguém afirma que os noruegueses têm mais força que os pigmeus. Ou têm, e a afirmação é verdadeira, ou não têm, e a afirmação é falsa. O mesmo para a inteligência.

    Um exemplo concreto: entre os povos nativos da America há uma grande prevalência de um defeito na desidrogenase do aldeído. Isto afecta o metabolismo do alcóol e torna estas pessoas muito mais susceptíveis de se tornar alcóolicos crónicos. É correcto afirmar que são geneticamente mais predispostos a ser bebados.

    Se isto é racismo então não se pode condenar o racismo pois não há nada de imoral em perceber a realidade como ela é.

    O importante aqui é o aspecto ético, e esse implica uma decisão. O que é que vamos fazer? O melhor é atacar esse problema e tentar prevenir o alcoolismo nas populações mais susceptiveis. Racismo é decidir ignorar a diferença ou, pior ainda, decidir que por serem mais susceptiveis ao alcoolismo merecem é morrer todos bebados e acaba-se assim o problema.

    Não vou condenar a realidade por ser o que é, mas sim os actos deliberados que a fazem pior do que poderia ser.

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  18. Ludwig

    Confirma-se que só discordamos no que definiste como racismo (a culpa foi minha: li na diagonal). O exemplo que deste é na minha opinião uma característica de um grupo populacional. Sendo racismo na tua definição (e é legítima como definição, mas não é a definição de todos), na minha opinião é só uma diferença estatítica de um grupo populacional. Individualmente deve haver uns amiguinhos que aguentam uma pinga.

    Isso foi uma das coisas que aprendi ao contactar com pessoas de diferentes raças, religiões e nacionalidades: por muito que um indivíduo seja parte de um contexto, é sempre um indivíduo. À conta disso generalizei que não há holandeses feios... mas depois vi uns quantos que me fizeram reconsiderar!

    Mas voltamos ao essencial: não é ético tratar as pessoas com base no preconceito. Isso inclui um português branco ser tratado como colonialista com base somente no bilhete de identidade (e já me aconteceu).

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  19. Cristy

    Atentendo à pergunta e à resposta, a Wangari Maathai disse que os brancos fizeram essas coisas todas. O que é um disparate racista. Ela ser negra e africana não o legitima: ela é má e racista! E assim a pender para o burra nesse aspecto. Dito isto, preto ou branco ou azulo, o preconceito nunca tornou ninguém muito mais inteligente, como o caro Watson provou.

    Mas tens razão: a diferença assusta. Todos queremos ser normais, o que não deixa de ser paradoxal numa época de individualismo.

    Quanto às catástrofes não nos afectarem, tem sido algo em que tenho pensado e não cheguei ainda a conclusões (se é que isso algum dia é possível). Mas uma das hipóteses que tenho é que não somos capazes de abarcar toda a miséria do mundo. E há muita! E nós somos impotentes! Somos impotentes quando se trata dos nossos vizinhos, quando se trata do nosso governo... e vamos resolver a crise no Darfur?

    Lembro-me do meu horror em criança com a fome na Somália. Depois veio um cabeludo a fazer concertos e ia resolver aquilo tudo! Ia "feed the world, make it a better place"... e não aconteceu nada! Nem aquela comida lá chegou. Claro que 20 anos depois já não caí na mesma esparrela. Nem na lágrima fácil, porque é desonesto chorar pela criança que se vê na televisão quando há vizinhos ao pé de nós que podemos ajudar um bocadinho e aquela criança é responsabilidade de alguém com mais poder que eu. Não é por vezes racismo nem insensibilidade da parte do cidadão comum: é impotência!

    Dito isto, há quem pense as coisas horríveis que escreveste. E que eles merecem o que lhes acontece porque são una atrasados. E como essas justificações há mais. Não baseadas em factos nem em razões mas no ódio puro e simples aos que são diferentes e na sua vontade de serem superiores a alguém! Há gente com muito más intenções! Nas guerras vê-se tudo isso, mas em paz por vezes também se vê!

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  20. António

    Fui eu que disse que a indústria farmacêutica não faz caridade! Nem é suposto! E tem que ser compensada pelo esforço de investigação (insucessos incluídos). Eu valorizo muito uma ideia original e um esforço de investigação, acredita! Aliás, o meu post dos "paneleiros" (aliás, funileiros) era nesse sentido: a Silampos faz o esforço e tem a criatividade e os chineses copiam indecentemente e a preços de mão de obra escrava (e eu ressalvei que não havia ali racismo envolvido contra os chineses!). Mas no meio de tanto carnaval, é capaz de a mensagem ter passado ao lado.

    Mas estão em causa vidas a mais! Dito isto, a indústria farmacêutica não pode ser a única responsável por salvar o mundo: há que fazer prevenção tendo em conta as mentalidades (e já se abordou isto a respeito da religião meter o bedelho) e tentar curar quem precisa.

    E há ainda perversões totais como países em que um infectado pelo HIV tem todo o tipo de apoios enquanto a restante população não tem (acho que é o Uganda, ou eu hoje cismei com o Uganda). Não sendo errado os apoios aos HIV positivos, quem não está doente chega a pensar que é melhor... estar doente. Paradoxalmente, ser HIV positivo pode... garantir a vida! No nosso país, isso seria chamado de subsídio-dependência. Mas faz algum sentido!

    Resumindo e baralhando: tem que se cuidar das coisas em várias frentes. Neste caso a indústria farmacêutica foi roubada, possivelmente por falta de empenho dos governos que deviam ter impedido que isto acontecesse e ainda esta perdesse dinheiro (e dinheiro= impostos e mais investigação, porque esta dá lucro). Mas havia (há!) uma urgência humanitária e foi possivelmente a solução menos má a encontrada. Não queria ser eu a juíz de um caso destes: às vezes, todas as opções parecem (e são) más!

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  21. O que Watson disse não é racismo, concordo. O que Watson disse é um disparate, discordo.

    Dizer que todos são igualmente capazes em termos intelectuais, é wishfull thinking. O que é exactamente o que Watson disse. Quanto ao que a abobrinha disse, das afirmações serem algo sem fundamento cientifico ser indiscutivel, talvez seja porque todos tem medo de realizar um estudo que permita aferir de tal veracidade e tirar de uma vez por todas as duvidas. A censura anda aí, e este não é o unico caso, é apenas o mais recente.

    Não tem a ver com racismo dizer que os individuos de ascendencia africana são menos inteligentes, é o mesmo que dizer que são melhores atletas. É o que é. Mas umas são mais dificeis de ouvir que outras.

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  22. Aboborinha:

    Não se pode pensar a vida das sociedades como a vida dos individuos.é preciso poder generalizar, para o bem e para o mal. Aliás, quando estou a falar de sociedades, seja a sociedade portuguesa, europeia, cristã, moscovita ou hindu, eu devo generalizar tanto quanto me for permitido (não pela pseudo-moral da sociedade) pelo modelo que eu quero ajustar à dita sociedade.

    Se eu quero vender um produto tecnologico qq (ipod, walkman, portateis, etc) é me permitido generalizar a população até um dado ponto (atravez de estudos de mercado, por exemplo) de modo a saber se é vantajoso tentar impigir o meu produto a essa mesma sociedade ou não. embora não conheça pessoalmente a sociedade budista de um templo qq perdido algures no mundo, parece-me por bem generalizar que eles (enquanto sociedade) não estariam interessados em comprar o novo ipod, ou um smartphone. no entanto pode acontecer que um dos monges, até gostasse de poder ter um objecto que tocasse musica que para ele é impossivel de ouvir convencionalmente. ficou a perder, é verdade, mas eu diria que foi uma generalização eficiente.

    Quando estou a pensar em produzir um alimento, seja ele qual for, e estou a ponderar a quantidade de sal que devo adicionar, tenho que generalizar a sociedade a quem vou tentar vender o meu alimento, de modo a aferir se gostam da comida mais ou menos salgada. e se a maioria gostar muito de sal, e um individuo não, azar! é melhor do que tentar fazer um "alimento" para cada individuo (iria ah falencia em dois tempos)

    A industria farmaceutica tb faz as suas generalizações, secalhar a um nivel ainda mais abstracto e ainda mais geral que os outros, vai na volta generaliza para "toda" a população da terra. e o que acontece eh que um medicamento que cura uns tantos, mata tantos outros. mas sempre eh melhor isto que tentar fazer um medicamento especifico para cada pessoa, ficariam carissimos.


    outro ponto sobre a industria farmaceutica: ninguem lhes pede que sejam agentes de caridade. mas a verdade é que um comprimido sem contar com a investigação custa perto de 0€ a produzir. ou seja custar-lhes ia entre o pouco e o nada doar um milhares, talvez milhoes de comprimidos aos paises mais pobres de africa. o problema está nestes paises serem pobres, e como tal muitas das vezes preferirem o dinheiro da venda a baixo custo dos medicamentos aos paises mais ricos, do que os medicamentos em si. como tal isto acaba com a economia das industrias farmaceuticas, porque deixam de ter os seus fieis consumidores pois estes compram mais barato "lá fora" exactamente o mesmo produto.

    Luis

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  23. Bizarro,

    Ele disse que os Africanos são menos inteligentes porque evoluiram de forma diferente. O que os dados indicam é que os Africanos têm menos pontuação, em média, nos testes de QI, mas a diferença é explicável por diferenças sociais e económicas.

    A proposta dele é disparatada face às evidências. Não é razoável assumir que os dois terços da diversidade genética humana no continente africano tenham evoluido de forma a ter menos inteligência que o restante terço espalhado pelo mundo. Nem há dados que sugiram isso. Os resultados dos Africanos nos testes de inteligência estão ao nivel dos Europeus do início do século XX. Isto não é consistente com evolução genética mas sim com a melhoria das condições de vida.

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  24. bizarro:

    O que Watson disse foi disparatado.

    Ele não se limitou a dizer que os africanos eram menos inteligentes: ele disse que isso acontece por razões genéticas. Sucede-se que os geneticistas não conhecem nenhuma diferença significativa no que diz respeito aos vários genes que controlam a inteligência que esteja correlacionada com as diferenças ao nível dos genes que controlam a melanina ou outros genes que caracterizem uma "raça".
    Haverá pequenas diferenças genéticas ao nível da inteligência, tal como haverá entre os loiros e os morenos, ou entre as pessoas com nome começado por A e por B: seria muita coincidência se a inteligência média fosse a mesma, mas isso não tem nada a ver com a primeira letra do nome.

    A existirem diferenças maiores, elas devem-se aos factores que o Ludwig referiu: pior nutrição, menos acesso à educação, etc... Não têm nada a ver com a cor da pele a não ser por razões históricas (como nós termos ido lá escravizar e pilhar meio continente).

    Isto acontece porque não existiu uma pressão selectiva diferencial no que respeita à inteligência. Poderia ter existido, mas o ser humano é recente, e a saída de áfrica ainda mais, e pelos vistos a análise feita ao ADN diz-nos que não existem razões genéticas para que os negros sejam menos inteligentes que os brancos, e estes menos inteligentes que os asiáticos - muito embora os testes de QI o meçam. São as tais razões culturais que o Ludwig referiu a mostrar como a educação, apesar de tudo, ainda tem algum peso na inteligência.

    Mas os disparates de Watson não se ficaram por aqui: para sustentar esta tese peregrina, eis a rainha das evidências "qualquer um que já tenha tentado contratar um negro sabe". Que raio é isto?
    Se ia fazer uma afirmação tão polémica, poderia ao menos documentar-se minimamente.

    Com afrmações dessas e justificações dessas, ele fez figura de Jónatas Machado.

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  25. O Ludwig antecipou-se, eh!eh!eh!

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  26. Se não há razões geneticas para justificar as diferenças de QI entre negros, e brancos e asiaticos, e afins, ou os testes de QI estão mal feitos e perdem todo o valor, a ou a genética ainda não descobriu tudo o que pode.

    Pode ser devida a melhoria de condições de vida, que foram dadas pelos deuses apenas a uns a custo de nada e sem mérito próprio nem qualquer outra razão para além da aleatoriedade, uu pode ser devida a uma evolução separada em que umas coisas eram mais importantes que outras, e daí a diferença ser minima e não esclarecedora. Porque a evolução não se dá de uma só vez.

    Comparar a inteligencia à dos europeus no inicio do seculo XX só faz sentido se for também comparada a inteligencia dos europeus no inicio do seculo XX face à dos africanos do inicio do seculo XX, para se ver se realmente algo está a mudar ou não, e também quais as diferenças de QI entre os europeus do inicio do seculo XX face aos europeus do inicio do seculo XXI.

    O argumento do quem contrata sabe, é polemico e de mau gosto, mais nada. Quanto a documentar-se um pouco, talvez o tenha feito com quem contrata, que é a unica documentação que faria sentido para proferir tal afirmação.

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  27. Outro ponto:

    parece-me obvio que os "brancos" sejam mais "inteligentes" que os "pretos" visto que fomos nós que definimos o paradigma da inteligencia.

    e nem eh preciso ir parar aos tons de pele. alguem que tenha muito boas notas a portugues no secundario, "eh um criativo, um artista" alguem que tem muito boas notas a matemática e a fisica "é um génio".

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  28. anónimo:

    A conversa do "fomos nós que definimos a inteligência" não é grande explicação, porque os testes de QI mostram os asiáticos mais intelignetes que "nós"... E não foram eles que os criaram.


    Bizarro:
    Os testes não estão necessariamente mal feitos, embora existam grandes debates a respeito de quais testes são mais adequados.

    Mas não há mal nenhum em que os testes reflictam diferenças na inteligência obtidas pelo treino.

    A verdade é que a falta de nutrição pode afectar negativamente a inteligência, e não é por um teste reflectir isto que está mal feito, pelo contrário.
    Como sabes, há regiões com mais fome que outras. Se lá a inteligência é menor isso não é um problema de genética: é um problema de fome.

    Outro exemplo é o da escolaridade, que deve desenvolver a inteligência. E se é verdade que a escola poderia desenvolver ainda mais do que aquilo que faz, a verdade é que está longe de ser irrelevante.

    Mas se tu dizes que se em África as condfições são piores porque eles são menos desenvolvidos e culpas a inteligência deles por isso, então isso é ridículo. A escrita apareceu na Babilónia não porque os Babilónios eram os mais inteligentes, mas sim porque em qualquer lado isso poderia ter acontecido e calhou lá. E a sociedade tecnologicamente mais evoluida depois passou a ser o egipto, depois a china, enfim... foi sempre mudando.
    Entretanto nós descobrimos a pólvora e pudemos pilhar e escravizar meia áfrica - não porque éramos mais inteligentes, mas porque calhou.

    Entendes a ideia?

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  29. Os testes de QI normalmente medem a maturidade intelectuai. È um quociente entre a idade da criança e a idade média das crianças com o mesmo desempenho. Inicialmente foram concebidos para identificar problemas de aprendizagem.

    Estes testes têm que ser calibrados regularmente porque a melhoria gradual da educação e nutrição faz com que as pontuações vão subindo (cerca de 3 pontos por década nos paises industrializados). Esta variação é rápida demais para ser devido à evolução.

    Em traços largos. Fazes um teste de vocabulário a um bosquímano na Àfrica do Sul. Vez que ele diz só metade dos sinónimos do europeu médio. Contas zero por ele conhecer as pegadas e hábitos de trinta animais diferentes, fazer todas as ferramentas a armas que usa, e conhecer quinhentos quilómetros quadrados de savana como a palma da mão. E depois concluis que os Africanos evoluiram de forma a ser menos inteligentes que os europeus que fazem palavras cruzadas.

    Este é o disparate do Watson. Só que pior que ele tem obrigação de saber estas coisas...

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  30. Ludwig:

    Há testes de QI baseados no factor g, que já conseguem medir tipos de capacidades diferentes. Por exemplo, não é necessário saber ler ou escrever para ter nota máxima.

    Existe realmente um debate a respeito dos testes serem sempre etnocentricos, mas creio que têm sido feitos esforços significativos para evitar isso.

    E como disse ao anónimo, os asiáticos têm-se portado melhor que os caucasianos que os criaram.

    Mas concordo contigo que estas diferenças entre grupos devem-se fundamentalmente a questões ambientais. E são pequenas.

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  31. João, o nivel de vida de uma sociedade existe independentemente da inteligencia do membros, certamente. Perdoa-me o tom irónico, mas por isso é que nós agora temos casas de banho em vez de utilizar os cantos dos castelos e usar perfumes.

    Quanto à escrita ter aparecido na babilonia porque calhou, isso faz todo o sentido, podia até ter aperecido na peninsula iberica, tal como a bomba atomica podia ter criada em moçambique, e o micro-ondas no congo.

    A nutrição e a escolaridade, claro que influenciam a inteligencia de um adulto, mas também outros factores influenciam. Ainda no que diz respeito ao factor de inteligencia, quando o Watson se referiu a quem contrata sabe, certamente não se estava a referir a um aborigene, nem a um membro de uma tribo no meio de africa, pelo menos penso eu, talvez a alguém que tenha crescido com as mesmas condições dos ocidentais.

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  32. Abobrinha,
    sem me querer repetir: não encontro em lado nenhum a declaração que imputas à Prémio Nobel da Paz. Encontro sim, as palavras dela distorcidas em muitos lados. E o facto de tu as interpretares como te convém, apesar de ela ser clara em afirmar que não sabe quem é/são os responsável/eis só prova uma verdade antiga: uma vez o nome arrastado pela lama, é muito difícil repor a verdade. Não tem nada a ver com racismo. É um mal milenar. Já outro aspecto me parece bastante mais racista: quando um africano recebe um prémio nobel (veja-se, o exemplo do escritor - este sim nigeriano - Soyinka) a discussão no ocidente gira não em torno da obra ou do mérito, mas do «se-recebeu-o-prémio-só-por-ser-africano». No caso de Soyinka a discussão, aliás, só atesta o analfabetismo e a pouca inteligência de quem avançou tal hipótese. E no caso de Waangeri foram viradas todas as pedras para encontrar fosse o que fosse para provar que ela não era digna do nóbel. Volto ao Watson: quando recebeu o prémio - e muitos outros posteriores - já tinha dito
    e repetido barbaridades sem conta, sem que ninguém se sentisse incomodado. Porque o alvo dos seus ataques, claro, não éramos "nós".
    Cristy

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  33. João,

    «Existe realmente um debate a respeito dos testes serem sempre etnocentricos, mas creio que têm sido feitos esforços significativos para evitar isso.»

    Esforço, sim, mas há um problema fundamental dificil de contornar. O tal factor g é uma abstracção estatística da correlação de muitos testes diferentes. Não é definido a priori. O mesmo se passa em parte com o QI.

    Por isso é preciso calibrar estes testes pela média da população. Por exemplo, em muitos testes destes é preciso ajustar os factores para que homens e mulheres tenham a mesma pontuação média, porque há diferenças cognitivas significativas. Mas nisto assume-se que o teste tem que dar o mesmo para homens e mulheres e ajusta-se os pesos para que dê.

    Se assumirmos que os testes têm que dar o mesmo para europeus e bosquímanos podemos fazer a mesma coisa. Dá-se mais peso a enumerar os graus de parentesco dos cinquenta membros do clã e menos peso a dizer os nomes de dez veículos motorizados e a coisa bate certo (é uma caricatura, mas o fundamental é isto -- há muitos parâmetros onde mexer).

    Não é que as diferenças sejam pequenas. O QI médio de algumas populações africanas é metade da média de algumas na europa. O problema é que segundo esta medida os bosquímanos são atrasados mentais. Um QI de 54 indica uma deficiência acentuada. Mas isto é um resultado obviamente errado. Nenhum atrasado mental sobrevivia naquelas condições, e quem lida com eles vê que tem que haver um problema no teste...

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  34. Bizarro,

    Há um forte determinismo regional na evolução das sociedades e da tecnologia. Era praticamente impossível que a história tivesse progredido de forma a que em 1500 viessem navios do sul da África escravizar europeus.

    Mas essa diferença não se deve à genética humana, mas sim à distribuição dos animais e plantas domesticáveis, da orientação dos continentes. Nas américas e na áfrica é impossível levar culturas de um lado para o outro porque com a mudança de latitude muda o clima. Na eurásia isso é fácil porque segue-se a mesma latitude.

    Se estás interessado nisto recomendo o Guns, Germs and Steel do Jared Diamond.

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  35. Cristy

    Com base no que transcreveste, continuo a classificar a Wangari Maathai como racista. Por arrastamento, pouco inteligente ou toldada pelo ódio. É-me indiferente que o ódio dela seja dirigido a brancos, pretos ou azuis à pintinhas: é racista e chega-me.

    Dito isto, um prémio Nobel da Paz ou um da Literatura (que são os casos que referes) são sempre discutíveis. Não duvido que a Wangari Maathai merecesse o Nobel pelo que fez... mas também não digo que tenha que ser santa! O do Watson é mais objectivo. Subjectivo é (no caso em particular) se não foi atribuído por omissão a outros que contribuiram para a descoberta da estrutura do DNA.

    Quanto ao Soyinka, essa do só-lhe-deram-prémio-por-ser-africano tem o nome técnico de... dor de cotovelo! Tão simples como isso! Quantos Nobel da Literatura conheces que tenham sido aclamados por unanimidade? Se é racismo? TEcnicamente sim, só porque o argumento usado foi a raça.

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  36. Luis

    Em termos do que disseste das sociedades tens toda a razão. Possivelmente fui eu que me expliquei mal: é claro que é útil aferir estatisticamente certos parâmetros para uma população.

    O que quis dizer é que perante um indivíduo e o seu bilhete de identidade não se pode partir para a generalização estatítica, mas levá-lo como um indivíduo. Claro que isso implica situações como o desgraçado do budista que quer comprarar um iPod e eu sei... mas não tenho um para o vender.

    Mas para situações como uma entrevista de emprego ou qualquer relação mais ou menos pessoal tem que ser levado o indivíduo tanto quanto possível como um indivíduo. Tanto quanto possível sem preconceitos e rótulos. Claro que isso não é 100% possível nem todos os rótulos são errados.

    Para uma entrevista de emprego, por exemplo, há um perfil que se faz a partir de uma série de dados e é daí que se parte (o que eu chamo o pré-conceito). A partir daí refina-se o perfil para os detalhes mais relevantes. Mas "ah, o tipo é preto ou branco ou alto ou gordo"... não é critério de jeito! Nem que o Watson diga que o é baseado na sua experiência pessoal.

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  37. Bizarro

    "Quanto ao que a abobrinha disse, das afirmações serem algo sem fundamento cientifico ser indiscutivel, talvez seja porque todos tem medo de realizar um estudo que permita aferir de tal veracidade e tirar de uma vez por todas as duvidas."

    Devo assumir que partes do princípio que é verdade, mas ainda não se concluiu por causa da censura?

    Um teste destes seria pouco sério porque a variável preto-branco camuflaria outras variáveis como as condições sociais, físicas e económicas. E isso já foi aqui dito por quem se exprimiu melhor que eu o faria.

    Mas esta e outra afirmações que aqui deixaste interpreto-as como racistas no sentido de saberes que assim é, mas ninguém parecer estar interessado em ver. Ou seja, uma verdade científica à la James Watson + teoria da conspiração. Ou fui eu que interpretei mal?

    E há o que o Ludwig referiu ainda: ainda que se verificassem (o que não creio ser intelectualmente sério esperar) diferenças entre raças, o que faríamos com essas diferenças? Seria legítimo o tratamento diferente entre raças? Passaríamos por cima de todo o nosso humanismo que nos levou séculos a construir (e ainda não está nem a caminho de ter terminado)?

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  38. Abobrinha,

    estás-me a obrigar a arvorar em defensora da Dona Wangari, quando não era essa a minha intenção. Talvez a senhora até seja profundamente racista. Mas mantenho que não é daquilo que ela disse sobre a Sida que se pode inferi-lo. Pelo contrário, as questões que ela levanta são legítimas.

    Quanto aos nóbeis da literatura: não há dúvida que o discurso é racista: só superficialmente se debateu a questão da proveniência. Porque quando os vencedores foram africanos de pele branca (Nadine Gordimer, Coetzee, etc.) a questão nunca se colocou.

    Cristy

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  39. Abobrinha

    "Um teste destes seria pouco sério porque a variável preto-branco camuflaria outras variáveis como as condições sociais, físicas e económicas. E isso já foi aqui dito por quem se exprimiu melhor que eu o faria."

    Camuflaria porquê? Há individuos negros que foram nascidos e criados nas mesmas (ou até melhores) condições que o comum dos europeus. Os testes que proponho são exactamente estes, pois obviamente que o que Watson disse, e o que eu digo não se refere ao chefe da tribo zulu, nem aos seus mais fortes guerreiros, e é ingenuo pensar o contrário.

    Interpretas o que disse como racista porquê? E se fosse verdade, ainda seria racista, ou só é racista quando é mentira. Este tipo de interpretações como racismo, é exactamente o que o Ludwig se refere no artigo que estamos a comentar, é exactamente o problema da interpretação ao que Watson disse, que não teve nada de racista.

    E ainda mais, sim a censura cientifica existe, e é bem forte, arruinando carreiras como a de Michael Bailey, ou Helmuth Nyborg e agora a prejudicar Watson, para mais tarde virem dizer que afinal não, mas já muita gente saiu prejudicada.

    E ainda mais, a verificar-se diferenças entre raças, certamente não seria pela raça que se deixaria de contratar ninguem, mas sim pelas caracteristicas da raça. É melhor do que mandar um anão jogar basquetebol so porque não podem haver diferenças, isso sim é ridiculo.
    Ludwig, irei encomendar o livro, pois interesso-me muito pelo tema em geral.

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  40. Bizarro

    "Se não há razões geneticas para justificar as diferenças de QI entre negros, e brancos e asiaticos, e afins, ou os testes de QI estão mal feitos e perdem todo o valor, a ou a genética ainda não descobriu tudo o que pode."

    Esta afirmação para mim começou nas conclusões e atirou para cima das falhas do teste de QI ou da genética a falta de provas. O resto deste comentário seguiu a mesma linha. Ou eu interpretei mal!

    Também não compreendo como é que sendo a inteligência tão multi-factorial continuas a achar que seria sério esperar diferenças com significado estatístico com base em meia dúzia de genes ridículos que determinam a quantidade de melanina na pele e pouco mais. O que pode suceder (hipoteticamente ou não) é que os negros se saiam melhor nos testes... e aí pode argumentar-se que afinal os grupos foram mal escolhidos, que os testes são falíveis, que... mas seja como for, dado o que escreveste (se eu o interpretei bem), já "sabes" as conclusões, pelo que não vejo a utilidade de fazer os testes sequer!

    O Sr. Watson antes destas disse outras, mas nunca meteu a Ciência ao barulho. Ele está a ser punido cientificamente por ter dito uma camelice de todo o tamanho. Racistas há muitos, por isso destruir a carreira deste não vai fazer absolutamente nada. Nem é esse o objectivo.

    Se os preconceitos dele não implicassem o bom nome da Ciência (para a qual ele contribuiu), não haveria necessidade de ele estar na situação em que está! E ele tinha a obrigação de saber isso... dito isto, ele não passa de um africano que saiu de África há muito tempo. E sabes o que é que disse um prémio Nobel acerca dos africanos?

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  41. Cristy

    Vou pôr a coisa de outro modo, com uma reorganização da entrevista ao Dr. Watson.

    PERGUNTA: Disse que não se pode esperar que a evolução da inteligência tenha sido a mesma em povos separados geograficamente. Isto quer dizer que os negros são menos inteligentes que os brancos?

    RESPOSTA: Eu gostaria que todos fôssemos iguais, mas qualquer pessoa que lida com empregados de cor sabe que isso não é verdade. Mas há muitos negros talentosos.

    O alarme do racismo soou? A mim soou e bem alto (e ele disse tudo isto e mais).

    A Wangari Maathai proferiu (na minha opinião) neste excerto da entrevista afirmações do mesmo calibre. Ser africana e de cor não a desculpa por essas afirmações e se ela me dissesse isso a mim levava com uma roda de racista para baixo! Não admito tretas dessas de ninguém.

    Aliás, uma abordagem à questão do racismo de brancos contra negros tem sido... racismo de negros contra brancos. Não é por aí! Ódio gera mais ódio! A história antiga e moderna e de hoje mesmo ensina-nos isso. Razão tenho eu quando digo que a História é uma Ciência inútil: aparentemente não se aprende nada!

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  42. Abobrinha,
    acho que já percebi o problema. Reside na pergunta sugestiva, que é método - muito usado - de mau jornalista. Neste caso, Wangari Maathai diz claramente que não foi o que afirmou. Suponho até que na resposta ela tenha usado essa negação (fê-la noutros lados), mas que o jornalista a tenha editado - que é outro método jornalístico que só é legítimo numa entrevista quando a) se sabe aplicá-lo e b) não deturpa o sentido das respostas. Mas isso leva-nos a uma conversa longa sobre o jornalismo que não vem aqui a propósito. Só para repetir: há que ter cuidado e não interpretar as palavras dos outros como nos parece que cabem nos nossos preconceitos. Agora, se estiveste a tomar chá com a Wangari e ela te disse pessoalmente que pensa que os brancos (que brancos? os africanos não costumam passar todos pelo mesmo pente, como nós fazemos quando falamos deles) inventaram a Sida para dar cabo dos negros, aí tens toda a razão em lhe chamar racista e estúpida por cima. Conhecendo o precurso dela, confesso que ficaria, no mínimo, admirada.
    Cristy

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  43. Cristy

    A pergunta quase responde, mas acho que a resposta não desfez a ambiguidade. Mas não lhe tira o mérito do que fez para receber o Nobel. E receber o Nobel (como já debatemos) não é o mesmo que ser canonizado em vida. E não conheço a senhora o suficiente para avançar mais que o que disse.

    Fica a ideia: seja quem for que me ofenda em termos racistas leva troco. Desde um Nobel a um vagabundo!

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  44. Uff, fiquei uns tempos sem ler blogs, e agora estou a ver o que perdi. E já assinei os RSS para não me perder. LOL

    Num fórum um espírita introduziu um texto a falar mal dos ateus, pensamento do Iluminismo, e que se devia ter em conta a autoridade da Igreja... blah, blah, blah, introduzindo esse assunto, sobre Watson.

    Lembrei-me de um episódio do (Dr.) House, que prescrevia um medicamento para "afro-americanos", e o paciente acusou-o de racismo.

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  45. o racismo e uma koixa para parvox,pk tipo eu nao xou racixta max eu nao goxt k ox inglese,espanhoix,ukranianos,chinex-ex,brasileirox...extejam ka a mamar o noxodinheir todo nao axam eu axo k tenho mt razao

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  46. ahhhhh
    casa comigo!?
    Adorei sua posição e concordo em grande parte...embora o final não seja muito coerente com o que eu falaria.To construindo um artigo sobre a formação da subjetividade em relação com os fatores filo e ontogenéticos além de relacioná - los com um pouquinho de psicologia....Depois de pronto se quiserem eu posto...

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