domingo, janeiro 27, 2019

Treta da semana: Terapia de Consciência.

No dia 19 de Novembro, Maria Borges lançou oficialmente, e com amor, a sua «marca como terapeuta» na Terapia de Consciência (1). Tinha tudo para correr bem. Comentários encorajadores das amigas, um site na Web, página no Facebook com mensagens inspiradoras (2), os preços das consultas online e até testemunhos de clientes satisfeitas, se bem que com alguma intersecção aparente com as amigas mencionadas atrás. Só cometeu um erro. Pagou ao Facebook para fazer publicidade ao seu consultório virtual, o que é arriscado porque nunca se sabe onde é que o anúncio vai aparecer e há por aí malucos que só estão bem a dizer mal.

Como eu não sou desses, começo pelo que me pareceu, inicialmente, ser um aspecto positivo na empreitada de Borges. Nestas coisas, vejo muitos exagerarem as suas qualificações e as virtudes da cobra cuja banha querem vender. Pareceu-me louvável de Borges evitar este erro. Descreve a sua terapia de forma minimalista e abstém-se de quaisquer alegações passíveis de induzir o leitor a julgá-la uma terapeuta qualificada. Pouco mais adiante do que «A terapia de consciência permite uma leitura, compreensão e orientação do seu estado de consciência de forma integral» e que, como terapeuta, tem quatro características importantes, cada uma ilustrada com o boneco apropriado: escuta activa (uma orelha); linguagem acessível (um balão); sensibilidade avançada (uma folha); e foco no resultado (um alvo). São cinquenta euros por uma consulta online individual, oitenta se for um casal, por uma terapia descrita assim:

«Com as ferramentas necessárias possibilito acesso a campos de informação necessários para compreender o seu percurso, os seus bloqueios, as suas potencialidades e em conjunto chegarmos a um caminho mais adequado àquilo que realmente faz sentido para si.»

Despertou-me a curiosidade e fui procurar mais sobre esta Terapia de Consciência. Foi durante essa breve pesquisa que a minha percepção de virtude na abordagem de Borges se foi transformando em preocupação. Encontrei material sobre estados alterados de consciência mas não deve ser isso porque não dá para fazer dessas coisas com consultas online. Acerca da Terapia de Consciência apenas descobri que «tem como base explorar os nossos processos mais inconscientes, fazendo uma análise integrada dos vários aspectos que nos podem estar a aprisionar e construindo de forma integrada soluções e orientações para a resolução de situações que nos podem estar a impedir de trazer as nossas virudes [sic] e bem-estar.» (3).

Não sei onde a terapeuta Maria Borges se formou em Terapia de Consciência. Talvez haja cursos disso. Talvez me tenha escapado alguma fonte mais substancial sobre esta terapia. Mas receio que isto seja sinal de uma twitterização das tretas. Agora tem de caber tudo em 250 caracteres ou ser pequeno que baste para ler à pressa no telemóvel no intervalo de esmagar rebuçados. Se for isso, é pena. Ganhei gosto por tretas mais elaboradas e temo que já não tenha idade para me adaptar a este minimalismo.

1- Maria Borges, Facebook.
2- Maria Borges, e Facebook
3- Essência de Luz, Terapia de Consciência

3 comentários:

  1. Ludwig,

    Toda a gente gosta de ouvir a tal "palavra amiga". Não é assim que a religião funciona?
    Hoje em dia tens religiões que não são religiões, são algo de "pós new age". O importante é que as pessoas estão dispostas a acreditar e melhor ainda, dispostas a pagar.

    Este teu discurso fez-me lembrar aquela velha piada: "Quantos psicólogos são necessários para mudar uma lâmpada? Nenhum, a lâmpada muda-se sozinha quanto achar que está pronta para mudar".

    As pessoas têm uma necessidade; alguém apareceu e diz que tem como suprir essa necessidade. É a lei da oferta e da procura. Entretanto, a malta vai fazendo uns trocos... Se é legal ou não, é pouco importante, que lá diz o ditado "enquanto o pau vai e vem, as costa folgam".

    Abraço e votos de um regresso mais prolongado :)

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  2. Oi António,

    Vou ver se agora consigo manter a programação regular :)

    Mas discordo de que a religião funcione porque «Toda a gente gosta de ouvir a tal "palavra amiga"». Estas coisas acho que sim. Ou então é andar à pesca a ver se algum peixe morde. Não faço ideia de quantos clientes esta senhora terá.

    Mas a religião é bastante mais do que a palavra amiga. Acho que é uma combinação sofisticada de pau, cenoura, falácia do Concorde (quanto mais a pessoa enterra na religião mais relutância terá em sair), e muitas outras técnicas aperfeiçoadas durante muitos milhares de anos a manipular gente. Esta malta das neo-patetices são amadores comparados com as religiões mais populares.

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  3. Aqui no Brasil dizemos que enquanto existirem trouxas, malandro não morre de fome.

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