tag:blogger.com,1999:blog-29251019.post784347010248846527..comments2024-03-23T14:41:42.801+00:00Comments on Que Treta!: Mete medo...Ludwig Krippahlhttp://www.blogger.com/profile/12465901742919427145noreply@blogger.comBlogger92125tag:blogger.com,1999:blog-29251019.post-40852941092955620282008-06-27T12:43:00.000+01:002008-06-27T12:43:00.000+01:00Caro Alfredo:«stou convencido que não é só a crenç...Caro Alfredo:<BR/><BR/>«stou convencido que não é só a crença religiosa que tem uma componente emocional.»<BR/><BR/>Não é isto que estou a disputar. <BR/><BR/>A crença de que o efeito de estufa tem causa humana, ou de que a escravatura é errada, são crenças que considero bastante correctas. Ainda assim sei que têm uma componente emocional importante na esmagador a maioria dos casos. <BR/><BR/>Não é o facto de uma crença ter uma forte componente emocional que a deve desacreditar. <BR/>Mas se não existir justificação racional para uma crença, aí já devemos suspeitar...<BR/><BR/>No caso da religião, creio que existem várias justificações racionais... mas todas inválidas.<BR/><BR/><BR/>«fico com a sensação de que estão convencidos que essa justificação é racionalidade e objectividade em estado emocional do seu puro, ao passo que as crenças religiosas e as suas justificações são irracionalidade e subjectividade em estado puro.»<BR/><BR/>hum... Não costumo pôr as coisas nesses termos.<BR/><BR/>Uma coisa é explicar psicologicamente porque é que alguém acredita em algo. Aí claro que importam os argumentos racionais que a pessoa alega, mas também as razões emocionais que lhe levaram a valorizar esses argumentos em deterimento dos argumentos contrários. Em que pessoas confia? Como se indentifica? A que comunidade sente querer pertencer? Isto é válido para crentes e descrentes.<BR/><BR/>Outra coisa é discutir em que é que a pessoa racionalmente deveria acreditar. Se a verdade for o critério mais importante (se estabelecermos que é mais importante a pessoa acreditar no que é verdade do que naquilo que lhe dá conforto psicológico ou emocional, por exemplo), então são só relevantes os argumentos racionais.<BR/><BR/>Acredito que quando só estão em jogo argumentos racionais, o ateísmo tem uma posição mais forte e sustentada que a crença religiosa - em particular a católica. O deísmo puro dá mais "luta".<BR/>Ainda assim, por variadas razões que dependem de pessoa para pessoa (de índole mais emocional) várias pessoas com uma formação académica e elevada capacidade intelectual fazem uma leitura que me parece errada do debate. São uma minoria: entre as pessoas com elevada formação académica é mais comum que o debate os leve da crença para a descrença do que o contrário.<BR/><BR/><BR/>«Quanto aos crentes que têm um elevado nível cultural em geral, e científico em particular, está mesmo convencido de que eles não têm capacidade de analisar criticamente essas crenças, e que qualquer um deles, indistintamente, pode ter qualquer crença por mais louca que seja?»<BR/><BR/>Não. <BR/>Aquilo que eu disse é que qualquer crença, por mais louca que seja, pode ter alguém de elevado nível cultural e científico que a professe. <BR/>Mas um indivíduo com elevado nível cultural e científico tem, como é natural, uma probabilidade mais baixa de professar uma crença louca que outro indivíduo qualquer sem essa formação.<BR/><BR/><BR/>«Ao pensar em casos concretos de pessoas que conheço bem, fico com dúvidas sobre a sua posição. Estes casos têm para mim o valor da ‘evidência empírica’ de que tanto se fala quando se exige que a crença em Deus seja baseada em alguma evidência empírica.»<BR/><BR/>Evidência empírica de que é possível alguém com elevado nível cultural e científico acreditar em Deus. Mas não me passaria pela cabeça disputar isso.<BR/><BR/>Pela minha própria experiência pessoal sei que os católicos não são todos doidos varridos ou lunáticos. Nada disso!<BR/><BR/>Mas sei que não é preciso ser doido varrido para acreditar numa doideira. Vou dar um exemplo que não(!) quero equiparar ao catolicismo, mas que ilustra a minha ideia: a escravatura.<BR/><BR/>Já foi comum, e creio que a esmagadora maioria das pessoas não a considerava errada. Mesmo muitas com elevada formação académica e cultural, e mesmo pessoas com valor moral.<BR/>Parece um absurdo! E era um absurdo. <BR/>Realmente a escravatura era errada (já na altura), e quase que é loucura não considerar isso. <BR/><BR/>Alguns indivíduos terão chamado a atenção para isso, e quanto maior o valor moral mais provável era que um indivíduo tivesse essa opinião. Mas por muito valor moral que um indivíduo tivesse, era sempre possível (ou mesmo provável) que fosse da opinião contrária.<BR/><BR/>Com isto quero apenas mostrar que é possível a alguém razoável, culto, e moral, acreditar numa proposição irracional e ter uma conduta imoral. Até é possível que esse comportamento seja maioritário entre as pessoas com estas características.<BR/>Ainda assim creio que a cultura e a moralidade aumentam a probabilidade de rejeitar esta proposição e este comportamento.<BR/><BR/>Saudações,<BR/><BR/>João VascoJoão Vascohttps://www.blogger.com/profile/14810948198773329192noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-29251019.post-56564894722998974302008-06-27T10:14:00.000+01:002008-06-27T10:14:00.000+01:00Caro Vasco, Obrigado pela sua resposta. Estou conv...Caro Vasco,<BR/> Obrigado pela sua resposta. Estou convencido que não é só a crença religiosa que tem uma componente emocional. A posição ateia também a tem, e talvez seja tão ou mais ignorada pelos ateus do que pelos crentes. Ao ler os textos de pessoas, como o Vasco, que se confessam ateias e apresentam justificações, que consideram convincentes, para o seu ateísmo, fico com a sensação de que estão convencidos que essa justificação é racionalidade e objectividade em estado emocional do seu puro, ao passo que as crenças religiosas e as suas justificações são irracionalidade e subjectividade em estado puro. Estarei enganado? Terão os ateus consciência da componente emocional do seu ateísmo? <BR/><BR/> Quanto aos crentes que têm um elevado nível cultural em geral, e científico em particular, está mesmo convencido de que eles não têm capacidade de analisar criticamente essas crenças, e que qualquer um deles, indistintamente, pode ter qualquer crença por mais louca que seja? Ao pensar em casos concretos de pessoas que conheço bem, fico com dúvidas sobre a sua posição. Estes casos têm para mim o valor da ‘evidência empírica’ de que tanto se fala quando se exige que a crença em Deus seja baseada em alguma evidência empírica. Não se trata de uma evidência empírica à maneira das ciências naturais – essa evidência, no que se refere a Deus, não existe, como já afirmei anteriormente – mas não creio que toda a evidência empírica deva ser apenas a que é requerida pelas ciências da natureza física.<BR/><BR/> Saudações,<BR/><BR/> Alfredo Dinisalfredo dinishttps://www.blogger.com/profile/11094799994161509856noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-29251019.post-8949410727684949852008-06-27T00:44:00.000+01:002008-06-27T00:44:00.000+01:00Caro Alfredo:«Se assim fosse, por que razão as pes...Caro Alfredo:<BR/><BR/>«Se assim fosse, por que razão as pessoas que pedem favores a Deus e, repetidamente, não os obtêmcontinuam a acreditar nele? Não te parece que têm razões de sobra para descrerem nele?»<BR/><BR/>Pela mesma razão que tanta gente confia na astrologia, na cientologia, na numerologia, ou nas profecias de Nostrodamus. Pela mesma razão que tantos povos ainda praticam a dança da chuva.<BR/>Existem uma série de enviesamentos cognitivos que são naturais ao ser humano. ( http://en.wikipedia.org/wiki/List_of_cognitive_biases )<BR/>Importa aprender a evitá-los.<BR/><BR/><BR/>«Voltando à questão dos crentes que têm formação científica e cultural de bom nível, que razões pensas estarem na base da sua continuada crença religiosa?»<BR/><BR/>Imagino que cada caso é um caso. Há várias questões emocionais em jogo no que respeita a essa crença em particular, e qualquer pessoa, com qualquer grau de formação e conhecimento pode ter qualquer crença (desde nazi, a adepto das teorias da conspiração mais doidas) mesmo que a probabilidade disso acontecer possa ser diferente consoante o grau de conhecimento e formação.<BR/><BR/>Retribuo as cordiais saudações:<BR/><BR/>João VascoJoão Vascohttps://www.blogger.com/profile/14810948198773329192noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-29251019.post-35920734582672379782008-06-27T00:42:00.000+01:002008-06-27T00:42:00.000+01:00Este comentário foi removido pelo autor.João Vascohttps://www.blogger.com/profile/14810948198773329192noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-29251019.post-66053422035799878612008-06-26T23:49:00.000+01:002008-06-26T23:49:00.000+01:00Caro Vasco, Obrigado pelas tuas considerações....Caro Vasco,<BR/><BR/> Obrigado pelas tuas considerações.<BR/> Sei que existe a imagem da religião como uma espécie de ‘agência de seguros’. Quem reza, ou que é o beneficiário das orações de outros, tem mais probabilidades que sobreviver a desastres, doenças, desemprego, etc. Mas não é assim, pelo menos para muitas pessoas. Ao longo dos meus 27 anos de estudos, incluindo o ensino secundário, nunca pedi a Deus um favorzinho para os exames. E não creio que isso tão raro como se pensa. De facto, a religião, pelo menos o cristianismo, não tem a ver, fundamentalmente, com favores que se pedem e obtêm de Deus. Se assim fosse, por que razão as pessoas que pedem favores a Deus e, repetidamente, não os obtêmcontinuam a acreditar nele? Não te parece que têm razões de sobra para descrerem nele?<BR/> Voltando à questão dos crentes que têm formação científica e cultural de bom nível, que razões pensas estarem na base da sua continuada crença religiosa?<BR/> Obrigado.<BR/> Cordiais saudações,<BR/><BR/> Alfredo Dinisalfredo dinishttps://www.blogger.com/profile/11094799994161509856noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-29251019.post-35880750185585227282008-06-26T00:36:00.000+01:002008-06-26T00:36:00.000+01:00Caro Alfredo:"Quero apenas esclarecer que não pret...Caro Alfredo:<BR/><BR/>"Quero apenas esclarecer que não pretendi provar que Deus existe."<BR/><BR/>Não pensei que pretendesse. <BR/>Apenas estava a esclarecer que não é o facto do Deus da Bíblia ser mau que me faz (a mim e a outros ateus) duvidar da sua existência. Podia ser mau e existir.<BR/><BR/>É simplesmente o facto de não ter razões epistemologicamente válidas para acreditar que exista, mau ou bom.<BR/><BR/><BR/>«Não creio que tal prova seja possível, no sentido que dás ao termo ‘prova’. »<BR/><BR/>Creio não ter usado esse termo. Não gosto dele porque se presta a confusões. Costumo usar o termo evidência, ou indício. <BR/>Mas qualquer razão epistemologicamente válida deve ser considerada.<BR/>As razões dadas pelo clero mais sofisticado, tanto quanto conheço, costumam não cumprir este critério básico.<BR/><BR/>Depois existe algum clero que apresenta razões epistemologicamente válidas: mas essas costumam ser falsas. Em algumas igrejas evangélicas (não todas!) onde a charlatanice passa impune, tenta-se dar a entender que Deus realmente faz alguma coisa que se veja. Os pobres crentes são enganados e dão muito dinheiro aos sacerdotes charlatães.<BR/>Já noutras igrejas (como a católica) a mesma mensagem é passada, mas de forma tão subtil que até é compatível com o facto de uma percentagem muito importante dos sacerdotes ser honesta e acreditar no que faz. <BR/><BR/>Refiro-me por exemplo ao poder da oração. O clero passa a imagem de que a oração não é inútil. O clero mais desonesto passa esta imagem de uma maneira ostensivamente falsa e apelativa. A IURD é um caso de estudo: pague e Deus vai resolver os seus problemas. É mesmo uma transacção com o ser mais importante do Universo. Eu já estive numa cerimónia da IURD e sei do que falo: pessoas desesperadas que se entregam nos braços dos pastores, junto com uma parte significativa dos seus rendimentos.<BR/>A Igreja Católica não faz o mesmo, mas sabe que os seus crentes acreditam que a oração não é inútil. Que se o seu melhor amigo tem cancro, rezar pedindo por ele aumenta as suas probabilidades de sobreviver. Os padres católicos sabem que é isto que a esmagadora maioria dos seus fieis acredita, e não tenta contrariar essa crença.<BR/><BR/>Mas sabe-se que isso é mentira. Estudos foram feitos, e o facto de rezar por alguém não aumenta as suas probabilidades de sobreviver. <BR/><BR/>Aqui está um exemplo de algo que contraria a sua lógica. Seria possível existirem indícios, razões epistemologicamente válidas para acreditar em Deus. Se as orações em geral funcionassem, se as orações cristãs funcionassem melhor, e as católicas ainda melhor, isso seria um bom indício de que o Bento XVI poderia ter alguma razão. Não era um indício decisivo, ainda poderia ser sustentável a descrença em Deus, ou a crença de que esse fenómeno teria outra causa. Mas tornaria a crença em deus bem mais defensável em termos epistemológicos.<BR/><BR/>Mas não. Podemos observar e saber cientificamente que a oração é inútil. Não se encontra uma estatística que permita suspeitar da sua utilidade (mais sobreviventes de acidentes de avião crentes que o estatisticamente esperado, por exemplo). <BR/>Apesar disto, os crentes acreditam em algo que temos boas razões para supor que é falso. Não é estranho que aconteça o mesmo em relação à existência de Deus.<BR/><BR/><BR/>«Os que abandonam a religião são mais inteligentes que os outros? Será porque uns têm uma educação científica mais apurada e desenvolvida que outros? »<BR/><BR/>Estatisticamente existem muitos mais ateus entre os cientistas que entre a sociedade em geral, por isso creio que uma educação científica pode ter influência.<BR/><BR/>O mesmo é verdade em relação à formação académica em geral, mesmo que não tão acentuado.<BR/><BR/>Mas se isto pode ser afirmado estatisticamente, no que respeita a cada pessoa em particular, cada caso é um caso.<BR/>Tive um excelente professor no meu curso de Física, que era Padre. Trata-se de um indivíduo extremamente interessante e, tanto quanto conheci, de enorme valor intelectual. O meu Padrinho é outro exemplo, e poderia continuar...<BR/><BR/>Assim sendo, o facto de alguém ter um elevado valor intelectual não impede - de todo! - de ser crente, ou mesmo muito devoto. <BR/>Mas a estatística mostra que existem mais pessoas a afastar-se da crença religiosa devido à formação académica - e ainda mais a científica - do que aquelas que se aproximam devido a esse factor.João Vascohttps://www.blogger.com/profile/14810948198773329192noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-29251019.post-48228055699127580422008-06-26T00:32:00.000+01:002008-06-26T00:32:00.000+01:00Este comentário foi removido pelo autor.João Vascohttps://www.blogger.com/profile/14810948198773329192noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-29251019.post-84711227897420173602008-06-25T22:41:00.000+01:002008-06-25T22:41:00.000+01:00Caro Vasco, Obrigado pelas tuas considerações...Caro Vasco,<BR/><BR/> Obrigado pelas tuas considerações. <BR/><BR/>Quero apenas esclarecer que não pretendi provar que Deus existe. Não creio que tal prova seja possível, no sentido que dás ao termo ‘prova’. Aliás, se eu fosse Deus, não tentaria sequer fazer-me reconhecer através de alguma intervenção extraordinária e absolutamente convincente no universo espácio-remporal. Porque das duas uma: ou essa intervenção seria testável cientificamente, e então todos concluiríamos que se tratava de um fenómeno empírico, e nada mais. Deus, por conseguinte, ficaria excluído. Ou não seria testável cientificamente, e então seria considerada uma pura ilusão. A ciência não dá qualquer oportunidade a Deus! Nem ele é um elemento de uma qualquer fórmula enquadrável numa teoria científica. Se o fosse, deixaria de ser Deus.<BR/><BR/>Há pessoas que são educadas numa religião, e destas umas abandonam essa religião quando se tornam jovens ou adultos, outros não. Porque te parece que isto acontece? Ser+a por uma questão de inteligência? Os que abandonam a religião são mais inteligentes que os outros? Será porque uns têm uma educação científica mais apurada e desenvolvida que outros? <BR/><BR/>Saudações,<BR/><BR/> Alfredo Dinisalfredo dinishttps://www.blogger.com/profile/11094799994161509856noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-29251019.post-41385218303177358702008-06-25T09:28:00.000+01:002008-06-25T09:28:00.000+01:00Caro Alfredo,O contexto da vida do paciente é impo...Caro Alfredo,<BR/><BR/>O contexto da vida do paciente é importante clinicamente para determinar a necessidade ou urgência do tratamento. Mas não é isso que distingue uma alucinação de uma observação. A diferença entre estares a ler o jornal ou alucinares que lês o jornal é unicamente a presença, ou não, do jornal. Não é a actividade neuronal ou o contexto da tua vida que são determinantes.<BR/><BR/>Retomo o exemplo do microfone, que porventura expliquei mal. Se um paciente diz que ouve vozes a sussurrar ao seu ouvido podemos distinguir duas hipótese: há vozes (sons) a sussurrar ao seu ouvido ou é uma ilusão criada pelo cérebro do paciente. Um microfone no ouvido pode distinguir entre estas hipóteses. É determinar de forma independente se está lá ou jornal ou se não está.<BR/><BR/>Por exemplo, o tinido é uma perturbação auditiva comum que faz ouvir um zumbido constante. Não é um som real mas uma “alucinação” criada pelos neurónios no ouvido. Algumas pessoas ficam muito afectadas por ouvir um zumbido incessante e outras habituam-se e vivem a sua vida normalmente. Esta distinção é determinante para a intervenção clínica mas é irrelevante para estabelecer que o zumbido é uma ilusão auditiva e não um som de verdade. O critério da Igreja Católica, se aplicado a isto, indicaria que no caso das pessoas que se adaptam bem à situação o som é mais real que nas outras. Isso não é parece razoável.<BR/><BR/>Eu não afirmo que só é real o que é testável cientificamente. O que afirmo é que só podemos saber que é real, ou seja, afirmar com fundamento que é real, aquilo acerca do qual podemos testar hipóteses. Senão estamos no reino da especulação. Especulando, pode haver ruídos reais que nunca podem ser detectados excepto pelos neurónios, e que os activam exactamente nas condições e na forma que corresponde as alucinações. Mas, se existirem tais ruídos, nunca poderemos sabê-lo porque nunca poderemos distingui-los de alucinação.<BR/><BR/>Eu não mando na realidade, por isso não estou a proibir o teu deus de existir. Mas se o teu deus não pode ser testado e todas as suas manifestações são objectivamente indistintas de ilusões, então não tens fundamento para afirmar que ele existe, tal como não temos fundamento para afirmar de quem ouve as tais vozes que está mesmo a ouvir almas do outro mundo ou assim.<BR/><BR/>Só para terminar:<BR/><BR/><I>« como pode exigir de Deus uma evidência empírica se Deus não se reduz a qualquer ser ou acontecimento do nosso universo espácio-temporal?»</I><BR/><BR/>Não vejo a contradição. Mesmo que não se reduza a isso não quer dizer que não possa agir no espaço e no tempo. Aliás, 99% da oração assenta no pressuposto que pode. Bastaria que a proporção de preces atendidas numa religião fosse superior às das outras de forma estatisticamente significativa para termos uma boa evidência empírica para a existência desse(s) deus(es).<BR/><BR/>E é verdade que todas as teorias, todas as hipóteses, são sub-determinadas pelas observações. Há sempre alternativas igualmente compatíveis. Mas isso até reforça a necessidade de cepticismo face às alegações da fé, porque nessas o problema da sub-determinação é ainda mais grave. E a intersubjectividade que governa o consenso científico é a partilha de conclusões derivadas de razões partilhadas. Públicas, por assim dizer. Não é por 50 cientistas sentirem na sua alma a presença do espírito santo mas porque 50 cientistas concordam que, naquelas condições, o aparelho dá aquele resultado e que isto provavelmente se deve a este e aquele fenómeno.<BR/><BR/>Um abraço,<BR/>LudwigLudwig Krippahlhttps://www.blogger.com/profile/12465901742919427145noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-29251019.post-9712272431461032382008-06-25T05:55:00.000+01:002008-06-25T05:55:00.000+01:00O importante deste vídeo é que ficamos a saber, qu...O importante deste vídeo é que ficamos a saber, que se formos para o inferno, há lá canetas e papel de carta que não ardem.francisco feijó delgadohttps://www.blogger.com/profile/06309781015225651633noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-29251019.post-17416584504432631442008-06-25T00:54:00.000+01:002008-06-25T00:54:00.000+01:00«Para quem acredita em Deus, ele não é apenas um c...«Para quem acredita em Deus, ele não é apenas um conceito ou uma hipótese, é uma experiência de relação interpessoal. Neste sentido, faz toda a diferença que o Deus dessa experiência seja bom ou seja mau.»<BR/><BR/>Se o Alfredo me quiser convencer que Deus existe, pode argumentar que "Deus é o oxigénio". Se aceitar tal definição, como eu acredito no oxigénio, não poderei duvidar de Deus.<BR/>O Alfredo até pode argumentar que a definição não é disparatada. Pode alegar que Deus, Omnipresente, é tudo, e portanto é o oxigénio.<BR/><BR/>Assim parece anedótico, mas creio que não difere muito da estrutura argumentativa usada para sustentar "Deus é Amor" ou "Deus é uma experiência interpessoal".<BR/><BR/>Não é.<BR/><BR/>"deus" é a classe de seres entre os quais está o criador do universo.<BR/>Deus (no sentido de único) é o criador do universo.<BR/>Não pode ser uma relação interpessoal, porque não existia nenhuma pessoa quando o Universo foi criado...<BR/><BR/>Isto até parece um tanto parvo, mas é onde nos leva a falta de rigor e clareza no discurso.<BR/>Se dizemos que Deus é uma relação interpessoal, podemos ser ateus e fazermo-nos passar por crentes. <BR/><BR/>Por absurdo, como eu acredito que o amor existe, então passo a ir à missa, e a encontrar uma série de justificações ad hoc para pertencer à comunidade católica, mesmo continuando com as mesmas convicções que até então. Apenas as exprimo de forma diferente, previliando o discurso obscuro face à clareza, para confundir todos os outros.<BR/><BR/>Creio que isto mostra bem como essa definição de Deus não pode ser aceite. É preferível previligiar o rigor e a clareza.<BR/><BR/>Mas o facto de uma relação interpessoal ser má também não é razão para acreditar que não existe.<BR/><BR/><BR/>«A que indícios te referes?»<BR/><BR/>O Deus em que acreditas tem influência no mundo empírico observável? <BR/><BR/>Se sim, então é cientificamente testável. <BR/>Vamos observar cientificamente essa influência.<BR/><BR/>Se não, então não temos nenhuma boa razão para assumir que existe. Pode existir, assim como as sereias e os duendes. Mas falta-nos uma boa razão (epistemologicamente válida) para assumir que é o caso.João Vascohttps://www.blogger.com/profile/14810948198773329192noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-29251019.post-25963158965737893852008-06-24T12:23:00.000+01:002008-06-24T12:23:00.000+01:00Caro Ludwig, Obrigado pela tua resposta. Continuo ...Caro Ludwig,<BR/><BR/> Obrigado pela tua resposta.<BR/><BR/> Continuo a acreditar que os sacrifícios de Gandhi e de Mandela foram atitudes de coerência e de fidelidade a projectos pessoais de vida que não se limitavam aos próprios, mas que foram também, objectivamente, provas de um amor bastante radical pelos seus povos. E exemplos destes há muitos, também nos nossos dias.<BR/><BR/> O critério do contexto de vida de uma pessoa é de facto um dos principais critérios utilizados clinicamente. Quando alguém que parece ter algum comportamento estranho é enviado a um psicólogo, a um psiquiatra ou a um médico para que seja feito um diagnóstico da situação, o melhor meio de avaliar aquele comportamento é mesmo o contexto geral de como a pessoa se esprime, como vive no dia a dia, como enfrenta as situações, em particular as de stress e sofrimento, como se relaciona com os outros, etc. Dificilmente uma pessoa que tem um comportamento adequado às diversas situações da sua vida poderá, ao mesmo tempo, dizer que tem experiências muito estranhas e invulgares. Nos casos em que isto acontece e em que não há alucinações, no contexto da Igreja Católica que é o que melhor conheço, a própria pessoa começa por suspeitar que esteja a ter alguma alucinação, e em geral recusa-se a tomar a sério qualquer experiência não comum. É sempre no contexto de vida da pessoa que a Igreja Católica avalia a possibilidade de essa pessoa ter uma experiência religiosa extraordinária que não seja pura alucinação. E é com base em tal critério que 99,9999% dos casos não são tomados a sério.<BR/><BR/> No que se refere a critérios científicos para a detecção de sons no cérebro, é evidente que um microfone dentro do cérebro de uma pessoa que diz ouvir vozes nunca gravará qualquer som, como uma máquina fotográfica no interior do teu cérebro quando olhas a tua esposa nunca fotografará a imagem que tens dela. <BR/><BR/> A tua insistência em que tudo o que é real deve ser testável cientificamente limita arbitrariamente o que admites poder ser real. Por que razão o nosso método científico deve ser a medida única de tudo o que possa existir? Por que razão o nosso universo, onde se aplica o nosso método científico, deve ser o único a existir? Por que razão, qualquer outra realidade deve provar a sua existência passando pelo único critério do nosso método científico? Não me refiro apenas à realidade da existência de Deus, refiro-me a quaisquer outras realidades como outros universos que nada tenham a ver com o nosso, radicalmente incomensuráveis com este? Não me parece que o nosso universo, embora imenso e extraordinário, tenha que ser o único, nem que tudo o que é real tenha que ter a forma do nosso universo e obedecer às suas leis. <BR/><BR/> A resposta que costumam dar-me é que tem que haver algum critério para distinguir a crença em Deus na crença em seres da mitologia grega, por exemplo. As pessoas que acreditam no Deus cristão têm como critérios da sua fé a experiência dos primeiros cristãos que se relacionaram não com uma figura da mitologia grega, mas com uma figura real, Jesus Cristo. Além disso, a experiência pessoal dos cristãos inclui as dimensões emocional e cognitiva, pessoal e colectiva, uma experiência de coerência e de sentido. Teriam a mesma opinião se tivessem sido ensinados desde crianças que os deuses da mitologia grega existem mesmo e se incomodam connosco? Não sei. São hipóteses. Prefiro falar dos factos. <BR/><BR/> A este respeito não posso deixar de recordar um facto que tem a ver com Bertrand Russell e, mais recentemente com John Searle. Quando perguntaram a Russell o que diria a Deus depois da sua morte, no caso de vir a encontrar-se diante dele e de lhe ser perguntado por Deus por que razão Russell se recusara a acreditar nele, Russell disse que daria a seguinte resposta: “Tu não nos deste suficiente evidência empírica”. Searle afirmou que diria o mesmo. É evidente que há aqui uma incoerência da parte de Russell: como pode exigir de Deus uma evidência empírica se Deus não se reduz a qualquer ser ou acontecimento do nosso universo espácio-temporal? <BR/><BR/> Além disso, o conceito de ‘evidência’ e de ‘empírico’ não é tão simples como se possa pensar. Sabes bem que o acordo intersubjectivo no interior de equipas de investigação científica desempenha um papel importante em todos os projectos de investigação. Por outro lado, W. Quine sustentou a conhecida tese da ‘subdeterminação das teorias científicas pela evidência empírica’. Karl Popper e Thomas Kuhn vão pela mesma linha. Não estou a utilizar aqui um argumento de autoridade, uma vez que as autoridades também se enganam, mas é bom confrontarmos as nossas certezas com as posições de quem não viaja no nosso comboio, para procurarmos saber se é o nosso comboio que se move, ou se é o deles! É o que procuro fazer.<BR/><BR/> Podes crer que não encaro esta nossa troca de opiniões como um mero exercício de retórica ou de proselitismo intelectual ou religioso, mas como um exercício de esclarecimento das minhas próprias posições em matéria de religião, filosofia e ciência. De facto, não tenho posições tão rígidas e definitivas como se possa pensar. <BR/><BR/> Aproveito para te agradecer as críticas e objecções com que me tens confrontado.<BR/><BR/> Um abraço, <BR/> Alfredo Dinisalfredo dinishttps://www.blogger.com/profile/11094799994161509856noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-29251019.post-64502750214513590172008-06-24T10:57:00.000+01:002008-06-24T10:57:00.000+01:00Caro Alfredo,Obrigado pela explicação, que admito ...Caro Alfredo,<BR/><BR/>Obrigado pela explicação, que admito não me causar repulsa como a versão de Anselmo. Continua a não fazer sentido que falar a meia dúzia de pessoas e depois morrer na cruz seja uma manifestação de amor. Acho que o budismo nisso bate claramente o cristianismo. Mas os primeiros budistas não viviam sob o jugo dos romanos, por isso para eles foi mais fácil.<BR/><BR/>A ideia do inferno como uma solidão radical e irreversível também acho estranha. Nunca gostei de Kierkegaard, e em parte por causa disso. A única coisa em que sou radical é reservar-me sempre a possibilidade de mudar de ideias.<BR/><BR/>Mas agradeço o teu trabalho e sinto que compensou. Continuo a discordar da tua hipótese, mas sinto que percebo muito melhor qual é. Obrigado.<BR/><BR/>Onde precisava de mais esclarecimento é nisto: <BR/><BR/><I>«O critério para separar as experiências alucinadas de outras que devem ser levadas a sério tem a ver com o contexto de vida das pessoas que dizem ter tido experiências religiosas especiais. Por exemplo, é muito diferente a situação em que uma pessoa que diz ter recebido revelações religiosas especiais e se coloca no centro das atenções, da situação em que outra pessoa, em circunstâncias semelhantes, não quer que as atenções se fixem nela mas sim em Deus.»</I><BR/><BR/>Não me parece um bom critério. Supõe que duas pessoas alegam ver fadas. Uma faz disso um grande alarido e quer protagonismo, a outra só diz que sim, que as viu a vida toda e lhe dizem para ajudar os outros, mas só o afirma com timidez e só se for questionada. De resto dedica-se a trabalho voluntário, a cuidar de idosos e crianças e vive uma vida modesta.<BR/><BR/>A meu ver a segunda pessoa é pode ser melhor pessoa que a primeira mas ambas estão a alucinar.<BR/><BR/>O critério para determinar se estão mesmo a ver fadas ou se alucinam é a confirmação independente. Filmar as fadas, fazê-las agir de forma inequivoca, etc.<BR/><BR/>Se eu oiço vozes como se sussurrassem ao meu ouvido enfio lá um microfone pequeno e ponho a gravar. Se as vozes ficarem na gravação, são reais. Senão estou doido.<BR/><BR/>Tu achas que o teu critério se aplica também ao diagnóstico clínico? Para identificar alucinações deve-se considerar acima de tudo o contexto e se a pessoa vive para si ou para os outros?Ludwig Krippahlhttps://www.blogger.com/profile/12465901742919427145noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-29251019.post-7385634498634489962008-06-24T01:34:00.000+01:002008-06-24T01:34:00.000+01:00Caro Vasco, A que indícios te referes? O Ludwi...Caro Vasco,<BR/> A que indícios te referes? O Ludwig quer indícios que correspondam a uma hipótese com conteúdo empírico que seja testável pelo método científico. Creio que uma tal hipótese seria contraditória em si mesma. Uma hipótese sobre Deus que fosse testável cientificamente teria como referente um ser do nosso universo espácio-temporal, o que não corresponde à concepção de Deus de que se deve partir. Já passou o tempo em que o sol era adorado como um Deus.<BR/> Para quem acredita em Deus, ele não é apenas um conceito ou uma hipótese, é uma experiência de relação interpessoal. Neste sentido, faz toda a diferença que o Deus dessa experiência seja bom ou seja mau.<BR/><BR/> Cordiais saudações,<BR/><BR/> Alfredo Dinisalfredo dinishttps://www.blogger.com/profile/11094799994161509856noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-29251019.post-47566829075885374532008-06-24T01:26:00.000+01:002008-06-24T01:26:00.000+01:00Caro Ludwig, Em qualquer experiência humana es...Caro Ludwig,<BR/><BR/> Em qualquer experiência humana estão sempre activadas sincronizadamente diversas áreas neuronais, quer se trate de experiências patológicas quer de experiências não patológicas, religiosas ou outras. Esta activação é uma condição necessária para as experiências humanas, necessária mas nem sempre suficientes. Apenas no caso de patologias, ou de simples ilusões, se trata de uma condição necessária. Quando leio o jornal, é condição necessária que as áreas neuronais que me permitem ler estejam activas. Mas essa condição não é suficiente, uma vez que eu necessito de um jornal para o poder ler. <BR/><BR/> No caso da sensação de presença de alguém, tal como parecem sentir os voluntários que se submeteram às experiências de Michael Persinger. Richard Dawkins, um dos voluntários, acabou por confessar que não sentiu nada de relevante durante a experiência. <BR/><BR/> O critério para separar as experiências alucinadas de outras que devem ser levadas a sério tem a ver com o contexto de vida das pessoas que dizem ter tido experiências religiosas especiais. Por exemplo, é muito diferente a situação em que uma pessoa que diz ter recebido revelações religiosas especiais e se coloca no centro das atenções, da situação em que outra pessoa, em circunstâncias semelhantes, não quer que as atenções se fixem nela mas sim em Deus. Por outro lado, qual é o estilo de vida habitual da pessoa? Preocupa-se com os outros, ou apenas consigo própria? Empenha-se construtivamente na vida da comunidade social, política, religiosa, a que pertence? Estes elementos contextuais são alguns dos que a Igreja Católica toma em consideração quando se trata de avaliar a qualidade das ‘revelações’ religiosas particulares.<BR/><BR/> Cordiais saudações,<BR/> Alfredo Dinisalfredo dinishttps://www.blogger.com/profile/11094799994161509856noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-29251019.post-34754393727309700262008-06-24T01:01:00.000+01:002008-06-24T01:01:00.000+01:00Caro Ludwig, Quanto ao inferno, à descida de Cris...Caro Ludwig,<BR/><BR/> Quanto ao inferno, à descida de Cristo ressuscitado aos infernos, tradicionalmente associada à libertação dos justos que não tinham podido entrar no céu antes dessa ressurreição, escreve Ratzinger na obra citada:<BR/><BR/> “a palavra ‘inferno’ é apenas uma tradução errada do termo ‘sheol’ … que os Hebreus usavam para descrever o estado que vem depois da morte, imaginado de uma maneira muito imprecisa como uma espécie de existência em forma de sombra, que mais parece um não-ser do que um ser. O sentido original da frase seria, portanto, que Jesus entrou no ‘sheol’, ou seja, que ele morreu. A meu ver é neste ponto que surge o verdadeiro problema: o que vem a ser isso de morte? … Ninguém sabe ao certo o que é…<BR/><BR/> Mas talvez seja possível tentar uma aproximação partindo … da exclamação de Jesus na cruz, na qual encontramos a essência daquilo que quer dizer descida de Jesus e participação no destino da morte do ser humano. Nessa última oração de Jesus manifesta-se, como já aconteceu na cena do Horto das Oliveiras, não uma dor física, mas sim a solidão radical, o abandono total que é a essência mais profunda da sua Paixão. É a manifestação do abismo da solidão humana em geral, do ser humano que, no seu íntimo, está sozinho. … <BR/><BR/> Se existisse uma solidão que nenhuma palavra de outrem pudesse penetrar para a transformar, se houvesse uma sensação de abandono tão profunda que nenhum ‘tu’ fosse capaz de aproximar-se, então estaríamos diante da solidão e do assombro verdadeiros e totais, aquilo a que a teologia chama ‘inferno’. A partir dessa situação podemos definir exactamente o significado do termo ‘inferno’: ele designa uma solidão em que o amor não penetra e que representa, por isso mesmo, o abandono propriamente dito da existência….<BR/><BR/> Voltamos assim … ao artigo da fé que fala da descida à mansão dos mortos. Podemos, então, dizer que Jesus atravessou a porta da nossa solidão extrema quando, na sua Paixão, se afundou no abismo da nossa sensação de abandono. Onde já não se faz ouvir nenhuma voz é onde ele está. Com isso, o inferno foi vencido, ou melhor, a morte, que antes era o inferno, deixou de existir. Morte e inferno deixaram de ser a mesma coisa, porque no meio da morte passou a haver vida, porque agora o amor mora no meio dela. O único inferno que continua a existir é o encerramento voluntário de si próprio… A morte, porém, já não é o caminho para a solidão gélida, pois as portas do ‘sheol’ estão abertas. <BR/><BR/> Penso que é possível entender também nesta perspectiva as imagens dos Padres da Igreja que, à primeira vista, parecem tão mitológicas., a saber, aquelas que falam em ir buscar os mortos às profundezas, e abrir os portões; torna-se compreensível até o texto aparentemente tão mítico do Evangelho de S. Mateus em que se lê que os túmulos se abriram e os corpos de muitos santos já falecidos ressuscitaram (Mt 27,52). A porta da morte ficou escancarada, desde que a vida e o amor passaram a habitar a morte.” (pp. 216-219). <BR/><BR/> Suponho que esta linguagem será vazia de significado para ti, mas ela representa o esforço de compreender no nosso tempo as intuições fundamentais dos primeiros cristãos.<BR/><BR/> Quanto à impossibilidade de passar do inferno para o céu, ela baseia-se na ideia de que as pessoas têm a capacidade de fazerem escolhas radicais no sentido da negação de Deus, uma via que, após a morte, conduz a uma solidão radical. <BR/><BR/> Cordiais saudações,<BR/><BR/> Alfredo Dinisalfredo dinishttps://www.blogger.com/profile/11094799994161509856noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-29251019.post-43189954645325606592008-06-24T00:57:00.000+01:002008-06-24T00:57:00.000+01:00Caro Ludwig,No que se refere à importância da mort...Caro Ludwig,<BR/><BR/>No que se refere à importância da morte de Cristo, ela não é subestimada pelos cristãos, tal como não subestimamos o sacrifício de Gandhi, pelo impacto histórico que teve esse sacrifício. Para quem acredita que Cristo é a manifestação de Deus, não é difícil compreender que os cristãos lhe atribuam um significado radicalmente diverso do que é atribuído a um ser humano. O sacrifício de Cristo foi uma prova de amor, um amor que não recua perante as ameaças de morte para ser coerente até ao fim. Não é o sacrifício que salva, mas sim o amor que se revela nele. Porque Cristo não morreu simplesmente porque não conseguiu fugir, nem porque pensou que já nada tinha a fazer. Morreu por fidelidade a uma missão e a uma proposta de sentido para a existência humana. <BR/><BR/> Durante muito tempo, e talvez ainda hoje, a interpretação da morte de Cristo que dominou o pensamento cristão foi o de Anselmo de Canterbury (1033-1109), a mesma que está expressa no artigo de enciclopédia que citaste, segundo o qual Cristo devia morrer para pagar pelos pecados da Humanidade. Deus Pai precisava de sangue para se acalmar pelo mal cometido pelos seres humanos. Mas esta não é a única interpretação possível.<BR/><BR/> Deixo-te aqui, a este propósito, um texto de Joseph Ratzinger, na sua obra ‘Introdução ao Cristianismo’:<BR/><BR/> “Lembre-se a forma que a doutrina da salvação assumiu geralmente na consciência cristã. Baseada na chamada ‘teoria da satisfação’, desenvolvida por Anselmo de Canterbury no limiar da Idade Média, foi-se tornando cada vez mais preponderante na consciência dos fiéis. Mesmo na sua forma clássica, ela já revelava alguma unilateralidade. Quando considerada, então, na sua versão mais grosseira, produto do entendimento geral, apresenta-se como um mecanismo cruel que se tornou cada vez mais abstruso. … A sua [de Anselmo] reflexão marcou profundamente o segundo milénio da cristandade ocidental, que ficou convencida de que Cristo precisou de morrer na cruz para reparar a ofensa infinita que tinha sido cometida, e para restabelecer a ordem violada. … não se pode negar que a lógica perfeita deste esquema de direito humano-divino que Anselmo construiu distorce as perspectivas, podendo lançar, com a sua lógica férrea, uma luz medonha sobre a imagem de Deus.” (pp. 168-170).<BR/><BR/> “Apesar de muito difundida, esta perspectiva é errada. Na Bíblia, a cruz não aparece como elemento de um mecanismo do direito lesado, pelo contrário, a cruz representa nela a radicalidade do amor que se entrega sem reservas… ela é a expressão de uma vida que consiste em ser totalmente para os outros…<BR/><BR/> Nas religiões universais reparação significa, normalmente, restabelecimento da relação com Deus por meio de acções expiatórias por parte do ser humano…. No Novo Testamento, a situação é quase inversa… É este o ponto de partida da existência cristã e o centro da teologia da cruz: … Deus não fica à espera de que os culpados venham reconciliar-se com Ele; é Ele que vai ao encontro deles e os reconcilia consigo.” (p. 205) <BR/><BR/> “O gesto de amor que se dá por inteiro foi, segundo a Carta aos Hebreus, a única reconciliação verdadeira do mundo com Deus. Por isso, a hora da cruz é o dia da reconciliação cósmica, a festa verdadeira e definitiva de reconciliação.” (p. 208)<BR/><BR/> Cordiais saudações,<BR/><BR/> Alfredo Dinisalfredo dinishttps://www.blogger.com/profile/11094799994161509856noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-29251019.post-78216658409725855592008-06-24T00:54:00.000+01:002008-06-24T00:54:00.000+01:00Caro Ludwig, Como já afirmei noutras ocasiões, o c...Caro Ludwig,<BR/><BR/> Como já afirmei noutras ocasiões, o cristianismo acentua mais as acções concretas motivadas pela crença em Deus, do que as teorias explicativas de quem é Deus e do conteúdo do ‘credo’ cristão. De facto, o que pensamos saber sobre Deus, a morte, o céu e o inferno, é quase nada em comparação com o que acreditamos ser a realidade de Deus, da morte, do céu e do inferno. As afirmações do ‘credo’ dos cristãos, uma fórmula de fé recitada aos domingos na missa, são extremamente concisas: afirmam mas não explicam. As explicações têm variado ao longo dos dois mil anos do cristianismo, e continuará a haver novas interpretações no futuro. <BR/><BR/> As perguntas que me fazes sobre o sentido cristão do sofrimento de Cristo e sobre o sentido do inferno e da sua descida aos infernos têm a ver com questões essenciais e, por isso mesmo de não fácil resposta. Por este motivo, respondo às duas questões em dois posts diferentes, porque cada resposta é um tanto longa.<BR/><BR/> Saudações,<BR/><BR/> Alfredo Dinisalfredo dinishttps://www.blogger.com/profile/11094799994161509856noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-29251019.post-63416170254002219802008-06-23T22:54:00.000+01:002008-06-23T22:54:00.000+01:00Ó Ribeiro:Ao tempo que eu já conheço isso! :)Mas n...Ó Ribeiro:<BR/><BR/>Ao tempo que eu já conheço isso! :)<BR/><BR/>Mas não tenho nenhum saber paranormal... esse milhão não me vem ter ao bornal! ;)<BR/><BR/>O que eu gostava era de ver no site as propostas dos candidatos ao prémio, isso parecia-me interessante, juntamente com uma descrição mais pormenorizada dos testes ou provas, etc.<BR/><BR/>Mas nunca encontrei informação sobre isso, excepto um ou outro fragmento ou polémicas relacionadas com as tais propostas e pouco mais.<BR/><BR/>Logo, desinteressei-me lá do Randi, a impressão com que fiquei foi a de pouca abertura e muito secretismo...<BR/><BR/>Rui leprechaun<BR/><BR/>(...se não conheço não cismo! :))<BR/><BR/><BR/>PS: Olha algo bem mais interessante e recente!<BR/><BR/><A HREF="http://outrafisica.blogs.sapo.pt/" REL="nofollow">Outra Física</A><BR/><BR/>Ainda relacionado com o tal link do Randi, eis algo interessante sobre experiências psi e o místico sentimento de unidade ou a transpessoalidade:<BR/><BR/><A HREF="http://www.goertzel.org/dynapsyc/1996/subtle.html" REL="nofollow">Subtle Connections</A><BR/><BR/>E o bocadinho de que eu mais gostei:<BR/><BR/><I>A particularly poignant example was furnished by a young couple, deeply in love. Their EEG patterns remained closely synchronized throughout the experiment, testifying to their report of feeling a deep oneness.</I>Rui leprechaunhttps://www.blogger.com/profile/09656865034470286491noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-29251019.post-10851996236629883552008-06-23T15:52:00.000+01:002008-06-23T15:52:00.000+01:00Caro Alfredo,«No que se refere às pessoas que ouve...Caro Alfredo,<BR/><BR/><I>«No que se refere às pessoas que ouvem vozes, algumas das quais identificam com ordens de Deus para matar, sabemos que tais experiências correspondem a psicopatologias que devem ser tratadas. Essas vozes são produções neuronais que não tem nenhuma outra correspondência na realidade.»</I><BR/><BR/>E no que se refere a pessoas que sentem a presença de Deus ou se relacionam com Ele? Há evidências concretas que isso não é neuronal? Porquê não considerar também aí que não há correspondência com a realidade? É que em ambos os casos faltam indicios confirmatórios independentes.<BR/><BR/>Um abraço,<BR/>LudwigLudwig Krippahlhttps://www.blogger.com/profile/12465901742919427145noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-29251019.post-72463951087139189432008-06-23T14:14:00.000+01:002008-06-23T14:14:00.000+01:00Alfredo:«Quanto ao facto de a realidade e o desejá...Alfredo:<BR/><BR/>«Quanto ao facto de a realidade e o desejável serem coisas distintas, isso é muitas vezes verdade, mas nem sempre.»<BR/><BR/>O que é sempre verdade é que o facto de algo ser desejável não indicia que seja verdadeiro.<BR/><BR/><BR/>«Concordo contigo que o que leva muitas vezes as pessoas a declararem-se ateias é a imagem de um deus inacreditável, e imagens dessas existem em número quase infinito. Só vale a pena acreditar num Deus que abra horizontes de libertação e não de opressão»<BR/><BR/>Esta última ideia é precisamente aquela que o Pedro negou.<BR/><BR/>Se tivermos indícios de um Deus mau, vale a pena acreditar num Deus mau.<BR/>Se tivermos indícios de um Deus bom, vale a pena acreditar num Deus bom.<BR/>Se tivermos indícios de um Deus inexistente, vale a pena não acreditar em Deus.<BR/><BR/>Não vale mais a pena" acreditar num "Deus que abre horizontes" que é feito de "Amor" se não tivermos melhores indícios para acreditar nisso que no oposto.João Vascohttps://www.blogger.com/profile/14810948198773329192noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-29251019.post-1984770557886643872008-06-23T12:31:00.000+01:002008-06-23T12:31:00.000+01:00Leprechaun,Olha, ainda bem que te apanho. Dá uma v...Leprechaun,<BR/><BR/>Olha, ainda bem que te apanho. Dá uma vista de olhos <A HREF="http://www.randi.org/joom/challenge-info.html" REL="nofollow">nisto aqui</A>.<BR/><BR/>:)leandro ribeirohttps://www.blogger.com/profile/02374582297652404622noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-29251019.post-43003193115393247562008-06-23T12:23:00.000+01:002008-06-23T12:23:00.000+01:00Caro Pedro, Só agora me é possível responder a...Caro Pedro,<BR/><BR/> Só agora me é possível responder ao teu comentário, que agradeço. No que se refere às pessoas que ouvem vozes, algumas das quais identificam com ordens de Deus para matar, sabemos que tais experiências correspondem a psicopatologias que devem ser tratadas. Essas vozes são produções neuronais que não tem nenhuma outra correspondência na realidade.<BR/><BR/> Quanto ao facto de a realidade e o desejável serem coisas distintas, isso é muitas vezes verdade, mas nem sempre. Seria desejável que neste preciso momento Roberto Mugabe estivesse a anunciar que se tinha retirado do poder, e embora eu não o possa comprovar, não é absurdo que o desejável coincida com a realidade. De qualquer modo, se isto é uma premissa de um argumento, não se pode deduzir uma conclusão que seja necessariamente verdadeira, seja num sentido, o da existência de Deus, seja noutro, a sua inexistência. <BR/><BR/> Concordo contigo que o que leva muitas vezes as pessoas a declararem-se ateias é a imagem de um deus inacreditável, e imagens dessas existem em número quase infinito. Só vale a pena acreditar num Deus que abra horizontes de libertação e não de opressão, que não só permita mas potencialize o desenvolvimento humano sobretudo naquilo que mais o caracteriza, a experiência do amor. Por isso mesmo, a Bíblia e os cristãos resumem a sua fé na afirmação ‘Deus é Amor’. <BR/><BR/> Creio que mesmo os que negam a possibilidade da imortalidade e de uma vida de felicidade sem fim, reconhecem que isso seria desejável. Parece-me de facto que o desejo de manter para sempre os laços de amor que nos unem é algo que habita todos os seres humanos. <BR/><BR/> Cordiais saudações,<BR/><BR/> Alfredo Dinisalfredo dinishttps://www.blogger.com/profile/11094799994161509856noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-29251019.post-49519211535761669312008-06-23T06:24:00.000+01:002008-06-23T06:24:00.000+01:00Aqui está o juramento de Galileu...Hummm... esta h...<I>Aqui está o juramento de Galileu...</I><BR/><BR/><BR/>Hummm... esta história do Galileu não é assim tão exacta como se quer dar a entender, um pouco como a actual questão do aquecimento ou arrefecimento global, cada claque defende a sua versão e o Zé Povinho que se amanhe!<BR/><BR/>Com a noção de Thomas Kuhn das mudanças de paradigma na ciência, tal como é apresentado com o exemplo da "Revolução Copernicana", o vilão não é a Igreja mas sim a velha ciência apegada ao antigo paradigma, neste caso o modelo ptolomaico geocêntrico, que Copérnico e Galileu substituíram depois pelo heliocêntrico.<BR/><BR/>Melhor dizendo, desde a Reforma Protestante se pode dizer que só as novas igrejas luterana e calvinista e anglicana, e as demais que delas nasceram, passaram a defender a interpretação literal da Bíblia, incluindo aquilo que tem relevância científica, como a criação do universo e o geocentrismo, etc.<BR/><BR/>A Igreja Católica de há muito deixou de fazer finca-pé nessas questões não doutrinais, tendo sempre apresentado outra maior abertura à secularidade do conhecimento científico. Aliás, data precisamente desta altura, inícios dos séc. XVI, a formação da Companhia de Jesus, cuja actividade educativa e cultural foi marcante no espírito da Contra-Reforma católica.<BR/><BR/>Ou seja, com tudo isto eu só pretendo de novo acentuar aquilo que já disse no meu comentário inicial a este tema, e que reflecte o facto de neste blog por vezes não se fazer uma distinção mais rigorosa entre as várias igrejas ou ramos do Cristianismo.<BR/><BR/>É certo que estas questões históricas são sempre muito controversas, mas é algo incorrecto e apressado pretender ligar o Catolicismo, já em pleno Renascimento, com obscurantismo anti-científico e fundamentalismo bíblico e por aí.<BR/><BR/>Por outro lado, volto a salientar que, para além dos aspectos exteriores e rituais da religião, existe um saber mais reservado que não diz unicamente respeito às questões espirituais mas também às humanas e mais concretas.<BR/><BR/>Por fim, o quadro que nos é dada pela História daquilo que se passou em épocas passadas pode ser, de forma mais ou menos consciente, enviesada e submetida aos próprios condicionalismos ou visão do mundo dos historiadores que julgam o passado. Deste modo, para o Iluminismo do séc. XVIII, a Idade Média era vista como o período das trevas da razão e superstição religiosa, o que era lógico à luz da expansão do conhecimento científico e do progresso material que desde então se foi expandindo cada vez mais.<BR/><BR/>Hummm... mas estas visões assim muito simplistas a preto e branco, tipo os bons contra os maus ou índios e cowboys, devem ser sempre encaradas com bastante suspeição e espírito crítico. Eis outra razão pela qual torço o nariz à oposição, a meu ver muito forçada e infundada, ciência versus religião e afins. A competição não exclui também colaboração, e na natureza o mutualismo e a simbiose estão igualmente presentes.<BR/><BR/>Logo, terá mesmo o paradigma heliocêntrico de Copérnico e Galileu sido aceite de braços abertos pela ciência da época e abjurado pela Igreja Católica? Muito duvidoso, há relatos que não apontam nesse sentido e, afinal, a cultura na Europa de então era fortemente influenciada pelo catolicismo romano.<BR/><BR/>Enfim, apenas algumas reflexões e dúvidas de quem não come assim tudo o que lhe põem no prato... mentira!... que se for vegetal marcha tudo por igual...<BR/><BR/>Rui leprechaun<BR/><BR/>(...a cem à hora e sempre a dar ao queixal!!! :)<BR/><BR/><BR/>PS: Ai, ai! Assim lá se vai o bom efeito... fica tudo estragado com estas rimas sem jeito! ;)Rui leprechaunhttps://www.blogger.com/profile/09656865034470286491noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-29251019.post-20885084470862154152008-06-20T15:22:00.000+01:002008-06-20T15:22:00.000+01:00Leandro,Todos gostamos de conversar. Uns tremoços,...Leandro,<BR/><BR/>Todos gostamos de conversar. Uns tremoços, uma cervejinha, umas piadas e uns insultos, e o tema não importa :)Ludwig Krippahlhttps://www.blogger.com/profile/12465901742919427145noreply@blogger.com